Na entrevista no Programa Fantástico da Rede Globo Temer responde perguntas da Jornalista Sônia Bridi
O presidente em exercício Michel Temer concedeu entrevista a jornalista Sônia Bridi, da TV Globo, na última sexta-feira, um dia após a confirmação da abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff no Senado. Na conversa, Temer foi cauteloso ao reiterar que não é mandatário pleno do país: “Ainda estou ocupando interinamente. Não sei o que vai acontecer. Vou aguardar respeitosamente a decisão do Senado Federal.” Entretanto, o presidente já estabeleceu a prioridade do novo governo. “Quero fazer com que o Brasil se equilibre, em primeiro lugar. Se equilibre economicamente, politicamente, eticamente, e que possamos ter um país pacificado.”
Durante a exibição da entrevista neste domingo, ocorreram protestos em várias capitais do Brasil, a exemplo do que costumava acontecer em pronunciamentos da presidente Dilma. Sobre a suposta falta de legitimidade de seu governo, Temer se defendeu. “Tenho uma legitimidade constitucional, porque se a presidente se afasta, quem assume é o vice-presidente. Fui eleito juntamente com a senhora presidente. Os votos que ela recebeu eu também os recebi.” Mas reconhece que ainda não tem o reconhecimento popular. “Só ganharei ou só terei, se produzir efeito benéfico para o país.”
O presidente Temer também respondeu que a primeira-dama, Marcela, e seu filho caçula, Michel, só deverão se mudar para Brasília após a votação do impeachment no Senado. “Se acontecer de eu ocupar a presidência da República (em definitivo), ela virá para desenvolver toda a parte social. Já conversamos sobre isso. Ela é advogada e tem muita preocupação com as questões sociais.”
Programas sociais
“Uma das nossas prioridades é exatamente a atenção com os mais carentes, com os mais pobres. Nós não podemos abandonar aqueles que tem dificuldade de sobrevivência. Então, quando eu disse que manterei o Bolsa Família e outros tantos programas sociais foi na concepção mais absoluta, de que deve haver uma proteção a aqueles que não tem por conta própria a condição de sobrevivência. Se for necessário, cortarei de outros setores. Não cortarei daqueles mais carentes do país.”
Cortes de gastos
“Nós temos hoje as chamadas vinculações constitucionais, são despesas obrigatórias. Aí, em princípio, não pode haver corte. Nós podemos cortar nas chamadas despesas discricionárias. Onde for necessário cortar nós vamos cortar. Veja que nós já eliminamos vários ministérios e agora estamos levantando, o ministro do Planejamento está levantando todo o panorama administrativo da União para eliminar vários cargos comissionados. Eu penso entre 4 000 a 5 000 cargos comissionados. Isso significa redução de despesas. Nós vamos conseguir atingir.”
Composição dos ministérios
“Fiz dois jogos, o primeiro falando com a sociedade. Quando nós eliminamos os vários ministérios, nós falamos com a sociedade. Mas, depois, eu tive que fazer uma composição de natureza política, ela é inevitável. Porque na democracia é assim, você só não homenageia o Legislativo e não homenageia o Judiciário em sistemas autoritários, nas ditaduras. Mas no sistema democrático, você há de conviver com o Legislativo e o Judiciário. Os partidos trouxeram vários nomes. Penso que escolhi os melhores nomes."
Ausência de mulheres
“Um dos cargos mais importantes da Presidência da República é a chefia de gabinete da Presidência da República, ocupada por uma mulher. Não digo que esteja acima dos ministros, mas evidentemente tem uma prevalência muito grande em relação ao ministério. Este é o primeiro ponto. O segundo: fiz a junção de vários ministérios. Para a Cultura, quero trazer uma representante do mundo feminino. Para a Ciência e Tecnologia e Comunicações, quero trazer uma representante do mundo feminino e também na chamada Igualdade Racial, Mulheres etc., que passou a ser Cidadania, eu quero trazer uma mulher. Portanto, eu terei no mínimo quatro mulheres integrantes do ministério."
Lava Jato
“Quando dizem que eu patrocinei a nomeação de um diretor da Petrobras, eu explico, como já expliquei dezenas de vezes publicado na imprensa brasileira. Eu era presidente do partido e, quando as bancadas iam indicar alguém para um cargo, me apresentavam um cidadão. No caso presente, foi precisamente isso que se deu: apresentaram-me o cidadão, que foi nomeado depois diretor da empresa, este é o primeiro ponto. Segundo ponto: a tal história da doação é interessante. Fala-se como se alguém tivesse chegado perto de mim, aberto o bolso da minha calça e dito: ‘olhe, 5 milhões de reais, abre aí que eu vou colocar no seu bolso’. Não foi isso. Tão logo surgiu essa ideia, o meu assessor de imprensa foi ao partido, ao PMDB, e verificou o ingresso dessa quantia, era até um pouco mais, que entrou na campanha, entrou na campanha. E, entrando na campanha, depois prestou-se conta. As contas foram prestadas ao tribunal. Portanto, o senhor procurador-geral, como você disse quando disse que não haveria indícios, não haveria indícios primeiro porque o próprio cidadão que foi nomeado declarou na delação que eu não o indiquei. Quando o procurador-geral agiu dessa maneira foi alicerçado nos próprios depoimentos."
Cassação do mandato
“Aqui vai um debate acadêmico e jurídico que vai interessar muito, penso eu, ao Tribunal Superior Eleitoral. A regra básica da Constituição é que nenhuma pena passará da pessoa do acusado. Essa é uma regra dos direitos individuais que é utilizada em todos os foros. Bem, quando a acusação se dá pela campanha da senhora presidente, não envolvendo a campanha do vice-presidente, porque o vice-presidente tinha uma contabilidade própria, tinha um comitê financeiro próprio, teve recursos próprios, se não envolve o vice-presidente, não tem sentido, seria a única exceção ao texto constitucional em que a penalidade imposta a um alcança um terceiro. E aí, eu confesso, há dezenas de argumentos reveladores que uma coisa é a figura institucional do presidente da República, outra coisa a figura institucional do vice-presidente da República.”
Prioridades
“Reduzir o desemprego, em primeiro lugar. Em segundo lugar, ver um país pacificado, em que os brasileiros passem a dar-se as mãos, não haja mais essa divergência que se instalou no Brasil, numa conjugação de esforços dos estados, dos municípios. Aliás, eu pretendo rever um pouco o sistema federativo, de modo a fortalecer os estados e municípios, portanto, a pacificação do país e a harmonia interna. Este seria, penso eu, o melhor legado que eu poderia deixar.”
Reeleição
“Não é a minha intenção. Aliás, não é a minha intenção, e é a minha negativa. Eu estou negando a possibilidade de uma eventual reeleição, até porque isso me dá maior tranquilidade, eu não preciso praticar gestos ou atos conducentes a uma eventual reeleição. Eu posso ser até, digamos assim, impopular, mas desde que produza benefícios para o país, para mim é suficiente."
Fonte: Verdade Gospel