Deixando pai e mãe
1º de Maio de 2016
TEXTO DO DIA
SÍNTESE
A ordem de deixar pai e mãe não significa desprezá-los, abandoná-los, pois o dever de honrá-los permanece para sempre.
TEXTO BÍBLICO
Efésios 5.31-33; Efésios 6.1-3.
Efésios 5
31 — Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne.
32 — Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja.
33 — Assim também vós, cada um em particular ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido.
Efésios 6
1 — Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo.
2 — Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa,
3 — para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.
INTRODUÇÃO
O primeiro mandamento de Deus para o homem (não o maior mandamento) é que, antes de casar, deve deixar seus pais (Gn 2.24). Esse paradigma para o casamento foi estabelecido de maneira tão veemente por Deus porque, talvez, essa fosse a única forma de quebrar o forte elo que liga pais e filhos, para poder surgir um novo ente social, a nova família. Como Deus é sábio! Tal acontecimento, identificado como individuação, tem alcance geográfico, psicológico e financeiro, não significando o distanciamento entre pais e filhos, mas colocando limites. Adão e Eva foram os únicos humanos que se casaram, e não tiveram de deixar pai e mãe, mas todos os demais devem cumprir a determinação divina. É certo que isso, às vezes, pode ser difícil. Entretanto não se trata de uma faculdade, mas de uma obrigação do novo casal. Afinal o verbo está no imperativo: deixará! Ao longo da história bíblica, os casais que serviram a Deus cumpriram integralmente essa norma divina.
I. O PRIMEIRO MANDAMENTO
Toda nova família deve ter características próprias, para ter uma união perfeita. Isso é impreterível para que haja crescimento e uma identidade familiar própria. O novo casal, assim, precisa ter suas experiências pessoais e resolver seus problemas, sem haver intromissão de nenhuma outra pessoa. Esse mandamento mencionado no Éden foi reiterado para Abraão (Gn 12.1-3). Ele o obedeceu e também o ensinou a seus descendentes. Tanto Abraão, como Isaque e Jacó, conquanto fossem nômades parte do tempo de suas vidas, habitando em tendas (Hb 11.9), tinham, cada um, a sua própria habitação (Gn 24.67; 31.34)! Eles sabiam conservar a cultura familiar, sem deixar de atender a esse importante mandamento.
2. Individuação.
A filosofia chama de individuação o fenômeno através do qual um organismo se singulariza dentro da espécie, sem abandonar as características comuns dos seus pares. Era isso que o Senhor queria que acontecesse com o novo casal. Estar junto dos familiares é um compromisso perene da nova família (não deve se excluir das celebrações familiares — aniversários, Natal, dia dos pais, das mães etc.). Entretanto a singularização do ente familiar que se formou é imperiosa. Foi Deus quem pensou assim. O Senhor chancelou esse fenômeno na biologia dando a cada ser vivo um código genético distinto. Não existem, como se sabe, zebras com as mesmas listras, nem leopardos com pintas iguais, nem seres humanos que apresentem impressões digitais idênticas (ainda que sejam gêmeos univitelinos). Até os cristais de gelo, microscopicamente analisados, demonstram formações moleculares díspares. Essa construção idiossincrática faz parte da natureza. Assim, quando uma nova família surge, ela precisa de um “DNA social” próprio.
3. Menção na Bíblia.
Na Bíblia, Deus fala de individuação em Jó 39, mencionando como esse fenômeno acontece na família das cabras monteses (vv.1-4), cujos filhos, quando crescem e ficam fortes, partem e “nunca mais tornam para elas”. Os filhos das cabras monteses precisam viver sua própria história, identificando-se como indivíduos, sem abrir mãos dos ensinamentos recebidos dos pais (indispensáveis à sobrevivência). O certo é que, “à sombra” dos seus pais, elas jamais poderiam cumprir integralmente o projeto do Criador. Por isso, os descendentes caprinos procurarão suas próprias montanhas para estabelecerem suas famílias.
Pense!
Por que Deus estabeleceu como requisito para a formação de uma unidade nEle (marido e mulher) a quebra de outra unidade perfeita (pais e filhos)?
Ponto Importante
Na família, os filhos devem aprender com os pais, mas, em tempo oportuno, devem sair de casa para ensinar também aos seus próprios filhos. Esse é o ciclo da vida.
II. ALCANCE DO MANDAMENTO
1. Afastamento geográfico.
Toda família precisa de “espaço” para crescer. Para isso Deus mandou que o novo casal, antes de se unir, saísse da casa dos pais. Observe-se uma planta. Ela precisa de um espaço que seja só dela (veja o que acontece quando o trigo divide um pequeno espaço geográfico com o joio — Mt 13.28-30 — é um problema). A grande dificuldade é que as raízes do joio e do trigo podem se entrelaçar, diante da proximidade territorial. Isso significa que o trigo precisa de um espaço individual, próprio. A mesma coisa acontece com a nova família.
2. Afastamento psicológico.
A planta precisa da luz solar para fazer a fotossíntese e crescer. Entretanto, essa radiação trará certo incômodo a ela nos horários mais quentes do dia. Isso porém é necessário. Utilizando o mesmo raciocínio, pode-se dizer que os pais não devem privar seus filhos dos eventuais desafios psicológicos. É preciso que cada nova família adquira individualidade, tomando suas próprias decisões. Por mais que “doa” ver os filhos passarem por certos “percalços” no novo contexto familiar, o bloqueio emocional ao novo casal, pelos pais, (impedir que deixe psicologicamente os genitores) ensejará prejuízo. Um escritor antigo dizia que “em mar calmo todo barco navega bem”. As lutas, dificuldades, surgirão para que possa despontar a nova liderança do lar: o marido. É bem verdade que o Código Civil e a Constituição Federal não distinguem liderança entre homem e mulher, no seio da família, mas a Bíblia estabelece. E, por isso, essa nova liderança precisa surgir, mas não aparecerá se não houver autonomia psicológica. Esse afastamento proporciona, à nova família e aos pais, a chance de um relacionamento mais íntimo com o Criador, na confiança que Ele é o socorro na hora da angústia (Sl 46.1) e, contra os incômodos do sol causticante, Ele é a sombra (Sl 121.5-6).
A ordem de “deixar pai e mãe” também atinge a parte financeira, porém o dever dos pais ajudarem financeiramente os filhos (2Co 12.14) e vice-versa (Mc 7.10-13) nunca terminará diante de Deus, bem como perante a lei civil, a qual usa como parâmetro para definir o valor da “pensão alimentícia” o trinômio “necessidade-possibilidade-proporcionalidade”. Isto é, o dever de pagar reciprocamente alcança pais e filhos, na medida da necessidade e possibilidade de cada um, aplicando o critério da proporcionalidade para achar o valor justo. Há, porém, pais que possuem renda suficiente, mas exigem, para comprar supérfluos, aportes financeiros mensais do filho casado. Por outro lado, existem filhos casados que, irresponsavelmente, querem viver à custa dos pais. Os dois extremos estão errados e causam sérios conflitos no lar. Frise-se, por fim, que nenhuma ajuda que inviabilize a administração do lar de quem contribui vem de Deus, porque isso não tem origem no amor, mas em um sentimento indevido de posse dos pais sobre o(a) filho(a) recém-casado(a), ou vice-versa.
Pense!
Por que tantos pais querem manter o controle sobre o filho após ele se casar? Seria isso amor ou egoísmo?
Ponto Importante
Deixar o filho seguir seu próprio caminho, para construir um novo lar, como acontece com as cabras monteses (Jó 39.4), é sinal de amor. Reter o que Deus liberou é egoísmo!
III. CONFLITO ENTRE MANDAMENTOS
Há, na Bíblia, dois mandamentos que aparentemente se contradizem: deixar e também honrar pai e mãe.
1. Honrando pai e mãe.
Sejam bons ou maus, os pais devem ser honrados incondicionalmente. Entretanto se surgirem conflitos entre o cônjuge e um dos pais, a Bíblia é clara: “deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher”. O cônjuge deve ter sempre a prioridade! Os interesses dos parceiros são superiores aos desejos dos sogros e filhos. Deus disse a Abraão: “ouça a voz de sua mulher” (Gn 21.12). Os interesses de Sara eram mesquinhos, pois o problema foi criado por ela e Deus faria Isaque ser o herdeiro independentemente de qualquer coisa. Entretanto, mesmo sendo doloroso, o Senhor determinou que Abraão abrisse mão do filho Ismael e Agar, por atenção a Sara. A honra aos pais, porém, não pode ensejar em qualquer espécie de humilhação ao cônjuge.
2. Deixando pai e mãe.
Enquanto estiverem em casa, os filhos deverão ser totalmente obedientes aos pais, no Senhor. Quando se casarem, porém, “deixarão pai e mãe”, ou seja, os filhos devem sair da casa, construir seu próprio patrimônio e tomar suas próprias decisões na vida, para que a unidade do novo casal não seja comprometida. Por tal motivo, é comum observar pessoas com sérios conflitos familiares, quando acontece o caso de os pais continuarem intervindo nas decisões dos filhos casados. É bom lembrar, porém, que, mesmo com o casamento dos filhos, a honra àqueles que deram toda a atenção e carinho durante a infância, adolescência e juventude aos filhos, ainda persistirá. Interessante que, logo após falarem sobre o dever do novo casal de deixar pai e mãe, Jesus e o apóstolo Paulo acrescentam sempre o dever de honrá-los (Mt 19.5,19; Mc 10.7,19 e Ef 5.31; 6.2), ou seja, um mandamento não invalida o outro.
3. Filhos que podem morrer cedo.
O primeiro mandamento com promessa é honrar pai e mãe, porque na primeira infância os filhos ficam, diante de Deus, com grande dívida com seus pais e o momento propício para o pagamento é quando os genitores não puderem mais cuidar de si próprios. Então Deus garante ao filho atencioso que viverá muito, para poder cuidar de seus pais na velhice! Dessa maneira, o Senhor harmoniza as responsabilidades dentro da família. Não há ninguém sobrecarregado e outro sem nenhuma obrigação. Todos têm um papel específico. O Senhor é justo.
Pense!
Quando o filho deixar os pais para construir um novo lar, pode esquecer o que seus genitores fizeram por ele durante a vida?
Sobre os filhos penderá, sempre, o dever de honrar os pais até o fim, entretanto o dever de estarem em submissão cessa com o casamento do filho.
CONCLUSÃO
Os pais e filhos que forem fiéis ao mandamento mais antigo de Deus para a família — ao casar, deixar pai e mãe — desfrutarão do ciclo da vida familiar em conformidade com a vontade do Criador. E isso é muito bom e proveitoso. Obedecer às ordens do Senhor não é um peso, mas um privilégio, pois a obediência garante um futuro de paz e a fruição de toda a sorte de bênçãos divinas (Lv 26.3-10).http://marcosandreclubdateologia.blogspot.com.br/