Exortações Gerais - Lição 12


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O texto que vamos estudar neste capítulo revela quanto o apóstolo Paulo era cuidadoso com a igreja local. Ele não apenas se preocupava com a doutrina, com o ensino, com as exortações de caráter espiritual propriamente dito. Muito diferente de alguns obreiros ou líderes, que não têm sensibilidade para valorizar o lado humano da igreja ou das pessoas. Paulo, mais uma vez, em uma carta, tece considerações e ensinos sobre diversas faixas etárias de crentes em Jesus. Já fizera recomendações semelhantes em sua primeira carta a Timóteo 5.1,2.
Novamente, ao escrever a Tito, seu fiel “companheiro” e “cooperador” (2 Co 8.23) e “verdadeiro filho” (Tt 1.4), Paulo exorta acerca do tratamento humano e fraternal que deve ser dado a diversas classes de pessoas, não só como cristãs, membros de uma igreja local, mas como pessoas, com suas carências e necessidades emocionais e físicas. A visão de Paulo era ampla, abrangente, holística. Há pessoas que, na liderança da igreja, voltam-se mais para os adultos e se esquecem dos jovens, dos adolescentes e das crianças. Outros valorizam sobremaneira os idosos, os velhos, os anciãos, mas não dão muita atenção aos de mais idade. Todavia, Paulo sabia que as ovelhas do rebanho de Jesus precisam ser bem assistidas, independentemente de sua faixa etária, sexo ou condição social.
Os conselhos de Paulo tinham como alvo os crentes das igrejas de Creta. Mas o porta-voz deveria ser o jovem obreiro Tito. Depois de doutrinar sobre a organização da igreja local quanto aos requisitos para a consagração de obreiros, e como tratar os “contradizentes” e falsos crentes, Paulo torna-se mais enfático e voltado para o dia a dia das pessoas, ao longo de sua vida humana. Chama-nos a atenção o fato de Paulo escrever tanto sobre jovens e adultos, mas parece que se esqueceu das crianças, de como a igreja local deveria tratá-los, pois não apresenta ensinos específicos, senão para “filhos” em geral (Ef 6.1,4; 1 Ts 2.7,11). Provavelmente, Paulo teria sido casado, pois era membro do Sinédrio (cf. At 22.5; 26.10), ou viúvo, com base em 1 Coríntios 7.7a, e pelo fato de ter profundo conhecimento sobre o matrimônio e suas implicações para a vida cristã.
Nesta seção da carta a Tito, Paulo não se esqueceu de exortar sobre o exemplo que o obreiro deve dar para com todas as pessoas, tanto da igreja como de fora. A Timóteo, ele já houvera dado semelhante conselho: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” (1 Tm 4.12).
As cartas pastorais são uma fonte bíblica e confiável sobre doutrina, prática e ensinamentos importantes para o melhor desempenho das funções ministeriais, notadamente para os líderes cristãos, que, nos dias presentes, carecem de fundamentos para suas decisões, providências e medidas, necessárias à sua administração eclesiástica.

I - O QUE O OBREIRO DEVE FALAR

Após as advertências contra os que não se comportam à altura da condição de servo de Deus, Paulo adverte a Timóteo sobre o que ele deve dizer ou falar diante da igreja e dos homens em geral. “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1). Sem dúvida, é uma grande lição para os obreiros cristãos, em todos os lugares, em todo o tempo. Esses precisam saber expressar-se, transmitindo mensagens, ensinamentos, exortações e sermões, nos momentos mais diversos. Saber falar é uma arte, uma virtude. E o apóstolo orienta que o parâmetro sobre o que falar é o que “convém à sã doutrina”, ou seja, o que é conveniente, diante dos princípios da Palavra de Deus. Tiago, apóstolo de Jesus, deixou precioso ensino sobre o saber falar: “Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1.19).
Há pessoas, nas igrejas, que falam demais. E dizem o que não deveriam dizer, causando problemas de relacionamento. Ser “tardio para falar” e “pronto para ouvir” é sinal de sabedoria. O falar do crente em Jesus, e mais ainda do obreiro, deve ser sério e de acordo com os ditames da Palavra de Deus.
O púlpito é lugar de grande responsabilidade para quem dele faz uso. A mensagem deve glorificar a Deus e ser motivo de glorificação no ministério pastoral. Escrevendo aos romanos, Paulo declarou: “Por- que convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério” (Rm 11.13). Ele sabia da grande missão de ser apóstolo ou “doutor dos gentios”. Seu conhecimento, adquirido ao longo da sua vida, desde sua juventude, deveria ser colocado à disposição da igreja do Senhor Jesus, especialmente, na proclamação do evangelho aos gentios. O servo de Deus precisa ter cuidado para não falar coisas inconvenientes. “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (Ef 4.29). O obreiro deve ter “linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2.8).

II - EXORTAÇÕES AOS IDOSOS, AOS JOVENS E SERVOS

1. Como os Velhos Devem Portar-se

“Os velhos que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, na caridade e na paciência” (Tt 2.2). A vivência com diversas igrejas, o contato com vários grupos de pessoas, fez com que Paulo tivesse experiência suficiente para exortar aos anciãos, às pessoas que, hoje, fazem parte da “Terceira Idade”, ou da “Melhor Idade”. Em nosso país, pessoa idosa é quem está com mais de 60 anos. Idade em que as experiências já se acumularam, ao longo da jornada. Mas há muitos que tiveram uma formação familiar e espiritual deficiente, e causam transtornos em casa e na igreja.
Uma das coisas mais constrangedoras é ver uma pessoa idosa agindo de modo ridículo ou inconveniente. Os velhos crentes, conforme esse ensino, devem ser “sóbrios”, isto é, simples, modestos, sem exageros. Alguns, por causa de sua formação deficiente, comportam-se de modo contrário à sã doutrina. Mas os idosos devem ser “graves”, ou seja, respeitosos, sérios e decentes. Isso não quer dizer que o idoso crente deve ser uma pessoa de “cara fechada”, ranzinza, intolerante.
Mas devem saber relacionar-se com todos, especialmente com os de menos idade. Os velhos crentes devem ser “prudentes”, sinônimo de cautelosos; devem ser “sãos na fé”, o que significa que devem ter segurança na sua maneira de crer e de ver as verdades e práticas cristãs. Devem, ainda, ser “sãos” “na caridade e na paciência”. Por vezes, a velhice torna-se inconveniente para algumas pessoas. Falta-lhes a paciência no relacionamento com os outros.
As doenças, os distúrbios próprios da idade avançada provocam alterações psicológicas ou emocionais, que tornam os velhos intolerantes, grosseiros ou até agressivos. Mas é preciso saber administrar esse importante estado da vida humana. As pessoas mais novas, na igreja ou na família, precisam saber tratar com os idosos, que têm problemas emocionais ou físicos. Acerca dos velhos crentes, disse o salmista: “Os que estão plantados na Casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes, para anunciarem que o Senhor é reto; ele é a minha rocha, e nele não há injustiça” (SI 92.13-15).

2. O Comportamento das Mulheres Idosas e dos Jovens

1) As mulheres idosas
No parágrafo anterior, vimos que os homens idosos devem ser exemplo em seu comportamento. Nesta seção, Paulo dá ensinamento sobre as mulheres de mais idade: “As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem” (Tt 2.3). Mulheres idosas, com mais de 60 anos, são pessoas que têm vivência e experiências de grande valor para serem exemplo para as gerações mais novas. A santidade que se requer de todos os crentes impõe que sejam “sérias no viver”.
Devem ser mulheres santas, que não andem com atitudes e maus exemplos, na igreja ou fora dela. Não devem ser caluniadoras (gr. diabolos), “não dadas a muito vinho”, o que indica que, na época de Paulo, o tomar vinho não era condenável, desde que fosse de forma moderada, “social”, como se diz atualmente. Mas é melhor evitar o uso de vinho alcoolizado. Um bom suco de uva integral, puro, tem o mesmo efeito sobre a saúde, e evita inconvenientes de ultrapassar o limite da sobriedade.
2) As mulheres mais novas
O que mais chama a atenção quanto ao comportamento a ser vivido pelas mulheres cristãs idosas é que devem ser “mestras do bem”. Sim, elas devem ser “mestras” para as mulheres mais novas. Estas devem ter comportamento exemplar, à altura de quem é nova criatura, e vive em conformidade com os princípios cristãos. “[...] para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu marido, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada” (Tt 2.4,5). Nesses versículos, vemos qualidades elevadas a serem cultivadas pelas mulheres cristãs.
As mulheres devem ser moderadas — uma mulher exagerada, exibida, excêntrica, que “gosta de aparecer”, não condiz com a modéstia cristã (1 Tm 2.9); castas, ou seja, puras, que demonstrem comportamento cristão sério, e não carnal ou impuro; boas donas de casa — qualidade de grande valor para uma esposa cristã, que deve saber administrar bem o seu lar (Pv 14.1). Também devem ser sujeitas a seus maridos, exortação semelhante à que Paulo faz em Efésios 5.21-23 e Colossenses 3.18. As mulheres cristãs devem ter essas qualidades, “a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada”.
3) Os jovens cristãos
“Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados” (Tt
2.6). Certamente, à época de Paulo, não havia diferenciação entre jovens e adolescentes. Todos os solteiros, em geral, eram considerados “jovens”. Nessa carta, a Tito, Paulo chama a atenção para o comportamento juvenil, exortando os jovens a serem “moderados”, ou comedidos, prudentes, sem exageros em seu comportamento. No contexto do Antigo Testamento, sob a Lei de Moisés, e depois, nos tempos do Novo Testamento, os jovens e adolescentes não eram tratados com
o excesso de liberdades que lhes é concedido nos tempos atuais. De forma alguma, a disciplina, o respeito às normas e a obediência eram ensinados de forma zelosa, no próprio lar (Dt 11.18,19). O apóstolo João, escrevendo sobre os jovens cristãos, mostra o perfil de um jovem salvo, que decide ser fiel a Deus: “[...] Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno” (1 Jo 2.14). Com esse perfil, o jovem ou a jovem cristã demonstra moderação, no comportamento pessoal, no namoro, no noivado e no relacionamento com as pessoas em geral.

3. O Comportamento dos Servos Cristãos

Nesta parte da carta a Tito, Paulo passa dos ensinamentos, levando em conta sexo e idade, para a condição social dos servos cristãos. Aquela época, havia a escravidão. Como não podia eliminar tal tipo de relação entre patrão e empregados, Paulo procura disciplinar essa relação de trabalho e de condição social. A Tito, ele refere-se apenas ao comportamento dos servos perante seus senhores (Tt 2.9,10).
É preciso pontuar o assunto, e questionar com sabedoria. Se um patrão quer que uma serva cristã aceite adulterar ou prostituir-se com ele, ela deve aceitar? De forma alguma; o apóstolo ensina que os servos não devem contradizer ou defraudar seus senhores. Aqui, há dois aspectos. Se for necessário, e em defesa de sua fé, um servo ou serva cristã pode contradizer exigências descabidas de qualquer patrão; não deve contradizer ou se contrapor às exigências normais e legais da relação trabalhista; no aspecto da não defraudação, ele está plenamente correto, pois “defraudar” é sinônimo de “roubar”, “surrupiar” o que é alheio. E, segundo Paulo, os servos crentes devem comportar-se nesse padrão, “para que, em tudo, sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador”.
Nos dias atuais, os pastores devem orientar os servos, empregados ou funcionários, na igreja, a saberem conduzir-se perante patrões, empresários, diretores ou presidentes, nas empresas, entidades ou órgãos públicos — sempre levando em conta sua condição de “filhos de Deus”, e servos do “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19.16).

III - O BOM EXEMPLO EM TUDO

Concluindo essa seção da carta a Tito, Paulo dá um conselho pastoral bem pessoal, dirigido ao obreiro. “Em tudo, te dá, por exemplo, de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2.7,8). E discrimina sete atitudes que servem de exemplo para os obreiros em todos os tempos.

1. Bom Exemplo

“Em tudo, te dá por exemplo de boas obras.” Ser exemplo é uma responsabilidade enorme para um cristão, especialmente para um obreiro. E ser exemplo “em tudo” é mais difícil ainda. As limitações humanas, as falhas próprias de cada um são fatores que dificultam essa condição especial. Mas Paulo como que desafiava Tito a ser esse padrão de comportamento, na prática de “boas obras”. Estas não são a fonte da salvação, mas são indispensáveis para demonstrar que o crente é de fato um salvo em Cristo Jesus. A salvação é pela graça (Ef 2.8,9), mas as boas obras fazem parte da vida cristã: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10 - grifo nosso).
O crente é salvo, independentemente das obras da lei, como diz Paulo (Rm 3.20), perante Deus, mas a fé sem as obras, ou seja, sem testemunho, não tem valor perante os homens. Paulo aconselha Tito a ser “em tudo”, “exemplo de boas obras”.

2. Incorrupção na Doutrina

Assim como em Éfeso, em Creta, havia os falsos mestres, ensinado- res de doutrinas corrompidas, eivadas de mistura com o gnosticismo e outras heresias dos primeiros tempos da igreja cristã. E Paulo advertiu quanto ao comportamento de Tito. Ele deveria ter muito cuidado com a doutrina, para que sua pregação e ensino fosse de modo correto, com fundamento na Palavra de Deus, na “doutrina dos apóstolos” (At 2.42).
Se ao apóstolo Paulo fosse dado o direito de ressuscitar, hoje, no século XXI, ele ficaria estarrecido com tanta corrupção doutrinária tomando conta de púlpitos, escolas, seminários, ditos cristãos; em programas através da mídia falada, escrita ou televisada. Ele veria a corrupção doutrinária no mercantilismo que invadiu muitas igrejas ditas neopentecostais, que “vendem” bênçãos por dinheiro; que utilizam manipulação psicológica para arrecadar mais recursos das pessoas em troca de elementos místicos ou “mágicos”, supostamente oriundos do “Rio Jordão”, do “Monte Sinai”, do “Monte Carmelo”, água “ungida”, lenço “ungido” e tantos outros ensinos e práticas que não têm fundamento na Palavra de Deus. Nunca na Bíblia as curas, ou milagres, sinais e maravilhas foram operadas, por Jesus ou por seus apóstolos, em troca de dinheiro. Isso é “simonia”, reprovada na mensagem dos apóstolos (At 8.20,21).

3. Gravidade e Sinceridade

São atitudes que equivalem a seriedade. Um obreiro deve ser sério, honesto, com postura que honre a Deus e ao seu ministério. Muitos escândalos têm perturbado a Igreja do Senhor Jesus, ao longo da história, por causa de comportamento irresponsável, frívolo e vulgar de alguns obreiros. Completando a lista de recomendações, Paulo diz que Tito deve ter “linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós”. E conduta exemplar, exigida de todos os que querem ser obreiros, dedicados à obra do Senhor.

CONCLUSÃO


Uma igreja local é a materialização da igreja visível. Nela, podem-se observar os diversos tipos de pessoas que aceitam a Cristo, de verdade ou não. Os que são crentes verdadeiros demonstram ser novas criaturas pelo seu porte, testemunho e por suas obras. Os que são falsos crentes também se revelam por seu caráter, expresso em sua conduta. A Palavra de Deus é o referencial para todo comportamento cristão, em todas as faixas etárias da vida.


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