Mark Vroegop
Como marido e pai, eu tenho aprendido esta lição do modo mais difícil: o tom como eu falo realmente importa. Não é suficiente dizer as palavras certas. Eu tenho de ser muito cuidados em como digo as coisas. Alguns anos atrás, minha esposa estava compartilhando comigo um fardo muito pesado. Depois de escutá-la por um pouco, eu logo comecei a lhe dar conselhos sobre o que ela deveria fazer. Ela, porém, olhava para mim desolada. “O que houve de errado?”, perguntei. Ela respondeu: “Quem é você agora? Meu marido ou meu conselheiro?”. Aquela foi a primeira pista de que eu estava deixando escapar alguma coisa.
Eu rapidamente descobri que, embora minhas soluções pudessem estar corretas, elas não eram úteis. Por quê? Por causa do meu tom. O modo como eu falava estava, de fato, enfraquecendo minha mensagem. Por mais certo que estivesse, meu tom era um obstáculo no caminho.
Será que essa mesma realidade – a importância do tom – se relaciona com a nossa pregação? É possível que o modo como falamos algo na pregação e no ensino seja tão importante para o sermão quanto para o casamento, a paternidade ou qualquer outra comunicação? Eu proponho que o tom da pregação é muito mais importante do que percebemos. Philip Brooks (1835-1893) disse, de modo célebre, que pregação é a verdade por meio da personalidade. Eu acrescentaria que pregação também é a verdade por meio do tom.
Algumas sugestões
Deixe-me oferecer algumas sugestões à medida que você pensa não apenas sobre o que dizer, mas também sobre como dizê-lo.
Leia a Bíblia prestando atenção ao tom
O primeiro passo é simplesmente ler as Escrituras prestando atenção ao seu tom. A Bíblia é mais do que apenas uma coletânea de afirmações proposicionais. É verdade com tom. E há muitos tons diferentes: conforto (2 Coríntios 1), dureza (Tiago 4.4), lamento (Salmo 13.1-2), deslumbre (Apocalipse 4), sarcasmo (2 Coríntios 11.19), instrução (Romanos 12), alegria (Êxodo 15), indagação (Salmo 22.1), dificuldade (Lamentações 3), sabedoria (Provérbios 1) e descanso (Salmo 23), para mencionar alguns. A beleza da Bíblia se encontra, em parte, na sua variedade de tons.
Faça a exegese do tom do texto
Aqueles de nós que estão comprometidos com uma exegese cuidadosa (espero que sejam todos) fazem bem em examinar atentamente o modo como o autor comunica a sua mensagem. Compreender o tom jamais deve substituir o exame cuidadoso do que a Bíblia está dizendo, mas uma falha em compreender como algo está sendo dito irá, em grande medida, impedir a comunicação de toda a mensagem. Coloque-se no lugar dos ouvintes. Como essa mensagem seria recebida? O que eles ouviriam? É aqui que a leitura da Bíblia em voz alta se mostra bastante útil. Ela pode nos ajudar a ouvir algo que deixaríamos escapar se as palavras fossem apenas lidas e estudadas.
Por exemplo, a ternura do Salmo 23 é muito diferente da tensão do lamento no Salmo 13. O tom de celebração do Cântico de Moisés em Êxodo 15 é um mundo diferente da sombria entrega dos Dez Mandamentos em Êxodo 20. A soberania divina em João 6 é pessoal, ao passo que, em Romanos 9-11, é impetuosa e intrincada. O gênero textual e o tom são vitais para a mensagem e a aplicação de cada texto.
Conheça o tom para o qual você é predisposto e se esforce para equilibrá-lo
Uma vez que o tom se relaciona muito ao contexto, é importante considerar qual o seu tom “normal”. Alguns pregadores e mestres são mais intensos que outros. Alguns comunicadores são mais acadêmicos, ao passo que outros soam muito afáveis. Saber isso acerca de si mesmo irá ajudá-lo a encontrar equilíbrio e o tom correto. Pregadores intensos precisam se certificar de que proporcionam conforto e graça. Comunicadores academicamente orientados precisam ser mais afáveis. Mestres mais coloquiais precisam ser mais declarativos. Conhecer a si mesmo irá capacitá-lo a usar o tom correto e também a encontrar um equilíbrio de tons em sua pregação e ensino. Um pregador que sempre usa sarcasmo ou dureza pode ser desconcertante e até soar inapropriado. E um pregador que sempre é consolador e encorajador, mesmo quando o texto é mais vigoroso, parecerá menos autoritativo. Portanto, busque em oração maneiras de equilibrar o tom do texto com o tom que você mais naturalmente transmite.
Conheça a sua congregação
Compreender a história e os desafios da sua congregação é vital para encontrar o tom apropriado. Uma igreja que foi ferida por líderes arrogantes precisará, por uma temporada, de um pastor que pregue a verdade com muita graça. Uma igreja que tende ao orgulho espiritual precisará de uma palavra dura e direta a fim de abalar as suas tendências hipócritas. Outras igrejas precisam ouvir luta e lamento no tom do sermão, porque isso dá voz às suas experiências dolorosas. Um pastor sábio conhecerá o seu texto, o seu tom e a sua congregação para poder aplicar fielmente a Palavra de Deus de um modo que ela seja ouvida e recebida.
Use o tom para mergulhar no texto
Usar o tom correto exige uma grande dose de sabedoria. Mas, se usado bem, ele convida as pessoas a uma compreensão mais profunda da passagem e desvenda novas aplicações. A pregação com o tom apropriado ajuda as pessoas a sentirem o peso do que está sendo dito. Ela faz com que a passagem se torne viva de novas maneiras. Ela pode abrir os corações para verdades que seriam ignoradas sem o tom correto. Ao usar o tom correto, você ajudará as pessoas a ouvirem a verdade da Palavra de Deus. A verdade por meio do tom é uma maneira poderosa de tanto o pastor como a congregação mergulharem juntos no que está sendo dito na Bíblia. Um tom apropriado permite que o indivíduo não apenas saiba, massinta o que está numa passagem em particular.
Conclusão
O tom correto abre uma porta e dá carne e forma à mensagem. O tom correto pode tornar a verdade vívida e profundamente sentida. Por outro lado, usar o tom errado pode ofender desnecessariamente as pessoas, obscurecer o sentido e impedir a aplicação do texto. Mais do que isso, com o tempo, usar consistentemente o mesmo tom, a despeito da passagem, tornará a Bíblia monótona para a sua congregação, o que irá tapar os seus ouvidos e, inevitavelmente, causar algum tipo de deficiência espiritual.
A verdade é que a pregação e o ensino não são diferentes de outras formas de comunicação que exigem cuidadosa atenção ao tom. O modo como pregamos e declaramos a verdade da Palavra de Deus importa. Sendo assim, a pregação eficaz não é indiferente ao tom. Em vez disso, é a verdade da Palavra unida ao tom correto.
Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentelhttp://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/842/A_Sua_Pregacao_e_Insensivel_ao_Tom_do_Texto_Biblico
Revisão: Vinícius Musselman Pimentelhttp://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/842/A_Sua_Pregacao_e_Insensivel_ao_Tom_do_Texto_Biblico