O objetivo principal das cartas pastorais de Paulo a Timóteo e a Tito era o combate aos falsos mestres, e a boa organização das igrejas e do ministério. Mas ele sabia que as igrejas precisavam de muito mais, além das recomendações objetivas. No capítulo 2 de sua primeira carta a Timóteo, ele começa orientando o jovem pastor acerca da necessidade premente e indispensável da oração.
A oração é tema de grande destaque na Bíblia. No Antigo Testamento, os homens de Deus venceram sob o manto da oração. Davi orava sempre (SI 55.16,17) e Daniel venceu na cova dos leões porque tinha reservas de oração (Dn 6.10). Esses dois exemplos indicam o valor extraordinário da oração fervorosa e sincera, diante de Deus.
Paulo exortou Timóteo acerca da oração, dizendo que se deveriam fazer orações não apenas em momentos de crise, ou por algumas pessoas. Mas dever-se-ia orar “por todos os homens” (1 Tm 2.1,2), incluindo os governantes, as autoridades. Um sábio conselho, sem dúvida alguma. Ao que parece, as igrejas evangélicas, nos tempos atuais, têm-se esquecido dessa oração “por todos os homens”. E mais comum ouvirem-se orações pela comunidade cristã; por suas atividades, na evangelização, no ensino, no discipulado. São orações legítimas e indispensáveis. Mas o alcance da oração da igreja cristã deve ultrapassar “as quatro paredes” dos templos, nas igrejas locais. Em lugar de uma oração individualista, os cristãos devem criar o costume de fazer orações altruístas. As autoridades públicas, em todos os níveis, municipais, estaduais e federais, em nosso país, estão sob a influência das forças malignas, do materialismo, do relativismo e do humanismo. Sem falar na ameaça comunista que paira sobre as nações latino-americanas. Daí porque temos o dever de seguir a orientação de Paulo: “[...] que se façam deprecações, orações,intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1 Tm 2.1,2).
I - ORAÇÃO POR TODOS OS HOMENS
1. Quatro Tipos de Oração
Como um excelente professor (didaskalos), Paulo transmite a seu discípulo ensinos acerca do valioso e indispensável recurso da oração. Ele sabia que a oração é o meio mais eficiente da comunicação com Deus. No Pai Nosso, Jesus ensinou a orar de modo altruísta, e não individualista: “Pai nosso”, e não “meu Pai”; “venha a nós”, e não “a mim”; “o pão nosso” e não “meu pão”; “nos dá hoje”, e não “me dá hoje”; “perdoa as nossas dívidas”, e não “as minhas dívidas”; “não nos deixeis cair”, e não “não me deixe cair”. O Mestre Jesus não só ensinava, mas praticava a oração. Paulo também não vivia da teoria. Vivia o que ensinava. Não nos esqueçamos de que ele estava escrevendo a Timóteo, mas seu alvo era a igreja de Éfeso. A igreja local, no sentido coletivo.
Como bom discípulo de Jesus, Paulo também ensina que se deve orar “por todos os homens”. Poderia ter ficado nessa admoestação, e já teria alcançado seu objetivo, mostrando a Timóteo que é necessário não excluir ninguém nas orações da igreja local, ou seja, da oração comunitária. Na oração individual, o crente pode tomar tempo orando por si, por seus problemas, por sua família. Mas na oração da igreja, esta deve voltar-se para a oração “por todos os homens”. Mas além de referir-se a “todos os homens”, Paulo ressalta a importância de a igreja orar pelas autoridades constituídas, de uma forma ou de outra, com permissão de Deus. Como tudo indica que a heresia que mais perturbava a igreja em Éfeso era o gnosticismo, Paulo se contrapôs à sua visão acerca dos homens. Para os gnósticos, a maioria dos homens não merecia nada a não ser a destruição total. Conforme Champlin1, eles ensinavam que havia três tipos de homens: os “hylikoi”, ou homens “materiais”, que só valorizavam a matéria, que é má, e seriam destruídos com ela; os “psychoi”, ou “meio-espirituais”, que não teriam alcançado a iluminação mística — esses poderiam ser redimidos, mas em níveis inferiores; e, finalmente, os “pneumatikoi”, ou seja, “os espirituais”, que possuíam os conhecimentos “místicos” ou “gnosis” (de onde vem o termo gnosticismo), e seriam de nível espiritual muito elevado e glorioso, os plenamente salvos, na comunhão com Deus. Por esses seria necessário orar. Mas, pelos outros, “os materiais”, ou a maioria dos homens, não faria sentido. Ante essa visão deturpada dos homens, Paulo diz a Timóteo que se deve orar “por todos os homens” e “pelos reis e por todos os que estão em eminência” (2.2). Assim, Paulo exorta a fazer quatro tipos de oração:
1) “Deprecações”
O termo (gr. deesis) significa “suplicar, implorar, rogar por” alguém ou alguma coisa (Dicionário Houaiss). Dá a entender um tipo de oração que é feita como intercessão a Deus por todos os homens, de modo ardente, dramático, compassivo.
2) “Orações”
Alguns estudiosos entendem que Paulo usava os termos como sinônimos, não havendo necessidade de se especificar quatro tipos de oração. Mas nos parece mais interessante fazer essa distinção didática para efeito de destacar alguns aspectos importantes, visto que, no original grego, as palavras empregadas são diferentes. “Orações” (gr. proseuche) refere-se ao termo comum para as orações em geral. Sejam de súplica, de louvor, de intercessão, etc.
3) “Intercessões”
Tem o sentido de “intervenção, mediação, interferência, intermédio” (Dicionário Houaiss). Do grego enteuxis, significando “apelar para”, ou intercessões em geral, que se fazem em favor de alguém.
4) “Ações de graça ”
Vem do termo grego eucharistia. A expressão é autoexplicativa, denotando orações em que a pessoa expressa sua gratidão a Deus por bênçãos recebidas, ou até por coisas adversas. Por isso, Paulo diz:
“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Ts 5.18; Ef 5.20). Daí, porque não concordamos com a ideia de que os quatro termos aqui usados são apenas sinônimos. Quem presta “ações de graça” não roga ou suplica. Mas agradece e louva. Toda súplica é uma oração, mas nem toda oração é uma súplica; toda intercessão é oração, mas nem toda oração é uma intercessão; toda ação de graças é oração, mas nem toda oração é ação de graças.
Essas orações devem ser feitas “por todos os homens” e “por todos os que estão em eminência”, tendo em vista um objetivo muito importante, na visão de Paulo: “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”. Paulo foi realista nessa admoestação. A igreja é espiritual, instituição divina, mas vive no meio social, político, humano. E não pode isolar-se da realidade em sua volta. Ele sabia que, mesmo os cristãos, só podem ter “uma vida quieta e sossegada” se o contexto em que vivem tem estabilidade social e política, se houver segurança, ordem e respeito aos direitos das pessoas.
2. A Salvação de Todos — a Vontade de Deus
Paulo não se esquecia da missão primordial da igreja: a proclamação do evangelho de Cristo para a salvação dos homens (1 Tm 2.4). Esse é o desejo divino: a salvação da humanidade. Mas essa salvação não é automática, nem incondicional. Pelo contrário. Ela requer a resposta do homem, detentor do livre-arbítrio, como ser criado à “imagem” e “semelhança” de Deus. Deus “amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” para morrer pela salvação do homem, mas só se torna eficaz para “todo aquele que nele crê” (Jo 3.16).
Deus quer que “todos os homens se salvem” ao mesmo tempo em que “venham ao conhecimento da verdade”. Ou seja, da verdade do evangelho, da verdade de Cristo. No mundo, atualmente, calcula-se que haja cerca de 40.000 religiões, seitas ou movimentos religiosos, de todas as origens, credos, crenças, filosofias, doutrinas, etc. E cada uma dessas “religiões” diz possuir “a verdade”. A maioria delas não crê em Deus, no Deus da Bíblia, Criador do universo e do homem. Crê em “deuses” e “deusas”, em “entidades” ditas espirituais. E, no meio desse emaranhado de “verdades”, o homem está perdido, sem saber quem é, de onde veio e para onde vai. Isto é: totalmente perdido.
Só há salvação em Cristo, que é “a verdade” e não uma verdade. Essa é a motivação por que Paulo exorta à oração universal, “por todos os homens”. Nunca ela foi tão necessária. A humanidade do século XXI está perdida. Apenas 1/3 dos habitantes do planeta diz crer em Deus. Ou que é cristão. No entanto, nessa pequena parte dos homens, apenas “poucos, escolhidos” (Mt 22.14). A razão por que os salvos sempre foram, e serão, a minoria, no mundo, é que, para isso, os homens precisam entrar pela porta estreita: “E porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” (Mt 7.14). Para que orar pelos homens, se já está previsto que “poucos” serão os salvos? Exatamente por isso, para que esse pequeno número seja alargado, aumentado, em sua proporção em relação à humanidade.
Paulo sabia e ensinou a Timóteo que a salvação não é alcançada por meio de qualquer deus ou deusa, como os gnósticos ensinavam. Disse ele: “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo” (1 Tm 2.5,6). Essa declaração é fundamental no plano da salvação. “Há um só Deus.” O Diabo tem feito tudo para tirar Deus da mente dos homens, ou afastá-lo deles. Mas a Bíblia é clara quanto à revelação que Deus fez de si mesmo à humanidade.
“Deus, em sua infinitude, é incompreensível à mente finita do homem. [...] Mas Ele mesmo resolveu revelar-se ao homem. Por intermédio de Cristo, em seu amor, Deus enviou o que de melhor se pode conhecer a seu respeito: “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). E possível conhecer Deus, por meio da revelação, mas de modo limitado, pois o finito não pode abarcar aquEle que é infinito.
A salvação é para todos, pois essa é a “vontade de Deus”. Mas só serão salvos os que aceitarem a dádiva de Deus em Cristo Jesus. “Ouvindo a pregação do evangelho, o pecador só tem duas atitudes: crer ou não crer. Não há um meio termo em relação a isso. Se crer, de acordo com a Palavra de Deus, será salvo. [...] Quem crê, ouvindo a Palavra, a pregação do evangelho, que Jesus Cristo é o único Salvador, “não é condenado”. É salvo, portanto. Quem, ouvindo a Palavra, não crê que Jesus Cristo é o Salvador, “já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”.2 E Paulo expressa sua convicção quanto à chamada para ser ministro do evangelho em 1 Timóteo 25.7.
3. A Oração com Santidade e Paz
Era costume, em tempos passados, em diferentes religiões, mesmo entre pagãos, os fiéis orarem com as palmas das mãos voltadas para cima, num sinal reverente de fé para receber o que desejavam (1 Tm 2.8). Mas para muitos, como os fariseus, os gestos eram apenas formalidades, que encobriam a hipocrisia e as iniquidades. Paulo quis admoestar que os atos exteriorizados, nas orações, só teriam valor diante de Deus, se refletissem a realidade interior de cada suplicante. Era necessário orar, “em todo o lugar”, com “mãos santas”, isto é, com prática de santidade em todo o seu viver. Oração sem santidade não tem valor para Deus.
Além das “mãos santas”, quem ora a Deus não pode ter o coração cheio de ira e de contenda. O crente pode irar-se, mas não tem o direi- to de pecar por estar irado. “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26). Costumamos dizer que o cristão só pode ficar irado, com razão, até o fim da tarde, até o pôr do sol. Não deve guardar ira, mágoa ou ressentimento em seu coração. Se o fizer, sua oração não será ouvida. A “ira” é uma das “obras da carne” (G1 5.20). O cristão pode irar-se ou revoltar-se contra o mal, contra o pecado, contra as injustiças, contra a iniquidade. Mas não dever guardar a ira contra um irmão (Mt 5.23,24).
Quanto à contenda, é atitude mental que não condiz com o servo de Deus. É coisa de homem perverso (Pv 16.28); o tolo é o que se mete em contenda (Pv 18.6); a contenda separa os melhores amigos (At 15.39). Deus não se agrada de pessoas que vivem provocando contendas ou se entremetendo nelas.
II O TRAJE DAS MULHERES CRISTÃS
Nas instruções de Paulo a Timóteo, para a igreja em Éfeso, nota-se uma mudança rápida, que parece não ter nada a ver com o texto antecedente. No versículo 8, Paulo fala do comportamento dos “homens”, relativo à maneira de orar em público. De modo aparentemente desconexo, o apóstolo passa a exortar acerca do comportamento das mulheres cristãs, no que tange ao seu vestuário, adentrando num terreno polêmico dos “usos e costumes” (1 Tm 2.9,10). A expressão “do mesmo modo” faz a ligação entre o que Paulo ensinava sobre a oração pelos homens, indicando que as mulheres também deveriam orar com o mesmo cuidado (com “mãos santas, sem ira nem contenda”. E acrescentou o cuidado que elas deveriam ter com seus trajes, na reunião cristã. Assim, os homens estão incluídos no contexto de suas recomendações pastorais.
Os trajes das mulheres não cristãs não eram nada recatados. Vestidos de seda, finíssimos, atraíam os olhares dos homens para o corpo das mulheres, que não usavam qualquer vestimenta íntima, exibindo toda a sua sensualidade. Grande parte das mulheres cristãs era oriunda daquele ambiente mundano. Paulo escreveu que as mulheres cristãs devem ataviar-se ou vestir-se “em traje honesto, com pudor e modéstia, não com trancas, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos” (2.9). Ataviar-se vem do termo grego kosmeo, que tem o significado de “adornar-se”, “tornar atrativo”. Reflete o desejo natural da mulher de embelezar-se (desse termo, vem a palavra cosmético). Desde que esse desejo seja moderado, decente e sujeito à simplicidade ensinada por Cristo (Mt 10.16), não há qualquer recriminação com base na doutrina cristã.
1) Traje honesto
É sinônimo de decoroso, decente (gr. katastole), com sobriedade, ou simplicidade. O traje da mulher cristã deve ser diferente de vestes usadas por mulheres ímpias, que não têm temor de Deus. Um traje honesto quer dizer traje que revela o caráter de quem o usa. Depois da Queda, no Éden, a primeira providência de Deus foi cobrir o corpo do homem e da mulher. Na contramão de Deus, Satanás procura descobrir o que Deus cobriu em público. Infelizmente, muitas mulheres cristãs não valorizam esse aspecto da santidade do corpo, que deve ser “templo do Espírito Santo” (1 Co 6.19) e não objeto de exibição sensual ou carnal.
2) Traje com pudor
Pudor tem o sentido de “recato, vergonha, modéstia, seriedade” (Dicionário Houaiss). “Sentimento de vergonha; sensação de mal-estar e de timidez que podem ser provocadas por algo contrário aos bons costumes (inocência)”.3 As definições do léxico demonstram de modo claro o que deve ser um “traje com pudor”. O ensino de Paulo à igreja em Éfeso, por meio de Timóteo, é de uma atualidade desconcertante. Aplica-se como uma luva ao que está acontecendo em muitas igrejas locais.
3) Traje com modéstia
Modéstia significa “simplicidade, singeleza, despretensão”. Paulo se referia a esses sentidos para a modéstia nos trajes femininos. Além de ter honestidade (verdadeiro) e pudor (recato), o traje da mulher cristã deve ser “honesto”, com singeleza e simplicidade. Ou seja, sem exibicionismo, sem chamar a atenção para quem os usa. Calvino, um dos grandes reformadores, do século XVI, dizia: “Onde a cobiça reina no íntimo, não haverá modéstia nas vestes exteriores”. Acrescenta ainda: “A vestimenta de uma mulher piedosa tem de ser diferente das vestes de uma prostituta, se a piedade tem de ser provada pelas obras, a verbalização de ser crente também precisa ser visível em vestes decentes e apropriadas”.4
III - A MULHER NA IGREJA EM ÉFESO
1. A Submissão ao Esposo e o Silêncio no Culto
Na sequência da carta a Timóteo, Paulo se refere à posição da mulher na igreja local, em Éfeso, certamente em vista de fatos observados naquela igreja, que sofria as influências do mundanismo e do materialismo grego. Seu ensino deve ter sido bem compreendido e aceito, no período neotestamentário. Nos dias presentes, em meio a um mundo relativista, humanista e hedonista, sem dúvida, o ensino paulino encontra muita resistência, críticas e polêmicas quanto ao papel da mulher e sua postura na igreja local. Ele escreveu: “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio” (1 Tm 2.11,12).
Esse é um dos textos mais polêmicos e criticados das epístolas paulinas. Mais polêmico que esse só o texto em que Paulo ensina que “as mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei” (1 Co 14.34). No contexto histórico e cultural da igreja em Éfeso, a realidade do ambiente eclesiástico certamente era bem diferente do que vemos em nossos dias. Naquela sociedade oriental, uma mulher não poderia aparecer em público. Champlin diz que “Extremamente poucas mulheres frequentavam escolas ou aprendiam a ler e escrever”.5 Na sinagoga, as mulheres jamais tinha oportunidade para falar e muito menos para ensinar. Foi para uma igreja inserida nesse ambiente que Paulo escreveu tão estranha admoestação às mulheres. Não se deve aplicar esse preceito de modo literal às mulheres cristãs, de todas as igrejas, pois o evangelho da graça de Deus é inclusivo no sentido do culto ou da adoração a Deus. Concluir que todas as mulheres, no culto cristão, devem ficar mudas, seria uma interpretação fora de contexto. Se fosse verdade, somente os homens poderiam cantar, orar ou glorificar a Deus em alta voz, como acontece normalmente, nos cultos das igrejas cristãs.
A submissão da mulher ao seu marido é preceito cristão. Doutrinando aos cristãos de Éfeso, Paulo foi bem explícito sobre esse aspecto do relacionamento entre os cônjuges cristãos. “Vós, mulheres, sujeitai- vos a vosso marido, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.22,23,25). Nesse texto, temos uma recomendação de caráter mais abrangente do que a que foi escrita a Timóteo, em sua primeira carta.
Ali, as recomendações eram bem particulares para as mulheres da igreja de Éfeso. No texto de Paulo aos efésios, podemos depreender que se trata de uma exortação às mulheres cristãs em geral. Ele demonstra que a submissão da mulher ao esposo tem um caráter espiritual e social.
Deve-se ressaltar que a submissão da esposa ao esposo não se deve à pretensa superioridade do homem sobre a mulher. De forma alguma. A partir do casal, forma-se o grupo social que dá origem à família. A boa ética da administração de grupos indica que é necessário a definição de quem é o líder de um grupo. Sem líder não se tem um “grupo”, mas um “bando”, sem ordem, sem direção, sem objetivos. O marido é o líder, na recomendação bíblica. Mas não é o dono da mulher nem o dono da família. Só merece a submissão da esposa se ele se comportar de modo legítimo e correto, sob os ditames dos preceitos cristãos. A esposa cristã, portanto, deve submeter-se ao esposo, tomando como referência a submissão da Igreja a Cristo, “como ao Senhor”. De igual modo, essa submissão tem que ser consciente, amorosa e por obediência à Palavra de Deus.
2. As Mulheres no Novo Testamento
Cristo, em seu ministério terreno, teve a cooperação de diversas mulheres, que atuavam ao seu lado como obreiras a serviço do Reino (Lc 8.1-3).
Hoje, há uma participação maior das mulheres nas igrejas, onde ocupam posições jamais imaginadas em tempos passados. As mulheres podem assumir importantes funções eclesiásticas, mesmo que não façam parte de cargos e funções no ministério regular, em que os ministros e obreiros em geral são admitidos mediante ordenação ou consagração. Há igrejas que ordenam mulheres ao ministério; outras, não aceitam essa ordenação, por não encontrarem respaldo claro nas Escrituras. De qualquer forma, no cristianismo, a mulher deixou de ser uma cidadã de segunda ou terceira categoria.
Mesmo considerando o contexto cultural de sua época, o ensino de Paulo tem grande significado quanto ao comportamento feminino nas igrejas locais, extensivos, sem dúvidas, também, aos homens. O apóstolo tinha em mente que, na Grécia, o culto pagão era por excelência misturado com práticas e rituais libertinos. Havia cultos a deuses do panteão grego, em que os fiéis praticavam atos sexuais no recinto das reuniões. No culto a Afrodite, a “deusa do amor”, as sacerdotisas eram conhecidas como “prostitutas sagradas”. Elas tinham relações com rapazes, em troca de ofertas, no levantamento de fundos para os templos.
Naquele ambiente cultural, muitas mulheres se convertiam a Cristo, com seus maridos, ou não, e gostariam de representar um papel de liderança e hegemonia no culto cristão. Paulo constatou que havia mulheres “néscias, carregadas de pecado” (2 Tm 3.6). Por isso, é possível que Paulo tenha resolvido doutrinar a respeito do traje das mulheres, nas reuniões solenes ou no culto público. E ministrou uma das mais oportunas e consistentes doutrinas acerca do traje cristão, como foi visto no item 1.
Como nos referimos a 1 Coríntios 14.34, em que Paulo ensina que a mulher deve estar calada na igreja, devemos entender que Paulo escrevia à igreja em Corinto, na Grécia. Mas o texto demonstra que o culto em Corinto sofria as influências dos costumes ou da cultura da época e do lugar.
Não deve ser tomada ao pé da letra, visto que Paulo valorizou, e muito, o trabalho das mulheres na Igreja Primitiva. E enaltece o trabalho várias mulheres, como: Febe, Priscila (líder), Maria, Júnia, Trifena, Trifosa, Pérside, Júlia, Olimpas. (Ver Rm 16.1-15) Essas mulheres eram cooperadoras fiéis e muito ativas. Não poderiam permanecer silentes ou mudas, servindo ao Senhor.
CONCLUSÃO
No trecho da primeira carta de Paulo a Timóteo, ora em estudo, vemos preceitos significativos não só para a igreja em Éfeso, mas para toda a igreja cristã, em todos os tempos. No que tange à oração, não resta qualquer dúvida quanto à aplicação dos ensinos paulinos a todos os crentes, em qualquer época. Em qualquer lugar ou em qualquer tempo, devemos fazer súplicas, intercessões e ações de graças diante de Deus. No que concerne ao comportamento cristão, Paulo deu um destaque incisivo quanto à postura das mulheres, especialmente às irmãs de Éfeso, tendo em vista o contexto liberal e lascivo do ambiente em que viviam antes da conversão. Mas os preceitos comportamentais às mulheres cristãs podem ser aplicados aos homens, pois Deus não discrimina ninguém, nem faz acepção de pessoas (Dt 10.17), quando estas se submetem à sua vontade.
Notas
1 Russell Normam CHAMPLIN. O Novo Testamento interpretado - versículo por versículo, vol. 5, p. 294.
2 Elinaldo Renovato de LIMA. Salvação e milagres — o poder do nome de Jesus, p. 73.
3 Dicionário Online em Português.
4 “O Figurino Bíblico, Modéstia e Bom Senso”. Disponível em http://volte- mosasraizes.blogspot.com.br. Acesso em 27 de novembro de 2014.
5 Norman Russell CHAMPLIN. O Novo Testamento interpretado — versículo por versículo, p. 303.
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