Lição 03: O Dia do Senhor (Jovens)



Nesta seção, observamos que a preocupação central do profeta Isaías é a santidade de Deus; assim, ele condena a idolatria e a altivez presentes na sociedade e aponta para o dia do Senhor. Mas o que exatamente é o dia do Senhor? De acordo com Soares, o termo hebraico para “dia” é yom, que pode significar “dia” literalmente (Jó 3.3) ou até período de tempo (Gn 2.4). Assim, segundo ele, o dia do Senhor indica o período reservado por Deus para o “acerto de contas” com todos os moradores da terra.
Gerhard von Rad, estudioso do Antigo Testamento, analisa as imagens que acompanham esse dia escatológico e conclui que o mesmo remonta às guerras santas do Senhor, ou seja, esse dia se refere à ocasião em que Jeová aparecerá pessoalmente para aniquilar seus inimigos.
Convém registrarmos que não é apenas Isaías que utiliza esta expressão “dia do Senhor” com suas trágicas consequências, pois há muitas ideias nos escritos proféticos sobre a natureza desse tremendo dia (como se pode verificar na tabela que está na próxima página).
Profetas

Significado da expressão “dia do Senhor” nos profetas
Obadias

Um tempo de julgamento e retaliação.
Joel

Dia de destruição na vinda do Senhor (1.15; 2.1,11,31; 3.14).
Amós

Dia de grande escuridão para o mundo, mas também para Israel (5.18,20).
Isaías
Dia de ajuste de contas para os soberbos e também um dia de destruição cruel vindo do Altíssimo (2.12; 13,6,9).
Sofonias               
Dia de grande ira da parte do Senhor, o qual se aproxima muito rapidamente (1.7,14).
Ezequiel
Dia em que as nações se lamentaram, quando Nabucodonosor empunhou a “espada do Senhor” ao conquistar o Ocidente (13.5; 30,3).
Zacarias
Dia da ardente defesa de Jerusalém pelo Senhor, quando todas as nações estarão reunidas contra ela (14.1).
Malaquias
O dia em que o Senhor esmagará os perversos e os destruirá como refugo, precedido pelo ministério de restauração de Elias (4.5).

Portanto, não existe uma única definição da natureza do dia do Senhor na literatura profética, e sim diversos aspectos e imagens bíblicas que descrevem esse dia. Contudo, a principal ideia está relacionada ao grande julgamento e restauração do Reino do Senhor.
Também podemos observar em Sofonias 1.15,16 uma das mais completas descrições do dia do Senhor. Assim, lemos que o dia de Jeová é:
a) Um dia de ira;
b) Um dia de aflição e angústia;
c) Um dia de ruína e devastação;
d) Um dia de trevas e escuridão;
e) Um dia de trombeta e grito de guerra.
Muitas dessas características desse terrível dia, mencionadas no livro de Sofonias, também estão presentes no livro de Isaías. Entretanto, em Isaías, o dia do Senhor se refere principalmente à intervenção divina contra a altivez humana, expressadas no apego excessivo às riquezas e a desvios morais que culminaram em corrupção e idolatria, mas também diz respeito às histórias de proezas e grandes feitos de Deus intervindo milagrosamente na história do seu povo, Israel (Is 2.6-9, 17-18).
Nesse caso de Isaías, o dia do Senhor primeiramente alude à Judá e Jerusalém, mas também se aplica aos últimos dias, pois a maioria das profecias bíblicas tem um cumprimento imediato e um cumprimento remoto, ou seja, aplicam-se num período de tempo próximo, mas também são aplicáveis há tempos mais distantes e escatológicos. Isso é possível, porque Deus, conhecedor de todas as coisas, ao inspirar sua Palavra, tinha propósitos muito mais amplos do que aquilo que o profeta entendia para seus dias.
Estamos agora no dia do homem, mas esse dia não vai durar para sempre. Naquele grande dia, o Messias irá finalizar o dia do homem e realizar na história o dia do Senhor. Abaixo, veremos algumas características dessa intervenção divina, com consequências para Israel nos dias do profeta Isaías, mas que se estende até ao período descrito escatologicamente como a grande tribulação (Ap 7.14).

I - A ALTIVEZ ORIUNDA DA PROSPERIDADE
No período profético de Isaías, Israel experimentou muita riqueza e prosperidade, talvez como em nenhum outro período depois do rei Salomão. O profeta escreveu: “E a sua terra está cheia de prata e ouro, e não têm fim os seus tesouros [...]” (Is 2.7).
Por outro lado, esse desenvolvimento econômico acabou não sendo visto como bênção de Deus; na realidade, acabou se tornando em pedra de tropeço para o povo, uma vez que os induziu a cometer uma série de pecados: corrupção, mentira, arrogância, idolatria, enriquecimento ilícito, injustiças sociais e toda sorte de perversão advinda de uma má compreensão da prosperidade, que resultou numa má utilização da mesma (Is 2.8-12).
1. Riqueza e prosperidade
Primeiramente, é necessário esclarecer que a Palavra de Deus não condena a riqueza ou o enriquecimento (Gn 13.2; 1 Rs 10.23; Ec 5.19). Muitas vezes, as interpretações sobre as riquezas na Bíblia acabam despertando posturas radicais: de um lado, tem aqueles que, por conta do discurso piedoso, afirmam que as riquezas são um mal em si, e, portanto, o povo de Deus não deveria ter posses. Já outros incorrem em outro extremo: Deus enriquece todos que tem fé para receber essa bênção. Como exemplo, podemos mencionar a conhecida teologia da prosperidade, que cresce vertiginosamente dentro de muitas igrejas, inclusive de algumas que outrora a condenavam.
Após considerarmos esses dois polos, devemos analisar o fato de que a orientação divina com relação à riqueza é no tocante ao acúmulo desnecessário, aos perigos que a cercam, bem como as ações ilícitas para obtenção desta riqueza (Mt 19.23; 1 Tm 6.9). E aqui onde está nossa base de discernimento para sabermos a vontade do Senhor, pertinente a esse assunto. O que sucedeu com o povo de Israel é que os reis e suas mais altas autoridades acumularam para si riquezas desnecessárias, mediante a prática de injustiças, indo contra o mandamento de Deus, o que fez com que seus corações se corrompessem. Frequentemente, as riquezas excessivas apartam o coração humano da confiança em Deus (cf. Lc 12.13-21; 34).
2. A Corrupção
A corrupção diz respeito ao ato ou efeito de corromper. O profeta é categórico sobre a corrupção do povo de Deus em seus dias. Senão, vejamos: “Os teus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama os subornos e corre após salários; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas” (Is 1.23). A corrupção é coisa antiga e estava presente nos dias de Isaías. Na verdade, a corrupção vem desde os primórdios da humanidade, pois, de acordo com a Bíblia, ela já se manifesta na queda da humanidade no pecado (Gn 3). Nesse episódio, aprendemos que a corrupção está relacionada não apenas com deixar de ser puro ou ir contra o certo; ela também está ligada com a cobiça, ou seja, a corrupção diz respeito a não satisfação com o que se tem e, portanto, resulta em todo tipo de ação (ainda que desonesta) para obter o que se não tem.
Devemos considerar as formas de corrupção e o modo como elas envenenam nossas relações e dificultam todas as possibilidades de uma vivência sadia com Deus e com o próximo. Primeiramente, a corrupção pode assumir quaisquer formas diferentes, dependendo do lugar. Por exemplo, existe a corrupção política, a ideológica, a corrupção dos valores de uma família, a corrupção do evangelho, e por aí em diante. Em segundo lugar, é necessário também dizer que quando a corrupção é descoberta, ela já corrompeu todo um conjunto de barreiras éticas e morais. Isso pode ser explicado, por exemplo, com o fato de que a corrupção política descoberta no Brasil - motivo de debate hoje em dia - já está em várias áreas da sociedade brasileira, e a política é apenas um reflexo do estado interno da própria sociedade que escolheu fazer da corrupção e do “jeitinho brasileiro” um forte aspecto da sua constituição cultural.
Por outro lado, a oposição à corrupção é vista como símbolo de fraqueza, de caretice e medo ante a esperteza dos que, engodados pela cobiça, estão dispostos a passar por cima de tudo e de todos. Felizmente, a coragem do profeta Isaías para denunciar os pecados de Israel, assim como anunciar o juízo divino, bem como o exemplo de Jesus Cristo, nosso Senhor, são fontes de inspiração no enfrentamento da corrupção. Lemos nos Evangelhos que, por diversas vezes, Jesus foi tentado pelo Diabo a se corromper, por meio da ganância, da fama e da celebração do poder. Mesmo assim, Jesus não “se desviou com os assuntos deste mundo”, permanecendo fiel à missão recebida do Pai celestial (Mt 4.1-11). Dessa maneira, Jesus tomou-se modelo para todos aqueles que pretendem fazer a diferença no mundo, não se permitindo, assim, ser moldados pela corrupção do mundo (Rm 12.1-2).
3. A Idolatria
Jesus afirmou que onde estivesse o tesouro de alguém, ali estaria o seu coração (Mt 6.21), ou seja, o coração pode seguir as ações de alguém e vice-versa. O povo de Israel demonstrou isso ao permitir que a riqueza e a prosperidade começassem a desviar seus corações do Senhor, e isso os levou a adorarem falsos deuses e ídolos (Is 2.6-8). Qualquer coisa que tome o lugar do Senhor como prioridade última em nossa vida toma-se um ídolo. Este sempre é opaco, ou seja, ofusca aquilo que se quer buscar, passando a apontar para si mesmo. O ídolo serve como um substituto muito fútil para Deus. Inclusive a religiosidade e denominações religiosas podem se tomar um ídolo quando passam a manipular o povo para obter vantagens próprias e adquirir poder (não do Espírito Santo, mas de forças humanas), ou, quando elas se tomam um fim em si mesmas. O povo havia se dobrado diante da loucura dos povos pagãos e se ajoelharam diante de ídolos feitos por mãos humanas. Assim, a arrogância fez com que se instalasse a degradação moral, social e religiosa, muito semelhante aos dias atuais (Is 2.8).
II - O DIA DO SENHOR PARA ISRAEL
A expressão dia do Senhor no livro do profeta Isaías simboliza eventos futuros e escatológicos e também quer expressar o sentido de iminência e de gerar expectativa. Para Israel, era símbolo de que Deus viria destruir o mal e os pecadores (Is 13.9; J1 1.15; Sf 1.7), mas também como símbolo de estabelecimento de paz e prosperidade. Assim, o povo de Deus seria finalmente vingado por todos os sofrimentos impostos pelas nações pagãs que o dominaram, resultando em más condições económicas, sociais e políticas (Is 2.4). Sendo assim, esse dia possui tanto aspectos políticos quanto espirituais. Na realidade, na perspectiva profética do Antigo Testamento, não se separa política e vida religiosa, ambas se encontram entrelaçadas.
Contudo, o Senhor Deus é justo e não poupa inclusive ao seu próprio povo de Israel, quando este se envolve em pecados (cf. Is 2.6-10). Assim sendo, podemos constatar que os aspectos condenatórios do dia do Senhor que Israel acreditava se referir apenas aos seus inimigos acabaram por ter um cumprimento imediato e recair sobre si mesmo. Isso ocorreu quando o povo de Deus foi levado para os cativeiros assírio e babilônico, tendo as consequências que veremos adiante.
1. O Abatimento do orgulho
No dia do Senhor, a prioridade é dada aos pecados de Israel. No capítulo 2 de Isaías, o Senhor dirige a palavra de julgamento à Judá e Jerusalém. Israel é declarado culpado de muitos pecados, sendo a falta de autenticidade nos cultos, o orgulho, bem como a idolatria, os maiores exemplos. No capítulo 1, o Senhor diz que a adoração de Israel não é autêntica. O Senhor não tem prazer nos animais que eles sacrificam. Quando o rito externo da religião não vem acompanhado de atitude sincera e verdadeira do coração, o resultado só pode ser o descontentamento divino (Is 1.13-15).
Tal atitude displicente do povo para com Deus revela um coração orgulhoso, de quem se vê de modo distorcido, maior e melhor do que de fato é. Com isso se despreza o culto ao Senhor, incorrendo em falta de dependência de Deus (Is 1.4). Por isso, a demonstração da ira do Senhor contra os obstinados de Israel será violenta, de acordo com a estupidez que o orgulho traz consigo (Is 1.20; 2.12). Deus não permitirá que o fraco seja espoliado para sempre, conforme a profecia de Isaías (Is 1.26; 3.15). O dia do Senhor será tão pesado para Israel diante do pecado do orgulho que o profeta aconselha o povo a entrar nas rochas e se esconder no pó (Is 2.10). O pó era sinônimo de extrema humilhação. Nos tempos antigos, quando alguém queria demonstrar humilhação diante de uma atitude errada, sentava-se literalmente no pó, por vontade própria; aqui, porém, o profeta está dizendo ao povo que, como eles não o fizeram por vontade própria, eles seriam forçados a fazê-lo diante da calamidade que viria.
2. A Destruição da idolatria
O profeta denuncia a idolatria de Israel, em que a criatura é servida como se fosse Deus (Is 2.8-9). Ainda hoje, muitos entre a humanidade adoram obras feitas por mãos humanas, em explícita ofensa ao Criador, o único digno de adoração. Essa descrição profética de acusação de Israel pode ser relacionada ao materialismo atual, onde o ser humano atribui grande valor aos objetos materiais, em detrimento das pessoas.
Também, em nossos dias, o valor das pessoas é medido pela quantidade de bens que conseguem angariar; dessa forma, os pobres e marginalizados são desprezados e desvalorizados. Há apreço apenas pelos ricos e afamados, e, assim, a soberba humana é cultivada enquanto Deus é desprezado. Mas chegará o dia do Senhor, em que a glória da sua majestade afugentará os pecadores. Nesse dia, os soberbos serão abatidos e humilhados. Apenas o Senhor Deus será exaltado naquele dia (Is 9.2-12). Então, haverá um reconhecimento de que a idolatria para nada serve (Is 2.20); quando perceberem que toda inclinação aos ídolos lhes colocou em mais apuros, eles os lançarão todos ao chão (Is 2.18,20), demonstrando que finalmente reconhecem que não têm valor. O dia do Senhor para eles será tão angustiante que eles se meterão nas cavernas das rochas e nos buracos da terra (Is 2.19, 21). Nesse dia, eles reconhecerão que há somente um Deus verdadeiro.
3. O Estabelecimento da paz completa
Quando Israel reconhecer o senhorio do Senhor e receber o Messias como o enviado de Deus para restaurar a nação, então se estabelecerá a verdadeira paz e prosperidade. Será um período tão esplendoroso para Israel que as nações de toda terra afluirão para Jerusalém para aprender sobre os caminhos do Senhor e haverá justiça em toda terra (Is 2.1-4).
Nesse dia, quando Jesus Cristo reinar sobre todos, haverá uma grande mudança no rumo das nações: os orçamentos militares serão utilizados para o desenvolvimento agrícola; espadas e lanças (armas) serão convertidas em enxadões e foices. E finalmente, o mundo estará em paz, vivenciando o shalomde Deus: “Não levantará espada nação contra nação, nem aprenderão mais a guerrear” (Is 2.4; 60.18; Ap 21.3-4). Trata-se, sem dúvida, de uma grande promessa para o nosso mundo, uma vez que, todos os anos se gastam milhões de dólares na fabricação de armas de guerra em todo o planeta. As mais poderosas nações estão continuamente reforçando seu aparato militar. Há em todo o mundo um clima de guerra iminente no ar, especialmente com o crescimento da tensão entre o Oriente e o Ocidente, devido aos crescentes atentados por parte de grupos extremistas islâmicos, etc.
Portanto, o medo está por toda parte, não há paz no mundo. Mas no futuro prometido pelo Senhor, ninguém mais precisará temer a guerra. Não serão mais investidos recursos econômicos em ferramentas que fomentam a morte e o medo, porque reinará o príncipe da paz, Jesus Cristo.

III - O DIA DO SENHOR PARA A IGREJA
As imagens de Isaías concernentes ao dia do Senhor nos concedem uma base muito rica para a leitura do dia do juízo, de acordo com o Novo Testamento. Porém, precisamos considerá-lo não apenas teoricamente, como algo distante de nossa realidade presente, mas também devemos aplicar a ameaça e promessa inerentes ao dia do Senhor para a realidade eclesiástica. Não basta sermos cristãos apenas nominais, que conhecem as profecias bíblicas, mas que não andam em conformidade com a justiça. Portanto, quando a justiça na comunidade não é o objetivo do povo de Deus, quando guerras, pobreza, preconceito e outros pecados são aceitos como inevitáveis e a segurança é baseada em condição étnica, eclesiástica ou socioeconômica privilegiada, então, o dia do Senhor, que é essencialmente futurístico, tem algo a nos dizer no presente. Sua mensagem nos confronta no dia de hoje.
Nesse sentido, o livro de Isaías não deve ser interpretado fora do seu contexto no que diz respeito a sua mensagem, mas podemos extrair dele princípios que podem ser ampliados para a Igreja. Lembrando também que a palavra profética pode ser subdividida em pelo menos três grupos:
1. Profecias sobre o povo de Israel;
2. Profecias sobre a obra futura do Messias;
3. E, por fim, profecias sobre a sequência dos últimos acontecimentos.
Esse terceiro grupo não está relacionado unicamente ao povo de Israel ou à comunidade cristã primitiva, apesar de elas serem anunciadas no contexto desses dois momentos históricos. As profecias do terceiro grupo se ampliam para cumprir a ação de Deus sobre a história final da humanidade, onde se juntarão todos os povos e se dará o fim histórico dessa era.
Decerto, devemos ter em mente que, apesar de Deus transmitir sua mensagem em tempos diferentes e de modos específicos, sua intenção com a sua criação permanece a mesma: chamar a humanidade para a reconciliação com Ele (Is 55.1-3; Hb 1.1-2). Esse objetivo divino permite a compreensão da mensagem de Isaías, ou seja, o sentido das suas palavras para nossos dias. Isso ocorre a partir do momento em que entendemos que existe um “elo” entre a ação de Deus sobre Israel e a ação de Deus sobre a Igreja: o cuidado e o interesse salvífico de Deus sobre o seu povo. Por outro lado, é necessário entender que a Igreja é a ampliação do projeto de Deus para com Israel, que, na verdade, era um projeto que deveria se ampliar para a humanidade toda (cf. Rm 11). Deus anuncia o seu dia porque deseja, antes de tudo, restaurar a criação e levá-la ao estado perfeito de seu projeto original.
1. A Preparação para a vinda de Jesus
O dia do Senhor para a Igreja expressa também a ideia de julgamento, juízo e condenação. No Novo Testamento, Mateus 25.31-46 descreve o discurso escatológico de Jesus, que termina assinalando a separação que haverá entre os salvos e os não-salvos. Assim, o dia do Senhor convida a Igreja a atentar para a Palavra de Deus em obediência para que estejamos incluídos no grupo dos salvos. “Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos” (Tg 1.22 — versão NVI). A vinda de Cristo será precedida por uma grande proliferação de abandono das leis do Senhor, querendo a humanidade estabelecer substitutos para o culto a Deus (2 Ts 2.3-4).
Algumas criações que a humanidade realizou ao longo da história, tais como o consumismo, a confiança excessiva na parafernália tecnológica e a centralização excessiva na capacidade de governar a vida podem ser maneiras de expressar o abandono da dependência que devemos ter do Senhor. Dessa forma, resulta no mesmo caminho de perdição que os israelitas percorreram. A autossuficiência, o orgulho e a arrogância também são considerados problemas que nos seduzem a retirar Deus do centro de nossas histórias. Por conseguinte, tal como Isaías chamou o povo a voltar para os caminhos do Senhor, o Espírito Santo nos convida o tempo inteiro para um retomo à dependência de Deus e também concedermos a Ele a centralização em nossa história de vida. A promessa do dia do Senhor para a Igreja é o lembrete de que o dia do homem (tempo histórico) é passageiro, mas que o dia do Senhor (eterno) se estabelecerá de forma definitiva e perene.
2. Como será este dia?
Ao longo da tradição cristã, o dia do Senhor é frequentemente associado à segunda vinda de Cristo. Existem várias correntes que tentam interpretar como será o grande dia do Senhor. Como fruto disso, surgiram algumas interpretações como milenistas: pré, pós e amilenistas; e também as concepções tribulacionistas: pré-tribulacionismo e pós-tribulacionismo.
A principal perspectiva cristã é a pré-tribulacionista, ou seja, a que acredita na obra de Cristo que removerá a sua Igreja do mundo antes da Grande Tribulação. A Tribulação será uma das formas de manifestação do juízo de Deus para com aqueles que não viveram de acordo com a sua Palavra. A Bíblia se refere a esse período como um dos mais terríveis dias da história da humanidade, considerando os acontecimentos que vivenciarão os que ficarem na vinda do Senhor. Mas para os salvos, será o encontro com o seu Senhor e Salvador, um evento de grande celebração (1 Pe 4.13), pois culminará na redenção final. Para esses, Jesus voltará do mesmo modo que partiu, ou seja, ascenderá dos céus (At 1.11; Ap 1.7). O apóstolo Paulo dá-nos uma ideia de como será: “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Ts 4.16-17). Cabe, aqui, um alerta: não devemos tentar decifrar como exatamente esses eventos ocorrerão, pois o importante é que o Senhor nos transmitiu a mensagem de que será um tempo novo na história, onde se manifestará a plenitude do Reino de Deus: o seu grande dia.
3. Atitudes diante do dia do Senhor
O futuro é preocupação de todo ser humano, pois a incerteza gera, na maior parte dos casos, angústia e desconforto. Talvez o povo de Israel e a Igreja Primitiva tenham passado por essa experiência de ter que lidar com as incertezas do futuro. Por isso, o Espírito de Deus revela alguns sinais para sua Igreja mediante a Escritura de como será o dia do Senhor. Mas devemos entender que são apenas sinais que nos auxiliam na percepção da experiência gloriosa do Reino, não devendo ser tidos como únicos e últimos. Além disso, não devemos nos esquecer também de respeitar a linguagem do gênero literário apocalíptico para nos ajudar a entender de maneira adequada a mensagem do grande dia do Senhor. Precisamos ter cuidado para não ficarmos focados no quando e no como será o dia do Senhor, a ponto de nos esquecermos de quem está voltando. A atitude deve ser de grande expectativa para com o amado das nossas almas, aquEle que por nós deu sua vida para nos resgatar da morte e do Inferno. Jamais a riqueza, a prosperidade ou o trabalho devem servir de impedimento para a expectativa da vinda do Senhor Jesus (1 Ts 4.13-18). Não pode haver a fuga do presente, um descaso com tudo como desculpa de Sua vinda, nem viver ignorando a volta dEle como se Ele nunca fosse voltar. No entanto, a promessa de restauração e triunfo final da glória do Reino que vai restaurar a justiça, acabar com o choro e destruir o poder da morte e de Satanás precisa nos convidar a ir ao encontro desse cumprimento final.
O Senhor nosso Deus, em sua graça, não deseja que sejamos uma Igreja que foge dos desafios da realidade social, econômica, política e pecaminosa de nossos tempos. Nossa missão não se destina a esperar unicamente a concretização do dia do Senhor. Pelo contrário, por existir a certeza de que Jesus Cristo virá, então devemos nos lançar no mundo, anunciar essa restauração futura e mostrar o que Deus tem preparado a partir de sinais presentes em nossa realidade. Noutras palavras, a Igreja é desafiada a: enxugar o choro dos que choram, porque no Reino futuro não haverá choro; pregar o evangelho para os aprisionados, porque o Reino de Deus é de liberdade; restaurar famílias, porque o Reino de Deus é de restauração; e a pregar e viver a justiça, porque o Reino de Deus é de Justiça.
O Dia do Senhor é o momento histórico aguardado pela Igreja de Deus com expectativa e esperança. É o momento em que finalmente o projeto de Deus se tomará pleno e sua glória será manifesta a todos e sob todas as formas. Nessa esperança é que deve residir a força que nutre a Igreja de continuar a pregar a justiça e a salvação a todos os povos (Mt 28.19-20; Rm 8.18-25; Ap 21.1-7).

http://www.ensinadorcristao.com.br/Autor: Claiton Ivan Pommerening