O mundo contra a Igreja

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Texto base: Ap 11.1-13

Introdução

No dia 1º de Julho de 1523, dois jovens agostinianos, Henrique e João, foram queimados em fogueira na praça do mercado em Bruxelas por haverem professado crer nos ensinamentos de Lutero. No mesmo ano, Lutero compõe o hino “Castelo Forte”, mostrando que, quando estamos do lado do Senhor defendendo a Sua causa o inimigo se levanta querendo nos atacar para nos destruir, mas, como diz o Hino: “mui forte é o Deus fiel”. Claro que o hino não diz respeito a esses jovens somente - que foram mortos em praça pública, pois desde abril de 1521 Lutero já se opunha publicamente diante de tribunais por não concordar com tudo aquilo que a Igreja Católica vinha ensinando. Todas as vezes que eu vejo a Igreja sendo perseguida em alguns países, eu me lembro desse hino, o qual mostra com toda certeza que mesmo que o mal nos derrote isso não será o nosso fim, porque “com Ele reinaremos”, pois o inimigo “já condenado está”. 

E é isso que João quer transmitir à Igreja daquela época, e para a nossa também. Durante o período da ascensão de Cristo até a sua volta a Igreja será perseguida, mas não será derrotada. Mas, quando estiver próximo do fim, aparentemente o mal derrotará a Igreja, no entanto, quem realmente será derrotado é a Besta e seus seguidores. 

Contexto

Nós entendemos que a melhor visão para interpretar Apocalipse – além de fazer conexões com o Antigo Testamento - não é vê-lo em ordem cronológica, pois isso seria meio difícil visto que no final de cada seção ou cena a humanidade morre. E se a humanidade morre em cada encerramento da cena, quem é que surge nos capítulos posteriores? Portanto, Apocalipse 11 faz parte da terceira cena a qual retrata as Sete Trombetas. A primeira cena, que são as sete igrejas, pode ser entendida como A Igreja no mundo; a segunda cena, que são os Sete Selos, pode ser entendida como O sofrimento da Igreja; e aqui a terceira cena, que são as Sete Trombetas, pode ser entendida como uma advertência para o mundo. 

Em cada cena a História do mundo e da Igreja é contada de forma diferente, mas sempre visando a volta de Cristo. Por exemplo, os Selos e as Trombetas possuem aspectos diferentes e ao mesmo tempo similares. A diferença pode ser vista no 5º Selo e na 5ª Trombeta. Em cada uma é retratada o sofrimento, só que, em uma o sofrimento é para a igreja e em outra é para os ímpios. E a similaridade é vista em ambas por retratarem o sofrimento. Em resumo, tanto os Selos como as Trombetas mostram o que acontecerá na História até o retorno de Cristo. 

O ministério das testemunhas – 11.1-6

A) Resumo 11.1,2

Após João ter um olhar daquilo que ocorre no céu, agora ele se volta para a terra para ver o acontece aqui. Como se fosse um resumo, os versos 1 e 2 mostram o que acontecerá com a Igreja. E por que eu acredito que é a respeito da Igreja o que os versos 1 e 2 nos mostram? Porque são simbólicos. Se entendermos que esse “santuário” se refere ao Templo, podemos cair em algum erro de cronologia. Pois, como sabemos pela grande maioria, Apocalipse foi escrito perto do fim do primeiro século e o Templo foi destruído na década de 70 d.C. Quando João escreve isso o Templo já não existia. Portanto, esse Templo ou santuário que é medido somos nós, a Igreja. O termo “medir”, se olharmos para Ez 40-43 e Zc 2.15, refere-se ao conhecimento de Deus e sua preservação. Ou seja, a parte que é medida é onde Deus é adorado. A verdadeira Igreja que adora ao Deus santo é conhecida e preservada.

Mas, existe uma parte que não é para ser medida, que é o átrio exterior “porque ele foi dado aos gentios” para calcarem os pés a cidade santa por 42 meses, o qual também é descrito adiante como 1260 dias. Como vimos anteriormente, devemos olhar para o Apocalipse com olhos no AT. E aqui parece que João se vale do AT para simbolizar a perseguição do anticristo na Igreja. Dn 8.13 e Is 63.18 nos mostram que os adversários de Deus pisariam o santuário d'Ele, o qual seria zombado. E esses 42 meses não são literais, mas simbolizam o período de tribulação que a Igreja passará até a volta de Jesus, assim como Daniel 9 nos mostra nas famosas 70 semanas. Portanto, João quer nos mostrar que “haverá momentos terríveis” (2Tm 3.1) e que a Igreja deve estar preparada para enfrentar grandes problemas nessa última semana que se consuma com a volta do nosso Senhor. 

B) Quem é e o que fazem as duas testemunhas 11.3,4 

Como afirmei anteriormente, essas duas testemunhas representam a Igreja. E digo isso porque a palavra “oliveiras” e “candelabros” se referem à Igreja. O termo “oliveiras” e “candelabros” provém de Zacarias 4. Na visão de Zacarias, o candelabro representa o segundo Templo onde as duas oliveiras forneciam azeite para acender as lâmpadas. No contexto de Zacarias as duas oliveiras são retratadas como “dois ungidos que servem o Senhor de toda a terra” (v.14), que são Josué, o sumo sacerdote, e Zorobabel, o rei. No entanto, por que eu afirmo que são as igrejas? Porque desde o primeiro capítulo do livro, Jesus está no meio dos sete castiçais ou sete candeeiros que são a Igreja de Deus (1.13,20). Mas, por que dois candeeiros e não sete? O tema aqui é outro. A Lei no AT exigia no mínimo duas testemunhas para que houvesse um julgamento justo (Nm 35.30), assim, as duas testemunhas não são profetas literais, mas a Igreja de Deus simbolizando o seu testemunho profético por onde quer que esteja.

Esse testemunho é tanto de lamento como de arrependimento. A frase “vestida de pano de saco” servia tanto para lamento como resultado de uma situação lastimosa, mas também envolvia arrependimento.

O fato de Apocalipse, assim como Jesus, chamar a Igreja de luz do mundo não é à toa. Mas, é para afirmar que a função da Igreja é mostrar o pecado e o caminho, e que o livrinho pode ser doce para aqueles que aceitam o Evangelho, porém amargo para os que recusam o chamado de Deus ao arrependimento. Fazer com que outras pessoas sejam acrescentadas no santuário e vivam o evangelho. 

No entanto, a mensagem de juízo (vv. 5,6) não falta à boca das testemunhas. Vemos no AT o juízo de Deus sendo retratado como um “fogo devorador” que sai da sua boca (2Sm 22.9). Por exemplo, Elias fez descer fogo do céu sobre os soldados de Acazias e levou à morte do rei (2Rs 1.10-17), pois houvera consultado deuses pagãos ao invés de consultar o Deus verdadeiro. Portanto, a palavra das duas testemunhas torna-se juízo contra aqueles que rejeitam o Evangelho da salvação. 

O texto prossegue (v.6) mostrando outro exemplo. Enquanto João diz que as testemunhas têm poder para que desça fogo do céu, agora essas duas testemunhas têm poder para que pare de chover e que haja pragas sobre a terra. Uma clara alusão à Elias e Moisés. E como Moisés e Elias são mencionados nos dois testamentos? Homens de oração, intercessores. Como foi que Elias fechou o céu? Orando (1Rs 17.1; cf. Tg 5.17). 

Qual a função da Igreja enquanto Cristo não volta? Pregar e orar. Não há outro meio para que a Igreja possa suportar as investidas de Satanás, se não pregarmos e orarmos. Temos que anunciar a necessidade de arrependimento e o juízo de Deus sobre aqueles que rejeitam o Evangelho. Ao mesmo tempo, temos que orar rogando a Deus sua graça sobre a Igreja, para que acrescente os eleitos e que Ele faça a sua vontade.

A morte das duas testemunhas – 11.7-10

Enquanto os versos anteriores nos mostram o ministério da Igreja desde a ascensão de Cristo aos céus, do verso 7 ao 10, João nos leva para o futuro mostrando o que acontecerá com ela. 

O verso 7 abre essa parte mostrando que, quando a Igreja tiver cumprido com seu ofício, de pregar o Evangelho do Reino a toda criatura, então virá o fim (Mt 24.14). Contudo, quando a Igreja cumprir com aquilo que está determinado, a besta se levantará contra ela e a matará fazendo uma clara alusão ao que disse Daniel: Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra os santos e prevalecia contra eles (Dn 7.21). A Igreja será tratada com desprezo (v.8), isso é descrito pelo não sepultamento (v.9) na grande cidade retratada como Sodoma, por causa de sua imoralidade, e Egito, pelo fato de perseguir o povo de Deus. No entanto, essa morte não é literal tampouco significa morte espiritual da Igreja. Não é literal, pois Paulo diz que nem todos morrerão (1Co 15.51), nos diz que na volta de Cristo haverá crentes vivos. E não é uma morte espiritual, pois a Bíblia é clara em mostrar que não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo. Essa morte significa que a Igreja estará inativa. 

E o que o mundo vai fazer quando a Igreja se calar, antes da volta de Cristo? Regozijar, celebrar e trocar presentes. Eles regozijam por uma satisfação perversa. Eles celebram crendo ser uma grande vitória. E trocam presentes por tamanha alegria, pois aqueles que estavam “atormentando os que moram sobre a terra” estavam mortos.

Mas como diz o ditado, alegria de pobre dura pouco. Aqui, alegria da besta e de seus seguidores dura pouco. 

A ressurreição das duas testemunhas – 11.11-13

A Igreja será ressuscitada do seu estado de morte, mostrando que o próprio Deus fará isso, provando que essas testemunhas era o verdadeiro povo de Deus. E agora a Igreja vai se encontrar com o Senhor nas nuvens, após ouvir a voz do bom pastor dizendo: Subi para aqui. 

No mesmo instante, Deus descerá juízo sobre os moradores da terra que deu ouvidos à voz da besta, fazendo com que a décima parte do mundo seja destruída junto com sete mil homens. Enquanto outros glorificarão a Deus, mas já será tarde. 

Conclusão

Deus sempre guiou a História do mundo para a Sua própria glória, e todas as investidas que a Igreja recebe no presente momento não nos calará até que se cumpra o que Deus determinou. 

Assim como Cristo teve seu ministério terreno, morte e ressurreição, a Igreja passará por isso também, fazendo aquilo que Deus determinou. Quando se cumprir esse tempo, Deus permitirá que a Besta vença a Igreja. Mas Deus, com o Seu poder, ressuscitará o seu povo.

Aplicação

Para a Igreja: Não devemos temer o inimigo, pois a promessa que Cristo fez é que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja. Enquanto Cristo protege a Sua noiva, devemos cumprir com o mandamento de pregar o Evangelho e orar. E o método de pregação que esse capítulo de Apocalipse nos mostra é diferente daquilo que vemos por aí. O texto diz que o ministério das testemunhas fazia com que o mundo fosse atormentado. Esse tormento não era de uma conduta má que resultava em uma vida de corrupção. Mas, de falar as verdades de Deus anunciando o juízo que se aproxima. Como nós temos atormentado o mundo? Com nosso mau procedimento ou pelo testemunho que damos de Cristo, expondo os erros e mostrando o caminho a ser tomado?

Para os descrentes: Se arrependam, o juízo de Deus se aproxima. E saiba de uma coisa, não haverá chance de arrependimento quando a Igreja for tirada da terra, pois após o arrebatamento Deus trará juízo e condenação. O apóstolo Paulo diz: Com efeito, o ministério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém; então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda. Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhe manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça.” (2Ts 2.7-12). Quem crê em Cristo, tem a vida eterna. Aquele que não crê já está condenado. 

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Autor: Denis Monteiro
Revisão: Malvina Oliveira
Fonte: Bereianos