A cada início de tarde, dezenas de pessoas rondam o depósito de lixo do feirão de Coche, no sul de Caracas, à espera da mercadoria vencida ou estragada. Sempre que uma lata de lixo é despejada, elas se agacham e, em silêncio, começam a revirar detritos. Adultos e crianças disputam espaço com cachorros sarnentos, num retrato cada vez mais comum da crise que devasta a Venezuela.
Após horas no local, o desempregado Luis Losada, 40, exibe uma sacola de plástico com pedaços de mandioca e batata. "Com isso farei uma sopa, e teremos jantar lá em casa", diz Losada à Folha. Passavam das 14h, e ele não havia tomado café da manhã nem almoçado. "Venho a cada dois dias. A prioridade é alimentar meus netos. Se sobra, eu também como."
Manaure Quintero/Folhapress
Junto a cães e máquinas, venezuelanos reviram lixo da feira de Coche, em Caracas, em busca de comida
A alguns metros dali, meninos em uniforme escolar sorriem após encontrar uma bolsa contendo algo parecido com ração animal. "É para cachorro, mas serve para nós", diz um deles. Ao ver a reportagem, uma senhora grita: "Estamos morrendo de fome, diga ao mundo todo."
Não há cifras, mas comerciantes são unânimes em apontar cada vez mais gente que espera o fim da feira para buscar comida. "Eu mesmo já tive de catar tomates no lixo, mas fiz isso em outro mercado, para que ninguém me reconhecesse", diz Igor Perez, 41, feirante em Coche.
O que leva venezuelanos a práticas outrora impensáveis no país com a maior reserva de petróleo do mundo é uma crise econômica que, em 2015, gerou queda do PIB em 10% e inflação de 275%.
Um quilo de carne vale ao menos 5.000 bolívares (US$ 5 na cotação paralela usada por particulares) —um quarto do salário mínimo. Uma maçã vale 1.000 bolívares.
Já os alimentos a preço regulado, usados por anos como base de apoio ao governo chavista, desapareceram das prateleiras, no sinal mais visível do desabastecimento.
A crise começou em 2012, após uma década de políticas hostis ao setor produtivo, como expropriações e controles de preço e de câmbio. A situação se deteriorou em 2014, com a queda do preço do petróleo, base da economia.
O resultado é uma taxa de pobreza de 76%, segundo estudo das universidades Andrés Bello, Central e Simón Bolívar. O índice era de 55% em 1998, quando Hugo Chávez foi eleito à Presidência.
"Tudo desmoronou quando Chávez morreu [em 2013]. [O atual presidente Nicolás] Maduro é um inútil", diz Losada, o desempregado. Membro do partido chavista, ele admite ter votado contra a sigla na eleição parlamentar de dezembro, vencido pela oposição. "Sou formado em administração, já tive emprego, mas hoje reviro lixo para alimentar minha família."
Após horas no local, o desempregado Luis Losada, 40, exibe uma sacola de plástico com pedaços de mandioca e batata. "Com isso farei uma sopa, e teremos jantar lá em casa", diz Losada à Folha. Passavam das 14h, e ele não havia tomado café da manhã nem almoçado. "Venho a cada dois dias. A prioridade é alimentar meus netos. Se sobra, eu também como."
Manaure Quintero/Folhapress
A alguns metros dali, meninos em uniforme escolar sorriem após encontrar uma bolsa contendo algo parecido com ração animal. "É para cachorro, mas serve para nós", diz um deles. Ao ver a reportagem, uma senhora grita: "Estamos morrendo de fome, diga ao mundo todo."
Não há cifras, mas comerciantes são unânimes em apontar cada vez mais gente que espera o fim da feira para buscar comida. "Eu mesmo já tive de catar tomates no lixo, mas fiz isso em outro mercado, para que ninguém me reconhecesse", diz Igor Perez, 41, feirante em Coche.
O que leva venezuelanos a práticas outrora impensáveis no país com a maior reserva de petróleo do mundo é uma crise econômica que, em 2015, gerou queda do PIB em 10% e inflação de 275%.
Um quilo de carne vale ao menos 5.000 bolívares (US$ 5 na cotação paralela usada por particulares) —um quarto do salário mínimo. Uma maçã vale 1.000 bolívares.
Já os alimentos a preço regulado, usados por anos como base de apoio ao governo chavista, desapareceram das prateleiras, no sinal mais visível do desabastecimento.
A crise começou em 2012, após uma década de políticas hostis ao setor produtivo, como expropriações e controles de preço e de câmbio. A situação se deteriorou em 2014, com a queda do preço do petróleo, base da economia.
O resultado é uma taxa de pobreza de 76%, segundo estudo das universidades Andrés Bello, Central e Simón Bolívar. O índice era de 55% em 1998, quando Hugo Chávez foi eleito à Presidência.
"Tudo desmoronou quando Chávez morreu [em 2013]. [O atual presidente Nicolás] Maduro é um inútil", diz Losada, o desempregado. Membro do partido chavista, ele admite ter votado contra a sigla na eleição parlamentar de dezembro, vencido pela oposição. "Sou formado em administração, já tive emprego, mas hoje reviro lixo para alimentar minha família."
Via Folha