O Jovem e o Estado
20 de Março de 2016
TEXTO DO DIA
“Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela” Rm 13.3.
SÍNTESE
Todas as autoridades são constituídas por Deus para proteger o bom cidadão. Os jovens cristãos devem submissão a elas, desde que suas ordens não sobreponham aos princípios bíblicos.
TEXTO BÍBLICO
Romanos 13.1-7.
1 — Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus.
2 — Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação.
3 — Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela.
4 — Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal.
5 — Portanto, é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência.
6 — Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo sempre a isto mesmo.
7 — Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.
INTRODUÇÃO
Nesta lição vamos refletir a respeito dos seguintes temas: o estabelecimento de todas as autoridades por Deus; as autoridades como ministros a serviço de Deus e a submissão às autoridades pelo jovem cristão.
I. AS AUTORIDADES SÃO ESTABELECIDAS POR DEUS (Rm 13.1,2)
Quando Paulo escreveu a Epístola aos Romanos, havia relativa paz entre o Estado e a igreja. Entretanto devido este texto estar no final desta epístola, alguns teólogos sugerem haver pelo menos algum sinal de rebeldia por parte de alguns membros da igreja em relação ao Estado. O imperador na época era Nero (54-68) e, neste período, por todo o império surgiam rebeliões contra o imperialismo romano, que eram sufocadas pelas legiões romanas. Alguns anos antes da escrita da epístola foram deflagradas algumas insurreições como a dos judeus de Alexandria, que influenciou no decreto do Imperador Claudio em 49 d. C., que expulsou os judeus de Roma, incluindo Priscila e Áquila. Na data da escrita da epístola, o decreto já havia caducado e os dois já estavam entre os membros da comunidade cristã em Roma. A principal questão das revoltas eram os impostos e tributos obrigatórios pelo império.
2. Todas as autoridades são constituídas por Deus (v.1).
Considerando o histórico citado no subtópico anterior, bem como a tradição do Antigo Testamento que apresenta o poder como propriedade exclusiva de Deus (Sl 62) e a autoridade política como instrumento de Deus tanto para proteção como para o castigo (Jr 27; Is 10.5,6; 41.1-7; 44.28). Por isso, apóstolo procura incentivar a manutenção da relação de paz entre o Estado e Igreja. Paulo usa do bom senso e afirma que todas as autoridades estão debaixo da ordem divina e foram constituídas por Deus. Por isso devem ser respeitadas. No entanto, a afirmação de Paulo não significa uma obediência absoluta, pois iria contra os princípios éticos cristãos e sua própria afirmação em Romanos 1.18, em que previa a ira de Deus sobre práticas que eram comuns ao império ditatorial romano. Veremos em tópicos posteriores que Paulo orienta o respeito às autoridades, mas desde que suas ordens e ações não fossem contraditórias à autoridade maior que é a Palavra de Deus.
3. A insubmissão às autoridades traz condenação (v.2).
Paulo age com prudência, procurando evitar um mal maior, como ocorreu com a perseguição de Nero em 64 d. C. Os judeus eram testemunhas disso. Eles tinham privilégios expressivos no Império Romano, pois a religião judaica estava legalmente registrada entre as permitidas. Algumas práticas e rituais judaicos estavam garantidos por lei dentro das muralhas de Jerusalém, como a dieta alimentar, a lei do sábado, proibição de imagens de escultura, inclusive o império ratificava a lei judaica de pena de morte para quem violasse os átrios internos do Templo de Jerusalém. Todavia, quando comunidades judaicas foram insubmissas às autoridades romanas, elas foram massacradas como já citado anteriormente. Paulo não queria isso para a igreja, por isso orientou os membros a terem boa relação com o Estado para garantir a liberdade pessoal e de cultuar a Deus.
Pense!
“Uma pergunta crítica em nossos dias gira em torno de com que rigor nós, cristãos, devemos aplicar o princípio de Paulo de sujeição aos governantes” (Lawrence Richards).
Ponto Importante
Paulo demonstrou ter bom senso ao lidar com as autoridades de Estado, visando sempre o bem estar das pessoas e a liberdade religiosa para os cristãos.
Paulo recorre a tradição do Antigo Testamento e se baseia em textos como Provérbios 8.15,16 e Isaías 11.1-9, que afirmam a constituição das autoridades por Deus para o exercício da justiça e manutenção da ordem na sociedade. Conforme já citado, devemos considerar o contexto de Paulo na época da escrita da carta, em que havia relativa paz no império em relação à igreja. Neste período a igreja era vista como uma ramificação do judaísmo, uma religião permitida. Devido a esta confusão, o cristianismo não era incomodado. Desse modo, sendo uma religião “legalizada”, todo cuidado seria importante para não perder essa prerrogativa e liberdade. A maior dificuldade da igreja, na realidade, era com os judeus que perturbavam o exercício do ministério do apóstolo devido ao legalismo. Portanto, neste contexto, os cristãos eram protegidos legalmente pelas autoridades romanas.
2. As autoridades são constituídas para punir os maus cidadãos (v.4).
O versículo anterior (v.3) termina com a frase: “faze o bem e terás louvor dela”. Os cristãos não se envolvendo em nenhum delito não seriam incomodados pelos magistrados, antes seriam vistos como bons cidadãos, que mereciam ser protegidos. Uma vida sossegada, conforme o conselho de 1 Timóteo 2.1,2: “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”. No entanto, as pessoas de fora da igreja, ainda dominadas pelo pecado, tinham a tendência de descumprir as leis de ordem estabelecidas pelos magistrados. Para estes não haveria proteção, mas sim a punição prevista em lei e, consequentemente, a falta de paz, com o Estado e com Deus, devido aos seus delitos e pecados.
3. A submissão não deveria ser por medo do castigo (v.5).
Paulo introduz um conceito que demonstra a superioridade da verdadeira moralidade cristã, que é motivada não pelo medo do castigo, mas por algo muito maior. O cristão verdadeiro não serve a Deus por ter medo de punições humanas ou de ir para o inferno, mas pelo amor e gratidão à Deus pela sua justificação por meio da fé no sacrifício vicário de Cristo. Diferente do ímpio, que poderia deixar de cometer delitos, mas por medo da punição das autoridades constituídas, o que não demonstra atitude interior. A recomendação paulina era uma submissão com foco em Deus e não somente na lei humana. O jovem cristão deve ter uma consciência pura e honrada (2Tm 1.5; At 24.6; Hb 13.7; 1Pe 1.6), não fraca (1Co 8.7,12), nem má (Hb 10.22; Tt 1.15) ou cauterizada (1Tm 4.2). Agindo assim, viverá em paz com Deus e com as autoridades constituídas.
Pense!
Por que você tem se submetido a Deus? Por medo de ir para o inferno ou por amor a Ele e pela gratidão ao sacrifício de Cristo?
Ponto Importante
As autoridades são constituídas por Deus para proteger os bons cidadãos e para punir as práticas de injustiça dos maus cidadãos.
III. O JOVEM CRISTÃO DEVE SE SUBMETER ÀS AUTORIDADES (Rm 13.6,7)
1. Os jovens cristãos devem pagar os impostos e tributos (v.6).
O pagamento de impostos é uma medida necessária para manutenção da ordem, infraestrutura e outros recursos necessários para sustentabilidade da sociedade. Contudo, este pagamento era um problema para uma série de grupos judaicos, dos menos radicais (fariseus) aos mais radicais e revolucionários (zelotes), que entendiam ser um crime, uma ofensa à sua religião e ao Deus de Israel, pagar impostos para um povo estrangeiro e dominador do povo israelita. Isto não parecia ser uma preocupação de Jesus, que incentivou o pagamento (Mt 22.21; 17.25-27; Lc 20.20-25), nem de Paulo, que recomenda o pagamento, reforçando que é para suportarem financeiramente os "ministros de Deus" para manutenção da ordem e proteção dos bons cidadãos, como os cristãos. Na época do apóstolo o imperialismo romano não dava ao povo oportunidade de participar da gestão pública.
A ênfase paulina para estas questões monetárias (impostos e tributos) denota alguns pontos de atenção para a comunidade de Roma, não poderia ser por acaso. Provavelmente, Paulo sabia das práticas de alguns membros da comunidade que lhe preocupava, temendo alguma consequência não somente de forma individual como também para a igreja. Paulo vai além, afirmando que devemos pagar os tributos e impostos, mas também o temor e a honra. Nos escritos de Paulo, quando se refere a honra, tem origem na palavra grega time, que também pode ser traduzida por “respeito, estima e consideração”, e é sempre atribuída a pessoas. Enquanto, que a palavra grega fobos, traduzida para temor, é atribuída a Deus e a Jesus (Rm 3.18; 8.15; 2Co 5.11; 7.1; Ef 5.21). Devemos respeitar as pessoas, mas temer a Deus, a fonte de toda autoridade.
Pense!
“A forma como Deus controla homens maus é pondo homens maus sob controle” (Martinho Lutero).
Ponto Importante
Paulo afirma que os cristãos também deveriam cumprir com suas obrigações como cidadãos e honrar as autoridades. Porém, enfatiza que, acima de tudo, deveriam temer e adorar a Deus, a fonte de toda autoridade.
CONCLUSÃO
Nesta lição, aprendemos que todas as autoridades são constituídas por Deus e que a insubmissão a elas traz incômodo, pois elas foram estabelecidas para proteger os bons cidadãos e punir os maus.http://marcosandreclubdateologia.blogspot.com.br/