2º Trimestre de 2017 - Título: o Caráter do Cristão - Moldado Pela Palavra
de DEUS e Provado Como Ouro Comentarista: Pr. Elinaldo Renovato de Lima (Pr.Pres.ADPAR - Assembleia de DEUS em Parnamirim/RN) Complementos, ilustrações e vídeos: Pr. Luiz Henrique de Almeida Silva - 99-99152-0454 TEXTO ÁUREO"[...] E o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, DEUS Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz." (Is 9.6). VERDADE PRÁTICAComo Homem, JESUS encarnou e demonstrou ter um caráter perfeito, suportando as fraquezas humanas, sem dar lugar ao pecado. LEITURA DIÁRIA Segunda - Jo 1.2 JESUS, o Verbo de DEUS
Terça - Gn 3.15 JESUS, a semente da mulher
Quarta - Jo 1.14 JESUS, o Unigênito do Pai
Quinta - At 10.38 JESUS, ungido por DEUS
Sexta - Jo 14.6 JESUS, o caminho, a verdade e a vida
Sábado - Mt 24.30 JESUS voltará "com poder e grande glória" LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Mateus 1.18, 21-23; 3.16,17
Mt 1.18 - Ora, o nascimento de JESUS CRISTO foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do ESPÍRITO SANTO.
21 - E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. 22 - Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: 23 - Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de EMANUEL. (EMANUEL traduzido é: DEUS conosco). Mt 3.16 - E, sendo JESUS batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o ESPÍRITO de DEUS descendo como pomba e vindo sobre ele. 17 - E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. OBJETIVO GERAL Explicar que o crente só terá uma vida frutífera se estiver ligado à Videira Verdadeira. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Apresentar JESUS de Nazaré como Filho do Homem; Apontar o ministério e caráter supremo de JESUS; Explicar a respeito da morte, ressurreição e volta de CRISTO. INTERAGINDO COM O PROFESSORPrezado professor, vamos concluir o trimestre estudando a respeito do Homem mais importante de todos os tempos - JESUS. Sua vinda a este mundo se deu de forma sobrenatural e foi tão significativa e marcante que a História foi dividida em duas partes: antes de CRISTO e depois. Como Homem, JESUS teve um desenvolvimento e um caráter perfeito que refletia a sua natureza divina. Até os 30 anos, Ele viveu como todo judeu. Foi apresentado no Templo por seus pais, participou das festas judaicas, trabalhou como carpinteiro, pagou impostos e teve uma vida sociável, indo a jantares na casa dos amigos e a festas de casamento. Por isso, JESUS deve ser nosso modelo e referência como Homem e servo. Que possamos seguir sempre os seus passos, glorificando o seu nome.
PONTO CENTRAL - Como Homem, JESUS demonstrou ter um caráter perfeito Resumo da Lição 13, JESUS CRISTO, o Modelo Supremo de Caráter I - JESUS DE NAZARÉ, O FILHO DO HOMEM 1. Sua origem humana. 2. Sua entrada no mundo. 3. Seu desenvolvimento humano e espiritual. II - SEU MINISTÉRIO E CARÁTER SUPREMO 1. O caráter exemplar de JESUS. 2. Na prática, 3. Seu caráter é referência para a Igreja. III - A MORTE, RESSURREIÇÃO E VOLTA DE CRISTO 1. A morte de CRISTO, exemplo supremo de amor. 2. A ressurreição de JESUS e a sua vinda em glória. SÍNTESE DO TÓPICO I - JESUS de Nazaré foi e é o Filho do Homem SÍNTESE DO TÓPICO II - Como Filho do Homem, JESUS teve um ministério e caráter supremo. SÍNTESE DO TÓPICO III - JESUS veio ao mundo, morreu, ressuscitou e voltará novamente para buscar aqueles que são seus SUBSÍDIO CRISTOLÓGICO TOP 1 - "Filho do HomemDe todos os seus títulos, 'Filho do Homem' é o que JESUS preferia usar a respeito de si mesmo. E os escritores dos evangelhos sinóticos usam a expressão 69 vezes. O termo 'filho do homem' tem dois possíveis significados principais. O primeiro indica simplesmente um membro da humanidade. E, neste sentido, cada um é um filho do homem. Tal significado era conhecido nos dias de JESUS e remonta (pelo menos) aos tempos do livro de Ezequiel, onde é empregada a fraseologia hebraica bem' adam, com significado quase idêntico. Essa expressão, na realidade, pode até mesmo funcionar como o pronome da primeira pessoa do singular, 'eu' (cf. Mt 16.13).
Por outro lado, a expressão é usada também a respeito da personagem profetizada em Daniel e na literatura apocalíptica judaica posterior. Essa personagem surge no fim dos tempos com uma intervenção dramática, a fim de trazer a este mundo a justiça de DEUS, o seu Reino e o seu julgamento. Daniel 7.13,14 é o texto fundamental para esse conceito apocalíptico" (HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 310).
CONHEÇA MAIS TOP 1 - JESUS "O ministério terreno de JESUS começou na cidade de Belém, na província romana da Judeia. A ameaça à vinda do Rei JESUS, quando menino, levara José a reunir a família e fugir para o Egito, mas, ao retornarem, DEUS recomendou que se estabelecessem em Nazaré, na Galiléia. Com aproximadamente 30 anos, JESUS foi batizado no rio Jordão e, logo depois, foi tentado por Satanás no deserto da Judeia. Então, JESUS principiou seu trabalho em Cafarnaum, e passou a ministrar por toda a Israel, proferindo parábolas, ensinando sobre o Reino e curando os enfermos." Para conhecer mais leia, Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, CPAD, p. 1210. SUBSÍDIO CRISTOLÓGICO TOP 2 - "O Ministério Terreno de CRISTO
CRISTO se fez Homem e Servo. Sendo rico, fez-se pobre; sendo santo, foi feito pecado (2 Co 5.21). Fez-se maldição (Gl 3.13) e foi contado com os transgressores. Sendo digno, consideraram indigno. Foi, ainda, feito menor que os anjos, que devem ter ficado espantados ao verem DEUS encarnado, como servo, sendo tentado, sofrendo escárnio e crucificado. Mas, depois de tudo, viram entronizado e glorificado.
Após seu batismo, JESUS inicia seu ministério. João Batista não via necessidade de que Ele fosse batizado: sentiu-se inferior e sabia que JESUS não tinha pecado - Ele não precisaria passar por um batismo de arrependimento nem tinha de que se arrepender, mas JESUS fez questão de ser batizado, num ato de obediência e para cumprir toda a justiça, deixando-nos o exemplo (Mt 3.14,15). Seu ministério foi exercido na plenitude do ESPÍRITO. Após ter sido batizado por João, JESUS foi impelido pelo ESPÍRITO SANTO, a fim de jejuar quarenta dias e quarenta noites no deserto. Nesta fase de jejum, oração e meditação num lugar solitário, preparado pelo ESPÍRITO SANTO, Ele teve o seu preparo espiritual.
O ministério de JESUS durou cerca de três anos. O cálculo da duração é feito com base nas festas pascais em que Ele esteve. O início de seu ministério se deu na véspera de uma Páscoa; depois, participou de mais duas e morreu na véspera de outra. O primeiro ano foi o da obscuridade; o segundo, o do favor público e o terceiro, o da oposição" (SILVA, Severino Pedro da. Teologia Sistemática Pentecostal. 1.ed, Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 142).
" Através de sua morte, JESUS, fiel Sumo Sacerdote, propiciou a reconciliação do homem com DEUS." SUBSÍDIO CRISTOLÓGICO TOP 3 - A morte de CRISTO foi voluntária"JESUS não foi forçado à cruz. Nada fez contra a sua vontade. Submeteu-se à aflição espontaneamente. Humilhou-se até à morte, e morte de cruz. Deixou-se crucificar. Que graça espantosa por parte daquEle que tudo podia fazer para evitar tamanho suplício. Ele tinha o poder de entregar a sua vida e tornar a tomá-la - e de fato fez isso. Sim, eterno Salvador não foi forçado ao Calvário, mas atraído para ele, por amor a DEUS e à humanidade perdida.
Sua morte foi vicária e sem dúvida, o profeta Isaías tinha em mente o cordeiro pascal, oferecido em lugar dos israelitas pecadores. Sobre a cabeça do cordeiro sem mancha realizava-se uma transferência dupla. Primeiro, assegurava-se o perdão divino mediante o santo cordeiro, oferecido e morto. Segundo, o animal, sendo assado, servia de alimentação para alimentar o povo eleito. O sacrifício de CRISTO foi duplo: morreu para nos salvar, e ressuscitou para nossa justificação. CRISTO também é o Pão da vida, o nosso 'alimento diário'.
Sua morte foi cruel. Ele foi levado ao matadouro, esta palavra sugere brutalidade. Não é de admirar que a natureza envolvesse a cruz em um manto de trevas, cobrindo, assim, a maldade dos seres humanos.
José de Arimateia, conseguiu permissão de Pilatos para tirar o corpo da cruz. E, com Nicodemos, levando quase cem arráteis dum composto de mirra, aloés, envolveram o corpo do Senhor em lençóis com as especiarias, como era costume dos judeus. Havia no horto daquele lugar um sepulcro em que ainda ninguém havia sido posto. Ali puseram JESUS (Jo 19.38-42). Sepultar os mortos era considerado um ato de piedade. Também era comum que se sepultassem os mortos no mesmo dia de seu falecimento. O corpo de um homem executado não tinha permissão de ficar pendurado na cruz a noite inteira (Dt 21.23), pois isso, para a mente judaica, poluiria a terra. Às seis horas, começaria o sábado da semana da Páscoa, durante a qual estava proibida qualquer execução" (SILVA, Severino Pedro da. Teologia Sistemática Pentecostal. 1.ed, Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 156).
"JESUS é o maior e mais excelente personagem da História." PARA REFLETIR - A respeito de JESUS CRISTO, o modelo supremo de caráter, responda: Para que JESUS se fez homem? Para remir o homem perdido.
Que fez JESUS dos doze aos trinta anos? Ele exerceu o ofício de carpinteiro, aguardando o momento de iniciar seu ministério.
Que revelam as ações de JESUS em seu ministério? O lado divino e o lado humano de sua personalidade singular.
Cite algumas características do caráter de JESUS como homem perfeito. Humilde, manso, misericordioso, pacificador.
Como JESUS demonstrou seu amor pelos homens? Ele demonstrou seu amor na prática.
CONSULTE - Revista Ensinador Cristão - CPAD, nº 70, p42. SUGESTÃO DE LEITURA - JESUS: Morto ou Vivo? - Ressurreição - A Supremacia de CRISTO em um Mundo Pós-Moderno COMENTÁRIO RÁPIDO DO DO Pr. Herique JESUS nasceu em uma manjedoura e morreu numa cruz. Seu púlpito inicial foi de pobreza absoluta e seu púlpito final foi de desprezo, sofrimento e dor - A Cruz. JESUS amava tanto que passava metade de seu tempo curando e libertando as pessoas. Curava a todos. Até os mortos não permaneciam mortos perto Dele. JESUS não pregou o evangelho da graça - pregou o evangelho do reino de DEUS. O que é Graça de DEUS? Graça é JESUS morrendo por nós na cruz, levando sobre ELE nossos pecados, doenças, enfermidades (Is 53.4, 5, 12) e maldições (Gl 3.13). João 10 - O início. COMENTÁRIOS DE DIVERSOS LIVROS Principais acontecimentos da vida terrestre de Jesus — Acontecimentos que antecederam o ministério de Jesus
Os quatro Evangelhos em ordem cronológica
As tabelas a seguir estão relacionadas aos mapas das viagens de Jesus e seu trabalho de pregação. As setas nos mapas não representam exatamente as rotas usadas, mas indicam principalmente a direção. O símbolo “c.” significa “cerca de” ou “por volta de”.
Acontecimentos que antecederam o ministério de Jesus Dicionário Wycliffe Sob vários aspectos, JESUS CRISTO é uma pessoa singular, sendo que o mais importante é que Ele centraliza o evangelho da graça de DEUS. Ele mudou a face da história, pois através dele a eternidade invadiu o tempo. DEUS se fez homem e a vida humana adquiriu, por meio de sua redenção, um significado que a eleva acima da ordem natural e a apropria para a comunhão e a obra de DEUS. Mas será que tal vida é possível? Um filósofo poderia estar inclinado a dizer que não, tomando como base o conceito de que o abismo existente entre DEUS e o homem é tão grande que não poderia ser transposto por um único ser, e que os elementos envolvidos são demasiadamente distintos para serem combinados em uma única personalidade. No entanto, os registros dos Evangelhos nos apresentam tal personalidade. Temos a opção de escolher entre a suposição de um milagre literário fundamentado na imaginação ou aceitar um milagre histórico baseado na soberana obra do DEUS Supremo, adequadamente comprovada por competentes testemunhos. Um historiador poderia sentir-se impossibilitado de dispensar JESUS CRISTO como uma figura não histórica em vista do substancial caráter de todas as provas, entretanto ele se reconhece apreensivo perante a realidade de muitos elementos históricos presentes em nossas fontes. Afinal de contas, os primeiros Evangelhos surgiram cerca de 30 anos depois dos últimos eventos que lá estão relatados. Embora exista esse intervalo, ele não está totalmente vazio. Um grande número de recordações de JESUS de Nazaré permaneceu em centenas de vidas e essas recordações foram mantidas vivas através de freqüentes reminiscências estimuladas pela meditação e por sua proclamação. Embora o Senhor JESUS nada tenha deixado escrito para a posteridade, Ele transmitiu aos seus mais próximos seguidores a certeza de que o ESPÍRITO de DEUS teria uma participação especial em seu ministério de levar às mentes desses homens a lembrança das coisas que Ele havia dito (Jo 14.26). Mesmo que não levássemos em conta esta ajuda espiritual, os discípulos nunca puderam se esquecer das cenas dramáticas que compartilharam com o Mestre. Alguns incidentes envolviam apenas a pessoa de JESUS, tal como o da tentação, mas não existem razões para supor que Ele tivesse se isolado a ponto de não os informar sobre o que havia acontecido. Não é possível demonstrar que as matérias dos Evangelhos estejam sempre organizadas dentro de uma ordem estritamente cronológica. Mas está claro que todos os registros preservam uma ordem de acontecimentos que, procedendo daqueles que fizeram parte do início do ministério, vão até os que caracterizam o seu término, de modo que existe um sentido de progressividade e também de simetria. Ninguém poderia ficar com a impressão de que houvesse alguma coisa errada, ou de uma composição imaginária. O cenário para essa vida, a maior de todas as vidas, é a terra da Palestina em uma época em que Roma havia estabelecido a sua soberania sobre a maior parte do Oriente Próximo. Funcionários do governo, militares e coletores de impostos exibiam a realidade constante e desagradável de que Israel não era uma nação livre. A inquietação, principalmente entre os zelotes, estava gradual- mente se avolumando em direção a uma visível revolta. Em uma tal atmosfera não seria fácil desempenhar um ministério fundamentado em considerações espirituais. Os ensinos e as alegações pessoais de JESUS podiam ser facilmente mal interpretados. Qualquer assertiva pessoal sobre direitos reais estaria sujeita a ser distorcida por alguns como uma tentativa de assumir algum poder temporal. Qualquer comentário sobre liberdade seria imediatamente isolado de seu contexto de escravidão ao pecado e aplicado à situação política reinante. Foi somente com grande dificuldade que os doze apóstolos foram afastados dessas noções e, na época em que esse ajuste havia sido concluído (Atos 1), JESUS estava prestes a partir desse mundo. Dessa forma, mesmo que o conceito temporal do reino de DEUS houvesse persistido, a ele teria faltado qualquer possibilidade de realização, pois o Mestre estaria ausente desse cenário. Sob o controle do ESPÍRITO SANTO, a Igreja conseguiu caminhar apenas ao longo das linhas estabelecidas por JESUS — um reino livre de razões e métodos mundanos. Roma não precisava temer nenhuma competição exercida por este. Embora JESUS tenha passado os seus dias na terra sob a égide da águia romana, a sua vida era muito mais influenciada pela herança judaica. Tendo nascido de mãe judia, e sendo criado em um lar repleto de conceitos religiosos, possivelmente às portas da pobreza, Ele foi estimulado a amar as Escrituras e treinado na adoração e nas instruções da Sinagoga. Ele aprofundou sua mente na história e nas tradições de seu povo. A facilidade com que podia mencionar as Escrituras, assim como a fidelidade de suas referências, serve para atestar um prolongado e cuidadoso estudo. O desenvolvimento de sua infância, ao longo dessa linha, ficou oculto para nós; mas o que ficou bastante claro é que Ele procurou a Palavra não só como alimento espiritual, mas também para encontrar as indicações necessárias à sua própria missão (Lc 4.18,19; 22-37; 24.44-47). Desprovido de um treinamento rabínico formal, Ele foi capaz de determinar as necessidades espirituais de sua nação de maneira independente, e indicar os diferentes caminhos pelos quais os líderes haviam desviado o seu povo. Todo este raciocínio retrata a humanidade do Senhor JESUS CRISTO; porém não podemos nos esquecer de que Ele era simultaneamente DEUS e que estava consciente disto o tempo todo. Essa habilidade de pertencer ao judaísmo, e ao mesmo tempo de se colocar contra ele, está refletida em uma certa dualidade que permanece constante no ministério de JESUS, principalmente quando se trata da lealdade a Israel (Jo 4.22; Mt 10.6; 15.24), da admiração pela fé daqueles que estavam afastados da nação da aliança divina (Mt 8.10), da compaixão pelos seus compatriotas (Mt 23.37) e de uma direta previsão de que outros iriam assumir a herança de Israel (Mt 8.11,12). De diferentes maneiras, JESUS, o judeu, era o menos judeu dos homens. Ele era, na verdade, um homem universal. Talvez isso representasse exatamente parte daquilo que Ele procurava transmitir ao se intitular Filho do Homem (veja Filho de Homem). Na verdade, Ele era filho de Davi e Abraão (Mt 1.1), mas também era filho de Adão (Lc 3.38). Não haveria nada de surpreendente nisso, pois Ele veio para cumprir a promessa feita aos pais e também assegurar que os gentios também poderiam ser capazes de glorificar a DEUS pela sua misericórdia (Rm 15.8,9). Veja Messias. Nascimento e Infância. Herodes o Grande ainda reinava quando JESUS nasceu (Mt 2.1). Sua ciumenta apreensão fazia com que os judeus ficassem temerosos de mostrar grande entusiasmo pela anunciada chegada de seu prometido Rei. No entanto, a resposta dos pastores (Lc 2.8-18) pressagiava uma majestosa recepção de caráter divino por parte das pessoas comuns, embora os magos constituíssem as primícias dos gentios. As circunstâncias que cercavam a concepção de JESUS podiam levantar entre os incrédulos judeus rumores desagradáveis no sentido de que Ele seria um filho ilegítimo. Lendas judaicas medievais desenvolveram muito essa idéia. O relado feito por Mateus sobre a natividade parece destinado a responder a muitas dessas interpretações errôneas, e trata desse assunto particularmente do ponto de vista de José, enquanto o relato de Lucas, provavelmente contado pela própria Maria, apresenta a maneira especial pela qual o Senhor a tratou. Podem ter sido feitas insinuações ocasionais contra JESUS durante sua vida (cf. Jo 8.41). O relato da natividade deu à Igreja tudo que ela precisava conhecer sobre esse assunto. Embora a doutrina da virgindade também tenha encontrado seu lugar no Credo dos Apóstolos, não fazia parte das pregações apostólicas na medida em que foi revelada pelos registros. Veja Encarnação. Poucas informações chegam até nós a respeito da infância de JESUS, e esse fato realça a verdade de que os Evangelhos não tinham a intenção de ser biografias no verdadeiro sentido dessa palavra. Embora forneçam algumas matérias sobre a vida de CRISTO, eles não foram escritos sob um ponto de vista biográfico, mas tiveram a finalidade de fornecer informações que pudessem levar a um melhor entendimento da própria mensagem dos Evangelhos. O silêncio relativo a esse período da vida de JESUS é atenuado pelo relato da visita que Ele fez ao Templo aos doze anos, precedida e seguida de um resumo dos acontecimentos sobre o sen desenvolvimento (Lc 2.40-52). Em suas discussões sobre as Escrituras, o jovem JESUS aparece como um ouvinte da Palavra, e em sna contínua obediência aos pais, no lar de Nazaré, Ele é visto como aquele que as cumpria. Preparação para o ministério. Segundo a providência de DEUS, João Batista era um arauto que preparou o caminho para JESUS. João Batista, plenamente consciente do impacto que JESUS estava tendo sobre Israel, proclamou publica mente que alguém maior havia chegado, alguém que seria ao mesmo tempo o Salvador (Jo 1.29) e o Juiz (Mt 3.12), e que os homens deveriam se arrepender de seus pecados por causa da proximidade do reino (Mt 3.2), Anúncios semelhantes foram feitos pelo próprio Senhor JESUS. Embora ambos fossem muito diferentes em hábitos e aparência, eles eram muito semelhantes ao contar com grande número de seguidores e criar opositores nos principais círculos do judaísmo, uma oposição que não se contentou apenas em tirar as suas vidas (Mt 17.12). O batismo de JESUS, pelas mãos de João, marcou o abandono da vida de isolamento em Nazaré e a assunção de seu papel como o Servo de Yahweh (Mt 3.17; cf. Sl 2.7; Is 42.10). Ao prepará-lo para essa missão, o ESPÍRITO SANTO desceu sobre Ele e o céu o reconheceu. O detalhe principal dessa missão estava baseado na insofismável prontidão do Filho em identificar-se com a naçào pecadora que Ele havia vindo para redimir (Mt 3.15). A plena implicação dessa identificação se tomaria aparente em seu batismo de sangue na cruz (Mc 10.38; Lc 12.50). O Filho de DEUS ainda não estava pronto para se lançar ao trabalho, embora tivesse a aprovação divina e o equipamento necessário para acrescentar a sua própria dedicação a essa tarefa. Primeiro, Ele deveria se sujeitar a uma exaustiva tentação nas mãos de Satanás. JESUS teria que lidar com mentes que o demônio havia cegado, com pessoas cujos corpos estavam ligados a ele e reduzidos a uma virtual inoperâncía, com vidas obscurecidas e torturadas pelos seus emissários de espíritos imundos. Ao enfrentar todas as provas do maligno, JESUS ganhou o direito de expulsar os demônios e livrar os homens do seu terrível domínio. Ele podia desafiar a influência do reino de Satanás porque derrotou o príncipe desse mundo, desviou todos os dardos contra a armadura da fé e impediu qualquer movimento do seu adversário através da espada do ESPÍRITO e da Palavra de DEUS. Através da experiência da tentação, Ele alcançou o modelo de uma resoluta dependência de DEUS, que permaneceu como uma constante característica de seu ministério. Local e duração do ministério. Está faltando uma crônica diária das atividades de JESUS. Existem informações ocasionais sobre tempo e lugares, porém são insuficientes para proporcionar mais do que o esboço de um cenário. A partir dos Sinóticos, está claro que grande parte do ministério do Senhor teve lugar na Galiléia, com um considerável itinerário de viagens entre cidades e vilas. Cafarnaum mostrou ser um local adequado para o quartel-general por causa de sua situação central. Certa ocasião, uma viagem a Tiro e Sidom levou JESUS e seus discípulos para fora dos limites da Palestina (Mc 7.24). Outra viagem levou-os através de um setor da região de Decápolis, que consistia de um grupo de esparsas comunidades gregas localizadas a leste do mar de Galiléia (Mc 7.31). Além disso, houve uma retirada para o Norte, para Cesaréia de Filipe (Mc 8.27), e alguma atividade desenvolvida na Peréia, um território a leste do rio Jordão (Mc 10.1). Por outro lado, a partir do Evangelho segundo Joâo, ficamos sabendo pouco sobre a obra de JESUS na Galiléia, pois a maior parte da narrativa está centrada em visitas a Jerusalém, especialmente em conexão com as várias festas anuais dos judeus, como a Páscoa (Jo 2.23; 6.4; 13.1), Tabernáculos (7.2), Dedicação (10.22) e uma festa de nome ignorado (5.1). Os Sinóticos mencionam apenas uma Páscoa, a ocasião da paixão. A partir de Atos 10.37 é possível entender que JESUS exercia o seu ministério em outros lugares da Judéia, além de Jerusalém e suas vizinhanças. Com a ajuda dessas referências a festas feitas por João, podemos calcular muito ligeiramente a duração do seu ministério. Ela deve ter excedido dois anos ou aproximadamente três. Alguns defendem um período de quatro anos (E. Stauffer, JESUS and His Story, pp, 6-7). Ensinos de JESUS, Os escritores dos Evangelhos nos proporcionam muitos quadros de nosso Senhor cercado por grandes multidões, e mantendo a atenção destas pessoas através de seus fascinantes ensinos. As pessoas ficavam impressionadas pela maneira como Ele falava - com autoridade (Mc 1,22), Ele não mencionava as citações dos rabinos e colocava as suas próprias afirmações ao lado dos ensinos do AT, sobrepujando muitas vezes até as declarações do passado que tinham autoridade (Mc 7.9-14; Mt 5.33,34,38,39). Ao contrário da maioria dos mestres de seu povo, Ele não se perdia em um emaranhado de detalhes inconseqüentes nem recorria a excessivas minúcias, mas limitava o seu discurso a verdades essenciais. Uma grande simplicidade caracterizava as suas afirmações, e esta era auxiliada por sua aversão a termos técnicos e pelo uso freqüente de ilustrações especialmente relacionadas com as parábolas. Ele sabia como levar as pessoas do conhecido até o desconhecido. Seus ensinos eram desenvolvidos em vários cenários - sobre o declive de uma montanha, à beira de um lago, nos lares, nas sinagogas e no Templo de Jerusalém. Tudo estava aberto ao público (Jo 18.20). O fato de Ele ensinar durante muitas horas de cada vez deve ter levado a um severo esgotamento de suas energias, pois o seu corpo era totalmente humano (Mc 4.36-38). Em seus ensinos públicos, JESUS podia se apoiar no fato de que seus ouvintes eram crentes em DEUS e muito familiarizados com o AT. Provavelmente por essa razão Ele dispensava uma instrução menos formal sobre a natureza de DEUS, o que em outras circunstâncias talvez fosse necessário. A verdade de que DEUS é ESPÍRITO foi revelada a um samaritano, e não a um judeu (Jo 4.24). O Senhor JESUS dedicava uma considerável atenção à bondade divina (Mt 5.45; 7.11; 19.17), ao cuidado que Ele tem para com os seus filhos (Mt 6.26,30,32) e à perfeição de seu amor (Mt 5.46-48). Ele dava a segurança do perdão divino àqueles que erravam em meio ao seu povo (Mc 11,25), e garantia a todos que estava sempre disposto a ouvir a oração que fosse feita com fé (Mc 11.22-24). Sua equidade é reconhecida (Mt 6.33) e também o seu trabalho como Juiz (Mt 10.28). Mas acima de tudo, JESUS estabelecia DEUS como Pai. A linguagem paterna havia sido usada no AT com o sentido de um Criador (Is 64.8), mas JESUS transmitia a seus ouvintes uma grande riqueza de interpretações até então desconhecidas, especialmente na área dos relacionamentos pessoais dos quais podia falar com imediato e íntimo conhecimento (Mt 11,27). Com muita graça divina, Ele convidava seus verdadeiros seguidores a passar a fazer parte da família celestial, o que os capacitaria também a chamar DEUS de seu Pai (Mt 6.9). Veja DEUS. Um ponto central nos ensinos de CRISTO era a sua exposição sobre o reino de DEUS. Aqueles que participam desse reino não são os poderosos desse mundo, nem os farisaicos, mas os pobres de espírito e os perseguidos (Mt 5.3,10). Na veraade CRISTO, como Rei, exibe os mesmos traços exigidos de seus súditos (Mt 11.29; 21.5). Poderiamos dizer que Ele é o reino em sua essência. Através de sua vinda a esse mundo, o seu reino também adquiriu um sentido inicial. Em seus ensinos foram revelados os princípios desse reino. Depois de sua partida, o reino continuou a fazer o seu apelo (Act 28.31) e, de acordo com a sua previsão, será consumado em poder e glória por ocasião de sua volta (Mt 25.31-34). Veja Reino de DEUS. A avaliação do homem, feita por JESUS, não deve ser apreendida apenas através das palavras que disse, mas de sua disposição de sacrificar sua própria vida para proporcionar a sua salvação à humanidade. Obviamente a humanidade deve, com toda a fé, ser declarada pecadora por aquele que conhece os corações melhor que ninguém (Mt 7.11). A corrupção vem de dentro e não de influências exteriores (Mc 7.18-23). Dois defeitos da sociedade daquela época eram particularmente angustiantes para o Mestre. Um deles resultava de fatos religiosos centrados nos escribas e nos fariseus. Por causa de sua escrupulosa atenção às minúcias da lei e das tradições dos anciãos, e a comparativa negligência quanto às questões mais graves da justiça e do amor, esses líderes cegos estavam sufocando os impulsos religiosos da nação da aliança. O povo era como um rebanho sem pastor. Outra característica preocupante, muito influenciada pela primeira, era o desvio do homem comum em direção ao materi- alismo. Por demasiadas vezes, muitos haviam se inclinado a servir Mamom, imaginando que podiam se dedicar à avareza e ao mesmo tempo honrar a DEUS de uma forma apenas tolerável. JESUS precisava prevenir as pessoas sobre o perigo de perder a alma na vã tentativa de ganhar o mundo (Mc 8.36,37). Ninguém conseguia ouvir JESUS sem perceber nele um tremendo entusiasmo sobre a vida e a maneira como deve ser vivida. Ela é o vestíbulo da eternidade. Para Ele, o céu e o inferno eram solenes realidades. Ele desafiava seus ouvintes a considerar o destino que teriam à luz de suas crenças e práticas. Milagres de JESUS, Não existe qualquer dúvida de que, juntam ente com os seus ensinos, as poderosas obras de nosso Senhor foram muito influentes para despertar o entusiasmo popular, especialmente no auge da campanha da Galiléia. Ele não podia se esconder, Onde quer que fosse, as multidões o cercavam. Não seria possível estabelecer um modelo consistente do relacionamento que existia entee os seus ensinos e os milagres, nesse aspecto de atrair os seguidores; mas tendo Mateus 4.24-5.1 como guia, podemos razoavelmente concluir que as multidões estavam freqüentemente inclinadas a assegurar a cura para si próprias e seus entes queridos e, quando isso era alcançado, um grande número de pessoas permanecia para ouvir os ensinos do Senhor. Algo que se desprendia do mesmo poder sobrenatural, revelado nas obras de cura, se irradiava dos ensinos. Uma atividade complementava a outra. Será que esses milagres podem ser constatados? Por serem prevalecentes nas narrativas dos Evangelhos, torna-se exteemamen- te difícil considerá-los como piedosas criações dos escritores. Os milagres foram obviamente verídicos. Devemos ponderar sobre o fato de que a igreja primitiva, de acordo com o testemunho do livro de Atos e das epístolas, gozava do mesmo poder miraculoso que é atribuído ao Senhor JESUS CRISTO (Act 4.10; 9.34; Rm 15.18,19;Hb 2.4). Nossas fontes dão testemunho da transformação espiritual de um grande número de pessoas, inclusive dos apóstolos. São as mesmas fontes que proclamam o poder miraculoso de JESUS e ne seus seguidores. Como seria possível ter ao mesmo tempo a verdade e a mentira? O quadro gerai deve permanecer ou então se desintegrar em termos não de um único ingrediente, mas de todos. As vidas qne foram transformadas não são menos maravilhosas que os sinais e os milagres, e sem estes a Igreja não poderia ter aberto o seu caminho nesse mundo. Devemos também nos lembrar de que os milagres foram tâo patentes, que não foram questionados na época de JESUS; nem mesmo por aqueles que se encontravam entre os seus inimigos (Mc 3,22; Mt 27.42). Existe, por detrás desses fatos, um propósito intencional e motivador sugerido por um dos termos utilizados para os designar. Eram os sinais. Isso significa que os sinais visavam dar testemunho sobre o Senhor que os realizava, ou sobre a verdade que Ele proclamava. Eram calculados para assegurar, àqueles que os experimentavam on testemunhavam, que o Ungido de DEUS estava trabalhando no meio deles (veja Lc 4.16-21). Visavam aumentar o peso da palavra falada, que convidava os homens a se livrarem de seus pecados e voltarem-se para DEUS com arrependimento e fé. O fato disso nem sempre acontecer logo após os milagres serem realizados, demonstra a indiferença do coração humano (Mt 11.20,21). Um dos Evangelhos faz uma conexão explícita entre a inclusão de certos sinais de JESUS em seus registros, e a expectativa de que, como resultado, a fé nele, que é o CRISTO, o Filho de DEUS (Jo 20.30,31) seria fortalecida. Seria extraordinário esperar esse resultado da leitura dos Evangelhos se, com efeito, as pessoas não tivessem sido previamente levadas a essa fé através do testemunho desses sinais durante o ministério do Senhor JESUS. Mas insistir nesse propósito, como uma única reação aos milagres, não deixaria de ser uma atitude unilateral que pouco explicaria sobre a cura de todos os necessitados que constantemente se encontravam com JESUS. Mostrar o seu poder sobre alguns teria sido muito apropriado como demonstração de sua missão apostólica. Não podemos ignorar a clara insinuação feita pelas Escrituras da presença de um outro motivo. Nosso Senhor estava tão imbuído de compaixão pelas vicissitudes daqueles que a Ele afluíam que não podia deixar de ajudá-los. Como disse Pedro: “O qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo" (Act 10.38). Portanto, os milagres são justamente considerados como revelações do amor de DEUS em CRISTO, assim como símbolos de um compromisso divino. Veja Milagres. Resposta ao ministério. Assim evoluiu o espectro de uma feroz oposição a uma adorável devoção. Os principais adversários eram os escribas e os fariseus. A princípio contentavam- se em observar as suas ações, mas logo fizeram ouvir suas vozes através de desafios relativos a uma variedade de acusações. Ficaram ofendidos quando Ele os acuson de ignorar os mandamentos de DEUS em favor de suas tradições (Mc 7.9). Sua censura era particularmen- te difícil de ser suportada porque Ele, não tendo sido treinado para ser rabino, tomava a liberdade de praticar julgamentos sobre eles. Atritos também surgiram por causa da insistência de JESUS de também praticar seuminis- tériodecuranossábados, além dos outros dias (Mc 3.1-6). Aos olhos do Senhor, qualquer postergação do alívio do sofrimento humano carecia totalmente de sentido. Mas os líderes religiosos não tinham a mesma opinião sobre esse assunto. Ficaram tão furiosos que resolveram condenar JESUS à morte. Outra razão de afronta era a sua afirmação de poder perdoar os pecados. Aos seus opositores, isso representava uma blasfêmia absoluta, pois significava que Ele estava assumindo uma prerrogativa que pertencia exclusivamente a DEUS (Mc 2.7). Essa acusação de blasfêmia agigantou-se perante os olhos do Sinédrio, especial- mente por envolver a admissão, por parte de JESUS, de sua filiação divina (Mc 14.61-64). Entre as pessoas, em geral, as respostas variavam da indiferença a uma fé genuína. Talvez a característica mais frustrante para o nosso Senhor fosse a absoluta motivação egoísta de muitos que o seguiam. Certa ocasião Ele acusou a multidão de o estar seguindo meramente por aquilo que Ele podia lhes proporcionar sob a forma de bens materiais (Jo 6.26). No entanto, havia naqueles dias alguns que, de bom grado, esqueceram-se de suas posses, objetivos de lucro, lares e entes queridos a fim de se tornar seus íntimos seguidores (Mt 19.27). Seria demasiadamente precipitado afirmar que os doze apóstolos eram mais dedicados que os outros, tendo especialmente em vista O ministério desempenhado por certas mulheres (Lc 8.1-3) e os laços de amizade que ligavam JESUS a seus amigos em Betânia (Lc 10.38-42; Jo 11). No entanto, os Evangelhos enfatizam a fidelidade dos apóstolos e a correspondente atenção que JESUS lhes dedicava na preparação de seu futuro trabalho como líderes da Igreja. Ali existia um ministério dentro de outro ministério. JESUS lhes ensinou a confiar no Pai e orar a Ele pelas suas necessidades, a olhar com compaixão os sofrimentos e as adversidades daqueles que os rodeavam, e cultivar seu apostolado com permanente e profunda compreensão de suas implicações. Quanto mais claramente fossem capazes de entender, através do ministério de JESUS, as linhas mestras de seu próprio ministério, mais significativa se tomaria sua chamada. Para esses homens foi um verdadeiro choque ouvir dos lábios de JESUS que Ele deveria ir a Jerusalém para ser rejeitado e condenado à morte (Mt 16.21,22). E todas as demais instruções sobre esse assunto deixaram a todos perplexos e perturbados, porém eles não abandonaram sua causa. Foi somente com muita dificuldade que JESUS lhes comunicou a natureza básica ae sua missão - a obediência ao Pai e a entrega total até se oferecer como preço do resgate de muitos (Mc 10.45). Naturalmente, os doze apóstolos enfrentavam dificuldades na área da própria humildade até serem capazes de aceitar a interpretação do ministério do Senhor e se ajustar a ele. Mas foi uma lição difícil de entender. Pouco antes daquelas sagradas horas finais da Ceia, ainda estavam disputando entre si quem seria o maior (Lc 22.24). Mas vendo o Senhor inclinar-se para lavar os pés de cada um, ouvindo-o falar mansamente sobre seu grande amor por eles, e sua oração para que fossem um nele, e depois de vê- lo submeter-se tranquilamente à prisão por seus algozes, e se dispor a beber do cálice que o Pai lhe havia oferecido - tudo isso lhes causou uma profunda impressão. Juntamente com a tristeza pelas suas numerosas fraquezas, inclusive pela deserção na hora da crise, estava seu pesar pela prisão, crucifica- cão e sepultamento do Mestre. Mas desse abismo de penitência e pesar veio o renascimento da alegria e um novo senso de prestação de serviços ao seu Senhor, quando o acompanharam em sua ascensão. A eles restou serem cheios com o ESPÍRITO SANTO a fim de serem preparados para a obra apostólica. JESUS havia sido pai e amigo, mestre e também crítico. Agora que Ele deveria ser reconhecido como o Senhor universal, a fidelidade e a paciência demonstradas pelo Senhor nos dias do treinamento se avolumavam na mente dos discípulos. Que privilégio é servir a alguém como Ele! Veja Apóstolo; Discípulo. O clímax do ministério. Assim como Cesaréia de Filipe representou uma pedra de moinho no progresso espiritual dos discípulos, ela também foi um ponto culminante na carreira terrena do Senhor JESUS (Mt 16.13-21). A partir desse local a paixão tornou-se difundida, não como uma tentativa, mas como alguma coisa já determinada e acatada. A partir desse momento o Senhor retornou mais de uma vez ao assunto, mostrando que ele estava monopolizando o seu pensamento. A transfiguração, por todo o mistério que cobre o relato da glória visível da pessoa do Salvador, deve ser entendida em íntima relação com Cesaréia de Filipe. A voz divina, com sua grave advertência aos discípulos para que ouvissem atentamente ao Filho (Mt 17.5), encontra sua explicação na audácia de Pedro ao censurar JESUS por ter mencionado o assunto da cruz (Mt 16.22,23). Moisés e Elias haviam falado exatamente sobre isso no monte. A glória estava presente, também, com a finalidade de dramatizar a verdade da ressurreição e o triunfo que viria a seguir. Mais significativo ainda, para vincular a transfiguração à lembrança do ministério de JESUS, temos a observação de Lucas de que logo depois o Senhor se mostrou determinado a ir para Jerusalém (Lc 9.51). JESUS já estava prevendo o final, a despeito daquilo que ainda faltava para preencher esse ínterim, Ele desejava apressar o seu batismo de sangue (Lc 12.50). O período que decorreu entre a transfiguração e a paixão apresenta vários problemas assim que alguém procura traçar os movimentos de JESUS. Basta dizer que parte desse intervalo foi passada ao longo da fronteira entre a Galiléia e a Samaria, e parte em Peréia. Grande parte daquilo que é peculiar a Lucas 9.51-19.27) pertence a esses lugares. Gradualmente, o Senhor preparou o seu caminho para Jerusalém. Crescentes multidões o cercavam (Lc 18.36; 19.3) de uma maneira que faz lembrar os seus dias mais ocupados na Galiléia. Dois tópicos parecem dominar os seus ensinos à medida que a hora da paixão se aproximava (Jo 12.23-27). Um deles é a rejeição pelo seu próprio povo, e o outro é o seu regresso coberto de glória. Ele é o nobre que visita o campo para se apossar de seu reino e depois retoma. Os cidadãos o odeiam e insistem que não querem que ele os governe (Lc 19.14). Ele é o filho e herdeiro cvçjos súditos campesi- nos desejam matar para poderem se apossar de sua herança, mas com isso só conseguiram destruir a si próprios (Mt 21.33-41). Ele é a pedra que foi rejeitada pelos edificadores (Mt 21.42). Ele é o filho do rei, cujos convidados para o casamento rejeitam o convite a fim de darem prosseguimento aos seus próprios interesses (Mt 22.2ss.). Ele é o noivo que espera que hqja vigilância em vista de seu retomo (Mt 25.1ss.). Ele é o Senhor que verificará a fidelidade de seus servos quando vier outra vez (Mt 25.14ss.), e o rei que irá julgar as nações (Mt 25.31ss.). Se as palavras do profeta da Galiléia podiam ser consideradas provoeadoras pelos judeus, seus atos não eram menos causadores de provocação - a audaciosa caminhada pela cidade, acompanhada pela entusiasmada aclamação do povo, a corajosa atitude de expulsar do Templo aqueles que comercializavam em seus pátios e o ofendiam, sendo casa de oração; e tudo isso acontecendo em plena luz do dia, sob os olhares dos sacerdotes que estavam se aproveitando desse comércio. As perguntas dirigidas a nosso Senhor, durante a semana santa, refletem a ira e frustração dos líderes judeus. Pensar que um forasteiro pudesse invadir o seu território dessa maneira e perturbar a situação reinante! Isso era desesperador! No entanto, não eram capazes de fazer com que Ele se confundisse em um debate para dessa forma desacreditá-lo. Desesperadamente, deliberaram e confessaram a sua impotência. Aparentemente, o único caminho que se abria para eles era aceitar a sentença do sumo sacerdote Caifás, proferida algum tempo antes, de que essa vida devia ser sacrificada para que toda a nação não fosse mergulhada em tumulto e revolução. Ele havia falado além de seu próprio conhecimento e, dessa forma, cumpriu a profecia da morte do Salvador (Jo 11.49-51). Mesmo assim, os governantes dos judeus estariam perdidos, sem saber como implementar essa decisão sem incorrer na ira do povo, caso Judas não tivesse se adiantado com a oferta de trair o Mestre (Mt 26.2-5,14-16). Consciente da intriga de Judas, o Senhor JESUS não lhe contou o lugar onde encontraria os discípulos para comemorar a Páscoa e, dessa forma, foi capaz de gozar um período sem interrupções ao lado de seus companheiros na Ceia. As palavras pronunciadas nessa ocasião (Jo 13-16), bem como a sua oraçáo (Jo 17), fazem parte da mais preciosa coleção que nos foi deixada, de todo o seu ministério. Elas trazem a marca da pressão e da situação ״patética” da hora que se aproximava para JESUS, mas também possuem a tranqüila segurança da vitória que Ele conquistaria e comunicaria para o benefício da vida e da obra daqueles que o serviam, nos dias que se seguiriam. Então se seguiu a luta da alma no jardim de Getsêmani (q.v.). O fato de JESUS precisar agonizar para fazer a vontade do Pai, é a nossa melhor indicação da severidade de seu conflito. A cruz, como instrumento de tortura, pouco pode responder por isso, mas a cruz como foco do pecado de todas as eras sobre o Crucificado, nos fornece a chave necessária para a solução desta questão. Somente uma alma totalmente livre de pecado poderia sentir tamanho horror, como sentiu JESUS, ao tomar sobre si os pecados do mundo. Não se passaram muitas horas e Ele estava sobre a cruz. Depois de prendê-lo, as autoridades judaicas passaram o resto da noite em deliberação e, no início da manhã, decretaram sua condenação sob a acusação de haver cometido uma blasfêmia (Mc 14.60-64). Le- vando-o às pressas até Pilatos, o governador romano, antes que a cidade tivesse despertado completamente, os principais sacerdotes estavam assegurando a sentença que se baseava ostensivamente na acusação de que JESUS havia se declarado Rei dos Judeus (Mc 15.26; cf. Jo 19.21). Por volta das nove horas daquela manhã, Ele estava pendurado no madeiro maldito. Veja CRISTO, Paixão de; Cruz. De seus lábios não foi pronunciada nenhuma execração, mas uma oração pelos algozes. Seus acusadores continuaram inflexíveis, mas outros foram para casa batendo nos peitos (Lc 23.48). Cheio de admiração e espanto, o centurião exprimiu seus sentimentos de que Aquele homem só poderia ser o Filho de DEUS (Mc 15.39). Um dos ladrões descobriu que JESUS tinha a chave do Paraíso, e que a sua própria morte em uma cruz não representava uma barreira para a participação em suas alegrias (Lc 23.39-43). Não demorou muito para que o poder salvador do crucificado Filho de DEUS se pronunciasse. Veja Expiação. Como JESUS já havia afirmado (Jo 10.18), Ele morreu voluntariamente, entregando o seu espírito a DEUS (Mt 27.50; Jo 19.30). Será que Ele seria capaz de conceder o pedido de seu companheiro de voltar à vida novamen- te? O paradoxo é que os discípulos, apesar dos diversos pronunciamentos que prometiam a ressurreição, não a estavam esperando, enquanto os inimigos de JESUS, baseando-se em muito menos, estavam determinados a não oferecer nenhuma base para essa afirmação (Mt 27.62-66), O primeiro grupo não duvidava de que DEUS pudesse ressuscitá-lo, mas não esperava que o fizesse, enquanto o último contava apenas com a iniciativa humana, pela remoção do corpo, fornecendo assim uma base bastante ampla para a afirmação da ressurreição. O primeiro grupo, tomado de alegre surpresa, deu graças pela ressurreição porque amava o seu Salvador. O outro grupo tomou-se o protótipo daqueles que negam esse grande evento e permanecem alheios a esse poder transformador. Veja Ressurreição de CRISTO. As aparições que aconteceram após a ressurreição representavam ocasiões de renovada eomunhão entre o Senhor e os seus discípulos, mas também davam uma oportunidade para a explicação daquilo que havia acontecido segundo os termos das profecias do AT, e para a incumbência dos apóstolos de pregar o evangelho em todos os lugares através da autoridade universal do Senhor (Lc 24.44-49; Mt 28.18-20). Veja Comissão, A Grande. Essas aparições terminaram com a Ascensão ioeja Ascensão de CRISTO) que, por sua vez, deu início a uma nova era caracterizada pela presença do Senhor no céu em benefício de seu povo (Hb 9.24). Como Cabeça da igreja, Ele continua a nos dar a sua verdadeira presença e poder sobre a terra, e sem dúvida cumprirá a sua promessa de retomar e consumar todas as coisas. As Escrituras dão testemunhos, de diversas maneiras, da humanidade de Jesus Cristo. Ele era “Pilho de Abraão” (Mt 1.1); “da descendência de Davi segundo a carne” (Rm 1.3), concebido pela virgem Maria (Lc 1.31), “nascido de mulher (Gl 4.4), nascido de Maria (Mt 1.25; 2.11; Lc 2.7), “se fez carne” (Jo 1.14; cf. Rm 1.3; 1 Tm 3.16). Ele foi um bebê (Mt 2.11,14,20,21; Lc 2.7,16), Ele “crescia em sabedoria, e em estatura” (Lc 2.52), trabalhou como carpinteiro (Mc 6.3), teve fome (Mt 4.2; Mc 11.12), teve sede (Jo 4.7; 19.28), viveu as emoções da alegria e da tristeza (Lc 10.21; Jo 12.27), foi crucificado, morreu, e ressuscitou dos mortos. Ele é claramente chamado de homem (Jo 1.30; Act 17.31; Rm 5.15; 1 Co 15.21,47; 1 Tm 2.5; Hb 2.6-9). Quatro caracterizações resumem a doutrina da humanidade de Cristo. 1. A realidade deve ser enfatizada em oposição a qualquer ponto de vista que afirme ou implique em mera aparência ou semelhança. Foi essa heresia que João foi obrigado a combater, dizendo que ela era do anti cristo (1 Jo 4.1-3). No entanto, existem maneiras mais sutis, com as quais a realidade da humanidade de Cristo pode ser comprometida. A natureza humana é fmita e, portanto, existem limitações inseparáveis da humanidade de Jesus. O significado de muitas das suas palavras e ações no tempo em que Ele estava em carne estarão perdidas, se não forem levadas em conta as suas palavras e ações em termos de sua natureza nu mana, e desta forma com as limitações correspondentes a estas. Evidente a esse respeito é o texto em Mateus 24.36, onde, sem representar um problema, é um indicador claro do conhecimento limitado que a sua consciência humana possuía, e da sua dependência das revelações para enfrentar tudo o que viria em seu raio de ação. 2. A integridade da humanidade de Cristo quer dizer que Ele possuía todas as qualidades essenciais à humanidade. Ele era corpo e espírito. Tinha conhecimento, sentimento e vontade humanos, que não estavam submersos nas qualidades da Divindade que Ele também possuía. O zelo com que a igreja deve manter essa integridade aparece naquilo que era central em sua missão. Ele sofreu e morreu em uma natureza humana. Seria uma infração contra a realidade da expiação tentar enfraquecer, de qualquer maneira, a inteireza com que Ele agiu, em termos de sua natureza humana. 3. A pureza de Jesus (que jamais pecou) distingue a sua natureza humana da de todos os demais. As limitações não devem ser comparadas com fraquezas de pecados nem com a falibilidade. Desde a sua concepção, Ele foi gerado de modo santo (Lc 1.35); nascido de uma virgem. Ele foi santo, inocente, imaculado e separado dos pecadores (Hb 7.26), e ninguém poderia condená-lo por algum pecado (Jo 8.46). Embora tentado de todas as maneiras, como nós também o somos, ainda assim é o adjetivo “sem pecado” qne lhe confere a capacidade de compadecer-se e conceder a sua graça e a sua virtude incomparáveis (Hb 4.15). 4. Â continuidade da Sua humanidade é indispensável para o cumprimento do seu ministério celestial. Na morte, o corpo e o espírito foram separados, o corpo permaneceu no sepulcro e o espírito partiu para junto do Pai. Mas o corpo e o espírito se reuniram na ressurreição. Na integridade da natureza humana, constituída tanto física quanto mentalmente, Ele subiu aos céus, e continua o seu ministério mediador até que no seu segundo advento Ele retorne com essa mesma natureza humana, para julgar o mundo e consumaT o reino de Deus. Veja Encarnação. J. M. Jesus Cristo é o Filho de Deus, e a essência do Deus verdadeiro. Ele é constituído da mesma essência que o Pai e que o Espírito Santo, e igual em poder e em glória (Veja Divindade). Desta forma, tudo o que pode ser dito do Pai e do Espírito Santo poderá ser dito do Filho. Ele é o Criador (Jo 1.1-3; Cl 1.16; Hb 1.2), assim como o Pai (Gn 1.1; Ap 4.11) e o Espírito Santo (Gn 1.2) criaram. Ele é o que mantém e que sustenta todas as coisas (Cl 1.17; Hb 1.3), assim como o são o Pai (Gn 8.21,22) e o Espírito Santo (Jó 27.3; 33.4). Ele é o Redentor (Ap 5.9; Rm 3.24; Tt 2.14), assim como O Pai (Is 63.16). Provas bíblicas da Divindade de Cristo. A Divindade de Cristo é provada por algumas afirmações expressas nas Escrituras (Emanuel, ou “Deus conosco”, em Is 7.14 e Mt 1.23; Jo 1.1; Jo 1.18; Rm 9.5; Tt 2.13; Hb 1.8). Ele reivindicou ser capaz de perdoar os pecados (Mc 2.5; 10.11; Lc 7.48), o que é uma prerrogativa exclusiva de Deus, que assim era reconhecida (Mc 2.7; Lc 5.21), Ele curou os enfermos (Mt 4.23,24; 8.14-17; 9.18-35; Lc 5.17-26; 7.18-23), e ressuscitou os mortos (Lc 7.11-15; 8.41,42,49-55; Jo 11.38-44; cf. 5.25- 29). Ele controlou a natureza acalmando as ondas (Mt 8.23-27). Ele agiu com criatividade, multiplicando os pães e os peixes (Mt 14.19-21; 15.32-38). Ele afirmou ser Deus (Jo 10.33); e existir, com Deus, antes que o mundo existisse (Jo 8.58; 17.5). Ele é igual ao Pai (Jo 14.9; Pp 2.5-8) e um, em essência, com o Pai (Jo 10.30). Somente Ele, dentre todos os homens, é digno de ser adorado, um ato proibido quando dirigido aos seres criados e reservado exclusivamente a Deus (Jo 9.38; Fp 2.9-11; Ap 5.11-14; 19.10; 22.8ss.; Act 10.25ss.). Provas filosóficas e teológicas. Se devemos ter um Deus que é infinito em sua pessoa e em seus relacionamentos, esse Deus deve ter uma natureza trina. Veja Trindade; Teísmo. Qualquer visão - como a da fé muçulmana, a do judaísmo, a das Testemunhas de Jeová — que afirme que existe somente uma pessoa na Divindade prova ser inadequada. Tal visão apresenta um Deus que só teria conhecido um verdadeiro relacionamento sujeito- objeto (o relacionamento Eu-isso), um relacionamento pessoal real (o relacionamento Eu-Você) ou um verdadeiro relacionamento social (o relacionamento Nós-Você), depois de ter criado tanto o mundo como o homem. Este é o problema fatal em todas as visões unitárias. Pelo fato do homem conhecer e desfrutar de todos esses relacionamentos ele seria, nesses aspectos, maior do que um Deus não trino seria antes de criar o mundo e o homem. Assim, a eterna filiação e Divindade de Cristo são filosoficamente convincentes e necessárias. A divindade de Jesus Cristo é de extrema importância para a nossa salvação. Somente uma pessoa infinita poderia oferecer um sacrifício infinito, suficiente para satisfazer a justiça de Deus, e para expiar os pecados de todos aqueles que têm fé. Embora o pecado tenha começado com um ato único ae desobediência, como um incêndio na floresta pode começar com uma única faísca, ele se espalhou por toda a humanidade; e a sua expiação — depois que o pecado envolveu toda a natureza e toda a humanidade - exigiu não um simples ato de um homem, mas do Todo- Poderoso, em Seu próprio Filho Onipotente. R. A. K. HUMANIDADE DE JESUS - O Credo Niceno. Nos séculos II e III d.C., visões extremamente divergentes do relacionamento de Jesus com Deus foram expressas nos escritos de diversos líderes cristãos. Justino Mártir afirmou que o Logos encarnado em Jesus Cristo era um segundo Deus. Irineu enfatizou a unidade de Deus, ou o monoteísmo, ao passo que Paulo de Samo- sata enfatizou a humanidade de Jesus, dizendo que Ele foi um homem sem pecado desde o seu nascimento. Sabelio acreditava que o Pai tinha nascido como Jesus Cristo, e sofrido como o Pai; pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram três modos ou aspectos de Deus. Tertuliano declarou que Deus é uma única essência, mas três pessoas ou partições, na atividade administrativa divina, e que Jesus era ao mesmo tempo Deus e homem, uma única pessoa que possuía duas essências ou naturezas. Orígenes era essencialmente ortodoxo, mas ensinava que embora o Filho seja co-eterno com o Pai, Cristo como a imagem de Deus é dependente do Pai e subordinado a Ele. No início do século IV, Ário, um presbítero na igreja da Alexandria, afirmou que o Filho tinha um começo, e que não era uma parte de Deus. O Pai tinha criado o Filho para que Ele pudesse criar o mundo. Tai foi a controvérsia desenvolvida na parte leste do Império Romano, que o imperador Con- stantino convocou um Concílio de toda a igreja, que se reuniu em Nicéia, na Ásia Menor, em 325 d.C. Este foi o primeiro Concílio ecumênico, com a presença de mais de 300 bispos. O jovem Atanásio, um diácono de Alexandria, advogou a posição ortodoxa. O credo adotado por esse concilio afirma que o Filho é da mesma essência (/iomootisios) que o Pai. Ele diz o seguinte. “(Nós cremos em um único Deus, o Paí Todo- Poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, e em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, o único gerado do Pai, da mesma essência (owsias) do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, da mesma essência (homoousion) do Pai, por quem todas as coisas foram feitas, tanto as do céu quanto as da terra, que para nós - seres humanos - e para a nossa salvação desceu dos céus e se fez carne, sofreu, ressuscitou no terceiro dia, subiu aos céus e virá para julgar os vivos e os mortos” (K. S, Latourette, AHistory ofChristian ity, Nova York. Harper, 1953, p. 155). Embora Ário fosse banido e a sua posição ana- temizada, nas décadas que se seguiram os seus discípulos tentaram anular a decisão do Concílio. Durante algum tempo, Atanásio teve tão pouco apoio dos outros, que os historiadores falam de Athanasius contra mundum, “Atanásio contra o mundo”. Ele morreu em 373. Três bispos notáveis da Capadócia - Gregórío de Nazianzo, Basílio de Cesaréia e Gregório de Nissa - se encarregaram da discussão e argumentaram que existe somente uma ousia (substância, essência) que o Pai, o Filho e o Espírito Santo compartilham, mas que existem três hypostases (traduzida ao latim como personae, pessoas). Um segundo concilio ecumênico foi realizado em Constan- tinopla em 381, para trazer um final à controvérsia de Ário. A doutrina ortodoxa estabelecida em Nicéia foi confirmada, e o credo Niceno foi modificado e aumentado para a sua forma atual. J.R. Bibliografia. G. C. Berkouwer, The Person of Ckrist, Grand Rapids. Eerdmans, 1954, pp. 155-192. Loraine Boettner, Studies in Theology, Eerdmans, 1947, pp. 140-182. H. P. Liddon, The Divinity of Our Lord and Saviour Jesus Ckrist (Bampton, 1866), 15* ed., Londres. Longmans, Green & Co., 1891. Wilbur M. Smith, The Supernaturalness of Ckrist, Boston. Wilde, 1940. INFÂNCIA DE CRSITO - O conhecimento da infância de Cristo depende de três fontes: histórica, cultural e das evidências indiretas. 1. Fofos registrados. Estes sâo os acontecimentos registrados que envolvem o nascimento e os primeiros anos da infância de Cristo, seguidas por um silêncio completo até o seu décimo segundo ano de vida, quando Ele foi ao templo com José e Maria, para participar da festa da Páscoa em Jerusalém. Os principais acontecimentos do seu nascimento incluem a época e o lugar (Mt 2.1ss.; Lc 2.1ss.), a anunciação aos pastores e a visita destes à manjedoura para adorar o Cristo menino (Lc 2.8-20), No oitavo dia, Ele foi circuncidado, e nessa ocasião lhe foi dado o seu nome (Lc 2.21). Na sua apresentação no templo, aos quarenta dias de vida, Maria fez a oferta de um par de rolas ou dois pombinhos, o que era apropriado para as pessoas pobres (Lv 12.8; Lc 2.22-24). Esta última cerimônia foi marcada pela profecia de Simeão, de que Jesus era o meio de salvação que fora proporcionado por Deus tanto para os judeus como para os gentios, embora a sua vinda fosse rejeitada por muitos em Israel (Lc 2.25-35). Essa profecia foi confirmada por Ana, uma mulher idosa que servia a Deus dia e noite no templo, com jejuns e orações, e que predisse que Jesus era aquele que foi enviado para a redenção de Jerusalém (Lc 2.36-38). Foi provavelmente depois da circuncisão e da consagração que os magos se informaram em Jerusalém e então visitaram Maria, José e o Bebê em Belém, pois a fuga para o Egito seguiu-se rapidamente a essa visita (Mt 2.1-14). Após a morte de Herodes, José, Maria eo Bebê retomaram à Palestina e viveram tranqüilamente em Nazaré (Mt 2.19-23). Podemos perfeitamente imaginar que José e Maria tenham contado a Jesus os acontecimentos surpreendentes e as profecias que envolveram o seu nascimento, e que esses detalhes tenham enriquecido enormemente a sua infância. Em Lucas 2.42-50, o menino Jesus, com 12 anos de idade, mostrava ter uma grande compreensão de seu relacionamento peculiar com Deus. A pergunta que Ele fez a José e a Maria, “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” mostra uma consciência de que Deus, e não José, era o seu verdadeiro Pai. Estas primeiras palavras mencionadas por Jesus, quando Ele se refere à sua filiação, são o registro do conhecimento que Ele tinha de sua missão na terra. 2. Cultura e costumes. Um estudo dos costumes judeus e da sua cultura, particularmente como são registrados no Antigo Testamento, e revelados a Israel como a vontade de Deus, acrescenta muito ao nosso conhecimento sobre a infância de Cristo. As festas e a observância religiosa ocupavam uma grande parte da vida dos israelitas (veja Adoração). A festa da Páscoa era celebrada em todas as famílias, seguida pelas festas dos Pães Asmos, das Primícias, de Pentecostes, das Trombetas, do Dia de Expiação e da Festa dos Tabernáculos. Algumas dessas festas duravam uma semana. Embora as principais celebrações acontecessem em Jerusalém, algumas festividades de natureza menor devem ter ocorrido em sinagogas locais. As casas dos judeus tinham as Escrituras nos batentes das portas, e ali haviam ensinamentos e discussões diários da Bíblia (Dt 7.6-9; 11.18-20). Havia ainda a memorização das Escrituras hebraicas, além dos rituais semanais aos sábados nas sinagogas. Sabemos que Cristo aprendeu a ler (Lc 4.17) e escrever (Jo 8.68־). Como qualquer menino judeu, Ele aprendeu um ofício, e com a carpintaria Ele provavelmente sustentava a si mesmo, à sua mãe Maria e à família após a morte de José, até que foi batizado e levado pelo Espírito Santo ao seu ministério público (Mt 3.13- 17; Lc 4.1,14). Justino Mártir diz que Ele confeccionava “arados e jugos” (Dial. 88). 3. Conclusões a partir das referências de Cristo à sua própria infância. Jesus deve ter sido intensamente interessado pela natureza, por causa das suas referências a raposas, pássaros (Mt 6.26; 8.20; 13.32; Lc 9.58; 12.6), galinhas e pintinhos (Mt 23.37), flores (Mt 6.28-30) e o clima (Mt 16.2,3; Lc 12,56). Supomos que Ele deva ter participado das mesmas brincadeiras de que as outras crianças participavam (Mt 11.16,17). Em resumo, Jesus teve uma infância muito normal e saudável. Os seus pais eram humildes, honestos, trabalhadores e devotos. A sua mãe, em especial, era um exemplo de paciência e amor (Lc 2.19,51). José era um homem íntegro, e também compassivo (Mt 1.19-25); um homem de verdadeira fé. As experiências da infância de Cristo sem dúvida foram as de um menino que passa muito tempo fora de casa, unidas a um aprendizado completo de um ofício. Com isso Ele se desenvolveu tanto mentalmente quanto fisicamente. Os seus ensinos provaram o desenvolvimento mental, e a sua resistência física o desenvolvimento físico. Além disso, Ele amadureceu espiritualmente em seu relacionamento com Deus, e socialmente nos seus relacionamentos com os companheiros (Lc 2.40,52). Os chamados evangelhos da infância, o protevangelho de Tiago e o evangelho de Tomé são escritos apócrifos do século II d.C. Estes contêm acontecimentos puramente lendários tais como milagres realizados por Jesus quando menino. Nos séculos seguintes, outros escritos copiaram e aumentaram essas histórias imaginárias. R. A. K. OBEDIÊNCIA DE CRISTO - Esta obediência inclui a aceitação voluntária de Cristo em relação à encarnação, quando Deus Pai falou com o Filho no passado eterno, como registrado no Salmo 40.6-8 (cf. Hb 10.5-10). Sua vida de obediência perfeita ao Pai é mostrada por Ele ter “nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4), e por ter guardado a lei de forma perfeita. Ele cumpriu a vontade de Deus em seu nascimento (Lc 2.21,22,39), em sua infância (Lc 2.52), em seu batismo (Mt 3.15), em sua tentação, na qual triunfou sobre Satanás em contraste com Adão que caiu (Mt 4.1-11; Lc 4.1-13), e por toda a sua vida (Jo 4.34; 6.38; 8.29,46; 15.10;17.4; Act 3.14; 2 Co 5.21; Hb 4.15). Ninguém poderia convencê-lo de desobediência a Deus ou à sua lei (Jo 8.46; Hb 5.8,9). Embora tenha lutado contra o horror de sua futura condenação, ao ser feito pecado por nós, carregando nossos pecados em seu próprio corpo no madeiro (2 Co 5.21; 1 Pe 2.24), ainda assim, Ele submeteu-se, em obediência, até sua morte na cruz (Fp 2.8). E costume dividir a obediência de Cristo em duas fases: sua vida de obediência ativa e seu sofrimento e morte, ou sua obediência passiva. Sua obediência ativa então toma- se a base da justiça que nos é imputada; e sua obediência passiva, a expiação por nossos pecados e nosso perdão. A divisão não é totalmente satisfatória; porém seu sofrimento teve inicio antes da cruz, e o mérito de sua morte sacrificial reside em sua vida sem pecado, completamente santa (1 Pe 1.18,19). Cristo e Adão são uma antítese (Rm 5.12-19). Através do primeiro Adão, o pecado e a morte entraram no mundo; através do segundo, a justiça e a vida (vv. 12,17). Pela desobediência de Adão, todos se tornaram pecadores e morreram espiritual mente; através da obediência do Senhor Jesus Cristo, todos os que estão nele tornam-se justos e vivos (v. 19; cf. 1 Co 15.22). A perfeita obediência do Salvador deve ser o nosso exemplo (Hb 12.1,2; 1 Pe 2.21). R. A. K. PUREZA DE CRISTO - Esta expressão se refere à perfeita pureza e isenção de Cristo em relação ao pecado, não somente em seu aspecto exterior, quanto aos atos de pecado, mas também em seu aspecto interior, no que se refere à inclinação ao pecado. Afirmações das Eserituras. A perfeita pureza de Cristo é profetizada no Antigo Testamento através da imagem da santidade e da justiça do Messias que viria (Sl 45.7; 89.19; Is 11.5; 32.1; 49.7; 53.9; 59.17; Jr 23.5; Zc 9.9). No Novo Testamento, ela é declarada em muitas passagens (Mc 1.24; Lc 1.35; 4.34;23.40,41; Jo 1.29; 8.46; 10.36; 16.10; Act 3.14; 4.27,30; 13.28; Rm 8.3; 2 Co 5.21; Hb 4.15; 7.26,27; 9.14; 1 Jo 3.5; 1 Pe 1.19,23; 3.18; 1 Jo 2.29; 3.5; Tg 5.6;Ap 3.7). A pureza de Cnsto é exemplificada no Antigo Testamento pela perfeição exigida nos sacrifícios (Ex 12.5; Dt 15.21; cf. Jo 1.29; 1 Pe 1.19). Ela é declarada no Novo Testamento por meio do testemunho dos demônios (Mc 1.24; Lc 4.34); pela mulher de Pilatos, quando ela lhe disse, “Não entres na questão dessejusto” (Mt 27.19); por Pilatos, quando disse; “nenhuma culpa... acho neste homem” (Lc 23.14); por Judas, quando clamou: “Pequei, traindo sangue inocente” (Mt 27.4); pelo centurião, quando disse, *Verdadeiramente, este era o Filho de Deus” (Mt 27.54; cf. Lc 23.47). A pureza de Cristo é evidenciada pelo fato de que enquanto as outras pessoas admitiam ser pecadoras, Cristo se conservava sem pecado (Jo 8.46); enquanto os outros tinham pecados para confessar, Cristo não tinha nenhum; enquanto os outros precisavam nascer de novo, Ele nunca disse que teria esta necessidade. Jesus não estava, como nós, morto em ofensas e pecados (Ef 2.1); ao invés disso, Ele era a ressurreição e a vida (Jo 11.25). Aspectos teológicos da pureza de Cristo, O homem é culpado de três tipos de pecado: (1) o pecado de Adão, que passa a todos os homens (Rm 5.12ss.); (2) uma natureza pecadora e caída, que leva o homem a querer pecar (Rm 7.17ss.); (3) atos pecaminosos individuais. Como o homem, sob a autoridade de Adão, pecou com Adão, o Novo Testamento diz “por um homem entrou o pecado no mundo... por isso que todos pecaram” (Rm 5.12), e “todos morrem em Adão” (1 Co 15.22). Mas Cristo não veio ao mundo sob a autoridade de Adão. Ele introduziu uma nova autoridade, a sua própria (1 Co 15.20,22,45- 49). Para que isso acontecesse, era necessário que Ele não seguisse a descendência de Adão, mas que nascesse de uma virgem. O anjo deixou isso bem claro a Maria quando disse. “Descerá sobre ti o Espírito Santo... pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35) . Uma boa tradução apoiada por Nestle, Westcott e Hort, é: “portanto também aquele que irá nascer será santo, o Filho de Deus”. Essa leitura responde à pergunta de Maria. “Como se fará isso, visto que não conheço varão?” (O Filho de Deus pode ser nascido de Maria e, ao mesmo tempo, ser santo, porque isso ocorrerá pelo poder do Espirito Santo). Este é o testemunho do anjo Gabriel quanto à encarnação de Cristo com sua santidade inata. Alguns problemas. Algumas passagens têm originado problemas. Por que Cristo disse ao jovem príncipe, no Evangelho de Marcos: “Por qne me chamas bom? Ninguém há bom senão nm, que é Deus” (Mc 10.18; cf. Lc 18.19)? E por que Ele faz uma pergunta diferente no Evangelho de Mateus: “Por que me perguntas acerca do que é bom? Bom só existe um” (Mt 19.17). A resposta, possivelmente, é o fato de que Cristo fez duas perguntas separadas. Ele estava conduzindo o príncipe, gradualmente, da pergunta “Por que me perguntas sobre o que é bom?” (Mateus) para “Por que me chamas bom?” (Marcos e Lucas), em um esforço para evocar a fé salvadora e a resposta, “Porque Você é Deus!” Visto deste modo, não há nenhuma indicação dada por Cristo de que Ele não seja Deus; mas, ao invés disso, Ele apresenta algumas perguntas persuasivas para levar o jovem príncipe à conclusão de que Ele é Deus. Falanao do batismo de Cristo, o batismo de João não era para o arrependimento dos pecados? Sim, mas Cristo identíficava-se com aqueles que Ele veio salvar: *Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4), e, portanto, Ele deveria manter a lei em sua forma integral. Ele foi circuncidado no oitavo dia (Lc 2,21), apresentado no templo após o término dos dias de purificação (Lc 2.22-24), e batizado para “cumprir toda a justiça” (Mt 3.13-17; Lc 3.21,22). A afirmação em Hebreus 5.7,8, com respeito a Cristo aprender a obediência, implica em uma época em que Cristo não era obediente? Cristo aprendeu obediência em conexão com o seu sofrimento. Ele teve que vir para fazer a vontade de Deus (Hb 10.7-9), mas isso acarretava um terrível sofrimento e a agonia do Filho puro de Deus tomar-se pecado, aquele que tomaria sobre si os pecados de todos os pecadores (2 Co 5.21). Aqui está o contraste entre a desobediência de Adão e a obediência de Cristo (Rm 5.19). Para a natureza da pureza de Cristo, veja Tentação de Cristo. R. A. K. As funções de JESUS, o Ungido de DEUS, têm três aspectos: de um profeta, sacerdote e rei. - Dicionário Wycliffe Essas eram as três funções entre os israelitas do AT cujos ocupantes recebiam investidura pela unção com óleo (profeta, 1 Rs 19.16; sacerdote, Ex 29.7;30.25,30; rei, 1 Sm 9.16; 16.1,13). Calvino foi o primeiro teólogo a reconhecer a importância ae distingui-las e dedicar um capítulo a elas em sua obra Institutes. Teólogos uteranos foram um pouco relutantes e vagarosos em adotar essas tríplices funções. Eles aceitavam as funções proféticas e reais de CRISTO, mas tinham a inclinação de rejeitar sua função sacerdotal. Teólogos liberais, como um todo, colocam tamanha ênfase em CRISTO como mestre, que suas outras funções perdem todo valor. Os bartianos reínterpreta- ram a função profética de CRISTO através de sua visão de uma revelação existencial, aqui e ali, pela audição ou leitura de uma “Bíblia contraditória e falível” ou por um sermão, de forma que as funções de CRISTO ficam grandemente absorvidas na de um divulgador. CRISTO como Profeta. A função de profeta exigia que a pessoa fosse; (1) O porta-voz de DEUS, seu comunicador junto aos homens. O ministério de profeta é encontrado em Êxodo 7.1, onde DEUS disse: “Eis que te tenho posto por DEUS sobre Faraó; e Arão, teu irmão, será o teu profeta”. O profeta devia ouvir a palavra de DEUS ou ter uma visão e comunicá- la (Dt 18.18). Seu ministério era ao mesmo tempo passivo ao receber, e ativo ao proclamar. Mas não era meramente passivo, pois Abimeleque, o Faraó e Nabucodonosor também receberam revelações e não foram considerados profetas. (2) Um prenunciador do futuro. O profeta fazia revelações relacionadas a eventos futuros. Ele previa o futuro. CRISTO exercia essas duas funções, mas de tal maneira que, em geral, elas se confundiam. Seu ministério como porta-voz e mestre foi mais claramente descrito por Ele mesmo em João 8, onde o próprio Senhor JESUS diz que fala o que ouviu do Pai (v. 26), o que viu (v. 38), o que lhe foi ensinado pelo Pai (v. 28) e que o próprio Pai está com Ele (v. 29). Seu ministério de prever o futuro pode ser encontrado em Mateus 24.2-31 ; 25.31-46 (cf. Lc 21.6-28). As Escrituras do AT prevêem que o Messias deveria ser um profeta (Dt 18.15; cf. Act 3.22,23). JESUS falou sobre si mesmo como um profeta (Mt 13.57; Lc 13.33) e afirmou ter uma mensagem do Pai (Jo 8.26-28; 12.49,50; 14,10). O povo o recebeu como profeta (Mt 21.11,46; Lc 7.16; 24,19; Jo 3.2; 4.19; 6,14;7.40; 9,17). Veja Profecia; Profeta, CRISTO como Sacerdote. O AT prevê seu ministério sacerdotal (Sl 40.6-8; 110.4), A função sacerdotal requer a oferta de sacrifícios (.Hb 5.1-3), bem como a prática da intercessão (Dt 5.5; 9,18; 1 Sm 7.5 etc.), e o Senhor JESUS exerce estas duas funções. Entretanto, o sacrifício que Ele ofereceu não era de touros ou cabras, mas de si próprio, de seu próprio corpo (Sl 40.6-8; Hb 10.5-14; cf. Hb 9.25-28). A intercessão que Ele faz não é realizada em um Templo terreno, mas no próprio trono de DEUS (1 Jo 2.1,2; Rm 8.34; Hb 7.25; 9.24). O sacerdócio e os sacrifícios do AT eram apenas tipos de CRISTO e de seu sacrifício no Calvário, e o representavam como o Cordeiro de DEUS (Jo 1.29). CRISTO como Rei. A terceira função é a de rei e governante. CRISTO já exerce essa função sobre todos os membros de sua Igreja, e a exercerá de um modo mais amplo sobre toda a terra em sua segunda vinda (Zc 14.9,16,17; Ap 19.6; 20.4ss.). A ordem dos eventos que levam ao seu domínio final é: (1) A promessa da aliança de Davi (2 Sm 7.16; Sl 89.20- 27; cf. Is 11.1-16; 55.3,4). (2) Sua proclamação e nascimento como rei (Mt 2.2; Lc 1.32,33). (3) Sua rejeição como rei (Mc 15.12,13; Lc 19.14). Sua morte como sacrifício para satisfazer a justiça divina (Is 53.11), e ainda como rei (Mt 27.37). (5) Sua volta em glória para reinar como rei em Jerusalém (Mt 24.27-31; 26.64; Zc 14.8,9,16,17). Seu soberano reinado durará para sempre (2 Sm 7.15,16; Sl 89.36,37; Is 9.6,7; Dn 7.13,14). R. A. K. CRUZ DE CRISTO - Um pilar vertical com uma viga horizontal fixada perto do topo, onde os condenados eram executados no mundo romano. Formas; (1) Crux simplex, a cruz simples, a saber, um pilar único ou estaca vertical; (2) cr«x commissa ou crux humilus, a de Santo Antônio, na forma de um “T”; (3) crux clecus- sata, a de Santo André, na forma de um “X”; (4) crux im,missa, a cruz latina; (5) Cruz de São George, formada por dois pedaços de mesmo comprimento; (6) cruz tripla, 3 cruzes em uma fileira, usada pelos sacerdotes e dignatários da igreja a partir do século V. Aceita-se de forma geral que Cristo foi crucificado na crux immissa, ou cruz latina, visto que as Escrituras declaram que a inscrição “Este é Jesus, o rei dos judeus”, foi colocada sobre a sua cabeça (Mt 27.37; cf. Mc 15.26; Lc 23.38; Jo 19,19). Acredita-se que na cruz de Santo André, e na cruz de Santo Antônio isso não poderia ter sido feito. As tradições cristãs primitivas afirmam que Jesus morreu sobre uma ctuz latina (Irineu, Against Heresies, ii.24.4; Justino, Trypho, 91). A cruz de tau consistia de galhos ou estacas verticais plantadas permanentemente no campo de execução. Seu topo se afilava até um determinado ponto. O patíbulo era uma barra de madeira que pesava pouco mais de 56 quilos, com uma cavidade redonda esculpida no seu centro que se ajustava à ponta da haste. Algumas autoridades acreditam que esta era a cruz preferida pelos executores romanos, e que o título da placa podia ser fixado em um pedaço de madeira e pregado no patibulum, acima da cabeça ao criminoso. A cruz, como um sinal, pode ter sido usada pelos primeiros cristãos judeus de Jerusalém, antes da destruição da cidade em 70 d.C. Ossuários (caixas retangulares de pedra onde se depositavam ossos humanos) foram encontrados em 1945 no subúrbio de Talpio- th, sendo que um deles estava marcado em cada um dos quatro lados com uma cruz rudimentar, como um sinal de mais. Um ossu- ário marcado de forma similar foi encontrado em um cemitério aparentemente cristão no Monte das Oliveiras (FLAP, pp. 331ss.). Na cidade de Herculano, destruída em 79 d.C. pela erupção do Monte Vesúvio, uma casa escavada mostrava uma cruz latina gravada na parede de cimento em cima de um pequeno gabinete de madeira, considerado como um local de oração ou altar (FLAP, pp. 363ss.). Smbolo on emblema. A cruz é O símbolo de uma morte sob a maior culpa e a pior maldi- ção. Thayer diz que a cruz era “um instrumen- eo conhecido como a punição mais cruel e ver- gonhosa, emprestada aos gregos e romanos pelos fenícios; a ela foram condenados - entre os romanos, desde O tempo de Constantino O Grande - os criminosos mais execráveis, os pi- ores escravos, assaltantes, autores e cúmpli- ees de revoltas, e ocasíonalmente nas provín- cias, para O divertimento arbitrário dos gover- nadores, também os homens justos e parífi- cos,_e até mesmo os próprios cidadãos roma- nos” (J. H. Thayer, A Greek-English Lexicon of the New Testament, p. 586). Por isso a cruz, para nós cristãos, se tomou o sinal de que Cris- to tomou sobre si a culpa, e assim pagou a pe- nalidade pelos nossos pecados. PAIXÃO DE CRISTO - A expressão “paixão de Cristo” tem a sua origem na tradução do infinitivo aorista do verbo pascho em Atos 1.3, onde Lucas diz que Cristo “depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas”. O verbo aqui colocado no particípio significa “sofrer”, e é freqüentemente usado para se referir aos sofrimentos e à morte de Cristo (Mt 26.21; 17.12), e especificamente à morte de Cristo em Lucas 22.15; 24.26. A expressão não deve ser confundida com as “paixões dos homens”, que se referem às emoções humanas (Act 14.15; Tg 5.17). O seu uso em relação a Cristo personifica a idéia dos seus sofrimentos e da morte na cruz. O cumprimento das profecias A morte sacrificial de Cristo foi antecipada no sistema de sacrifícios do Antigo Testamento, e também foi o assunto freqüente das profecias do Antigo Testamento (Sl 22.69; Is 53; Zc 12.10; 13.7; cf. Ap 1.7). Cristo predisse constantemente os seus próprios sonimen- tos e a sua morte, ao longo do ministério da sua vida e especialmente à medida que se aproximava do seu final (Mt 16.21; 17.22,23; 20.17-19; 26.12,28,31; Mc 9.31; 14.8,24,27; Lc 9.22,44,45; 18.31-34; 22.20; Jo 2.19-21; 10.17,18; 12.7). Também houve uma antecipação no anúncio de João Batista (Jo 1.29), quando Cristo foi apresentado como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, e especialmente no Evangelho de João em diversas passagens clássicas (3.14-16; 6.51; 10.11; 11.49-52; 12.24; 15.13). A crucificação - uma morte atormentadora prescrita pela lei romana para aqueles que não eram cidadãos romanos - juntamente com o sepultamento de Cristo, estão descritos nos quatro Evangelhos (Mt 27.31-56; Mc 15.20-41; Lc 23.26-49; Jo 19.16-37). A ordem dos acontecimentos nos Evangelhos inclui a tentativa de Jesus de carregar a cruz até o lugar da crucificação. Por Ele não ter conseguido fazer isso, Sjmão, de Cirene (uma cidade no norte da África), foi obrigado a carregar a cruz (Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23.26). Somente João não menciona Simão. O lugar da crucificação, descrito como Gólgota, é interpretado como “o lugar da Caveira” (Mt 27.33; Mc 15.22; Jo 19.17). Somente Lucas o chama de Calvário (Lc 23.33). A ordem dos acontecimentos que se seguiram ao ato da crucificação é a seguinte: (1) Cristo recusando o vinagre com fe! (Mt 27.34; Mc 15.23); (2) a crucificação de Cristo juntamente com dois ladrões (Mt 27.35-38; Mc 15.24-28; Lc 23.33-38; Jo 19.18-24); (3) a sua primeira frase na cruz “Pai, perdoa-lhes” (Lc 23.34); (4) os soldados lançando sortes sobre as suas vestes, como cumprimento da profecia (Sl 22.18; Mt 27,35; Mc 15.24; Lc 23.34; Jo 19.23,24); (5) a zombaria dos judeus (Mt 27.39-44; Mc 15.29-32; Lc 23.35-37);6) ־) a zombaria dos dois ladrões, embora mais tarde um deles viesse a crer (Mt 27.44; Mc 15.32; Lc 23.39-43); (7) a segunda frase de Cristo “hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.43); (8) a terceira frase de Cristo “Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19.26,27); (9) as três horas de escuridão (Mt 27.45; Mc 15.33; Lc 23.44); (10) a quarta frase de Cristo “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46,47; Mc 15.34,35); (11) a quinta frase de Cristo “Tenho sede” (Jo 19.28); {12) a sexta frase de Cristo “Está consumado” (Jo 19.30); (13) a sétima e última frase de Cristo “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46); (14) Cristo entregando o seu espírito (Mt 27.50; Mc 15.37; Lc 23.46; Jo 19.30); Veja Cruz. Imediatamente após a sua morte, o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo, e os sepulcros se abriram. Mais tarde, os soldados quebraram as pernas dos dois ladrões, mas como encontraram Cristo morto, eles lhe perfuraram a lateral do corpo, como cumprimento das Escrituras (Jo 19.31-37; cf. Zc 12.10; Ap 1.7). O corpo de Cristo foi solicitado por José de Arimatéia, que, juntamente com Nicodemos, preparou-o para o sepultamento e colocou-o num sepulcro novo, em um horto. Ao sepultamento de Cristo seguiu-se a sua ressurreição no primeiro dia da semana. A Importância Teológica da Morte de Cristo O significado central da morte de Cristo está contido em três palavras importantes - redenção, propiciação e reconciliação. De acordo com Romanos 3.24, os que crêem em Cristo são “justificados gratuitamente por sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”. A idéia da redenção é a do resgate por meio do pagamento de um preço. A imagem envolve tanto a redenção pelo pagamento, como a libertação do objeto da redenção. Cristo, em sua morte, também constituiu uma propiciação ou uma satisfação da justiça de Deus (Is 53.11), como explicado pelo apóstoIo Paulo em Romanos 3.25,26. Da mesma forma, em seu sacrifício, “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados” (2 Co 5.19). Por meio da morte de Cristo, o pecador desfruta uma transformação, tanto em sua situação como em sua natureza, recebe a vida eterna e conseqüentemente se reconcilia com Deus e com os seus santos padrões. Veja Propiciação; Reconciliação; Redenção. As Diferentes Teorias Sobre a Expiação Na história da igreja, foram apresentadas várias teorias sobre a expiação. A ortodoxia histórica apoiou o conceito de uma expiação substitutiva, também descrita como vicária ou penal. Isto se refere à morte de Cristo, como basicamente dirigida a Deus e à satisfação do seu caráter santo, e das suas justas exigências em relação aos pecadores (cf. Jo 1.29; 2 Co 5.21; Gl 3.13; Hb 9.20; 1 Pe 2.24). A expiação substitutiva é indicada por meio do uso das preposições peri, hyper e anti, usadas em relação ao sacrifício de Cristo em beneficio do pecador. O ponto de vista de A. H. Strong, chamado de “reconciliação ética”, e o de Louis Berkhof, são variações deste ponto de vista. Muitos pontos de vista alternativos surgiram. Os patriarcas da igreja, tais como Orígenes, Agostinho e outros, conservaram a teoria do resgate, que diz que a morte de Cristo foi uma penalidade paga a Satanás na forma de um resgate, um ponto de vista largamente abandonado hoje em dia. A teoria da recapitulação, sustentada por Irineu, encarava a morte de Cristo como uma fase do restabelecimento, por Cristo, de todas as fases da vida humana, inclusive a de ser feito pecado, sem excluir a idéia da satisfação da justiça divina. A teoria comercial, defendida por Anselmo no século XI, considera a expiação como algo essencialmente comercial, ou uma das satisfações a Deus, no sentido de que ela satisfaz a honra de Deus. Embora não contradiga, necessariamente, a visão substitutiva, fracassa em ser penal. A teoria da influência moral, apresentada por Abelardo em oposição à de Anselmo, é baseada em uma premissa de que Deus não exigiu a morte de Cristo como uma expiação do pecado, mas apenas para demonstrar o seu amor e comunhão no sofrimento. Este ponto de vista é seguido por estudiosos neo-ortodoxos modernos e Liberais, na sua forma moderna como a teoria do exemplo, segundo a qual Cristo morreu meramente como um exemplo. Várias combinações dessas teorias foram apresentadas, tais como a de Tomás de Aquino, geralmente considerada a norma da teologia católica romana, que aceita a expiação substitutiva com algumas modificações. Aquino afirmava que Deus não precisava oferecer a expiação. Outro ponto de vista, o de Duns Scotus, nega a necessidade da expiação, no que diz respeito à natureza de Deus, e diz que se trata de uma escolha arbitrária por parte de Deus, ao aceitar o sacrifício de Cristo como suficiente, quer este seja ou não de fato suficiente. Schleiermacher e Eitschl oferecem a teoria da experiência mística, uma variação da teoria da influência moral, em que a morte de Cristo, de uma maneira mística, influencia o pecador para o bem. A teoria governamental de Grotius é outro compromisso entre a teoria do exemplo e a expiação substitutiva ortodoxa, na qual a morte de Cristo se origina da ordem de Deus e não do caráter de Deus. A teoria da confissão vicária baseia-se na idéia de que Deus poderia perdoar, se o homem pudesse arrepender-se adequadamente, e confessasse os seus pecados. Como ele não podería fazê-lo, Cristo o fez em seu lugar. As Escrituras apóiam o conceito substitutivo de que Cristo realmente morreu no lugar no pecador, e que isso trouxe uma base de justiça para que Deus perdoasse e salvasse os pecadores arrependidos (Is 53.11; Rm 3.25,26; 1 Pe 2.24). A morte de Cristo é, portanto, essencial, não somente para a fé e para a salvação humana, mas para o programa divino de redenção, e constitui um fundamento da doutrina cristã. Veja Expiação. Bibliografia. Lewis Sperry Chafer, Systematic Theology, Dallas. Dallas Seminary Press, 1948, III, 35-164. James Denney, The Death of Ckrist, ed. por R. V. C. Tasker, Londres. Inter-Varsity, 1952. Leon Lamb Morris, The Apostolic Preachíng of the Cross, Grand Rapids, Eerdmans, 1955. Andrew Murray, The Power of the Blood ofJesus and the Blood of the Cross, Londres. Marshall, Morgan & Scott, 1951. J. F. W. O milagre da Páscoa é o âmago da fé e da mensagem cristã. A ressurreição e a cruz são os temas principais do livro de Atos e das Epístolas. Em seu discurso no dia de Pentecostes (Act 2.24), Pedro fala daquele “ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte”. Esta frase ou alguma expressão equivalente ocorre por diversas vezes em Atos (Act 3.15; 4.10; 5.30; 10.40; 13.23,30,37; 26.8) e da mesma maneira nas Epístolas de Paulo (Rm 8.11; 10.9; 1 Co 6.14; 15.15; 2 Co 1.9; 4.14; Gl 1.1; Ef 1.20; 1 Ts 1.10; cf. 1 Pe 1.21). A morte expiatória de Cristo e a sepultura vazia são mencionadas juntas por nosso Senhor no que pode ser chamado de um complexo de redenção. O Senhor associou as duas em seu ensino (Mt 16.21; 20.18,19; Mc 8.31; 9.31; 10.33,34; Lc 18.32,33; Jo 10.17,18), e o apóstolo Pedro faz o mesmo (1 Pe 1.2-4; 3.18ss.). A Teologia da Ressurreição de Cristo A ressurreição é a prova miraculosa de que o Senhor Jesus Cristo fez a expiação pelo pecado (Act 2.24,38; 13.37,38; Rm 1.4), e venceu a morte (2 Tm 1.10;Ap 1.18). Através dela, ele foi declarado como sendo o Senhor e Cristo (Act 2.32-36) e o Filho de Deus com poder (Rm 1.4; Fp 2.6-11; cf. Act 13.33). Como o primogênito dentre os mortos, ele foi declarado o Cabeça da Igreja e o Soberano do universo (Cl 1.16-18; Ef 1.19-23; cf. Hb 1.3). Ele mesmo é a ressurreição, aquele que concede a vida eterna (Jo 11.25). Quando ressuscitou dos mortos e subiu às alturas, Ele enviou o Espírito Santo (Act 2.33,38; cf. Jo 15.26; 16.7). E o Senhor ressurrecto que, como nosso Sumo Sacerdote, apresentou o seu sangue sacrificial a Deus, o Pai (Hb 10.19-22; cf. 8.3; 10.10-14), agora intercede por nós (Rm 8.34; 1 Jo 2.1), e é habilitado e ordenado para tirar os selos dos juízos no fim dos tempos (Ap 5.1-7) e ser o juiz final do homem (Jo 5.21,22; Act 10.42; 17.31). Soteriologia da ressurreição. Para que o pecado do homem seja expiado, deve haver uma vida perfeita de justiça, vivida em completa obediência à santa lei de Deus, para ser oferecida “sem mácula”; Cristo realizou esta importante obra através de sua vida (Rm 5.19; 10.4; Hb 4.15; 5.8,9). Também deve haver uma expiação satisfatória para os pecados do homem e a lei infringida que exige a pena de morte (Rm 6.23), e isto Ele proveu submetendo-se à morte como o nosso substituto. Deus mostrou sua absoluta satisfação com a obediência ativa e passiva de Cristo, ressuscitando o seu Pilho dos mortos, e assim atestando que sua obra que visava alcançar a nossa justificação foi aprovada e aceita (Rm 4.25). Escatologia da ressurreição. A ressurreição revela a vitória completa e final sobre a morte e o pecado, e sobre os seus efeitos no homem e na criação. Pelo fato de Cristo ter ressuscitado, os crentes também ressuscitarão em corpos transformados (1 Co 15). Por meio deste mesmo fato, a natureza também será libertada da maldição. Esta é a explicação da ressurreição do crente ou a manifestação dos filhos de Deus através da “redenção do nosso corpo”, e a remoção da “servidão da corrupção’’ na segunda vinda de Cristo serem mencionados como ocorrendo simultaneamente em Romanos 8.1823־ (cf. Is 11.6- 12; 65.25; Zc 14.5). Negações da Ressurreição Têm sido sugeridas várias teorias que negam a ressurreição corpórea de Cristo. Teoria da fraude. Seus discípulos roubaram o seu corpo da sepultura e o esconderam em algum lugar. Esta opinião falha em explicar como os supostos covardes tornaram-se homens corajosos da noite para o dia, e também ignoram o fato da presença da guarda romana. Esta teoria presnme que a mentira dos soldados deva ser aceita ao invés do testemunho dos crentes em Cristo. Uma variação desta opinião é que os inimigos de Cristo roubaram o corpo e o esconderam. Por que, então, eles não usaram isto mais tarde para refutar as alegações dos discípulos de que o Senhor havia ressuscitado? Teoria da alucinação. Os discípulos apenas pensaram ter visto Jesus. Esta teoria falha em levar em conta o fato de que eles sentiram suas mãos e seus pés, falaram com ele, e comeram com ele e ele com eles (Lc 24.42,43). Uma variação disto é a teoria da razão histórica de Richard Niebuhr, de que os discípulos tinham uma lembrança histórica tão vivida de Cristo, que pensavam e falavam dEle como se Ele estivesse vivo. Esta opinião falha pelas mesmas razões que as da teoria da alucinação. Além disso, como na teoria anterior, ela deve negar a sepultura vazia. Teoria da visão objetiva. Deus concedeu aos seguidores de Jesus visões reais para lhes dar a certeza de que o Espírito de Jesus havia sobrevivido. Esta opinião, da mesma forma, não consegue levar em conta a sepultura vazia, nem o seu corpo tangível em suas aparições. Teoria do corpo espiritual transformado. A fim de tentar explicar como os lençóis foram deixados intactos e como o Cristo ressurrecto passou através de uma porta fechada, alguns têm afirmado com base em uma interpretação errônea de 1 Coríntios 15.44 que Jesus ressuscitou com um corpo completamente ״espiritual”, completamente imaterial; porém Ele comeu na presença de seus discípulos. Teoria do desmaio. Cristo estava apenas desmaiado e seus discípulos o raptaram da sepultura e o reanimaram. Esta opinião envolve os discípulos em uma fraude. Enganadores não arriscariam a vida mais tarde por causas justas como fizeram os discípuos. Esta teoria falha em fazer justiça ao exame e pronunciamento dos soldados romanos de que Jesus estava morto. Isto é ainda mais aviltante para os fundadores da Igreja primitiva. Teoria da sepultura errada. Kirsopp Lake sugere que as mulheres foram para a sepultura errada e encontraram um estranho, de quem elas fugiram. Esta é uma tentativa um tanto desesperada de explicar o fenômeno que Lake considera a priori impossível, isto é, o milagre de uma ressurreição. Esta teoria falha em explicar tanto a experiência dos soldados tomando conta da sepultura na qual Jesus estava sepultado, como o fato da sepultura da qual as mulheres fugiram estar vazia. Provas da Ressurreição A validade da ressurreição de Cristo baseia- se na certeza da morte e sepultamento de Jesus e no selamento da sepultura, a pedra removida e a sepultura vazia, a condição ordenada dos lençóis, e no registro de dez diferentes aparições físicas do Jesus ressurrecto. As aparições sâo atestadas em seis relatos - em todos os quatro Evangelhos, em Atos e 1 Coríntios 15: 1. A Maria Madalena (Jo 20.11-18). 2. Às outras mulheres (Mt 28.9,10). 3. A Pedro, em particular (1 Co 15,5; Lc 24.34). 4. A Cleopas e seu companheiro na estrada para Emaús (Lc 24.13-35). 5. A dez dos apóstolos em uma sala trancada (Jo 20.19-25; Lc 24.36-43). 6. A Tomé e aos outros uma semana depois (Jo 20.26-29). 7. A mais de 500 discípulos em uma ocasião (1 Co 15.6). E provável que este fato tenha ocorrido na Galiléia, como cumprimento de Mateus 28.7,8 e Marcos 16.7. Esta pode ter sido a mesma ocasião em que o Senhor Jesus encarregou os seus seguidores da grande tarefa de evangelização (Mt 28.16-20). 8. A Tiago, o irmão do Senhor (1 Co 15.7). 9. A sete discípulos perto do Mar da Galiléia (Jo 21.1-23). 10. Aos apóstolos e talvez a outros em Jerusalém no momento de sua ascensão (Lc 24.50-52; Act 1.4-9). Outras aparições como estas são mencionadas em Atos 1.3. A ressurreição de Cristo é historicamente atestada por: (1) o fato da súbita mudança na vida dos apóstolos - os 11 se comportaram de forma covarde na ocasião da crucificação, mas se comportaram como homens prontos a dar suas próprias vidas 50 dias depois no Pentecostes; (2) a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, em cumprimento à promessa do Senhor Jesus (Jo 14.16; 15.26; 16.7; cf. 7.37-39; Act 2.32,33); (3) a mudança do dia de adoração do sábado judaico para o primeiro dia da semana, como um testemunho do dia em que Cristo ressuscitou; (4) o súbito e espantoso crescimento da Igreja cristã; (5) a existência do NT, cuja mensagem depende da autenticidade da ressurreição. A ressurreição corpórea de Jesus Cristo é o acontecimento melhor atestado na história antiga. E como Merril) C. Tenney resume: “A ressurreição é relevante para a necessidade humana de propósito e segurança... O evento está fixado na história; a dinâmica é potente para toda a eternidade” (The Reality ofthe Ressurrectton, p. 19). Veja Ressurreição do Corpo. Bibliografia, William Milligan, The Resurrection of Our Lord, Londres. Macmillan, 1894. Frank Morrison, Vfho Moved the Stone? Londres. Faber & Faber, 1930. Richard R. Niebuhr, Resurrection and His- torical Reason, Nova York. Scribner’s, 1957. J. Orr, The Resurrection of Jesus, Cincinna- ti. Jenning e Bryan, 1909. Elmer E. Parsons, Witness to the Resurrection, Grand Rapids. Baker, 1967. A. M. Ramsey, The Resurrection of Ckrist, Filadélfia. Westminster, 1946. Merrill C. Tenney, The Reality of the Resurrection, Chicago. Moody, 1972 (com extensa bibliografia). R. A. K. JESUS - Comentário Bíblico - Matthew Henry (Exaustivo) AT e NT) Mateus 1 Este evangelista começa com a descrição do nascimento e ascendência de CRISTO, os ancestrais de quem Ele descendia, e a forma de sua entrada no mundo, indicando que Ele era realmente o Messias prometido, pois fora profetizado que Ele deveria ser o filho de Davi, e deveria nascer de uma virgem; e aqui está claramente demonstrado que Ele cumpriu tudo isso. Pois o texto diz: I. Sua linhagem de Abraão em quarenta e duas gerações, três períodos de quatorze (vv. 1-17). II. Um relato das circunstâncias de seu nascimento, pois era um requisito mostrar que Ele nasceu de uma virgem (vv. 18-25). Dessa forma, a vida de nosso bendito Salvador é metodicamente escrita, como todas as vidas deveriam ser escritas, para que o propósito do exemplo delas seja o mais claro possível. OBSERVAÇÃO SOBRE GENEALOGIA - Pr. Henrique POR QUE DIFERENTES GENEALOGIAS ENTRE MATEUS E LUCAS?
Porque Lucas mostra a humanidade de JESUS e Mateus sua Realeza (na de Mateus é demonstrada a descendência de JESUS do rei Davi por causa de José que era da casa real)
Lucas coloca mais nomes de descendentes humildes e às vezes sem expressividade em sua genealogia para mostrar a humildade e humanidade de JESUS.
A intenção de Lucas é mostrar JESUS se fazendo homem para salvar a todos os descendentes de Adão. Por isso a genealogia de Lucas vai até Adão.
Já Mateus está interessado em provar que JESUS é rei e mostra JESUS descendente dos reis até Davi porque é filho de José, da casa de Davi. Entre tantos outros descendentes de Davi, José é mais um que poderia se candidatar ao trono. Assim JESUS nasce em Belém, tribo de Judá. Também é filho legalmente de José da casa de Davi.
Cuidado com fábulas artificialmente compostas (2 Pedro 1:16) de que na genealogia de Lucas está registrada a genealogia de Maria e que Eli ou Heli é pai de Maria. Não existe nenhuma comprovação bíblica disso. A genealogia é de JESUS e as mulheres não influenciavam as genealogias. Apenas são citadas como esposas de alguém que faz parte da genealogia de JESUS. A única família de Maria encontrada na Bíblia é a de Isabel, sua prima, descendente de Arão, da tribo de Levi. Lucas 1:5 Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel. Lucas 1:36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; SE MULHER INFLUENCIASSE GENEALOGIA DAVI SERIA APENAS UM ZERO A ESQUERDA.
Davi é descendente de Raabe,a prostituta e de Rute, a Moabita (descendente de um incesto das filhas de Ló com ele) E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé; Mateus 1:5. ISSO NOS MOSTRA CLARAMENTE QUE MULHER NÃO INFLUENCIA NA GENEALOGIA. JESUS SÓ É RECONHECIDO COMO DA CASA DE DAVI POR CAUSA DE JOSÉ, QUE É DA CASA DE DAVI. E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi), Lucas 2:4
José tinha uma profissão que o mantinha dentro da classe média e não da pobre. Quando se ocupou com a ida a Belém, nascimento de JESUS, ida a Jerusalém para apresentação do menino JESUS e depois fuga para o Egito, ai sim, sem trabalhar, teve dificuldades financeiras, embora no Egito tivesse produtos ganhados no nascimento de JESUS com os quais podia sustentar sua família. A Genealogia de CRISTO Mateus 1.1-17 Com respeito a essa genealogia de nosso Salvador, observe: I Seu título. É o livro (ou o relato, de acordo com o significado dado, às vezes, à palavra hebraica sepher, um livro) da genealogia de JESUS CRISTO, de seus ancestrais conforme a carne; ou a narrativa de seu nascimento. É o Biblos Geneseos – um livro do Gênesis. O Antigo Testamento começa com o livro da criação do mundo, e é a sua glória que seja assim; mas a glória do Novo Testamento, exaltada neste documento, é começar com a genealogia daquele que criou o mundo. Como DEUS, suas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade (Mq 5.2), e ninguém pode explicar aquela criação; mas, como homem, Ele foi enviado na plenitude dos tempos, nasceu de uma mulher, e é esta criação que é proclamada aqui. II A principal intenção dela. Não é uma genealogia sem fim ou desnecessária; não é presunçosa como são geralmente as dos grandes homens. Stemmata, quid faciunt? – Qual a utilidade das antigas genealogias? Deviam ser usadas como evidência, para comprovar um título e apoiar uma alegação; o objetivo aqui é provar que o nosso Senhor JESUS CRISTO é o filho de Davi e o filho de Abraão, e, portanto, daquela nação e daquela família através da qual o Messias estava para surgir. Abraão e Davi eram, em seus dias, os grandes depositários da promessa relativa ao Messias. A promessa da bênção foi feita a Abraão e à sua semente, e a do poder, a Davi e à sua semente; e aqueles que teriam um envolvimento com CRISTO, como o filho de Abraão, em quem serão abençoadas todas as famílias da terra, deveriam ser fiéis e leais súditos dele como o filho de Davi, por quem serão governadas todas as famílias da terra. Foi prometido a Abraão e a Davi que CRISTO descenderia deles (Gn 12.3; 22.18; 2 Sm 7.12; Sl 89.3ss.; Sl132.11); conseqüentemente, a menos que possa ser provado que JESUS é um filho de Davi, e um filho de Abraão, não podemos aceitar que Ele seja o Messias. Agora isso está provado aqui através dos registros autênticos do ofício da aristocracia. Os judeus eram muito precisos em manter a sua genealogia, e havia prudência nisso, pois assim podiam esclarecer a linhagem do Messias a partir dos patriarcas; e desde a sua vinda essa nação está tão dispersa e confusa que existe uma questão sobre se qualquer pessoa no mundo pode legalmente provar que é um filho de Abraão. De qualquer maneira, é certo que ninguém pode provar que é um filho de Abraão ou de Davi; desse modo, o ofício de sacerdote e de rei deve ser abandonado, como perdido para sempre, ou ser colocado nas mãos de nosso Senhor JESUS. CRISTO é aqui, pela primeira vez, chamado de filho de Davi, porque sob esse título, ele era freqüentemente comentado e esperado entre os judeus. Aqueles que reconheciam ser ele o CRISTO, chamavam-no de filho de Davi (Mt 15.22; 20.31; 21.15). Desse modo, portanto, o evangelista tem a tarefa de comprovar que Ele não é apenas um filho de Davi, mas aquele filho de Davi sobre cujos ombros deveria estar o governo; não apenas um filho de Abraão, mas aquele filho de Abraão que seria o pai de muitas nações. Ao chamar CRISTO de filho de Davi, e filho de Abraão, ele mostra que DEUS é fiel à sua promessa, e cumprirá tudo o que disse: 1. Embora o cumprimento fosse adiado por um longo período. Quando DEUS prometeu a Abraão um filho, que deveria ser a grande bênção do mundo, talvez ele esperasse que este fosse seu filho imediato; mas ficou comprovado que se tratava de um descendente que estava a quarenta e duas gerações de distância, cerca de 2.000anos. DEUS pode profetizar com muita antecedência aquilo que deve ser feito e, às vezes, muito tempo depois cumprir o que foi prometido. Observe que embora a demora em conceder as misericórdias prometidas exercite a nossa paciência, ela não enfraquece a promessa de DEUS. 2. Embora alguém comece a perder a esperança. Esse filho de Davi e de Abraão, que deveria ser a glória da casa de seu Pai, nasceu quando a semente de Abraão era um povo menosprezado, que recentemente se tornara tributário do jugo romano, e quando a casa de Davi havia mergulhado na obscuridade. Pois CRISTO seria uma raiz arrancada de solo seco. Note que o tempo de DEUS para o cumprimento de suas promessas geralmente é aquele em que as condições se mostram mais desfavoráveis. III Uma seqüência particular, descrita em linha reta diretamente a partir de Abraão, de acordo com as genealogias registradas no início dos livros de Crônicas (até onde elas vão), e cuja utilidade vemos aqui. Algumas peculiaridades que podemos observar na genealogia: 1. Entre os ancestrais de CRISTO que eram irmãos, geralmente Ele descendia do irmão mais novo; assim foi com o próprio Abraão, Jacó, Judá, Davi, Natã e Resa; para mostrar que a superioridade de CRISTO vinha, não como no caso dos príncipes terrenos, da primogenitura de seus ancestrais, mas da vontade de DEUS, que, conforme o método de sua providência, exalta os menores depositando uma honra mais abundante sobre a parte que menos tinha. 2. Entre os filhos de Jacó, além de Judá, de quem veio Siló, a atenção é dada aqui a seus irmãos: Judá e seus irmãos. Não é feita menção a Ismael, filho de Abraão, ou a Esaú, o filho de Isaque, porque eles foram impedidos de entrar na congregação. Todos os filhos de Jacó foram recebidos, embora não fossem os pais de CRISTO; mas mesmo assim foram patriarcas da igreja (At 7.8), e por isso são mencionados na genealogia, para o encorajamento das doze tribos que foram espalhadas pelo mundo, insinuando a estas que elas têm um envolvimento com CRISTO, e que permanecem relacionadas tanto a Ele como a Judá. 3. Perez e Zerá, filhos gêmeos de Judá, são igualmente mencionados, embora somente Perez fosse ancestral de CRISTO, pela mesma razão que os irmãos de Judá são mencionados; e alguns pensam que seja porque o nascimento de Perez e Zerá contenha uma espécie de alegoria. Zerá colocou sua mão para fora primeiro, como se fosse o primogênito, mas quando a recolheu, Perez ficou com o direito da primogenitura. A igreja judaica, como Zerá, alcançou antes o direito de primogenitura, mas pela sua descrença, ao retrair a mão, a igreja gentílica, como Perez, adiantou-se e conquistou o direito de primogenitura; e assim em parte a cegueira atinge a Israel, até que os gentios atinjam a plenitude e, então, Zerá nascerá e todo Israel será salvo (Rm 11.25,26). 4. Há quatro mulheres, e somente quatro, listadas nesta genealogia; duas delas originariamente não pertencentes à comunidade de Israel. Raabe, uma cananéia e, além disso, prostituta, e Rute, a moabita; pois em JESUS CRISTO não há nem grego nem judeu; os forasteiros e os estrangeiros são, em CRISTO, bem-vindos como concidadãos dos santos. As duas outras eram adúlteras, Tamar e Bate-Seba; o que foi uma marca a mais de humilhação colocada sobre nosso Senhor JESUS. É particularmente observado em sua genealogia que Ele era um descendente delas, e nenhum véu é posto sobre este fato. Ele tomou sobre si a semelhança da carne pecaminosa (Rm 8.3), e aceita até mesmo os maiores pecadores – após eles se arrependerem – em seu círculo de relações mais próximas. Note que não devemos criticar as pessoas pelos escândalos de seus ancestrais; é algo que elas não podem controlar, e isto ocorre até mesmo com as melhores pessoas; ocorreu até mesmo com o nosso próprio Mestre. O fato de Davi ter gerado Salomão através daquela que havia sido a esposa de Urias é mencionado (diz o Dr. Whitby) para mostrar que o crime de Davi, devido ao arrependimento, estava muito longe de impedir o cumprimento da promessa que lhe fora feita. O cumprimento da promessa agradava tanto a DEUS, que Ele tolerou que fosse cumprida através daquela mulher. 5. Embora diversos reis sejam aqui citados, nenhum é chamado de rei, exceto Davi (v. 6). Davi, o rei; porque com ele foi feito o pacto da realeza, e a ele foi feita a promessa do reino do Messias, sobre quem é dito que herdará o trono de seu pai Davi (Lc 1.32). 6. Na linhagem dos reis de Judá, entre Jorão e Uzias (v. 8), existem três que não são citados, especificamente Acazias, Joás e Amazias; e conseqüentemente quando é dito que Jorão gerou a Uzias, isto significa, de acordo com o uso da língua hebraica, que Uzias era um descendente dele em linha reta, assim como é dito a Ezequias que os filhos que haveria de gerar seriam levados para a Babilônia, levando em conta que várias gerações se passaram até que ocorresse a referida remoção. Provavelmente não foi por engano ou esquecimento que estes três foram omitidos nas tabelas genealógicas que o evangelista consultou. Mesmo assim, elas são consideradas como autênticas. Alguns dão a seguinte razão para isso: sendo desejo de Mateus, para facilitar a memorização, reduzir o número de ancestrais de CRISTO a três períodos de quatorze gerações, foi preciso que, nesse período, três fossem excluídos, e ninguém era mais adequado do que aqueles que eram descendentes diretos da amaldiçoada Atalia, que introduziu a idolatria de Acabe na casa de Davi, motivo pelo qual este estigma foi colocado sobre a família, e a iniqüidade atingiu até a terceira e a quarta geração. Dois desses três eram apóstatas; e dessa maneira DEUS geralmente coloca uma marca de desagrado sobre este mundo: os três foram levados ao túmulo com sangue. 7. Alguns observam que havia uma mistura de bons e maus na sucessão desses reis; como, por exemplo (vv. 7, 8), o mau Roboão gerou ao mau Abias; o mau Abias gerou ao bom Asa; o bom Asa gerou ao bom Josafá; o bom Josafá gerou ao mau Jorão. Nem a graça nem o pecado correm no sangue. A graça de DEUS pertence a Ele, e Ele a dá ou retira conforme lhe agrada. 8. O cativeiro da Babilônia é mencionado como um período singular nessa lista (vv. 11,12). Levando tudo em conta, foi um milagre que os judeus não tenham se perdido nesse cativeiro, como aconteceu com outras nações. Mas isso sugere a razão pela qual as multidões desse povo se mantiveram puras ao atravessar aquele mar morto: pois deles, segundo a carne, surgiria o CRISTO. “Não o destrua, pois há bênção nele”, até mesmo a bênção das bênçãos, o próprio CRISTO (Is 65.8,9). Foi com vistas a Ele que eles foram retomados, e sobre o santuário assolado o Senhor fez resplandecer o seu santo rosto (Dn 9.17). 9. É dito que Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos (v. 11); Jeconias quer dizer, aqui, Joaquim, que foi o primogênito de Josias; mas, quando se diz (v. 12) que Jeconias gerou a Salatiel, esse Jeconias era o filho daquele Joaquim que foi levado para a Babilônia e lá gerou a Salatiel (como mostra o Dr. Whitby), e, quando Jeconias é descrito como não tendo filhos (Jr 22.30), isso é explicado da seguinte forma: nenhum dos homens de sua semente prosperaria. Aqui é dito que Salatiel gerou a Zorobabel, enquanto que Salatiel gerou a Pedaías, e este gerou a Zorobabel (1 Cr 3.19); mas, como anteriormente, o neto é geralmente chamado de filho. É provável que Pedaías tenha morrido enquanto seu pai era vivo, e assim seu filho Zorobabel era chamado de filho de Salatiel. 10. A linhagem não vai até Maria, a mãe de nosso Senhor, mas até José, o marido de Maria (v. 16); pois os judeus sempre consideravam as suas genealogias pelo lado dos homens. Além disso, Maria era da mesma tribo e da mesma família de José, de modo que, tanto por sua mãe como por seu suposto pai, Ele era da casa de Davi; todavia a sua relação com essa nobreza deriva de José, com quem, segundo a carne, ele não tinha nenhuma relação, para mostrar que o reinado do Messias não é baseado em uma linhagem natural de Davi. 11. O centro em quem todas essas linhagens se encontram é JESUS, que é chamado de CRISTO (v. 16). Este é aquele que era tão ansiosamente desejado, tão impacientemente aguardado, e a quem os patriarcas tinham em vista quando desejavam tanto ter filhos para que pudessem ter a honra de fazer parte da linhagem sagrada. Bendito seja DEUS, por não estarmos agora em uma condição tão sombria e turva de expectativa como eles então estavam, mas podermos ver claramente aquilo que esses profetas e reis viram através de um vidro escuro. E nós podemos ter, a não ser por nossa própria culpa, uma honra maior do que aquela que eles tanto ambicionavam, pois aqueles que fazem a vontade de DEUS estão em uma posição mais honrada em relação a CRISTO do que aqueles que eram seus parentes segundo a carne (Mt 12.50). JESUS é chamado de o CRISTO, ou seja, o Ungido, o mesmo que a palavra hebraica Messias. Ele é chamado de Messias, o Príncipe (Dn 9.25), e freqüentemente de o Ungido de DEUS (Sl 2.2). Nessa condição, Ele era esperado: “És tu o CRISTO, o ungido?” O rei Davi foi ungido (1 Sm 16.13); Arão, o sacerdote, também o foi (Lv 8.12); e também Eliseu, o profeta (1 Rs 19.16), e Isaías, o profeta (Is 61.1). CRISTO, sendo designado e qualificado para todas essas posições, é por essa razão chamado de o Ungido, ungido com óleo de alegria, mais do que a seus companheiros; e por causa do seu nome, que é como uma unção que flui com abundância, todos os seus seguidores são chamados de cristãos, pois eles também recebem a sua unção. Por último temos o resumo geral de toda essa genealogia (v. 17), onde ela é totalizada em três períodos de quatorze gerações, identificados por períodos extraordinários. No primeiro período de quatorze anos, temos a família de Davi em ascensão promissora como uma manhã. No segundo, nós a vemos prosperando até atingir o seu brilho máximo. No terceiro, ela entra em declínio, crescendo cada vez menos, diminuindo até chegar à família de um pobre carpinteiro, e então CRISTO surge dela, resplandecendo; Ele é a glória de seu povo, Israel. O Nascimento de CRISTO Mateus 1. 18-25 O mistério da encarnação de CRISTO deve ser venerado, e não visto com curiosidade. Se não conhecemos o caminho do ESPÍRITO na formação das pessoas comuns, nem como os ossos são formados no útero daquela que está grávida (Ec 11.5), muito menos sabemos como o bendito JESUS foi formado no ventre da virgem bendita. Quando Davi se admira de como ele próprio foi feito em segredo e curiosamente formado (Sl 139.13-16), parece que ele está falando no espírito da encarnação de CRISTO. Algumas circunstâncias presentes no nascimento de CRISTO, que encontramos aqui, não constam na versão de Lucas, embora o evento seja mais amplamente descrito por este evangelista. Aqui temos: I O casamento de Maria com José. Maria, a mãe de nosso Senhor, desposou José. Ela não estava completamente casada, mas já havia celebrado um contrato de casamento. Este contrato era uma proposta de casamento solenemente manifestada com as palavras no futuro, e a promessa de realizá-lo se DEUS o permitisse. Lemos sobre um homem que desposou uma mulher e não a recebeu (Dt 20.7). CRISTO nasceu de uma virgem, mas uma virgem compromissada: 1. Para dar respeito ao casamento e para defendê-lo como algo honrado para todos, contra aquela doutrina do diabo que proíbe o casamento e identifica a perfeição na condição de solteiro. Quem foi mais favorecido do que Maria o foi em seu matrimônio? 2. Para salvar a reputação da bendita virgem, que de outra forma teria sido exposta. Era adequado que a sua concepção fosse protegida por um casamento, e assim justificada aos olhos do mundo. Um dos antigos diz: Seria melhor que perguntassem se este não era ”o filho do carpinteiro”, do que: Não é este o filho da meretriz? 3. Para que a bendita virgem pudesse ter alguém para ser o guia da sua juventude, o companheiro em sua solidão e viagens, um parceiro em suas preocupações e uma ajuda adequada em todos os momentos. Alguns pensam que José era então viúvo, e aqueles que são chamados de irmãos de CRISTO (Mt 13.55), eram filhos de José com uma esposa anterior. Esta é uma conjectura de muitos dos antigos. José era um homem justo, ela, uma mulher virtuosa. Aqueles que são crentes não devem se juntar de forma desigual com os não-crentes. Mas que se permita aos que são religiosos escolherem se casar com aqueles que também o são, já que eles esperam o conforto de tal relacionamento e, neste, a bênção de DEUS sobre eles. Nós também podemos aprender, com este exemplo, que é bom passar à condição de casado com ponderação, e não antecipar as núpcias com precipitação, através de um contrato. É melhor dedicar tempo para pensar antes, do que se arrepender depois. II Sua gestação da semente prometida; antes de se juntarem como um casal, Maria ficou grávida, e esta gravidez foi gerada pelo ESPÍRITO SANTO. O casamento foi postergado para tanto tempo depois do contrato, que ela ficou grávida antes de chegar o momento da celebração do casamento, embora o contrato já tivesse sido celebrado antes de ela conceber. Provavelmente, foi depois do retorno de Maria da casa de sua prima Isabel, com quem permaneceu três meses (Lc 1.56), que José percebeu que ela estava grávida, e ela não negou isso. Observe que as outras pessoas notam aqueles em quem CRISTO é formado: a obra de DEUS na vida de cada pessoa se torna patente. Assim sendo, nós bem podemos imaginar que perplexidade isto podia legitimamente causar à bendita virgem. Ela mesma conhecia o divino progenitor dessa concepção; mas como ela podia provar isso? Ela seria tratada como uma prostituta. Note que depois de grandes avanços, a fim de não ficarmos orgulhosos, podemos esperar que alguma situação ou pessoa nos humilhe, ou que soframos alguma repreensão, como um espinho na carne. E não apenas isto, mas às vezes essas situações são como uma espada nos ossos. Jamais alguma filha de Eva foi tão dignificada quanto a virgem Maria, e mesmo assim ainda correu o risco de cair sob a imputação de um dos piores crimes. Porém, observe que nós não a vemos se atormentando por causa disso; mas, consciente de sua própria inocência, ela se manteve calma e tranqüila, e comprometida com a causa daquele que julga com justiça. Note que aqueles que se preocupam em manter a consciência limpa podem alegremente confiar que DEUS manterá os seus bons nomes, e têm motivos para esperar que Ele limpe não apenas a sua integridade, mas também a sua honra, de uma forma tão clara como o sol ao meio-dia. III A perplexidade de José, e sua preocupação sobre o que fazer nesse caso. Nós podemos imaginar que grande problema e desapontamento foi para José descobrir que alguém sobre quem ele tinha tal opinião e consideração, ficasse sob a suspeita de um crime tão odioso. Essa é Maria? Ele começou a pensar: “Como podemos ser ludibriados por aqueles sobre quem pensamos o melhor! Como podemos nos desapontar com aqueles de quem mais esperamos!” Ele reluta em acreditar em algo tão ruim vindo de uma mulher que ele acreditava ser tão boa; e o caso em si, sendo ruim demais para ser perdoado, é também claro demais para ser negado. Que luta provocou este acontecimento em seu peito, entre aquele ciúme que é a ira do homem, cruel como uma sepultura, por um lado, e a afeição que ele sentia por Maria, por outro! Considere: 1. “O extremismo que ele pensou evitar”. Ele não estava disposto a torná-la um exemplo público. Ele podia ter feito isso; pois, pela lei, uma virgem comprometida, se procedesse como prostituta, seria apedrejada até a morte (Dt 22.23,24). Mas ele não desejava usar a lei contra ela; se ela fosse culpada, o que até agora não se sabia, não seria conhecido através dele. Quão diferente era o ânimo mostrado por José em relação ao de Judá, que em um caso semelhante, apressadamente proferiu aquela sentença severa: “Tirai-a fora para que seja queimada!” (Gn 38.24). Que bom é pensar sobre as coisas como José fez aqui! Haveria mais ponderação em nossas críticas e julgamentos, haveria mais misericórdia e moderação neles. Castigá-la é aqui o chamado a fazer dela um exemplo; o que mostra que a finalidade a ser alcançada com a punição é passar um aviso para os outros: é através do terror que, em todo lugar, se ouve e se teme. “Fira o escarnecedor”, e os símplices se acautelarão. Algumas pessoas de temperamento severo culpariam José por sua clemência, mas aqui este fato é mencionado como um elogio; pois ele era um homem justo, portanto não queria expô-la. Ele era um homem religioso e bom; e, portanto, inclinado a ser misericordioso como DEUS é, e perdoar como alguém que foi perdoado. No caso da donzela prometida, se ela fosse desonrada no campo, a lei caridosamente suporia que ela havia gritado (Dt 22.26), e ela não deveria ser punida. Talvez José tenha dado esta ou alguma outra interpretação caridosa a esse assunto; neste contexto, ele é um homem justo, cuidando do nome daquela que nunca antes havia feito qualquer coisa para manchá-lo. Note que cabe a nós, em muitos casos, sermos gentis com aqueles que estão sob suspeita de haver transgredido a lei, esperar o melhor no tocante a eles, e extrair o melhor daquilo que, a princípio, parece ruim, na esperança de que o melhor aconteça. Summum just, summa injuriae – O rigor da lei é (às vezes) a medida da injustiça. O tribunal da consciência restringe o rigor da lei ao que nós chamamos de um tribunal justo. Aqueles que são considerados delituosos foram talvez surpreendidos no erro, e devem ser reabilitados com o espírito de brandura; e a intimidação, mesmo quando justa, deve ser moderada. 2. “A oportunidade que ele encontrou para evitar este extremo”. Ele tinha em mente abandoná-la em segredo, ou seja, dar-lhe em mãos uma carta de divórcio diante de duas testemunhas, e assim manter o assunto somente entre eles. Sendo um homem justo, ou seja, um estrito observador da lei, ele não daria andamento ao seu casamento com Maria, mas resolveu afastar-se dela; mesmo assim, em um gesto de carinho para com ela, decidiu fazer isso tão secretamente quanto possível. Note que as críticas àqueles que transgrediram a lei devem ser conduzidas sem estardalhaço. As palavras dos sábios são ouvidas com discrição. O próprio CRISTO não discutiria nem gritaria. O amor cristão e a prudência cristã encobrirão uma grande quantidade de pecados, alguns deles graves, até o ponto em que isso não signifique solidarizar-se com eles. IV A libertação de José dessa perplexidade por um mensageiro enviado do céu (vv. 20,21). Enquanto ele pensava nessas coisas e não sabia o que decidir, DEUS graciosamente indicou-lhe o que fazer, facilitando-lhe as coisas. Note que aqueles que costumam receber a orientação de DEUS devem pensar a respeito dela e consultar a si mesmos a este respeito. DEUS guiará aquele que reflete, e não o irracional. Quando José estava confuso, e havia pensado sobre o assunto tanto quanto conseguia, então DEUS se manifestou com uma recomendação. Note que a hora de DEUS em que Ele se manifesta com uma orientação para o seu povo, é aquela em que eles estão confusos e indecisos. O conforto de DEUS deleita a alma em meio à profusão de seus pensamentos e de sua perplexidade. A mensagem foi enviada a José através de um anjo do Senhor, provavelmente, o mesmo anjo que levou à Maria a notícia da concepção, o anjo Gabriel. Agora a comunicação com o céu, através de anjos, com a qual os patriarcas haviam sido dignificados, mas que há muito tinha sido interrompida, começa a ser reativada; pois, quando o Primogênito fosse trazido a este mundo, os anjos seriam instruídos a acompanhar os seus movimentos. Quanto pode DEUS agora, de um modo invisível, fazer uso do auxílio dos anjos para livrar o seu povo das suas dificuldades, não podemos dizer; mas disto nós temos certeza: todos eles são espíritos que atuam para o bem dele. Este anjo apareceu a José em um sonho quando ele estava dormindo, da maneira como DEUS algumas vezes falou aos patriarcas. Quando estamos quietos e tranqüilos, estamos no melhor estado de espírito para receber as notícias da vontade divina. O ESPÍRITO se move em águas calmas. Este sonho, sem dúvida, carregava em si a evidência de que se originava de DEUS, e não de uma presunçosa imaginação. Agora: 1. José é orientado aqui a prosseguir com o seu casamento. O anjo o chama: “José, filho de Davi”; ele o lembra de sua relação com Davi, para que possa estar preparado para receber esta surpreendente capacidade de entendimento de sua relação com o Messias, que, todos sabiam, seria um descendente de Davi. Às vezes, quando grandes honras recaem sobre aqueles que têm poucas posses, eles não se preocupam em aceitá-las, querendo desistir delas; era, portanto, necessário colocar na mente desse pobre carpinteiro o valor desse nascimento: “Valoriza a ti mesmo, José, tu és aquele filho de Davi através de quem a linhagem do Messias está para ser traçada”. Podemos então dizer a cada verdadeiro crente: “Não temas, tu, filho de Abraão, tu, filho de DEUS; não esqueças a dignidade do teu nascimento, do teu novo nascimento”. “Não temas receber a Maria, tua mulher”; assim isso pode ser entendido. José, suspeitando que ela estava grávida devido à prostituição, temia aceitá-la, com receio de que colocasse sobre si mesmo a culpa ou a acusação. Não, diz DEUS, não temas; a questão não é essa. Talvez Maria tivesse lhe dito que havia engravidado pelo ESPÍRITO SANTO, e talvez ele tenha ouvido o que Isabel disse a ela (Lc 1.43), quando a chamou de a mãe do seu Senhor; e, se este foi o caso, talvez ele temesse ser presunçoso ao se casar com alguém tão superior a ele. Mas, qualquer que fosse a causa do aparecimento de seus medos, estes foram todos silenciados com estas palavras: “Não temas receber a Maria, tua mulher”. Note que é uma grande bênção sermos libertados de nossos medos, e termos as nossas dúvidas solucionadas, para que assim possamos prosseguir em nossos afazeres com satisfação. 2. Aqui ele é informado sobre aquele ser sagrado, que a sua esposa tinha em seu ventre. Aquele que foi concebido nela tem origem divina. Ele está tão longe do risco de compartilhar a impureza ao casar-se com ela, que com isso compartilhará a maior honra possível. Duas coisas lhe são ditas: (1) Que ela tinha concebido ”pelo poder do ESPÍRITO SANTO”; e não pela força da natureza. O ESPÍRITO SANTO, que criou o mundo, gerou nela agora o Salvador do mundo, e preparou para Ele um corpo como lhe fora prometido, quando Ele disse: “Corpo me preparaste” (Hb 10.5). Desse modo, é dito que Ele nasceu de uma mulher (Gl 4.4), e, além disso, que Ele é o segundo Adão, que é o Senhor do céu (1 Co 15.47). Ele é o Filho de DEUS, e mesmo assim compartilha a essência de sua mãe ao ser chamado de fruto do ventre (Lc 1.42). Era necessário que a sua concepção fosse diferente da normal, para que assim Ele compartilhasse da natureza humana, e mesmo assim pudesse escapar da corrupção, e da contaminação desta, e não ser concebido e formado na iniqüidade. Histórias nos contam sobre algumas mulheres que em vão fingiram ter concebido por um poder divino, como a mãe de Alexandre; mas nenhuma realmente o fez, exceto a mãe de nosso Senhor. Seu nome, por isso, como em outras situações, é Maravilhoso. Nós não lemos que a própria virgem Maria tenha proclamado a honra que recebeu; mas ela ocultou isso em seu coração, e por isso DEUS enviou um anjo para testificar. Aqueles que não procuram a sua própria glória terão a honra que vem de DEUS; ela é reservada para os humildes. (2) Que ela daria à luz ao Salvador do mundo (v. 21). Ela daria à luz um filho; e que ele seria foi declarado: [1] Pelo nome que deveria ser dado ao seu Filho: “lhe porás o nome de JESUS”, o Salvador. O nome é o mesmo que Josué, apenas com a terminação sendo mudada para adequar-se ao grego. Na Septuaginta, Josué é chamado de JESUS (At 7.45; Hb 4.8). Havia dois homens com esse nome no Antigo Testamento, e eram ambos reconhecidos tipos de CRISTO. Josué, o comandante de Israel em seu primeiro assentamento em Canaã, e Josué, o sumo sacerdote em seu segundo assentamento após o cativeiro (Zc 6.11,12). CRISTO é o nosso Josué; tanto o Comandante da nossa salvação, como o Sumo Sacerdote da nossa profissão de fé. E, em ambos os casos, Ele é o nosso Salvador, um Josué que vem no lugar de Moisés, e faz por nós aquilo que a lei não pode fazer, naquilo em que ela era fraca. Josué havia sido chamado de Oséias, mas Moisés prefixou a primeira sílaba do nome Jeová, e assim tornou-o Josué (Nm 13.16), para indicar que o Messias, que teria esse nome, deveria ser Jeová; Ele é, portanto, o maior salvador, e em nenhum outro há salvação. [2] Na razão desse nome: “Porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”; não apenas a nação dos judeus (Ele veio para eles e eles não o receberam), mas todos que foram dados a Ele pela escolha do Pai, e todos que se deram a Ele por si mesmos. Ele é um rei que protege seus súditos, e, como os antigos juízes de Israel, lhes traz a salvação. Note que aqueles que CRISTO salva, Ele os salva dos pecados que praticaram; da culpa do pecado, em virtude da sua morte, e do domínio do pecado, pelo ESPÍRITO da sua graça. Ao salvá-los do pecado, Ele os salva da ira e da maldição, e de todo sofrimento aqui e na vida futura. CRISTO veio para salvar o seu povo, não em seus pecados, mas dos seus pecados; para comprar para ele não a liberdade para pecar, mas a libertação do pecado, para redimi-lo de toda iniqüidade (Tt 2.14); e assim redimi-lo de entre os homens (Ap 14.4) para si mesmo, pois está separado dos pecadores. Para que aqueles que deixarem os seus pecados, e se entregarem a CRISTO como seu povo, estejam envolvidos com o Salvador, e na grande salvação que Ele planejou (Rm 11.26). V O cumprimento das Escrituras em tudo isso. Este evangelista, escrevendo entre os judeus, observa mais freqüentemente isto do que qualquer outro evangelista. Aqui as profecias do Antigo Testamento tiveram a sua consumação em nosso Senhor JESUS, através do qual fica claro que este era aquele que deveria vir, e que nós não devemos procurar por nenhum outro; porque este é aquele sobre o qual todos os profetas deram testemunho. Agora a Escritura que foi cumprida no nascimento de CRISTO foi a da promessa de um sinal que DEUS fez para o rei Acaz (Is 7.14): “Eis que uma virgem conceberá”. Aqui o profeta, encorajando o povo de DEUS a esperar pela prometida libertação da invasão de Senaqueribe, o instrui a aguardar ansiosamente pelo Messias, que viria do povo dos judeus e da casa de Davi. Daí era fácil inferir que – embora aquele povo e aquela casa estivessem angustiados – nem um nem o outro poderiam ser abandonados à ruína, enquanto DEUS tivesse tal honra e tal bênção reservadas para eles. Os livramentos que DEUS concedeu à igreja do Antigo Testamento eram símbolos e figuras da grande salvação através de CRISTO; e, se DEUS consegue fazer aquilo que é maior, Ele não falhará em fazer aquilo que é menor. A profecia aqui citada é devidamente introduzida com as palavras: “em sonho, lhe apareceu”, que indicam tanto atenção como admiração; pois aqui temos o mistério da graça, que é, sem controvérsia, notável, de que DEUS se manifestou em carne. 1. O sinal dado era que o Messias deveria nascer de uma virgem. “Uma virgem conceberá”, e, por ela, Ele será manifestado na carne. A palavra Almah significa uma virgem no sentido mais exato, tal como Maria declara ser (Lc 1.34): “Não conheço varão”. Este não seria um sinal tão maravilhoso como se pretendia que fosse, se tivesse sido de outra forma. Foi anunciado desde o princípio que o Messias deveria nascer de uma virgem, quando foi dito que Ele deveria vir da semente da mulher. Podemos entender que a expressão “semente da mulher” não poderia ser o mesmo que “a semente de qualquer homem”. CRISTO nasceu de uma virgem não apenas porque seu nascimento tinha que ser sobrenatural e completamente extraordinário, mas porque deveria ser imaculado, e puro, e sem qualquer mancha de pecado. CRISTO nasceria, não de uma imperatriz ou rainha, porque Ele não veio em pompa ou esplendor externos, mas de uma virgem, para nos ensinar a pureza espiritual, a morte para todos os deleites dos sentidos, e assim nos mantermos sem a mácula do mundo e da carne, para que possamos ser apresentados a CRISTO como virgens castas. 2. A verdade demonstrada por esses sinais é que Ele é o Filho de DEUS, e o Mediador entre DEUS e os homens: porque eles o chamarão ”pelo nome de Emanuel”; isto é, Ele será o Emanuel; e a expressão “Ele será chamado” significa que Ele será o Senhor, Justiça Nossa. Emanuel significa DEUS conosco; um nome misterioso, mas muito precioso; DEUS encarnado entre nós, e assim DEUS reconciliado conosco, em paz conosco, nos conduzindo ao pacto e à comunhão consigo. Os judeus tiveram DEUS consigo, em símbolos e sombras, morando entre os querubins; mas nunca do modo como quando a Palavra se tornou carne – que era o bendito Shekinah. Que passo feliz é dado no sentido de estabelecer a paz e a harmonia entre DEUS e o homem, reunindo as duas naturezas na pessoa do Mediador! Por isso Ele se tornou um árbitro irrepreensível, com plenas condições de colocar as suas mãos sobre ambos, uma vez que ele compartilha a natureza de ambos. Veja, nisto, o mistério mais profundo, e a misericórdia mais rica que jamais existiu. Pela luz da natureza, vemos DEUS como um DEUS acima de nós; pela luz da lei, o vemos como um DEUS contra nós; mas pela luz do Evangelho, nós o vemos como Emanuel, DEUS conosco, em nossa própria natureza – e (o que é ainda melhor) a nosso favor. Aqui o Redentor glorificou o seu amor. Com o nome de CRISTO, Emanuel, nós podemos comparar o nome dado à igreja do Novo Testamento (Ez 48.35). Jeová-Samá – O Senhor está ali; o Senhor dos exércitos está conosco. Nem é impróprio dizer que a profecia que expressou que Ele deveria ser chamado Emanuel foi cumprida, com o desígnio e a intenção que possuía, quando Ele foi chamado de JESUS; pois se Ele não tivesse sido Emanuel, DEUS conosco, Ele não poderia ter sido JESUS, o Salvador. E nisso consiste a salvação que Ele preparou, ao reunir DEUS e o homem em um só corpo; isso foi o que Ele planejou, trazer DEUS para estar conosco, que é a nossa grande felicidade, e trazer-nos para estar com DEUS, que é o nosso grande dever. VI A obediência de José ao divino preceito (v. 24). Tendo despertado pela impressão que o sono deixou em si, José fez como o anjo do Senhor ordenou, muito embora isso fosse contrário aos seus sentimentos e intenções anteriores; ele tomou para si a sua esposa; ele fez isso rapidamente, sem demora, e alegremente, sem discutir; ele não foi desobediente à visão divina. No presente, não esperamos por uma orientação extraordinária como essa; mas DEUS ainda tem meios de tornar a sua vontade conhecida em casos ambíguos através de indícios da providência, de debates de consciência, e de conselhos de amigos confiáveis. Em cada um desses meios, aplicando as regras gerais da Palavra escrita, nós devemos, portanto, em todos os passos de nossa vida, particularmente nas grandes mudanças, como esta de José, receber a orientação de DEUS, e perceber quão seguro e confortável é agir como Ele nos ordena. VII A consumação da promessa divina (v. 25). Ela deu à luz a seu primogênito. As circunstâncias disso são mais amplamente relatadas em Lucas 2.1ss. Note que aquilo que é concebido pelo ESPÍRITO SANTO nunca fracassa, mas certamente será trazido à luz em seu devido tempo. O que é da vontade da carne e da vontade do homem, freqüentemente fracassa; mas, se CRISTO estiver consolidado na alma, o próprio DEUS inicia a boa obra que Ele realizará; o que é concebido na graça, sem dúvida nascerá em glória. Observa-se aqui, além disso: 1. Que José, embora tivesse celebrado o contrato de casamento com Maria, a quem desposara, manteve-se afastado dela enquanto ela estava grávida, tendo em seu ventre o ser sagrado; ele não a conheceu até que ela tivesse dado à luz. Muito tem sido dito no tocante à virgindade perpétua da mãe de nosso Senhor; Jerônimo ficou muito irritado com Helvídio por negá-la. É certo que isso não pode ser provado a partir das Escrituras. O Dr. Whitby inclina-se a pensar que quando se diz que José não a conheceu até que ela deu à luz seu primogênito está implícito que, depois disso, cessado o motivo, ele viveu com ela de acordo com a lei (Êx 21.10). 2. Que CRISTO era o primogênito; e assim Ele deveria ser chamado – mesmo que a sua mãe nunca mais tivesse outro filho depois dele – de acordo com a linguagem das Escrituras. Também não é sem mistério que CRISTO é chamado de seu primogênito, pois Ele é o primogênito de toda criatura, ou seja, o Herdeiro de todas as coisas; e Ele é o primogênito entre muitos irmãos, para que em todas as coisas possa ter a preeminência. 3. Que José deu-lhe o nome de JESUS, conforme a orientação que lhe foi dada. Tendo-o DEUS designado para ser o Salvador – o que está implícito ao lhe dar o nome de JESUS – devemos aceitar que Ele seja o nosso Salvador, e, em concordância com essa designação, devemos chamá-lo de JESUS, nosso Salvador. Mateus 2 Esse capítulo descreve a história da infância do nosso Salvador, em que descobrimos como seu sofrimento se iniciou muito cedo e como em sua pessoa a expressão da justiça se tornou uma realidade, antes mesmo de começar a praticá-la em toda sua extensão. Temos então: I. Os magos perguntando ansiosamente por CRISTO (vv. 1-8). II. O piedoso tratamento que dedicaram a Ele, ao descobrir onde se encontrava (vv. 9-12). III. A fuga de CRISTO para o Egito, a fim de fugir à crueldade de Herodes (vv. 13-15). IV. O bárbaro assassinato dos infantes de Belém (vv. 16-18). V. Seu retorno do Egito para a terra de Israel (vv. 19-23). Os Magos do Oriente Mateus 2. 1-8 Foi um sinal da humilhação imposta ao Senhor JESUS o fato de, embora ser o Desejado de todas as nações, sua vinda ao mundo ter sido pouco comentada, passando quase despercebida, e que seu nascimento tenha sido ignorado e desconsiderado. Ele havia se tornado um ser anônimo e desconhecido. Se o Filho de DEUS devia vir ao mundo, poderíamos, com toda razão, esperar que fosse recebido com o maior cerimonial possível, que coroas e cetros se colocassem imediatamente aos seus pés e que os soberanos e os poderosos príncipes do mundo se tornassem seus humildes servos; um Messias assim era o que os judeus esperavam, mas não foi isso que aconteceu. Ele veio ao mundo e o mundo não o conheceu, isto é, Ele veio para o seu povo, mas o seu povo não o recebeu. Por ter se incumbido de satisfazer a justiça do Pai pelas ofensas e pela desonra contra Ele praticadas através dos pecados do homem, Ele assim o fez anulando-se e privando-se de todas as honras que, sem dúvida, deveriam ser concedidas a uma Divindade encarnada. No entanto, por ocasião do seu nascimento, assim como sucedeu mais tarde, raios de glória brilharam nos momentos mais importantes da sua humilhação. Embora seu poder se mantivesse oculto, raios brilhantes saíam das suas mãos (Hc 3.4), suficientes para condenar o mundo, especialmente os judeus, pela estupidez que demonstraram. Depois do seu nascimento, os primeiros a tomar conhecimento de CRISTO foram os pastores (Lc 2.15ss.) que viram e ouviram coisas gloriosas a seu respeito e as transmitiram a todo mundo, para a admiração de todos os ouvintes (vv. 17,18). Em seguida, Simeão e Ana falam sobre Ele, pela inspiração do ESPÍRITO, a todos que estavam dispostos a prestar atenção às suas palavras (Lc 2). No entanto, alguém poderia pensar que estas mensagens deveriam ter sido atendidas pelos homens da Judéia e pelos habitantes de Jerusalém que, com braços abertos, receberiam o tão longamente esperado Messias. Porém, por mais estranho que pareça, durante quase dois anos Ele permaneceu em Belém sem receber qualquer atenção até a chegada dos magos. Na verdade, nada iria despertar aqueles que estavam resolvidos a ser indiferentes. Ó, que incrível estupidez a desses judeus! E também dos muitos que ostentam o nome de cristãos! Observe: I Quando foi realizada esta pesquisa a respeito de CRISTO. Foi nos dias do rei Herodes. Esse rei Herodes era um idumeu, nomeado rei da Judéia por Augusto e Antônio, os principais chefes do estado romano daquela época. Era um homem falso e cruel e, no entanto, havia sido agraciado com o título de Herodes, o Grande. CRISTO nasceu no 35.º ano do seu reinado e isto foi registrado para mostrar que o cetro havia se apartado de Judá e o legislador dentre seus pés. Portanto, havia chegada a hora da vinda de Siló e para ele se congregariam todos os povos. Observe esses magos em Gênesis 49.10. II Quem e o que eram esses magos; aqui eles são chamados de “magos”. Alguns consideravam o nome no bom sentido; entre os persas, os magos representavam seus filósofos e seus sacerdotes. O povo não aceitaria ninguém para ser rei se não tivesse antes estudado entre os magos; mas outros pensavam que eles lidavam com artes espúrias. No original, esta palavra (mago) foi usada para Simão, o mágico (At 8.9,11), e também para Elimas, o feiticeiro (At 13.6,8). Também, nas Escritura, ela é empregada com um outro sentido, como um primeiro exemplo e presságio da vitória de CRISTO sobre o diabo, quando aqueles que haviam sido seus adeptos se tornaram adoradores do menino JESUS, logo que os troféus da sua vitória sobre os poderes das trevas foram erguidos. Bem, quaisquer coisas que tenham sido antes, agora os magos se tornaram verdadeiros sábios quando decidiram indagar sobre CRISTO. De uma coisa temos certeza 1. De que eram gentios e não pertenciam à nação de Israel. Os judeus não se importavam com CRISTO, porém esses gentios decidiram perguntar por Ele. Muitas vezes aqueles que estão mais próximos aos meios estão mais longe do fim (veja Mt 8.11,12). A homenagem prestada a CRISTO por esses gentios representava um feliz presságio e também um exemplo daquilo que iria acontecer quando CRISTO trouxesse para perto de si aqueles que estavam distantes. 2. De que eram sábios. Eles lidavam com artes; artes curiosas. Os bons sábios devem ser bons cristãos que completam seu aprendizado quando aprendem sobre CRISTO. 3. De que eram homens do Oriente, notáveis por suas profecias (Is 2.6). A Arábia é chamada de terra do Oriente, ou oriental (Gn 25.6), e os árabes são chamados de homens do Oriente (Jz 6.3). Os presentes que trouxeram eram produtos do seu país. Os árabes haviam prestado homenagem a Davi e Salomão como exemplos de CRISTO. Jetro e Jó eram desse país. Tudo que podemos dizer sobre eles é que as tradições da igreja romana são de pouco valor, ao afirmarem que eles eram em número de três (embora um dos antigos diga que eram quatorze), que eram reis e que se encontram enterrados em Colen, daí a razão de serem chamados de os três reis de Colen. Não desejamos ir além do que está escrito. III O que os levou a fazer essa pesquisa. Quando ainda estavam no seu país oriental, eles viram uma estrela extraordinária, como nunca haviam visto antes, que entenderam ser a indicação de que uma pessoa extraordinária havia nascido na Judéia, sobre cujas terras ela parecia pairar, como se tivesse a natureza de um cometa, ou melhor, de um meteoro, nas regiões mais baixas da atmosfera. Isso era tão diferente de qualquer outra coisa habitual, que foram levados a concluir que ela também devia significar uma coisa incomum. Veja que as extraordinárias aparições de DEUS às criaturas devem nos levar a indagar sobre o seu espírito e a sua intenção. CRISTO era a antecipação dos sinais celestiais. Seu nascimento foi comunicado aos pastores judeus através de um anjo, e aos filósofos gentios, por uma estrela; e a ambos DEUS falou na sua própria língua e da forma que eles estavam mais familiarizados. Alguns pensam que a luz que os pastores viram brilhando em volta de si, na noite seguinte ao nascimento de CRISTO, foi a mesma vista pelos magos, que viviam num lugar distante, com a aparência de uma estrela. Mas isso não pode ser facilmente admitido porque a estrela que viram no Oriente foi a mesma que tornaram a ver muito depois, e que os levou até a casa onde CRISTO se encontrava deitado na manjedoura. Tratava-se de uma luz colocada no céu com o propósito de os guiar até CRISTO. Os idólatras adoravam as estrelas como sendo os exércitos dos céus, especialmente as nações do Oriente, onde os planetas tinham o nome dos seus deuses e ídolos. Sabemos de uma estrela que era particularmente venerada (Am 5.26). Desse modo, as estrelas que antes haviam sido mal usadas passaram a ter uma correta finalidade, guiar os homens a CRISTO; os deuses dos pagãos haviam se tornado seus servos. Alguns pensam que essa estrela os levou a pensar na profecia de Balaão, isto é, que uma estrela procederia de Jacó, indicando um cetro que iria se levantar de Israel (veja Nm 24.17). Balaão tinha vindo das montanhas do Oriente e era um dos seus sábios. Outros atribuem a pesquisa deles à expectativa geral acolhida naquela época, nessas regiões, de que algum grande príncipe iria aparecer. Tácito, na sua história (liv. 5), observa isso. Pluribus persuasio inerat, antiquis sacerdotum literis contineri, eo ipso tempore fore, ut valesceret oriens, profectique Judaea rerum potirentur – Existia, na mente de todos, uma convicção de que alguns escritos antigos dos sacerdotes continham uma profecia de que mais ou menos nessa época um poder do Oriente iria prevalecer e que as pessoas provenientes da Judéia iriam alcançar o domínio. Também Suetônio, na vida de Vespasiano, fala sobre isso. De forma que esse extraordinário fenômeno foi interpretado como a indicação desse rei. Podemos imaginar a divina impressão que se estabeleceu em suas mentes, permitindo-lhes interpretar essa estrela como um sinal enviado pelos céus sobre o nascimento de CRISTO. IV Como deram seguimento a essa pesquisa. Eles haviam vindo do Oriente até Jerusalém para aprofundar suas indagações sobre esse príncipe. Onde iriam pesquisar sobre o Rei dos Judeus a não ser em Jerusalém, a cidade-mãe, para onde sobem as tribos, as tribos do Senhor? Eles poderiam ter respondido: “Se tal príncipe viesse a nascer, logo ficaríamos sabendo no nosso próprio país e haveria tempo suficiente para lhe prestar homenagens”. Mas estavam tão ansiosos por conhecê-lo melhor que deram início à uma longa viagem com o propósito de fazer a sua pesquisa. Veja bem, aqueles que verdadeiramente desejam conhecer a CRISTO, e encontrá-lo, não se importarão com as dores e os perigos que terão de enfrentar em sua jornada. Logo o conheceremos plenamente, se continuarmos a buscá-lo. Sua pergunta era: “Onde está aquele que é nascido Rei dos Judeus?” Eles não perguntaram: Será que Ele nasceu? (tinham certeza disso e falavam com segurança, tão forte estava essa crença entranhada nos seus corações). Mas, onde tinha nascido? Observe que aqueles que conhecem alguma coisa sobre CRISTO sempre querem conhecer ainda mais sobre Ele. Eles chamam CRISTO de o Rei dos Judeus, pois era isso que o Messias deveria ser, o Protetor e o Líder do Israel espiritual; Ele nasceu como Rei. Eles não tinham dúvida sobre essa questão, mas queriam uma resposta imediata, encontrar toda Jerusalém adorando aos pés desse novo rei. Iam de porta em porta fazendo essa pergunta, mas ninguém podia lhes dar qualquer informação. Existe mais ignorância no mundo, e também na igreja, do que podemos imaginar. Muitos daqueles que julgamos poder nos levar diretamente a CRISTO, o desconhecem. Eles perguntam, como faz a noiva às filhas de Jerusalém: “Vistes aquele a quem ama a minha alma?” Mas ninguém nunca sabia responder. Entretanto, assim como a noiva, eles continuam com sua indagação. “Onde está aquele que é nascido Rei dos Judeus?” E as pessoas queriam saber: “Por que fazem essa pergunta?”. É porque vimos a sua estrela no Oriente. Então os outros continuam: “Que negócios vocês têm com ele? O que os homens do Oriente querem com o Rei dos Judeus?” Os magos têm uma resposta pronta: “Viemos adorá-lo”. Sabem que, com o passar do tempo, Ele se tornará o seu rei, portanto desejam ser agradáveis a Ele e aos que o cercam. Note que aqueles em cujo coração nasceu a estrela da manhã, para dar-lhes algum conhecimento sobre CRISTO, devem se dedicar a adorá-lo. Será que nós também vimos a estrela de CRISTO? Vamos estudar para lhe prestar todas as honras. V Como essa pesquisa foi tratada em Jerusalém? Por fim, notícias sobre ela haviam chegado até a corte e, ao tomar conhecimento desse fato, Herodes ficou muito perturbado (v. 3). Ele não podia desconhecer as profecias do Antigo Testamento a respeito do Messias e do seu reino, e da época fixada para a sua aparição através das semanas de Daniel. Mas tendo reinado durante tanto tempo e com tanto sucesso, ele começou a esperar que tais promessas não se realizariam e que seu reino seria estabelecido e se perpetuaria, a despeito delas. Que desânimo, portanto, deve ter se abatido sobre ele ao ouvir falar que esse Rei havia nascido e que o momento da sua aparição havia chegado! Observe que aquilo que o coração dos iníquos mais teme é o cumprimento das Escrituras. Porém, embora Herodes, o idumeu, tivesse ficado perturbado, poderíamos supor que o povo de Jerusalém fosse ficar extremamente feliz ao saber que o Messias tinha chegado. No entanto, parece que, com exceção daqueles que aguardavam pela consolação de Israel, as pessoas ficaram tão perturbadas quanto Herodes e apreensivas por desconhecer as conseqüências do nascimento desse novo rei, que poderia envolvê-las numa guerra ou refrear sua luxúria. Por seu lado, eles não queriam outro rei a não ser Herodes, nem mesmo o próprio Messias. Veja que a escravidão do pecado é mais insensatamente preferida à gloriosa liberdade dos filhos de DEUS, somente porque esta apresenta algumas dificuldades que exigem uma revolução necessária, cujo objetivo é o controle da alma. Herodes e Jerusalém ficaram ambos perturbados por causa da errônea noção de que o reino do Messias iria interferir e se chocar contra os poderes seculares, embora a estrela, que o havia proclamado rei, houvesse claramente anunciado que seu reino era celestial, e não desse mundo inferior. Veja que as razões que levam os reis da terra e as pessoas em geral a se oporem ao reino de CRISTO não se devem ao fato de desconhecê-lo, mas estarem enganados a seu respeito. VI Que ajuda estes magos receberam dos escribas e dos sacerdotes em sua pesquisa (vv. 4-6). Ninguém tinha a pretensão de informar onde estava o Rei dos Judeus, mas Herodes desejava saber onde esperavam que ele fosse nascer. As pessoas que ele consultou eram os principais sacerdotes, que tinham o ofício de mestres, e os escribas, que tinham como profissão estudar as leis. Eles deviam conhecê-las e era a eles que as pessoas deviam perguntar a esse respeito (Ml 2.7). Era do conhecimento comum que CRISTO deveria nascer em Belém (Jo 7.42), mas Herodes queria ter a opinião dos conselheiros sobre o assunto, portanto convocou as pessoas adequadas e, para poder ser melhor atendido, também os principais sacerdotes e escribas, exigindo que informassem qual era o lugar, de acordo com as Escrituras do Antigo Testamento, onde CRISTO iria nascer. Muitas perguntas inocentes são feitas com maus propósitos, e foi isso que aconteceu com Herodes. Os sacerdotes e os escribas não precisaram de muito tempo para dar sua resposta, nem suas opiniões se revelaram diferentes, pois todos concordaram que o Messias devia nascer em Belém, cidade de Davi, agora chamada de Belém da Judéia, para distingui-la de outra cidade do mesmo nome nas terras de Zebulom (Js 19.15). Belém significa ”casa de pão”, o lugar mais adequado para o nascimento daquele que é o verdadeiro maná, o pão vivo que desceu do céu, que foi dado pela vida do mundo. A prova que apresentaram está em Miquéias 5.2, onde está previsto que, embora Belém fosse pequena entre milhares de cidades de Judá (como consta em Miquéias), e um lugar de pequena população, ainda assim não seria considerada a última entre as principais de Judá (como está aqui), pois a honra de Belém não está, como acontece com as outras cidades, na quantidade de habitantes, mas na magnificência dos príncipes que produz. Embora, em alguns relatos, Belém fosse uma pequena cidade, ela ainda mantinha uma proeminência sobre as demais cidades de Israel, que o Senhor iria considerar ao determinar às pessoas que esse homem, CRISTO JESUS, ali iria nascer (Sl 87.6). Dela viria um Governador, o Rei dos Judeus. Observe que CRISTO será um Salvador somente para aqueles que estão dispostos a considerá-lo como seu Rei. Belém era a cidade de Davi, e Davi era a glória de Belém. Portanto, era lá que o filho e sucessor de Davi devia nascer. Havia uma famosa cisterna, perto da porta de Belém, da qual Davi teve vontade de beber (2 Sm 23). Através de CRISTO, recebemos não só o pão suficiente para comer (que chega até a sobrar), como também a liberdade de tomar livremente da água da vida. Observe aqui como os judeus e os gentios comparam seus conhecimentos sobre JESUS CRISTO. Os gentios ficaram conhecendo o momento do seu nascimento através de uma estrela, enquanto os judeus conheciam o lugar desse nascimento através das Escrituras, dessa forma eles eram capazes de trocar informações. Note que muito iria contribuir para aumentar nosso conhecimento se mutuamente comunicássemos o que sabemos. Os homens ficam ricos no comércio e nas trocas, portanto se tivermos conhecimentos para comunicar aos outros, eles também estarão prontos para se comunicar conosco. Muitos iriam fazer discursos, correr de uma para outra parte, e a ciência se multiplicaria. VII O projeto e a intenção sanguinária de Herodes nasceu dessa pesquisa (vv. 7, 8). Nessa ocasião, Herodes já era um homem velho, que havia reinado durante trinta e cinco anos, enquanto esse outro rei havia acabado de nascer. Provavelmente, ele não iria dar início a qualquer considerável empreendimento por muitos anos, mas ainda assim ele despertou o ciúme de Herodes. Cabeças coroadas não conseguem suportar a idéia de ter sucessores, e muito menos rivais. Portanto, somente o sangue desse rei infante iria satisfazê-lo. Além disso, Herodes não poderia se permitir a liberdade de pensar que, se esse infante fosse realmente o Messias, poderia se opor a ele, ou preparar-lhe algum atentado. Nesse caso, ele acabaria tendo de lutar contra DEUS e nada seria mais inútil ou perigoso. As paixões são capazes de dominar a razão e a consciência. Assim: 1. Veja como Herodes foi esperto ao elaborar o seu projeto (vv. 7, 8). Convocou particularmente os magos para com eles conversar sobre esse assunto. Não iria demonstrar publicamente o seu ciúme e temores, seria sua desgraça deixar que fossem percebidos e um perigo se as pessoas ficassem sabendo sobre eles. Muitas vezes, os pecadores são atormentados pelos medos secretos que guardam dentro de si. Por intermédio dos magos, Herodes ficou sabendo sobre a data do aparecimento da estrela e assim pôde tomar as medidas apropriadas. Depois, usou-os para aumentar seus conhecimentos e os convidou a lhe trazer informações. Tudo isso poderia parecer suspeito se não tivesse sido coberto por uma exibição de piedade, isto é, para que ele também pudesse ir visitar e adorar o Messias. Observe que, muitas vezes, a maior iniqüidade se esconde atrás de uma máscara de piedade. Absalão revestiu seu projeto de rebelião com uma promessa. 2. Veja como, estranhamente enganado e apaixonado por esse projeto, ele o confiou aos magos e não procurou a orientação de outros que teriam sido mais fiéis aos seus interesses. Estavam a apenas sete milhas de distância de Jerusalém; teria sido muito fácil enviar espiões para vigiar esses magos, e poderiam logo destruir essa criança enquanto eles a adoravam! Não se esqueça de que DEUS pode esconder dos olhos dos inimigos da igreja aqueles métodos que poderiam facilmente destrui-la. Quando o seu propósito é afastar os príncipes ímpios, o seu método consiste em tornar os juízes néscios. Os Magos Adoram a CRISTO Mateus 2. 9-12 Vemos aqui a humilde visita feita por essa comitiva ao recém-nascido Rei dos Judeus, e as honras que lhe foram prestadas. Eles foram de Jerusalém para Belém, resolvidos a procurar até encontrar. Mas é muito estranho o fato de terem ido sozinhos, de não terem sido acompanhados por alguma pessoa da corte, da sinagoga, ou da cidade, mesmo que não agissem desta forma pela sua consciência, mas como prova de sua amabilidade para com eles. Ou mesmo poderiam estar tomados pela curiosidade de conhecer esse novo príncipe. Como a rainha do Sul, também esses magos do Oriente irão se levantar para julgar os homens dessa geração e condená-los, pois tinham vindo de um país distante para adorar a CRISTO, enquanto os judeus, seus conterrâneos não deram sequer um passo e não foram até à cidade próxima para lhe dar boas-vindas. Os magos devem ter ficado desanimados ao encontrar aquele a quem procuravam, ao vê-lo tão negligenciado em sua própria terra natal. Será que deviam ir tão longe para honrar o Rei dos Judeus, provocando os próprios judeus a lançar seu desprezo sobre Ele e sobre nós? Mas eles mantiveram sua decisão. Observe que devemos continuar a servir a CRISTO, mesmo se estivermos sozinhos; a despeito do que os outros façam, devemos servir ao Senhor. Se eles não forem para o céu conosco, não devemos ir para o inferno com eles. Agora: I Veja como eles encontraram CRISTO através da mesma estrela que haviam visto no seu próprio país (vv. 9,10). Observe: 1. Como foram bondosamente guiados por DEUS. Na primeira aparição da estrela, ficaram sabendo onde poderiam indagar sobre esse Rei, mas ela então desapareceu, e a eles restou apenas adotar os métodos habituais para levar adiante a sua procura. Observe que não se deve esperar receber qualquer ajuda extraordinária quando temos à mão os meios habituais. Bem, eles haviam perseguido esse objetivo até onde podiam, haviam feito a viagem a Belém, mas Belém é uma cidade populosa. Onde iriam encontrá-lo, quando lá chegassem? Agora estavam perdidos, não sabiam mais o que fazer, mas sua fé não tinha acabado, acreditavam que DEUS, que os havia levado até lá com sua palavra, não os abandonaria, e isso Ele não fez. Observe que a estrela que haviam visto no Oriente estava à sua frente. Não esqueça, se formos até o máximo que pudermos no caminho do dever, DEUS irá nos dirigir e nos capacitar a fazer aquilo que sozinhos não podemos fazer. Continue a praticar e o Senhor estará contigo. Vigilantibus, non dormientibus, succurit lex – A lei oferece segurança, não aos indolentes, mas aos ativos. A estrela os havia abandonado por muito tempo, mas agora havia retornado. Aqueles que seguem a DEUS no escuro verão que a luz foi semeada e está reservada para eles. Israel havia sido guiado por uma coluna de fogo até à terra prometida, e os magos, por uma estrela até à Semente prometida, pois ela é a própria luz, a brilhante Estrela da Manhã (Ap 22.16). DEUS preferiu criar uma coisa nova a deixar que aqueles que o buscam com fé e diligência se percam. Essa estrela era um sinal da presença de DEUS ao seu lado, porque Ele é a luz que caminha à frente do seu povo como um Guia. Veja bem, se com fé conseguirmos ver DEUS em todos os nossos caminhos, estaremos seguindo sob sua direção; Ele nos guiará com seus olhos (Sl 32.8). Ele disse aos magos: Essa é a estrada, caminhem por ela. Há uma estrela da alva que aparece no coração daqueles que perguntam por CRISTO (2 Pe 1.19). 2. Observe com que alegria eles seguiram a direção de DEUS (v. 10). Ao ver a estrela, eles ficaram tomados de indizível alegria. Agora podiam ver que não haviam se enganado e não tinham feito essa viagem em vão. A realização da vontade é uma árvore de vida. Tinham agora certeza de que DEUS estava ao seu lado; os sinais da sua presença e do seu favor enchem de indizível alegria a alma daqueles que sabem como lhe dar o devido valor. Agora podiam rir dos judeus de Jerusalém que, provavelmente, haviam rido deles por causa da sua insensata viagem. Os guardas não podem dar à esposa notícias do seu amado, no entanto não faz muito que ele passou por eles, e logo irá encontrá-lo (Ct 3.3). Não podemos esperar muito do homem, nem pouco de DEUS. Que grande alegria tomou conta desses magos quando avistaram a estrela. Ninguém conhece melhor que aqueles que, depois de uma longa e melancólica noite de tentação e abandono, sob o poder do espírito da servidão, recebem, por fim, o espírito da adoção, testemunhando que são filhos de DEUS. Esta é a luz que nasce em meio às trevas; é a vida que surge entre os mortos. Agora tinham razão para esperar por uma rápida visão do CRISTO, do Sol da Justiça, pois haviam visto a Estrela da Manhã. Devemos nos alegrar com todas as coisas que nos mostram o caminho para CRISTO. Essa estrela foi enviada para receber os magos e conduzi-los à câmara do Rei; foram apresentados pelo seu mestre de cerimônias para receber sua audiência. DEUS cumpre a sua promessa de ir ao encontro daqueles que estão dispostos a se alegrar e a praticar a justiça (Is 64.5), e que cumprem os seus preceitos. Alegre-se o coração daqueles que buscam ao Senhor (Sl 105.3). Note que, às vezes, DEUS se compraz em favorecer os novos convertidos com sinais do seu amor, para encorajá-los, devido às dificuldades que encontram quando estão procurando andar nos seus caminhos. II Veja como se dirigiram a Ele ao encontrá-lo (v. 11). Podemos bem imaginar a expectativa de encontrar esse infante real que, embora desprezado pela nação, havia sido reverenciado em casa. E como ficaram desapontados ao descobrir que uma choupana era o seu palácio, e que sua pobre mãe era todo o séqüito que possuía! Seria esse o Salvador do mundo? Seria esse o Rei dos Judeus, o Príncipe dos reis da terra? Sim, era Ele mesmo, aquele que embora fosse rico, em nosso nome havia se tornado pobre. Entretanto, esses magos eram bastante sábios e puderam ver através desse véu e perceber nesse desprezado infante a glória do Filho Unigênito do Pai. Portanto, não se sentiram decepcionados ou enganados na sua pesquisa e, tendo encontrado o Rei que procuravam, lhe ofertaram primeiro a sua pessoa, e depois as suas dádivas. 1. Eles se apresentaram a Ele; prostraram-se e o adoraram. Não ficamos sabendo se dedicaram tantas honras a Herodes, embora ele estivesse ocupando o apogeu da grandeza real. Porém, a esse infante foram dadas todas essas honras, não só como rei (nesse caso, teriam feito o mesmo a Herodes), mas como um DEUS. Observe que todos que encontram CRISTO se prostram perante Ele, o adoram e se submetem a Ele. Ele é o nosso Senhor e devemos adorá-lo. Essa é a sabedoria dos mais sábios dos homens. Com isso, mostram seu conhecimento de CRISTO, o conhecimento de si mesmos e seus verdadeiros interesses, se forem fiéis e humildes adoradores do Senhor JESUS. 2. Eles apresentaram a Ele as suas ofertas. Nas nações orientais, as pessoas oferecem presentes quando prestam homenagem aos seus reis; essa é a mencionada submissão dos reis de Sabá a CRISTO (Sl 72.10). Eles trarão presentes e oferecerão dádivas (veja Is 60.6). Veja que, em relação a nós mesmos, devemos oferecer tudo que temos a JESUS CRISTO e, se formos sinceros ao nos submetermos a Ele, estaremos dispostos a nos separar daquilo que nos é mais caro e mais valioso para oferecer a Ele e por Ele. As nossas dádivas nem seriam aceitas, se primeiro não oferecêssemos a nós mesmos como sacrifícios vivos. DEUS respeitou Abel e as suas ofertas. As dádivas que os magos ofereceram eram ouro, incenso e mirra; ofertas que poderiam ser transformadas em dinheiro. A Providência havia enviado esse oportuno alívio para José e Maria em sua presente condição de pobreza. Essas dádivas eram produtos do seu próprio país. Devemos honrar a DEUS com as dádivas que dele recebemos. Alguns acreditam que havia algum significado nesses presentes. Eles ofereceram ouro, reconhecendo que o infante era um rei e assim era digno de receber tributos: a ”César as coisas que são de César”. O incenso, reconhecendo-o como DEUS, pois eles honravam a DEUS com a fumaça do incenso. E a mirra porque era um homem, e como tal deveria morrer; pois a mirra era usada para embalsamar os corpos mortos. III Veja como o deixaram depois de terem prestado suas homenagens (v. 12). Herodes havia recomendado que trouxessem notícias das descobertas que fizessem e é provável que assim acontecesse, caso não tivessem recebido ordens ao contrário, pois não suspeitavam ser usados como ferramentas de um iníquo desígnio. Aqueles que se comportam bem e com sinceridade são facilmente levados a acreditar que os outros também o são e ignoram a verdadeira maldade do mundo; mas o Senhor sabe como libertar os justos da tentação. Não sabemos se os magos haviam prometido voltar para Herodes e, caso tivessem, isso deve ser visto com a devida ressalva, isto é, se DEUS permitisse. Mas DEUS não lhes permitiu, impedindo a maldade que Herodes havia destinado ao menino JESUS e a aflição que os magos teriam sentido pelo fato de terem sido um involuntário acessório dessa maldade. Eles foram prevenidos por DEUS, por intermédio de ”divina revelação”. Alguns acreditam que haviam pedido uma orientação a DEUS, e que esta foi a resposta. Veja que, se pedirem conselhos a DEUS, aqueles que agem cautelosamente e têm medo do pecado e das suas ciladas, serão levados para o caminho do bem. Os magos foram aconselhados a não voltar para Herodes, nem para Jerusalém. Aquele povo seria indigno de ter notícias a respeito de CRISTO, pois tiveram a oportunidade de vê-lo com os seus próprios olhos, e não o quiseram. Assim, os magos partiram para o seu próprio país, percorrendo caminhos diferentes a fim de levar as notícias aos seus irmãos. No entanto, é estranho que nunca mais ouvimos falar deles, e que nem eles ou os seus tenham depois visitado o infante no Templo, aquele que haviam adorado no berço. Entretanto, a orientação que receberam de DEUS para o seu retorno seria uma confirmação adicional da sua fé nessa criança, como sendo o Senhor do céu. A Fuga para o Egito Mateus 2. 13-15 Temos aqui a fuga de CRISTO para o Egito, a fim de escapar da crueldade de Herodes, resultado das indagações dos magos a seu respeito. Antes disso, a obscuridade em que se encontrava havia sido a sua proteção. Foi apenas uma pequena homenagem (comparada à que deveria ter sido oferecida) aquela que foi prestada a CRISTO na sua infância; mas, mesmo assim, ao invés de ser reverenciado pelo seu povo, tal homenagem serviu, antes, para expô-lo. Agora observe: I A ordem dada a José em relação a essa fuga (v. 13). José não conhecia os perigos aos quais a criança estava exposta, nem como fugir. Mas, através de um anjo, DEUS explicou num sonho o que ele devia fazer, da mesma maneira como havia feito anteriormente, no capítulo 1, versículo 20. José, antes de seu comprometimento com CRISTO, não tinha tido tanta vontade de conversar com os anjos como agora. Note que aqueles que estão espiritualmente relacionados com CRISTO pela fé têm uma comunhão e um relacionamento com o céu – algo que, anteriormente, lhes era totalmente estranho. 1. Aqui José é informado sobre a natureza do seu perigo: Herodes iria procurar os infantes para destrui-los. Note bem, DEUS conhece todos os propósitos e projetos cruéis dos inimigos da sua Igreja. “Conheço... o teu furor contra mim”, disse DEUS a Senaqueribe (Is 37.28). JESUS era ainda muito jovem quando foi envolvido pelo sofrimento! Geralmente, mesmo aqueles cuja maturidade é perturbada por perigos e fadigas tiveram uma infância tranqüila e agradável. Mas não foi isso que aconteceu com nosso bendito JESUS: sua infância e seus sofrimentos começaram ao mesmo tempo. Ele nasceu como um homem seriamente esforçado, assim como Jeremias (Jr 15.10), que foi santificado antes de sair do ventre (Jr 1.5). Tanto CRISTO, que é a cabeça, como a Igreja, que é o seu corpo, estão de acordo em dizer: “Muitas vezes eles me afligiram, desde a minha juventude”. A crueldade do Faraó impõe-se sobre os filhos dos hebreus, e um grande dragão vermelho está pronto para devorar o menino assim que nascer (Ap 12.4). 2. Ele foi informado sobre o que devia fazer para escapar ao perigo. Tomar o pequeno infante e fugir para o Egito. Assim, muito cedo CRISTO nos dá um exemplo das suas próprias leis (Mt 10.23). “Quando for perseguido numa cidade, fuja para outra”. Aquele que veio para morrer por nós, embora sua hora ainda não tivesse chegado, fugiu para salvar sua vida. A preservação da vida, por ser um ramo da lei da natureza, é parte eminente da lei de DEUS. Fugir, mas por que o Egito? O Egito era conhecido pela sua infamante idolatria, tirania e inimizade com o povo de DEUS: havia sido o berço da escravidão de Israel e particularmente cruel para com seus filhos. No Egito, assim como em Ramá, Raquel havia chorado pelos seus filhos; no entanto, essa nação havia sido indicada para ser um lugar de refúgio e apoio do menino JESUS. Veja que DEUS, quando assim deseja, pode fazer com que o pior lugar do mundo possa servir aos melhores propósitos, pois a terra pertence ao Senhor e Ele faz com ela o que bem entende. Às vezes, a terra ajuda a mulher (Ap 12.16). DEUS, que fez de Moabe o refúgio dos seus proscritos, transformou o Egito num refúgio para o seu Filho. Podemos considerar isso: (1) Como prova de fé para José e Maria. Eles poderiam ser tentados a pensar: “Se essa criança é o Filho de DEUS, como nos foi dito, será que não teria outra forma de se proteger contra um homem que é um verme, a não ser através de uma fuga inglória e ignóbil como essa? Será que não poderia convocar legiões de anjos para serem seus guarda-costas, ou de querubins com espadas flamejantes, a fim de conservar sua árvore da vida? Não poderia atingir mortalmente a Herodes, ou secar a mão que se estende contra ele, e assim nos poupar o trabalho dessa viagem?” Havia pouco tinham sido informados de que seu filho seria a glória do povo de Israel; a terra de Israel iria tão cedo se tornar demasiado perigosa para Ele? Mas sabemos que eles não fizeram nenhuma dessas objeções; quando sua fé foi testada, ela se mostrou firme. Eles acreditavam que esse era o Filho de DEUS e, embora não vissem nenhum milagre previamente forjado para a preservação da sua vida, foram levados a empregar os meios mais comuns para alcançá-la. José havia recebido a grande honra de ser o marido da abençoada virgem, mas essa honra exigia muita atenção, assim como acontece com todas as honras desse mundo. José precisava tomar o pequeno infante e carregá-lo para o Egito. Agora percebemos as providências de DEUS para com essa criança e sua mãe ao nomear José para ser seu parente próximo. Agora o ouro que os magos haviam trazido iria ser de grande utilidade para o sustento deles. DEUS prevê as dificuldades do seu povo e, de antemão, procura atendê-las. DEUS anunciou que seus cuidados e sua orientação iriam continuar quando disse: “Foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga”. Dessa forma, Ele manterá o seu povo numa permanente dependência dele. (2) Como um exemplo da humilhação do nosso Senhor JESUS. Assim como não havia lugar na hospedaria de Belém, também não havia para Ele nenhum lugar tranqüilo na terra da Judéia. Dessa forma, Ele foi banido da terra de Canaã para que nós, que pelo pecado fomos banidos da Canaã celestial, pudéssemos a ela retornar. Se nós, e nossos filhos, nos encontrarmos alguma vez em dificuldades, devemos nos lembrar das dificuldades enfrentadas por CRISTO na sua infância, e assim enfrentarmos as nossas. (3) Como sinal do desagrado de DEUS para com os judeus, que pouco se importaram com Ele. É justo que DEUS abandone aqueles que o desprezam. Temos aqui também a realidade dos seus favores para com os gentios, a quem os apóstolos iriam levar o Evangelho depois de as boas novas terem sido rejeitadas pelos judeus. Se o Egito recebeu JESUS quando foi forçado a fugir da Judéia, não vai levar muito tempo para que seja dito: “Bendito seja o Egito, meu povo” (Is 19.25). II A obediência de José a essa ordem (v. 14). A viagem iria ser cheia de perigos e dificuldades, tanto para o pequenino ser como para sua mãe: tinham poucos recursos e provavelmente iriam enfrentar uma fria acolhida no Egito. No entanto, José não desobedeceu à visão celestial, não fez qualquer objeção nem prolongou sua desobediência. Assim que recebeu a ordem, levantou-se imediatamente e partiu durante a noite, segundo parece, ainda naquela mesma noite. Observe que aqueles que desejam provar sua obediência devem fazê-lo rapidamente. José partiu, da mesma maneira que seu pai Abraão, debaixo de uma implícita dependência de DEUS, sem saber para onde ia (Hb 11.8). José e sua esposa, mesmo dispondo de muito pouco, nada tinham com que se preocupar durante a jornada. Toda abundância dificulta qualquer fuga. Se as pessoas ricas têm uma vantagem em relação aos pobres por causa das suas riquezas, os pobres têm vantagem sobre os ricos quando são chamados a se separar daquilo que possuem. José “tomou o menino e sua mãe”. Alguns observam que o nome da criança é mencionado antes, como sendo a pessoa principal, e Maria é chamada não de esposa de José, mas, com grande dignidade, de mãe daquela criança. Esse não foi o primeiro José a ser levado de Canaã para o Egito à procura de um abrigo contra a ira dos seus irmãos; esse José deveria ter uma boa acolhida nessa nação, em nome do José que o precedeu. Se pudermos dar crédito à tradição, de terem ido a um templo quando da sua entrada no Egito, todas as imagens dos seus deuses foram derrubadas por um poder invisível e caíram ao chão, como Dagom perante a arca, de acordo com essa profecia: “Eis que o Senhor… virá ao Egito; e os ídolos do Egito serão movidos perante a sua face” (Is 19.1). Eles permaneceram no Egito até a morte de Herodes, que, segundo alguns, levou sete anos, segundo outros, menos ainda. Lá eles se mantiveram longe do Templo, dos seus serviços e estavam no meio dos idólatras. Mas DEUS os havia enviado a esse lugar, e mostraria misericórdia a esse sacrifício. Embora estivessem longe do Templo do Senhor, tinham ao seu lado o Senhor do Templo. Pode ser que os justos sejam forçados a suspender rituais ordenados pelas leis de DEUS, estando entre iníquos; porém jamais devem se entregar ao pecado. Uma situação como essa não pode ser outra coisa senão uma causa de tristeza para os justos. III O cumprimento das Escrituras como está em Oséias 11.1: “Do Egito chamei o meu filho”. De todos os evangelistas, Mateus é o que mais se preocupou com o cumprimento das Escrituras na pessoa de CRISTO. Seu Evangelho foi publicado primeiramente entre os judeus e isso iria lhe acrescentar muito mais força e importância. Essas palavras do profeta provavelmente se referiam à libertação de Israel do Egito, como propriedade e primogênito de DEUS (Êx 4.22). Mas aqui, o Egito foi aplicado como uma analogia a CRISTO, a Cabeça da Igreja. Observe que nas Escrituras existem copiosas realizações, muito bem ordenadas em todas as coisas. DEUS está, diariamente, cumprindo as Escrituras. Elas não devem ter uma interpretação particular, mas receber um entendimento amplo. “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho”. Aquele que lê essas palavras deve, nos seus pensamentos, não só olhar para trás, mas também para o futuro. “O que foi, isso é o que há de ser” (Ec 1.9). Isto nos é anunciado apenas pela forma da expressão, pois não está dito: Eu o chamei, mas: Chamei meu filho do Egito. Veja bem, não era nenhuma novidade que os filhos de DEUS estivessem no Egito, uma terra estranha, numa casa de escravidão, mas de lá eles seriam resgatados. Eles poderiam se esconder no Egito, mas lá eles não ficariam. Todos os eleitos de DEUS, sendo por natureza filhos da ira, nascem num Egito espiritual e, na sua conversão, são efetivamente resgatados. Alguém poderia objetar contra CRISTO, que Ele esteve no Egito. O Sol da Justiça deverá se levantar da terra das trevas! Isso não está nos mostrando uma coisa estranha; Israel foi resgatado do Egito, para ser levado às mais elevadas honras. E a mesma coisa volta a ocorrer de novo. A Matança dos Inocentes Mateus 2. 16-18 Vemos aqui: I O ressentimento de Herodes pela partida dos magos. Ele havia esperado longamente pelo retorno deles; achava que, embora fossem demorar, não o decepcionariam e que iria esmagar o seu rival na sua primeira aparição. Mas ficou sabendo que eles haviam partido por outros caminhos e isso aumentou o seu ciúme e o levou a suspeitar que estavam agindo segundo os interesses desse novo Rei. Isso o deixou excessivamente irado, e também desesperado e insultado por acreditar que havia sido enganado. Observe que a inveterada corrupção se avoluma nos poderosos pelas obstruções que encontram ao seu pecaminoso empreendimento. II Apesar do acontecido, seu artifício político era eliminar aquele que nascera como Rei dos judeus. Se não tinha condições de alcançá-lo através de uma execução particular, ele não tinha dúvidas de envolvê-lo num golpe generalizado que, como a espada da guerra, iria devorar uns e outros. Essa seria uma obra decisiva; desse modo, aqueles que tinham o propósito de destruir a sua própria iniqüidade deveriam não deixar de destruir todas as suas iniqüidades. Herodes era um idumeu e dentro dele havia nascido e se desenvolvido uma inimizade contra Israel. Doegue era um edomita que, por causa de Davi, tinha sacrificado todos os sacerdotes do Senhor. Era estranho que Herodes pudesse encontrar pessoas tão desumanas e capazes de serem usadas para realizar um trabalho tão sangrento e bárbaro. Mas às mãos iníquas nunca faltam ferramentas iníquas com as quais possam trabalhar. Os infantes sempre haviam gozado de uma proteção especial, não só das leis humanas, como também da própria natureza humana. No entanto, foram sacrificados à ira desse tirano, sob o qual, assim como também sob Nero, a inocência nada representava quando se tratava de sua segurança. Herodes havia sido, durante todo o seu reinado, um homem sanguinário. Não fazia muito tempo que ele mandara destruir todo o Sinédrio, isto é, o grupo de juízes judeus. Mas o sangue, para o sanguinário, é como a bebida para o beberrão: “Quanto mais bebem, mais sedentos ficam”. Herodes tinha cerca de setenta anos de idade, de modo que essa criança, com menos de dois anos de vida, provavelmente nunca iria lhe causar qualquer perturbação. Ele também não era muito apegado aos próprios filhos, ou tinha preferência por eles, pois havia anteriormente mandado matar dois deles, Alexandre e Aristóbulo, e depois a seu filho Antípatre, apenas cinco dias antes de morrer. Ele fez isso apenas para satisfazer à sua cruel ambição e orgulho. “Tudo que caía em sua rede era peixe”. Observe as grandes medidas que ele tomou: 1. Quanto à idade, mandou matar todos que tivessem dois anos ou menos. É provável que nessa época o bendito JESUS tivesse menos de um ano, no entanto Herodes incluiu todos que tivessem até dois anos para ter a certeza de que a sua presa não escaparia. Esse tirano não se preocupava com quantas cabeças pudessem rolar, mesmo de inocentes, desde que não escapasse aquele que ele cria ser o culpado. 2. Quanto ao lugar, mandou matar todos os meninos, não só em Belém, mas também os que viviam nos arredores, e em todas as comunidades daquela região. Isto era ser ”demasiadamente ímpio” (Ec 7.17). O ódio, quando nasce de uma ira descontrolada, e é armado de um poder ilegítimo, transporta muitas vezes o homem aos mais absurdos e injustos estágios da crueldade. DEUS não estava sendo injusto quando permitiu que isso acontecesse; toda vida está penhorada à sua justiça desde que começa. Quando o pecado foi introduzido pela desobediência do homem, a morte veio com ele. Nada devemos supor além dessa culpa geral; não devemos supor que essas crianças fossem sofrer tais coisas por serem os maiores pecadores que existiam em Israel. Os julgamentos de DEUS são profundos. A enfermidade e a morte das crianças são reflexos do pecado de Adão e Eva. No entanto, devemos considerar a morte desses infantes sob um outro aspecto; ela representou o seu martírio. Como começou cedo a perseguição contra CRISTO e o seu reino! Você pensa que Ele veio para trazer paz à terra? Não, mas uma espada, uma espada igual a essa (Mt 10.34,35). Aqui foi introduzido um testemunho passivo do Senhor JESUS. Da mesma forma que, quando ainda no ventre materno, Ele foi reconhecido pelo salto de alegria de outra criança em um outro ventre, quando dele se aproximou, também agora, quando tinha apenas dois anos, Ele teve outras testemunhas contemporâneas, com idade próxima à sua. Elas derramaram seu sangue por Ele e, mais tarde, Ele mesmo derramou seu sangue por elas. Essa era a infantaria do nobre exército dos mártires. Se essas crianças foram então batizadas com sangue, embora o delas próprias, dentro da Igreja triunfante, poderíamos dizer que com o que receberam no céu elas foram plenamente recompensadas pelo que perderam na terra. Da boca desses infantes, DEUS recebe o perfeito louvor; doutro modo, o Supremo não permitiria tal aflição. A tradição da igreja grega diz que o número de crianças mortas chegou a 14.000, mas isso é um grande absurdo. Acredito que mesmo nas cidades mais populosas do mundo, se tivesse sido registrado semanalmente o número de crianças nascidas do sexo masculino, não encontraríamos muitas com menos de dois anos, quanto mais numa cidade que nem chegava a ser a quarta parte disso. Mas este é um exemplo da vaidade da tradição. É estranho que esta história não tenha sido incluída nos relatos de Josefo, que escreveu algum tempo depois de Mateus. É provável que Josefo não tenha registrado algumas informações para não favorecer ou reforçar a história do cristianismo, pois ele era um judeu muito zeloso. De qualquer modo, se esse fato não tivesse sido verdadeiro e muito bem documentado, ele o teria contestado. Macróbio, um outro escritor pagão, nos diz que César Augusto, ao saber que entre as crianças menores de dois anos assassinadas por ordem de Herodes estava o seu próprio filho, escarneceu dele dizendo que era melhor ser o porco de Herodes do que seu filho. A tradição do país proibia que alguém matasse um porco, mas nada impedia que matasse seu próprio filho. Alguns acreditam que ele tinha um filho pequeno num berçário em Belém; outros pensam que, por engano, os dois acontecimentos foram confundidos, o assassinato dos infantes e o do seu filho Antípatre. Mas o fato de a igreja de Roma colocar os Santos Inocentes, como são chamados, no seu calendário e consagrar a eles um dia em sua memória, é fazer como seus predecessores que construíram as tumbas dos profetas, pois essa igreja muitas vezes justificou os seus bárbaros massacres, às vezes até mesmo sobrepujando aquele que foi cometido por Herodes. Alguns chegam a observar um outro desígnio da Providência no assassinato das crianças. Parece que em todas as profecias do Antigo Testamento, Belém era o lugar e esse era o tempo do nascimento do Messias. Portanto, se todas as crianças de Belém nascidas nessa época foram assassinadas, com exceção de JESUS, que escapou, somente Ele podia reivindicar ser o Messias. Herodes acreditava ter frustrado todas as profecias do Antigo Testamento, e derrotado as indicações da estrela e a piedade dos magos, livrando o país desse novo Rei. Tendo queimado a colméia, concluiu que havia matado a abelha rainha. Mas do céu DEUS o ridicularizou e menosprezou. Quaisquer que sejam os ardilosos e cruéis artifícios do coração dos homens, os desígnios do Senhor permanecem imutáveis. III O cumprimento das Escrituras (vv. 17,18). Então a profecia se cumpriu (Jr 31.15) e uma voz foi ouvida em Ramá. Observe e adore a plenitude das Escrituras! Essa profecia havia se cumprido na época de Jeremias, quando Nebuzaradã, depois de ter destruído Jerusalém, levou todos os prisioneiros para Ramá (Jr 40.1), onde fez com eles o que bem entendeu, com a espada ou o cativeiro. Então, o apelo de Ramá foi ouvido até Belém (pois essas duas cidades, uma na região de Judá e a outra na de Benjamim, não eram distantes); agora a profecia cumpriu-se novamente na grande tristeza pela morte desses infantes. A Escritura havia se cumprido: 1. No lugar da lamentação. O pranto foi ouvido desde Belém até Ramá, pois a crueldade de Herodes havia se estendido desde toda a costa de Belém até a região de Benjamim, e entre os filhos de Raquel. Alguns acreditam que as terras em volta de Belém eram chamadas de Raquel, por ter sido o lugar onde ela morreu e foi sepultada. O sepulcro de Raquel estava junto a Belém (Gn 35.16,19). Compare com 1 Samuel 10.2. O coração de Raquel estava sobre os seus filhos, como estava sobre o seu filho naquele trabalho de parto que a levou à morte e a quem ela deu o nome de Benoni, que significa filho do meu sofrimento. Essas mães eram como Raquel, moravam perto do seu túmulo e muitas delas eram suas descendentes. Portanto, seus lamentos foram elegantemente representados no pranto de Raquel. 2. Na intensidade dessa manhã. Aconteceu uma lamentação e um pranto, um grande pranto; porém, este era demasiadamente pequeno para refletir o sentimento causado por essa exacerbada calamidade. Houve um grande clamor no Egito, quando os primogênitos foram mortos, e o mesmo aconteceu aqui, quando novamente os primogênitos foram mortos, por quem sentimos uma particular ternura. Ali teve lugar uma representação do mundo em que vivemos. Podemos ouvi-la nos lamentos, no pranto e na tristeza, vemos nas lágrimas dos oprimidos, alguns por uma razão, outros por outra. Nossos caminhos atravessam um vale de lágrimas. Essa dor era tão grande que as pessoas não queriam ser confortadas. Elas se endureceram em meio a tamanha dor, e desejavam se lamentar profundamente. Bendito seja DEUS, não existe nenhum motivo para tristeza nesse mundo – não, nem aquela provocada pelo próprio pecado – que justifique a atitude de recusarmos o conforto! Eles não queriam ser consolados porque as crianças não estavam mais na terra dos vivos, não estavam mais nos braços de suas mães. Como realmente não estavam mais ali, haveria alguma desculpa pela tristeza, porém não poderiam perder as esperanças; pois sabemos que não estavam perdidas – tinham apenas partido precocemente. Se nos esquecermos disso, perderemos o fundamento do nosso conforto (1 Ts 4.13). Alguns entendem essa dor dos belemitas como um castigo por terem desdenhado a CRISTO. Aqueles que não se regozijaram com o nascimento do Filho de DEUS foram justamente levados a chorar a morte dos seus próprios filhos, pois haviam apenas se admirado pelas notícias trazidas pelos pastores, mas não as receberam de boa vontade. A citação dessa profecia pode servir para eliminar a objeção que alguns poderiam fazer contra CRISTO, em razão dessa triste providência. “Pode o Messias, que deve ser o Consolo de Israel, ser apresentado com toda essa lamentação?” Sim, pois assim havia sido profetizado, e as Escrituras devem ser cumpridas. Além disso, se examinarmos melhor essa profecia, iremos descobrir que esse amargo lamento em Ramá representava apenas o prólogo de uma grande alegria, pois está escrito: “Teu trabalho será recompensado e existe esperança no fim”. Ou seja, quanto piores forem as coisas, mais rapidamente elas serão reparadas. Para eles, havia nascido uma criança, plenamente suficiente para reparar as perdas que sofreram. A Volta do Egito Mateus 2. 19-23 CRISTO retorna do Egito para a terra de Israel. O Egito poderia servir, por algum tempo, como um lugar de breve residência, ou de abrigo, mas não para uma longa permanência. CRISTO havia sido enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel, portanto para elas Ele devia retornar. Observe: I O que abriu caminho para seu retorno foi a morte de Herodes, que aconteceu pouco depois do assassinato dos infantes. Segundo alguns, ainda não havia se passado mais que três meses. Tal expedito acontecimento fora obra da vingança divina! Observe que Herodes devia morrer. O dia dos tiranos orgulhosos, terrores dos poderosos e opressores dos justos na terra dos vivos, deve chegar e no abismo devem ser lançados. “Quem pois és tu, para que temas o homem, que é mortal” (Is 51.12,13), considerando especialmente que na morte não só sua inveja como seu ódio irão perecer (Ec 9.6) e que irão cessar de perturbar (Jó 3.17) e serão punidos. De todos os pecados, a culpa pelo sangue dos inocentes é a que mais rapidamente irá saturar a medida. É um terrível relato aquele feito por Josefo sobre a morte desse mesmo Herodes (Antiq. Jud., liv. 17, caps. 6 e 7), dizendo que ele foi tomado por uma doença que o queimava por dentro com uma inexprimível tortura; que tinha uma insaciável avidez pela carne, apresentando cólicas, gota e inchaço. Sua doença era acompanhada por um intolerável mau cheiro, a ponto de ninguém poder se aproximar dele. Tão irascível e impaciente estava que se tornara um tormento para si mesmo e um terror para todos os que o atendiam. Sua inata crueldade, estando assim exacerbada, o tornava mais bárbaro que nunca, tendo ordenado a morte do seu próprio filho. Ele mandou prender muitos nobres e pessoas de boa família e ordenou que fossem executados logo depois da sua morte. Mas essa ordem não foi cumprida. Observe que espécie de homens eram os inimigos e perseguidores de CRISTO e dos seus seguidores! Aqueles poucos que se opuseram ao cristianismo haviam primeiramente renunciado à própria humanidade, como Nero e Domiciano. II As ordens emanadas dos céus relativas ao seu retorno, e a obediência de José (vv. 19-21). DEUS havia enviado José ao Egito e lá ele permaneceu até que aquele que o havia levado ordenasse a sua volta. Observe que em todos os nossos movimentos será bom que o nosso caminho seja claro, e que DEUS esteja caminhando à nossa frente. Não devemos seguir um caminho ou outro sem receber ordens. Essas ordens foram enviadas a José por um anjo. Observe que se mantivermos a nossa comunhão com DEUS, ela também será mantida por parte dele em qualquer lugar que possamos estar. Nenhum lugar pode impedir as bondosas visitas de DEUS. Os anjos vieram a José no Egito, a Ezequiel na Babilônia e a João em Patmos. Portanto: 1. O anjo informou sobre a morte de Herodes e dos seus cúmplices: “Já estão mortos os que procuravam a morte do menino”. Eles haviam morrido, mas o pequenino estava vivo. Os santos que são perseguidos muitas vezes vivem tempo suficiente para pisar sobre o túmulo dos seus perseguidores. Foi assim que o Rei da Igreja venceu a tempestade, e é assim que muitos na igreja têm resistido. “Já estão mortos”, isto é, Herodes e seu filho Antípatre. Embora entre eles houvesse um sentimento mútuo de ciúme, provavelmente estavam de acordo em procurar a destruição desse novo Rei. Se primeiramente Herodes mandou matar Antípatre e depois ele mesmo encontrou a morte, as coisas naquela região ficaram limpas; o Senhor é conhecido pelos castigos que aplica quando um iníquo instrumento é empregado para a ruína dos outros. 2. O Senhor ordenou a José o que devia fazer. Devia voltar para a terra de Israel, e sem demora. Sem pleitear a tolerável e boa situação que gozava no Egito, nem alegando os inconvenientes da jornada, especialmente se, como se supõe, estavam no início do inverno – ocasião em que Herodes havia morrido –, a obediência veio em primeiro lugar. O povo de DEUS segue as suas ordens em qualquer direção que Ele os possa levar, ou abrigar. Se olharmos para o mundo apenas como o nosso Egito, lugar da nossa escravidão e exílio, e para o céu apenas como a nossa Canaã, nosso lar e nosso repouso, deveremos prontamente levantar e partir quando formos chamados, como fez José quando saiu do Egito. III As novas ordens que recebeu de DEUS, qual caminho devia seguir e onde se fixar na terra de Israel (vv. 22,23). DEUS poderia ter-lhe dado essas instruções junto com aquelas que recebera anteriormente, mas Ele revela gradualmente seu pensamento ao povo, para mantê-lo sempre esperando por Ele, aguardando receber mais notícias. José recebeu essas ordens num sonho, provavelmente da mesma maneira como havia recebido as ordens anteriores, através da intervenção de um anjo. DEUS poderia ter revelado a sua vontade a José através do menino JESUS, mas a nossa opinião é que Ele não tomaria conhecimento desses movimentos, nem daria um sinal sobre qualquer coisa que ocorresse, certamente porque em todas as coisas seria conveniente agir como os seus irmãos; sendo uma criança, Ele agiu e se comportou como uma criança, colocando um véu sobre o seu infinito conhecimento e poder. Entendemos que, como uma criança, Ele tenha crescido em sabedoria. Portanto, as ordens transmitidas a essa santa e real família foram: 1. De que não deveria se estabelecer na Judéia (v. 22). José poderia pensar que JESUS, tendo nascido em Belém, deveria ser criado lá; no entanto, estava prudentemente temeroso pela pequena criança, pois ficara sabendo que Arquelau reinava no lugar de Herodes, não sobre todo o reino, como seu pai, mas somente sobre a Judéia, sendo que as outras províncias estavam em outras mãos. Observe que sucessão de inimigos havia para lutar contra CRISTO e a sua Igreja! Se um deles se retirasse do contexto, outro surgiria imediatamente para dar continuidade à inimizade que vinha desde a antiguidade. Portanto, por essa razão, José não devia levar o pequeno infante para a Judéia. Observe que DEUS não lança os seus filhos aos limites do perigo, exceto se tal atitude for para a própria glória do Senhor ou para provação deles; pois são preciosas à vista do Senhor a vida e a morte dos seus santos; para Ele, o sangue deles é precioso. 2. Que deviam se estabelecer na Galiléia (vv. 22). Nessa ocasião, reinava na Galiléia um homem tranqüilo e brando chamado Filipe. A providência de DEUS geralmente assim ordena, que ao seu povo não falte um abrigo tranqüilo do tumulto e da tempestade; quando um clima se torna demasiadamente quente e abrasador, um outro se mantém fresco e temperado. A Galiléia estava localizada mais ao norte, e Samaria, entre ela e a Judéia. Para lá foram enviados, isto é, para Nazaré, cidade situada sobre uma colina, no centro da região de Zebulom. Lá vivia a mãe do nosso Senhor quando concebeu o ser santo e provavelmente era também a residência de José (Lc 1.26,27). Lá tinham muitos conhecidos e estariam entre parentes. Era o lugar mais apropriado para ficar. Lá eles continuaram a viver e lá nosso Salvador foi chamado JESUS de Nazaré, nome que para os judeus representava um obstáculo, pois, diziam eles, poderia ”vir alguma coisa boa de Nazaré?” Nisso, dizem que se cumpriu o que havia sido dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno”. O que podemos considerar é: (1) Que era um homem de honra e dignidade, embora esse nome significasse primeiramente apenas alguém de Nazaré. Existe uma alusão ou mistério ao falar disso, pois significa falar o que CRISTO seria: [1] O Homem, o Rebento, mencionado em Isaías 11.1. A palavra aqui é Netzar, que significa rebento, ou a cidade de Nazaré. Ao receber o mesmo nome da cidade, Ele é declarado como sendo esse Rebento. [2] Menciona que Ele seria o grande nazireu; os nazireus legais formavam um tipo e uma figura (especialmente Sansão, Juízes 8.5). José é chamado de nazireu entre os seus irmãos (Gn 49.26) e há uma referência àquilo que tinha sido prescrito em relação aos nazireus em Números 6.2, e em outras passagens. Não que CRISTO fosse, estritamente falando, um nazireu, pois bebia vinho e tocava no corpo daqueles que haviam morrido. Mas era eminentemente assim, singularmente santo. Por solene indicação e designação, havia sido escolhido para honrar a DEUS Pai na obra da nossa redenção, da mesma maneira que Sansão havia sido escolhido para salvar Israel. Trata-se de um nome que nos dá todo motivo para conhecê-lo e nos alegrarmos. Ou: (2) Que era um nome digno de reprovação e desprezo. Ser chamado de Nazareno era o mesmo que ser chamado de um ser desprezível, de um homem do qual nada de bom alguém poderia esperar e que não merecia nenhum respeito. O diabo primeiro ligou este nome a CRISTO, para torná-lo desprezível e criar no povo um preconceito contra Ele. E esse nome ficou como um apelido para Ele e seus seguidores. Porém, embora isso não tivesse sido particularmente previsto por nenhum profeta, era geralmente comentado por eles que CRISTO seria desprezado e rejeitado pelos homens (Is 53.2,3). Seria um verme, não um homem (Sl 22), e seria um estranho para os seus irmãos (Sl 69.7,8). Não deixemos que, em nome da religião, qualquer nome possa parecer suficientemente vergonhoso para nós, tendo em vista que o nosso próprio Mestre foi chamado de Nazareno. Mateus 3 No início deste capítulo, ao tratar do batismo de João, tem início o Evangelho (Mc 1.1); o que é apresentado antes é apenas o prefácio ou a introdução; este é o “Princípio do evangelho de JESUS CRISTO”. E Pedro observa a mesma data (At 1.22), começando no batismo de João, que foi quando CRISTO se manifestou pela primeira vez a João, e depois se manifestou a Pedro, e por meio de Pedro, a todo o mundo. Aqui estão: I. A gloriosa subida da estrela da manhã (que aparece antes do sol), João Batista (v. 1). 1. A doutrina que ele pregava (v. 2). 2. Em João Batista, o cumprimento das Escrituras (v. 3). 3. A sua maneira de viver (v. 4). 4. As multidões que iam vê-lo, e a submissão delas ao seu batismo (vv. 5,6). 5. O seu sermão, que pregou aos fariseus e aos saduceus, empenhando-se para levá-los ao arrependimento (vv. 7-10), e, conseqüentemente, levá-los a CRISTO (vv. 11,12). II. O brilho ainda mais glorioso do Sol da justiça, imediatamente depois, onde temos: 1. A honra que Ele conferiu ao batismo de João (vv. 13-15). 2. A honra que Ele recebeu, com a descida do ESPÍRITO sobre Ele, e uma voz vinda do céu (vv. 16,17). João Batista Mateus 3. 1-6 Aqui temos um relato da pregação e do batismo de João, que foram o amanhecer do dia do Evangelho. Observe: I A ocasião em que ele apareceu. “Naqueles dias” (v. 1), ou depois daqueles dias, muito tempo depois do que foi registrado no capítulo anterior, que deixou o menino JESUS na sua infância. “Naqueles dias”, na ocasião indicada pelo Pai para o início do Evangelho, quando a plenitude dos tempos era chegada, um período que era freqüentemente mencionado dessa maneira no Antigo Testamento. Naqueles dias. Agora, tinha se iniciado a última das semanas de Daniel, ou melhor, a última metade da semana, quando o Messias iria confirmar o concerto com muitos (Dn 9.27). As manifestações de CRISTO ocorrem todas no seu devido tempo. Coisas gloriosas tinham sido ditas, tanto sobre João Batista como sobre JESUS, por ocasião dos seus nascimentos, e antes deles, o que teria dado oportunidade para se esperar algumas extraordinárias manifestações da presença e do poder divino com eles, quando eram ainda muito jovens; mas as coisas aconteceram de maneira muito diferente. Com exceção do debate entre CRISTO e os doutores, quando tinha doze anos de idade, nada parece notável a respeito de nenhum deles, até completarem aproximadamente trinta anos. Nada é registrado sobre a infância e a juventude deles, mas a maior parte das suas vidas é envolta em trevas e obscuridade: estas crianças pouco diferem, na sua aparência, de outras crianças, da mesma maneira como o herdeiro, enquanto ainda é pequeno, não é nada diferente de um servo, embora ele seja senhor de tudo. E isto queria dizer que: 1. Mesmo quando DEUS está agindo como o DEUS de Israel, o Salvador, Ele é verdadeiramente um DEUS que se oculta (Is 45.15). “O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28.16). “O meu amado... está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas” (Ct 2.9). 2. A nossa fé deve principalmente ter CRISTO em vista, o seu ministério e as suas obras, pois existe uma demonstração do seu poder; mas na sua pessoa está o esconderijo do seu poder. Todo o tempo, CRISTO foi DEUS-homem; mas nós não sabemos o que Ele fez ou disse, até Ele aparecer como um profeta, e então o ouvimos. 3. Os jovens, embora bastante qualificados, não devem se sentir entusiasmados a se apresentar no ministério público, mas devem ser humildes e modestos, rápidos para ouvir e lentos para falar. Mateus não nos fala nada sobre a concepção e o nascimento de João Batista, que é relatado com detalhes por Lucas. Mateus encontra João Batista já adulto, como se tivesse caído das nuvens para pregar no deserto. Pois durante mais de trezentos anos Israel ficou sem profetas; aquelas luzes havia muito tempo se apagaram, para que ele pudesse ser o mais desejado, aquele que seria o maior profeta. Depois de Malaquias não houve profeta, nem algum pretendente ao cargo, até João Batista, a quem, portanto, o profeta Malaquias aponta mais diretamente do que qualquer dos profetas do Antigo Testamento tinha feito (Ml 3.1): “Eis que eu envio o meu anjo”. II O lugar onde Ele se manifestou pela primeira vez: “No deserto da Judéia”. Não se tratava de um deserto inabitado, mas de uma parte do país não tão povoada, nem tão próxima a campos e a vinhedos, como eram outras partes; era um deserto que continha seis cidades e suas aldeias, com seus nomes (Js 15.61,62). Nessas cidades e aldeias, João pregou, pois naquelas redondezas ele tinha vivido até então, tendo nascido em Hebrom; as cenas da sua atividade têm início ali, onde ele tinha passado muito tempo em contemplação, e mesmo quando se apresentou a Israel, ele mostrou o quanto gostava do isolamento, até o ponto em que isto estivesse de acordo com o seu ministério. A palavra do Senhor encontrou João ali, em um deserto. Observe que nenhum lugar é tão remoto a ponto de nos impossibilitar as visitas da graça divina; não, normalmente a relação mais doce que os santos têm com o Céu acontece quando eles se afastam dos ruídos deste mundo. Foi nesse deserto de Judá que Davi escreveu o Salmo 63, que tanto fala da doce comunhão que ele tinha com DEUS (Os 2.14). Foi num deserto que a lei foi entregue ao povo; e assim como o do Antigo Testamento, também o Israel do Novo Testamento foi fundado primeiramente no deserto, e ali DEUS o orientou e instruiu (Dt 32.10). João Batista era um sacerdote da ordem de Arão, mas nós o encontramos pregando em um deserto, e nunca servindo no Templo; porém CRISTO, que não era um filho de Arão, é freqüentemente encontrado no templo, e sentado ali como uma pessoa de autoridade; assim foi predito (Ml 3.1): “Virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais”, e não o mensageiro que devia preparar o seu caminho. Isto sugere que o sacerdócio de CRISTO devia substituir o de Arão, e conduzi-lo ao deserto. O início do Evangelho em um deserto traz consolo aos desertos do mundo gentio. Agora as profecias devem ser cumpridas: “Plantarei no deserto o cedro” (Is 41.18,19). “O deserto se tornará em campo fértil” (Is 32.15). “O deserto e os lugares secos se alegrarão com isso” (Is 35.1,2). A Septuaginta fala dos “desertos do Jordão”, o mesmo deserto onde João pregava. Na igreja romana, existem aqueles que se denominam eremitas, e fingem seguir a JESUS, mas “se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais” (Mt 24.26). Havia “aquele… que fez uma sedição e levou ao deserto quatro mil” (At 21.38). III A sua pregação. Este foi o seu trabalho. Ele não veio lutando, nem disputando, mas pregando (v. 1). Pois por meio da aparente insensatez é que o reino de CRISTO deve ser estabelecido. 1. A doutrina que ele pregava era a do arrependimento (v. 2): “Arrependei-vos”. Ele pregava isto na Judéia, entre aqueles que eram chamados de judeus, e fez uma declaração de fé, pois até mesmo eles precisavam de arrependimento. Ele pregava o arrependimento, não em Jerusalém, mas no deserto da Judéia, entre as pessoas simples; pois mesmo aqueles que se julgam livres da tentação, e portanto das vaidades e dos vícios da cidade, não podem lavar as suas mãos na inocência, mas devem fazê-lo em arrependimento. O trabalho de João Batista era chamar os homens para que se arrependessem dos seus pecados: “Admitam uma segunda idéia, para corrigir os erros da primeira, como uma reflexão posterior. Ponderem sobre os seus métodos, mudem o modo de pensar; vocês pensaram de maneira errada; pensem novamente, e pensem certo”. Observe que os verdadeiros penitentes têm outros pensamentos sobre DEUS e CRISTO, sobre o pecado e a santidade, e sobre este mundo e o outro, pensamentos que são diferentes dos que tinham antes, e são influenciados por eles. A mudança de modo de pensar produz uma mudança de caminho. Aqueles que realmente lamentam o que fizeram mal, terão o cuidado de não fazê-lo novamente. Este arrependimento é uma obrigação necessária, em obediência ao mandamento de DEUS (At 17.30); e uma preparação e qualificação necessárias para os consolos do Evangelho de CRISTO. Se o coração do homem tivesse continuado justo e incólume, as consolações divinas poderiam ter sido recebidas sem esta dolorosa operação anterior; mas, como o coração era pecaminoso, ele primeiramente precisava sofrer aflições antes de poder ter tranqüilidade, precisava trabalhar antes de poder descansar. A dor deve ser procurada, caso contrário, não poderá ser curada. “Eu firo e eu saro”. 2. O argumento que ele usava para reforçar o seu chamado era: “porque é chegado o Reino dos céus”. Os profetas do Antigo Testamento chamavam as pessoas ao arrependimento, para obter e garantir as misericórdias temporais sobre a nação, e para evitar e remover o julgamento temporal sobre a nação. Mas agora, embora o dever recomendado seja o mesmo, o motivo é novo, e puramente evangélico. Agora os homens são considerados na sua capacidade pessoal, e não tanto como naquela época, de uma maneira social e política. Arrependam-se agora, “pois é chegado o Reino dos céus”: a revelação que o Evangelho faz do concerto da graça, da abertura do Reino dos céus a todos os crentes, pela morte e ressurreição de JESUS CRISTO. É um reino no qual CRISTO é o Soberano, e nós devemos ser os súditos leais e dispostos deste reino. É um reino dos céus, e não deste mundo, um reino espiritual; a sua origem é o céu, o seu destino é o céu. João pregava que este reino era chegado; naquele tempo, estava à porta; para nós, já chegou, pelo derramamento do ESPÍRITO e pela plena exposição das riquezas do Evangelho da graça. Assim sendo: (1) Este é um grande incentivo para que nós nos arrependamos. Não há nada como a consideração da divina graça para partir o coração, tanto por meio do pecado como por causa dele. Isto é o arrependimento evangélico, que flui a partir de uma visão de CRISTO, de uma sensação do seu amor, e das esperanças de perdão por meio dele. A bondade é conquistar; a bondade ofendida ou maltratada traz a humilhação e a comoção. Que infeliz eu era, por pecar contra tal graça, contra a lei e o amor de um reino como este! (2) É um grande incentivo para nos arrependermos. “Arrependam-se, pois os seus pecados serão perdoados depois do seu arrependimento. Voltem-se a DEUS em obediência, e Ele, por meio de CRISTO, trará cada um de vocês ao caminho da misericórdia”. A proclamação do perdão descobre e atrai o malfeitor que antes fugia e se esquivava. Dessa maneira, somos atraídos com as cordas do homem e com os laços de amor. IV A profecia que se cumpriu nele (v. 3). Era dele que se falava no início daquela passagem da profecia de Isaías, que é principalmente evangélica, e que aponta para a época e a graça do Evangelho (veja Is 40.3,4). Aqui, se fala de João Batista como: 1. A voz daquele que clama no deserto. João era esta voz (Jo 1.23): “Eu sou a voz do que clama no deserto”, e isto é tudo, DEUS é quem fala, quem dá a conhecer o que está em sua mente por meio de João, assim como um homem o faz com a sua própria voz. A palavra de DEUS deve ser recebida como tal (1 Ts 2.13); o que é Paulo, e o que é Apolo, a não ser a voz! João é chamado de “a voz” daquele que está gritando, que está assustando e despertando. CRISTO é chamado de “a Palavra”, que, sendo distinta e eloqüente, é mais instrutiva. João, sendo a voz, despertava os homens, e então CRISTO, sendo a Palavra, os ensinava. Como vemos em Apocalipse 14.2,3: “A voz de muitas águas e como a voz de um grande trovão; e uma voz de harpistas, que tocavam com a sua harpa. E cantavam um como cântico novo”. Alguns observam que, embora a mãe de Sansão não devesse beber nada forte, ainda assim ele foi designado para ser um homem forte; da mesma maneira, o pai de João Batista ficou mudo, e João Batista foi designado para ser a voz do que clama. Quando a voz do que clama é gerada por um pai mudo, isto mostra a excelência do poder de DEUS, e não dos homens. 2. Como alguém cujo trabalho era preparar o caminho do Senhor, e endireitar as veredas para Ele; isto foi dito dele antes de seu nascimento, que ele deixaria um povo preparado para o Senhor (Lc 1.17), trabalhando como o arauto e o precursor de CRISTO. Ele era alguém íntimo com a natureza do reino de CRISTO, pois ele não veio com as roupas ostentosas de um arauto em armadura, mas com a roupa simples de um eremita. Soldados eram enviados à frente dos grandes homens, para limpar a passagem; assim, João Batista preparou o caminho do Senhor. (1) Ele fez isto pessoalmente entre os homens daquela geração. Na nação judaica, naquela época, tudo estava seguindo um rumo errado; havia uma enorme falta de religiosidade, os órgãos vitais da religião estavam corrompidos e eram devorados pelas tradições e imposições dos anciãos. Os escribas e os fariseus, isto é, os maiores hipócritas do mundo, tinham as chaves do conhecimento e a chave do governo no seu cinturão. Em geral, as pessoas eram extremamente orgulhosas dos seus privilégios, confiantes da sua justificação pela sua própria justiça, insensíveis ao pecado; e, embora agora sob as mais humildes circunstâncias, tendo sido transformados em uma província do Império Romano, ainda assim não eram humildes; eles tinham o mesmo temperamento que tinham na época de Malaquias, eram insolentes e arrogantes e estavam sempre prontos para contradizer a Palavra de DEUS; assim, João foi enviado para nivelar estas montanhas, para derrubar a alta opinião que eles tinham de si mesmos, e para mostrar a eles os seus pecados, para que a doutrina de CRISTO pudesse ser mais aceitável e eficaz. (2) A sua doutrina de arrependimento e humilhação é ainda tão necessária quanto era naquela ocasião, para preparar o caminho do Senhor. Observe, há muita coisa a ser feita para abrir caminho para CRISTO em uma alma, para curvar o coração para a recepção do Filho de Davi (2 Sm 19.14); e nada é mais necessário, para isto, que a descoberta do pecado, e uma convicção da insuficiência da sua própria justiça. O que não convém permanecerá, até que seja tirado do caminho. Os preconceitos precisam ser removidos; a atitude de pensar em si mesmo com excessiva importância precisa ser rompida, e assim os pensamentos serão levados cativos à obediência de CRISTO. Portões de bronze precisam ser rompidos, e barras de ferro precisam ser separadas, antes que as portas eternas se abram para que o Rei da glória possa entrar. O caminho do pecado e de Satanás é um caminho deformado; para preparar um caminho para CRISTO, as veredas precisam ser endireitadas (Hb 12.13). V A roupa com a qual ele aparecia, a sua imagem, e o seu modo de vida (v. 4). Os judeus, que esperavam o Messias como um príncipe temporal, pensavam que o seu precursor viria com grande pompa e esplendor, que os seus acompanhantes seriam impressionantes e joviais; mas foi exatamente o contrário. Ele será grande aos olhos do Senhor, mas insignificante aos olhos do mundo; e, como o próprio CRISTO, sem aparência ou formosura; para declarar em breve que a glória do reino de CRISTO deveria ser espiritual. Os súditos deste reino seriam comumente pobres e desprezados (em sua condição natural, ou teriam se tornado assim por causa do reino). Eles obtêm as suas honras, os seus prazeres, e as suas riquezas de um outro mundo. 1. As suas roupas eram simples. Este mesmo João tinha a sua roupa feita de pêlos de camelo, e um cinto de couro ao redor de seus lombos; ele não se vestia com roupas compridas, como os escribas, nem macias, como os fariseus, mas com as roupas de um homem do campo; pois ele vivia no campo, e adaptava os seus hábitos ao lugar onde morava. Observe que é bom que nos acomodemos ao lugar e às condições nos quais DEUS, na sua providência, nos colocou. João apareceu com estas roupas: (1) Para mostrar que, como Jacó, ele era um homem simples, mortificado para este mundo, para os prazeres e as satisfações que este propiciava. Vejam um verdadeiro israelita! Aqueles que são humildes de coração o mostram com uma negligência e uma indiferença santas na sua aparência; e não vestem roupas que os enfeitem, nem avaliam os demais pelas suas vestes. (2) Para mostrar que ele era um profeta, pois os profetas usavam roupas ásperas, como homens mortificados (Zc 13.4); e, especialmente, para mostrar que ele era o Elias prometido; pois observações especiais são feitas sobre Elias, de que ele era um homem vestido de pêlos (alguns julgam que isto se refere às roupas de pêlos que ele usava) e com os lombos cingidos de um cinto de couro (2 Rs 1.8). João Batista em nada parece inferior a ele, em sua mortificação; portanto, este era aquele Elias que havia de vir. (3) Para mostrar que ele era um homem determinado; seu cinto não era elegante, como os que se usavam na época, mas era resistente, era um cinto de couro; e bem-aventurado é este servo, pois o seu Senhor, quando vier, encontrará cingidos os seus lombos (Lc 12.35; 1 Pe 1.13). 2. A sua dieta era simples; a sua refeição consistia de gafanhotos e mel silvestre; não como se ele nunca comesse qualquer outra coisa; mas isto era o que ele comia freqüentemente, e assim fazia muitas refeições, quando se retirava para lugares solitários, e continuava ali por muito tempo, para meditar. Os gafanhotos eram um tipo de inseto voador, muito bom como alimento, e permitido, por ser puro (Lv 11.22); eles não precisavam de muito tempero, e eram de digestão leve e fácil. Por isto, quando se fala das enfermidades e da velhice (com a sua conseqüente falta de forças), costuma-se utilizar a expressão “quando o gafanhoto for um peso” (Ec 12.5). O mel silvestre era aquele mel abundante em Canaã (1 Sm 14.26). Ele era colhido imediatamente, quando caía sobre o orvalho, ou era encontrado em cavidades de árvores e rochas, onde as abelhas os fabricavam em colméias sob o cuidado e a inspeção dos homens. Isto indica que João comia com moderação, e, na realidade, podemos concluir que ele comia pouco: um homem teria que passar muito tempo comendo para saciar a fome com gafanhotos e mel silvestre. João Batista veio sem comer e sem beber (Mt 11.18), e estava desprovido da curiosidade, da formalidade, e da familiaridade com que as outras pessoas o faziam. Ele estava tão completamente absorvido pelas coisas espirituais, que mal podia encontrar tempo para fazer uma refeição. Agora: (1) Isto estava de acordo com a doutrina do arrependimento que ele pregava, e com os frutos do arrependimento que ele mencionava. Observe que aqueles que conclamam outros a se lamentarem pelo pecado, e a mortificá-lo, devem viver uma vida sóbria, uma vida de contrição, de mortificação e lamento pela situação do mundo. Assim, João Batista demonstrava quão profundamente sentia a maldade do tempo e do local onde vivia, o que tornava a pregação do arrependimento extremamente necessária; cada dia era, para ele, um dia de jejum. (2) Este comportamento estava de acordo com o seu ofício como precursor de CRISTO. Através dessa prática, João demonstrava que conhecia o Reino dos céus, e que experimentava o seu poder. Observe que aqueles que conhecem os prazeres espirituais divinos não podem ter outra atitude a não ser olhar para os deleites e ornamentos dos sentidos com uma santa indiferença – pois eles conhecem algo muito melhor. Exemplificando esta atitude para as outras pessoas, ele estava preparando o caminho para CRISTO. Observe que a convicção da vaidade do mundo e de todas as coisas que nele há é o melhor preparativo para a recepção do Reino de DEUS no coração. Bem-aventurados são os pobres de espírito. VI As pessoas que o procuravam e o seguiam em grandes grupos (v. 5): “Ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia”. Grandes multidões vinham ter com ele, provenientes da cidade, e de todas as partes do país; de todos os tipos, homens e mulheres, jovens e velhos, ricos e pobres, fariseus e publicanos; eles o procuravam, assim que ficavam sabendo da sua pregação do Reino dos céus, para poderem ouvir aquilo de que tanto falavam. Agora: 1. Era uma grande honra para João o fato de que tantas pessoas o procurassem, e com tanto respeito. Observe que freqüentemente aqueles que mais são honrados são os que menos se importam com a honra. Aqueles que vivem uma vida de mortificação, que são humildes e que se autonegam, e que morrem para o mundo, motivam respeito; e os homens têm uma consideração e uma reverência secretas por eles, mais do que eles poderiam vir a imaginar. 2. Isto dava a João uma excelente oportunidade de fazer o bem, e era uma evidência de que DEUS estava com ele. Agora as pessoas começavam a se agrupar e a “empregar força para entrar” no Reino dos céus (Lc 16.16); e que visão maravilhosa era esta (“como vindo do próprio seio da alva, será o orvalho da tua mocidade”; Sl 110.3), ver a rede lançada onde havia tantos peixes. 3. Isto era uma prova de que esta era uma época de grandes expectativas; geralmente se pensava que “logo se havia de manifestar o Reino de DEUS” (Lc 19.11) e, portanto, quando João se apresentasse a Israel, vivesse e pregasse à sua maneira, tão completamente diferente dos escribas e dos fariseus, eles estariam prontos para dizer que ele seria o CRISTO (Lc 3.15); e isto provocava esta confluência de pessoas para junto dele. 4. Aqueles que se beneficiassem do ministério de João precisariam ir com ele ao deserto, e compartilhar a sua reprovação. Observe aqueles que realmente desejam o leite verdadeiro da Palavra: se este não lhes for trazido, irão à sua procura. E aqueles que aprendessem a doutrina do arrependimento precisariam sair da confusão deste mundo e se aquietar. 5. Aparentemente, dos muitos que vinham ao batismo de João, apenas uns poucos aderiam a ele; observe a fria recepção que CRISTO teve na Judéia e nas redondezas de Jerusalém. Observe que pode haver uma multidão de ouvintes entusiasmados, mesmo onde haja apenas alguns poucos crentes verdadeiros. A curiosidade e a aparente novidade e variedade podem levar muitos a comparecerem à boa pregação e serem influenciados por ela durante algum tempo, sem, no entanto, se sujeitarem ao poder dela (Ez 33.31,32). VII O rito, ou a cerimônia, com que ele aceitava discípulos (v. 6). Aqueles que recebiam a sua doutrina, e se sujeitavam à sua disciplina, eram batizados por ele no Jordão, desta forma professando o seu arrependimento e a sua fé de que era chegado o reino do Messias. 1. Eles davam testemunho do seu arrependimento, ao confessar os seus pecados; uma confissão geral, é provável, que faziam a João de que eram pecadores, de que estavam contaminados pelos seus pecados, e de que precisavam de purificação. Mas a DEUS, eles faziam uma confissão de seus pecados particulares, pois Ele é a parte ofendida. Os judeus eram ensinados a se justificarem; mas João os ensina a se acusarem, e a não se limitarem, como costumavam fazer, na confissão feita por todo o Israel, uma vez por ano, no dia da expiação, mas a fazerem, cada um, um reconhecimento particular do mal em seu próprio coração. Observe que uma confissão penitente do pecado é necessária para obter a paz e o perdão; e somente quem a faz estará preparado para receber a JESUS CRISTO como sua Justiça – estes são trazidos à sua própria culpa com tristeza e vergonha (1 Jo 1.9). 2. Os benefícios do Reino dos céus, que agora estão disponíveis, eram concedidos a eles pelo batismo. João Batista os lavava com água, como um símbolo de que DEUS os estava limpando de todas as suas iniqüidades. Era usual, entre os judeus, batizar aqueles que eles aceitavam como prosélitos à sua religião, especialmente aqueles que eram somente prosélitos de porta, que não eram circuncidados, como eram os prosélitos da justiça. Alguns acreditam que é provável que pessoas eminentes do judaísmo, que eram os líderes, admitissem alunos e discípulos por meio do batismo. A pergunta de CRISTO, a respeito do batismo de João Batista: “O batismo de João era do céu ou dos homens?”, dava a entender que existiam os batismos dos homens, que não eram uma missão divina, e com este uso João Batista estava de acordo, mas o seu batismo era do céu, e pelas suas características era diferente de todos os outros. Este era o batismo do arrependimento (At 19.4). Todo Israel foi batizado em Moisés (1 Co 10.2). A lei cerimonial consistia de submergir na água, ou batizar-se (Hb 9.10), mas o batismo de João se refere à lei corretiva, a lei do arrependimento e da fé. Ele batizava as pessoas no Jordão, aquele rio que ficou famoso pela passagem de Israel por ele, e pela cura de Naamã; mas é provável que João não batizasse neste rio no início, mas que depois, quando as pessoas que vinham ao seu batismo eram em maior número, ele tenha passado a usar este rio. Por meio do batismo, ele os exortava a levar uma vida santa, de acordo com a profissão de fé que estavam assumindo. Observe que a confissão dos pecados sempre deve estar acompanhada de determinações santas, com a força da divina graça, para nunca mais retornar ao pecado. A Pregação de João Batista Mateus 3. 7-12 A doutrina que João pregava era a do arrependimento, considerando que era chegado o Reino dos céus; aqui nós temos o uso desta doutrina. A sua aplicação é uma vida de pregação, e esta era a pregação de João. Observe: 1. A quem ele a aplicava; aos fariseus e aos saduceus que vinham ao seu batismo (v. 7). Aos outros, ele pensava que era suficiente dizer: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus”; mas quando ele viu estes fariseus e saduceus se aproximando, achou que era necessário explicar-se, e ser mais específico. Estas eram duas das três seitas destacadas entre os judeus daquela época, a terceira era a dos essênios, sobre os quais nada lemos nos Evangelhos, pois eles se afastavam e evitavam se envolver em questões públicas. Os fariseus eram zelosos pelas cerimônias, pelo poder da sinagoga e pelas tradições dos anciãos; os saduceus estavam no extremo oposto, e eram ligeiramente melhores que os deístas, negando a existência de espíritos e de um estado futuro. É estranho que eles viessem ao batismo de João, mas a sua curiosidade os trouxe para ouvir; e alguns deles, provavelmente, se submeteram ao batismo, mas certamente a maioria deles não o fez, pois CRISTO diz (Lc 7.29,30) que “todo o povo que o ouviu e os publicanos, tendo sido batizados com o batismo de João, justificaram a DEUS. Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de DEUS contra si mesmos, não tendo sido batizados por ele”. Observe que muitos vinham para os rituais e não eram influenciados por eles. Para estes, aqui João se dirige com toda a devoção, e o que ele disse a eles, o disse à multidão (Lc 3.7), pois o que ele dissesse seria aplicável a todos eles. 2. Qual era a aplicação. Era clara e familiar, e dirigida às suas consciências. Ele fala como alguém que vem não para pregar diante deles, mas para pregar a eles. Embora a sua educação fosse reservada, ele não era acanhado quando aparecia em público, nem temia a presença dos homens, pois estava cheio do ESPÍRITO SANTO e de poder. I Aqui está uma mensagem de condenação e de despertamento. Ele começa de maneira áspera, não os chama de rabinos, não se dirige a eles por seus títulos, e tampouco lhes dedica os aplausos aos quais eles estão acostumados. 1. O título que lhes atribui é “raça de víboras”. CRISTO lhes atribuiu o mesmo título (12.34; 23.33). Eles eram como víboras; embora de aparência enganosa, eram venenosos, e cheios de maldade e inimizade a tudo o que fosse bom; era uma raça de víboras, a semente e a descendência de outros que tinham tido o mesmo espírito; isto já nascia com eles. Eles se vangloriavam disso, de serem a descendência de Abraão; mas João Batista mostrou-lhes que eles eram a semente da serpente (compare Gn 3.15); a semente do pai deles, o diabo (Jo 8.44). Constituíam um grupo mau, todos semelhantes; embora inimigos entre si, ainda se uniam em maldades. Observe que uma geração malvada é uma geração de víboras, e eles precisavam saber disso; é necessário que os ministros de CRISTO sejam ousados ao mostrar aos pecadores o verdadeiro caráter deles. 2. O alerta que João dá é o seguinte: “Quem vos ensinou a fugir da ira futura?” Isto dá a entender que eles estavam se arriscando à ira futura; e o caso deles era quase tão desesperado, e seus corações estavam tão endurecidos pelo pecado (os fariseus, pela sua exibição de religião, e os saduceus, pelos seus argumentos contra a religião), que era necessário algo muito próximo a um milagre para realizar alguma coisa que trouxesse esperança entre eles. “O que os traz aqui? Quem iria imaginar vê-los aqui? Que medo incutiram em vocês, para que vocês procurem o Reino dos céus?” Observe: (1) Existe uma ira futura; além da ira presente, cujos pequenos frascos são derramados agora. Existe a ira futura, o que está acumulado para o futuro. (2) É do maior interesse de cada um de nós fugir dessa ira. (3) É pela misericórdia divina que nós somos advertidos claramente para fugir dessa ira. Pense: Quem nos advertiu? DEUS nos advertiu, Ele que não se alegra com a nossa ruína. Ele nos adverte pela palavra escrita, pelos ministros, pela consciência. (4) Estas advertências, às vezes, assustam aqueles que parecem ter estado muito endurecidos na sua segurança e boa opinião sobre si mesmos. II Aqui há uma mensagem de exortação e orientação (v. 8). “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”. Portanto, como vocês foram advertidos a fugir da ira futura, deixem que o temor ao Senhor vos conduza a uma vida santa. Ou, portanto, como vocês professaram arrependimento, e ouviram a doutrina, e passaram pelo batismo do arrependimento, mostrem que são verdadeiros penitentes. O arrependimento nasce no coração. Ele está ali, como uma raiz; mas em vão fingiremos possuí-la, se não produzirmos os frutos dele, em uma transformação universal, abandonando todo o pecado e nos apegando ao que é bom. Estes são frutos dignos do arrependimento. Observe que aquele que afirma que lamenta os seus pecados, mas continua persistindo neles, não é digno de ser chamado de penitente, nem de ter os privilégios dos penitentes. Aquele que professa arrependimento, como o fazem todos os que são batizados, deve agir como um ser penitente e nunca fazer qualquer coisa imprópria a um pecador penitente. É conveniente que os penitentes sejam humildes aos seus próprios olhos, que sejam gratos à menor graça, pacientes sob as maiores dificuldades, que estejam alertas contra todas as manifestações do pecado e às suas investidas, que sejam abundantes no cumprimento de todos os seus deveres, e que sejam caridosos ao julgar os outros. III Aqui há uma mensagem de recomendação para que não confiem nos seus privilégios externos, pois esta atitude pode retardar estes chamados ao arrependimento (v. 9). “Não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão”. Observe que há muita coisa que os corações carnais são aptos a dizer a si mesmos, deixando de lado o poder persuasivo da Palavra de DEUS (que é repleta de autoridade). Os ministros devem procurar prever estas atitudes, para que possam tratá-las no tempo certo; os pensamentos vãos que se alojam naqueles que são chamados a lavar os seus corações (Jr 4.14). “Não finjam, não sejam presunçosos, dizendo estas coisas dentro de si mesmos. Não pensem que isto poderá salvá-los; o refúgio não está na arrogância”. Alguns interpretam esta passagem da seguinte maneira: “Não sintam prazer dizendo isto; não se embalem para dormir com isto, nem se elogiem no paraíso de um tolo”. Observe que DEUS percebe aquilo que nós dizemos dentro de nós, o que não ousamos proferir em voz alta, e conhece todos os falsos descansos da alma e as falácias com as quais ela se engana. Mas ela não os revelará, para que o engano não seja apontado. Muitos escondem a mentira que os destrói na sua mão direita, e a ocultam sob a língua, porque têm vergonha de possuí-la. Estas pessoas trabalham para satisfazer os interesses do diabo, sob a orientação do diabo. Agora, João lhes mostra: 1. Qual era a sua desculpa: “Temos por pai a Abraão”; nós não somos pecadores gentios; é adequado, realmente, que os gentios sejam chamados a arrepender-se, mas nós somos judeus, uma nação santa, um povo especial, o que representa isto para nós? Observe que a mensagem não traz nenhum benefício, se nós não a assumirmos como dirigida e pertencente a nós. Portanto, não pensem que por serem filhos de Abraão: (1) Vocês não precisam se arrepender; vocês não têm nada de que se arrepender. A sua relação com Abraão e o seu interesse no concerto feito com ele é o que os denomina de santos, a ponto de não haver oportunidade de que vocês mudem de idéia ou de rumo. (2) Que vocês estão suficientemente bem, embora não se arrependam. Não pensem que isto irá evitar o seu julgamento e protegê-los da ira futura. Que DEUS irá tolerar a sua impenitência, porque vocês são a semente de Abraão. Observe que é presunção vã pensar que as nossas boas relações irão nos salvar, embora nós mesmos não sejamos bons. Embora sejamos descendentes de antepassados religiosos, tenhamos sido abençoados com uma educação religiosa, tenhamos uma família na qual o temor a DEUS é absoluto e tenhamos bons amigos que nos aconselham e oram por nós, de que maneira tudo isto poderá nos beneficiar, se não nos arrependermos e vivermos uma vida de arrependimento? Nós temos Abraão como nosso pai, e, portanto, temos direito aos privilégios do concerto realizado com ele sendo sua semente, nós somos filhos da igreja, o templo do Senhor (Jr 7.4). Observe que muitos, repousando nas honras e nas vantagens da sua filiação visível à igreja, não conseguem alcançar o céu. 2. Como era tola e infundada esta desculpa; eles pensavam que, sendo semente de Abraão, eram o único povo que DEUS tinha no mundo e, portanto, se eles fossem rejeitados, DEUS não teria uma igreja; mas João lhes mostra a tolice desta arrogância: “Eu vos digo (não importa o que dizeis em si mesmos) que mesmo destas pedras DEUS pode suscitar filhos a Abraão”. Ele estava batizando no Jordão, em Betânia (Jo 1.28), o lugar da passagem, onde os filhos de Israel atravessaram o rio; e ali estavam as doze pedras, uma para cada tribo, que Josué erigiu como um memorial (Js 4.20). Não é improvável que ele apontasse para estas pedras, que DEUS poderia fazer com que fossem mais do que uma representação das doze tribos de Israel. Ou talvez ele estivesse se referindo a Isaías 51.1, onde Abraão é chamado de rocha da qual todos tinham sido cortados. Aquele DEUS, que trouxe Isaque daquela rocha, pode, se necessário, fazer a mesma coisa em um outro contexto, pois para Ele nada é impossível. Alguns opinam que ele apontou para os soldados pagãos que estavam presentes, dizendo aos judeus que DEUS iria erigir uma igreja para si mesmo em meio aos gentios, e conceder a bênção de Abraão sobre ela. Assim, quando os nossos primeiros pais caíram, DEUS poderia tê-los deixado perecer, e das pedras teria criado outro Adão e outra Eva. Ou podemos interpretar da seguinte maneira: “As próprias pedras serão consideradas semente de Abraão, em lugar de pecadores endurecidos, secos, e infrutíferos como vocês”. Observe que da mesma maneira como isto está diminuindo a confiança dos filhos de Sião, também está incentivando as esperanças dos filhos de Sião de que, aconteça o que acontecer com a geração atual, DEUS nunca ficará sem uma igreja neste mundo; se os judeus forem arrancados, os gentios serão enxertados (Mt 21.43; Rm 11.12 etc.). IV Existe uma mensagem de terror para os fariseus, os saduceus e outros judeus descuidados e seguros, que não conhecem os sinais dos tempos, nem o dia da sua visitação (v. 10). “Agora olhem à sua volta, agora que o Reino de DEUS está prestes a se manifestar, a ponto de podermos senti-lo”. 1. “Como é rígido e curto o seu julgamento. ‘Agora, está posto o machado’ diante de vocês, está junto ‘à raiz das árvores’, e agora vocês dependem do seu bom comportamento, e estarão assim por um curto período de tempo; agora vocês estão marcados para a ruína, e não podem evitar isto, a não ser por meio de um arrependimento rápido e sincero. Agora vocês precisam esperar que DEUS faça com vocês um trabalho mais rápido, pelos seus julgamentos, do que fez antes, e isto terá início na casa de DEUS. onde DEUS dá mais meios, Ele concede menos tempo”. “Eis que venho sem demora”. Naquele momento, eles estavam diante do seu último julgamento: era agora ou nunca. 2. “Como será doloroso o seu destino, se vocês não melhorarem”. Então, vem a declaração – com o machado junto à raiz – para mostrar que DEUS é sincero na declaração de que toda árvore, ainda que alta em dons e honras, mas verde nas profissões de fé e nos desempenhos externos, se não der bons frutos – os frutos obtidos pelo arrependimento – será cortada, repudiada como uma árvore na vinha de DEUS que é indigna de ter o seu espaço ali, e será lançada no fogo da ira de DEUS, que é o melhor lugar para as árvores infrutíferas. Para que mais elas servem? Se não servem para dar frutos, servem como combustível. Provavelmente, isto se refere à destruição de Jerusalém pelos romanos, o que não foi, como o foram outros julgamentos, como o podar dos galhos ou o derrubar de uma árvore, deixando a raiz para brotar novamente, mas seria a extirpação completa final e irrevogável destas pessoas, na qual pereceriam todos os que continuassem impenitentes. Agora DEUS traria o desfecho final, e a ira que cairia sobre eles seria completa. V Uma mensagem de orientação a respeito de JESUS CRISTO, em quem toda a pregação de João Batista estava centrada. Os ministros de CRISTO pregam, não a si mesmos, mas a Ele. Aqui temos: 1. A dignidade e a superioridade de CRISTO acima de João. Veja de que maneira humilde ele fala de si mesmo para poder engrandecer a CRISTO (v. 11): “Eu, em verdade, vos batizo com água”, e isto é o máximo que eu posso fazer. Observe que os sacramentos não obtêm a sua eficácia de quem os administra; estas pessoas somente podem aplicar o sinal; é prerrogativa de CRISTO dar significado às coisas (1 Co 3.6; 2 Rs 4.31). “Mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu”. Embora João tivesse muito poder, pois ele veio no espírito e poder de Elias, CRISTO tinha mais; embora João fosse verdadeiramente grande, grande aos olhos do Senhor (nenhuma pessoa nascida de uma mulher o superou), ainda assim ele se julga indigno de estar no mero lugar de auxiliar de CRISTO: “Não sou digno de levar as suas sandálias”. Ele vê: (1) O quão poderoso CRISTO é, em comparação consigo mesmo. Observe que é um grande consolo para os ministros fiéis pensar que JESUS CRISTO é mais poderoso do que eles, que Ele pode fazer as coisas para eles, e por eles, o que eles não podem fazer; a sua força se aperfeiçoa na fraqueza dos ministros. (2) Quão inferior ele é, em comparação com CRISTO, sentindo-se indigno de levar as suas sandálias! Observe que aqueles que DEUS honra são, por esta razão, muito humildes e inferiores aos seus próprios olhos; desejam ser humilhados para que CRISTO possa ser enaltecido; desejam ser qualquer coisa, ou nada, para que CRISTO possa ser tudo. 2. O modo e a intenção da manifestação de CRISTO, que eles agora deviam esperar. Quando foi profetizado que João seria enviado como o precursor de CRISTO (Ml 3.1,2), imediatamente a seguir está escrito que “virá o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto... e assentar-se-á... e purificará” (v. 3). E depois da vinda de Elias, “aquele dia vem ardendo como forno” (Ml 4.1), que é ao que João Batista parece referir-se aqui. CRISTO virá para fazer uma distinção: (1) Pela obra poderosa da sua graça: “Ele vos batizará com o ESPÍRITO SANTO e com fogo”. Observe: [1] É prerrogativa de CRISTO batizar com o ESPÍRITO SANTO. Isto Ele fez concedendo os dons extraordinários do ESPÍRITO, desde os dias dos apóstolos, aos quais o próprio CRISTO aplica estas palavras de João (At 1.5). Isto Ele faz na graça e no consolo do ESPÍRITO, concedendo-os àqueles que lhe pedem (Lc 11.13; Jo 7.38,39; veja At 11.16). [2] Aqueles que são batizados com o ESPÍRITO SANTO, são batizados como que com o fogo. Os sete espíritos de DEUS aparecem como sete lâmpadas de fogo (Ap 4.5). O fogo ilumina? Também o ESPÍRITO é um ESPÍRITO que ilumina. O fogo aquece? E os corações não queimam dentro deles? O fogo consome? E o ESPÍRITO de julgamento, como um ESPÍRITO que arde, não consome as impurezas das corrupções dos pecadores? O fogo torna tudo o que alcança semelhante a si? E se move para o alto? Também o ESPÍRITO torna a alma santa como Ele mesmo o é, e tende a se dirigir para o céu. CRISTO diz: “Vim lançar fogo na terra” (Lc 12.49). (2) Pela determinação final do seu julgamento (v. 12): “Em sua mão tem a pá”. A sua capacidade de distinguir, pela sabedoria eterna do Pai, que vê tudo como verdadeiramente é, e a sua autoridade de distinguir, como a Pessoa à qual todos os julgamentos se submetem, é a pá que está na sua mão (Jr 15.7). Agora, Ele se assenta e purifica. Observe aqui: [1] A igreja visível é a eira de CRISTO: “Ah! Malhada minha, e trigo da minha eira!” (Is 21.10). O Templo, um tipo da igreja, foi construído sobre uma eira. [2] Nesta eira, há uma mistura de trigo e palha. Os verdadeiros crentes são como o trigo, importantes, úteis e valiosos; os hipócritas são como a palha, leves e vazios, inúteis e sem valor, e levados pelos ventos; agora, eles estão misturados, os bons e os maus, sob a mesma profissão exterior de fé, e na mesma comunhão visível. [3] Virá, porém, o dia em que a eira será purificada, e o trigo e a palha serão separados. Alguma coisa desse tipo sempre é feita neste mundo, quando DEUS chama o seu povo da Babilônia (Ap 18.4). Mas é o dia do Juízo Final que será o grande dia da colheita, da distinção, que de maneira inequívoca irá determinar o resultado das doutrinas, das obras (1 Co 3.13), e das atitudes das pessoas (Mt 25.32,33). Os santos e os pecadores serão separados para sempre. [4] O céu é o celeiro onde JESUS CRISTO em breve irá reunir todo o seu trigo, e nem um grão sequer dele será perdido; Ele o reunirá como os frutos da colheita. A ceifadeira da morte será usada para reuni-los ao seu povo. No céu, os santos serão reunidos, e não mais ficarão espalhados; estarão seguros, e não mais expostos; separados dos vizinhos corruptos e dos desejos corruptos interiores, e não haverá mais palha entre eles. Eles não somente são reunidos no celeiro (Mt 13.30), mas no silo, onde são completamente purificados. [5] O inferno é o fogo inextinguível, que irá queimar a palha, o que certamente será a punição eterna dos hipócritas e descrentes. Dessa forma, aqui estão a vida e a morte, o bem e o mal, dispostos diante de nós; de acordo com a maneira que estivermos no campo, estaremos então na eira. O Batismo de JESUS Mateus 3. 13-17 O nosso Senhor JESUS, desde a sua infância até agora, quando estava com quase trinta anos de idade, tinha estado escondido na Galiléia, como se estivesse enterrado vivo. Mas agora, depois de uma longa e escura noite, eis que o Sol da justiça se levanta em glória. A plenitude dos tempos era chegada para que CRISTO pudesse assumir o seu trabalho profético, e Ele decide fazê-lo, não em Jerusalém (embora seja provável que Ele tivesse estado ali nas três festas anuais, como todas as outras pessoas), mas ali, onde João estava batizando; pois Ele procurou aqueles que esperavam o consolo de Israel, os únicos para os quais Ele seria bem-vindo. João Batista era seis meses mais velho que o nosso Salvador, e supõe-se que tenha começado a pregar e batizar cerca de seis meses antes da manifestação de CRISTO; até então ele se dedicava a preparar o caminho do Senhor, na região próxima ao rio Jordão. E muito mais se fez para isto nesses seis meses do que tinha sido feito em muitos séculos antes. A vinda de CRISTO, da Galiléia ao Jordão, para ser batizado, nos ensina a não nos escondermos da dor e do trabalho árduo, para podermos ter a oportunidade de nos aproximarmos de DEUS, ao seu serviço. Devemos estar dispostos a nos excedermos na comunhão com DEUS, e não a sentirmos falta dela. Para encontrar, é preciso procurar. Na história do batismo de CRISTO, podemos observar: I Com que dificuldade João foi persuadido a fazê-lo (vv. 14,15). Foi um exemplo da grande humildade de CRISTO o fato de Ele se oferecer para ser batizado por João; que aquele que não conheceu pecado se submetesse ao batismo do arrependimento. Observe que assim que CRISTO começou a pregar, Ele pregou humildade, pregou-a segundo o seu exemplo, pregou-a a todos, especialmente aos jovens ministros. CRISTO estava destinado às maiores honras, mas no seu primeiro passo Ele se humilha desta maneira. Observe que aqueles que se destinam a subir mais alto, devem começar mais baixo. “Diante da honra vai a humildade”. Esta era uma grande demonstração de respeito por João, pois CRISTO veio até ele; e foi uma retribuição pelo serviço que ele tinha prestado ao Senhor, avisando da sua chegada. Observe que DEUS honrará aqueles que o honram. Aqui, temos: 1. A objeção que João fez contra batizar JESUS (v. 14). João objetou, da mesma maneira como Pedro o fez, quando CRISTO foi lavar seus pés (Jo 13.6,8). Note que a condescendência graciosa de CRISTO é tão surpreendente, que parece inacreditável, à primeira vista, para os crentes mais vigorosos; tão profunda e misteriosa, que mesmo aqueles que conhecem bem o seu modo de pensar não conseguem descobrir o significado dela, mas, por razões de falta de esclarecimento, colocam objeções contra a vontade de CRISTO. A modéstia de João o leva a pensar que esta é uma honra excessivamente elevada para ele receber, e ele assim se expressa ao Senhor, da mesma maneira como a sua mãe tinha feito com a mãe de CRISTO (Lc 1.43): “Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim?” João tinha conquistado um nome, e era nacionalmente respeitado; ainda assim, veja como ele ainda é humilde! Observe que DEUS tem grandes honras reservadas para aqueles cujo espírito continua humilde quando a sua reputação cresce. (1) João acha que é necessário que ele seja batizado por CRISTO. “Eu careço de ser batizado por ti”, com o ESPÍRITO SANTO e com fogo, pois este era o batismo de CRISTO (v. 11). [1] Embora João estivesse cheio do ESPÍRITO SANTO desde o útero (Lc 1.15), ainda assim ele reconhece que tem a necessidade de ser batizado com aquele batismo. Note que aqueles que têm uma grande comunhão com o ESPÍRITO de DEUS, ainda assim, neste estado imperfeito, percebem que precisam de mais; e para que tenham mais precisam pedir a CRISTO. [2] João tem a necessidade de ser batizado, embora ele fosse o maior homem já nascido de uma mulher; mas, tendo nascido de uma mulher, ele está contaminado, como os outros da semente de Adão estão, e sabe que precisa de purificação. Observe que as almas mais puras são mais sensíveis à sua própria impureza residual, e procuram ansiosamente a purificação espiritual. [3] Ele sente necessidade de ser batizado por CRISTO, aquele que pode fazer por nós o que ninguém mais pode; aquilo que deve ser feito para nós, caso contrário seremos arruinados. Observe que os melhores e mais santos homens têm necessidade de CRISTO, e quanto melhores eles são, mais percebem esta necessidade. [4] Isto foi dito diante da multidão, que tinha uma grande veneração por João, e que estava pronta a aceitá-lo como o Messias; mas ele publicamente reconhece que tinha necessidade de ser batizado por CRISTO. Note que não é nenhum menosprezo, aos maiores homens, reconhecer que estão perdidos, sem CRISTO e a sua graça. [5] João era o precursor de CRISTO, e ainda assim reconhece que tinha a necessidade de ser batizado por Ele. Observe que mesmo aqueles que nasceram antes de CRISTO neste mundo dependem dele, recebem dele e têm os olhos nele. [6] Embora João estivesse tratando das almas dos outros, observe com quanto sentimento ele fala do caso da sua própria alma: “Eu careço de ser batizado por ti”. Note que os ministros, que pregam aos outros e que batizam os outros, se preocupam em pregar para si mesmos, e serem, eles mesmos, batizados com o ESPÍRITO SANTO. “Tem cuidado de ti mesmo e... te salvarás” (1 Tm 4.16). (2) Portanto, ele acha que é completamente absurdo e ilógico que CRISTO seja batizado por ele. “Vens tu a mim?” O santo JESUS, que está separado dos pecadores, vem para ser batizado por um pecador, como um pecador, e entre os pecadores? Como isto é possível? Como podemos descrever isto? Lembre-se que a vinda de CRISTO até nós pode ser também espantosa. 2. A rejeição dessa objeção (v. 15). JESUS disse: “Deixa por agora”. CRISTO aceitou a sua humildade, mas não a sua recusa; Ele queria fazer isso; e é adequado que CRISTO siga o seu método, embora não possamos compreendê-lo, nem apresentar uma razão para ele. Observe: (1) Como CRISTO insistiu nisto. “Isto deve ser assim, por ora”. Ele não nega que João tivesse necessidade de ser batizado por Ele, mas ainda assim Ele será agora batizado por João. Que seja assim, por agora. Observe que tudo está bem, na sua ocasião. Mas por que agora? Por que já? [1] CRISTO estava naquele momento em um estado de humilhação; Ele estava vazio, e não tinha uma reputação. Ele não apenas era encontrado como homem, mas à semelhança da carne pecadora, e, portanto, “agora”, Ele deveria ser batizado por João. Como se Ele precisasse ser lavado, embora fosse perfeitamente puro; e assim Ele se fez pecado por nós, embora não conhecesse o pecado. [2] O batismo de João agora adquire reputação, é aquele pelo qual DEUS está agora realizando o seu trabalho; esta é a presente revelação, e, portanto, JESUS será agora batizado com água, mas o seu batismo com o ESPÍRITO SANTO está reservado para mais tarde, não muito depois destes dias (At 1.5). O batismo de João tem o seu dia, e, portanto, deve ser honrado, e aqueles que o procuram devem ser incentivados. Aqueles que são os maiores destinatários de dons e graças devem, ainda, por sua vez, dar o seu testemunho aos rituais instituídos, comparecendo humilde e diligentemente a eles, para poderem dar um bom exemplo aos demais. Nós precisamos receber o que vemos que pertence a DEUS, e enquanto vemos que Ele o está concedendo. João agora estava crescendo, e, portanto, isto deveria ser assim naquele momento; dentro de pouco tempo, ele irá decair, e então as coisas serão diferentes. [3] Isto deve ser assim agora, porque agora é o momento da manifestação de CRISTO em público, e esta é uma boa oportunidade para isto (veja Jo 1.31,34). Assim Ele foi manifestado a Israel, e houve maravilhas do céu como sinais, naquele seu ato, que era de completa condescendência e humilhação pessoal. (2) A razão que Ele dá para isso: “Assim nos convém cumprir toda a justiça”. Observe: [1] Havia uma adequação em tudo o que CRISTO fez por nós. Havia graça (Hb 2.10; 7.26); e nós devemos estudar para fazer não somente aquilo que nos é conveniente, mas também aquilo que é digno de nós; não somente aquilo que é indispensavelmente necessário, mas aquilo que é agradável e bom. [2] O nosso Senhor JESUS viu isto como algo perfeitamente digno dele, para cumprir toda a justiça, isto é (como o Dr. Whitby o explica), para possuir toda a instituição divina, e para mostrar a sua disposição em estar de acordo com todos os preceitos da justiça de DEUS. Assim, Ele justifica a DEUS Pai, aprovando a sua sabedoria, ao enviar João para preparar o seu caminho, por meio do batismo do arrependimento. Desse modo, é digno estimularmos e incentivarmos tudo o que for bom, tanto por padrão como por preceito. CRISTO freqüentemente mencionou João e o seu batismo com honra; e o que é melhor, Ele mesmo foi batizado. Assim, JESUS começou primeiro a agir, e depois a ensinar; e os seus ministros devem seguir o mesmo método. Portanto, CRISTO cumpriu a justiça da lei cerimonial, que consistia de várias lavagens. Dessa forma, Ele recomendou, no Evangelho, a ordenança do batismo para a sua igreja, honrou este batismo, e mostrou que virtude Ele lhe destinava. Foi conveniente a CRISTO submeter-se à lavagem com água de João, porque isto era um mandamento divino; mas foi conveniente a Ele opor-se à lavagem com água dos fariseus, porque isto era uma invenção e imposição humanas; e Ele justificou os seus discípulos que se recusavam a realizá-la. Com a vontade de CRISTO, e a sua razão para isto, João ficou completamente satisfeito, e então ele fez o que devia. A mesma modéstia que o fez, a princípio, declinar da honra que CRISTO lhe oferecia, agora o levou a realizar o serviço que CRISTO lhe impunha. Observe que nenhuma desculpa de humildade deve fazer-nos recusar qualquer dever. II Com que solenidade o Céu se alegrou em honrar o batismo de CRISTO com uma exibição especial de glória (vv. 16,17). “Sendo JESUS batizado, saiu logo da água”. Os outros que eram batizados permaneciam para confessar os pecados (v. 6), mas CRISTO, não tendo nenhum pecado a confessar, saiu imediatamente da água; é isto o que lemos, mas não exatamente; pois é apo tou hydatos – da água, da margem do rio, ao qual ele desceu para lavar-se na água, isto é, para lavar a sua cabeça ou o seu rosto (Jo 13.9); pois não há menção de CRISTO tirando ou recolocando as suas roupas, o que não teria sido omitido, se Ele tivesse sido batizado nu. Ele se levantou imediatamente, como alguém que inicia o seu trabalho com a determinação e a alegria mais completas. Ele não podia perder tempo. Ele se endireitou e se levantou assim que o batismo foi realizado! Quando Ele estava saindo da água, e todo o grupo colocou os olhos sobre Ele: 1. Os céus se abriram sobre Ele, como para descobrir alguma coisa acima e além do firmamento estrelado, pelo menos para Ele. Isto aconteceu: (1) Para incentivá-lo a prosseguir em sua empreitada, com a perspectiva da glória e da alegria que se apresentava diante dele. O céu estará aberto para recebê-lo, quando Ele tiver concluído a obra que agora está começando. (2) Para nos incentivar a recebê-lo, e a nos sujeitar a Ele. Observe que em JESUS CRISTO, e por meio dele, os céus estão abertos para os filhos dos homens. O pecado trancou o céu, interrompeu todas as relações amistosas entre DEUS e o homem; mas agora CRISTO abriu o Reino dos céus a todos os crentes. A luz e o amor divinos são derramados sobre os filhos dos homens, e nós temos a ousadia de entrar no SANTO dos Santos. Nós temos recibos da misericórdia de DEUS, nós retribuímos com nosso dever a DEUS e tudo por meio de JESUS CRISTO, que é a escada que tem o pé na terra e o topo no céu. Somente através dele é que podemos ter um relacionamento confortável com DEUS, ou qualquer esperança de chegar, por fim, ao céu. Os céus se abriram quando CRISTO foi batizado, para nos ensinar que quando comparecemos, como devemos fazer, aos rituais de DEUS, nós podemos esperar a comunhão com Ele e a comunicação por parte dele. 2. Ele viu o ESPÍRITO de DEUS descendo como uma pomba e vindo sobre Ele, ou pousando sobre Ele. CRISTO viu (Mc 1.10) e João viu (Jo 1.33,34), e é provável que todos os presentes também tenham visto, pois esta devia ser a sua primeira manifestação pública. Observe: (1) Ele viu o ESPÍRITO de DEUS, que desceu e pousou sobre Ele. No início do mundo, o ESPÍRITO SANTO se movia sobre a face das águas (Gn 1.2), flutuando como uma ave sobre o ninho. Aqui, no começo deste novo mundo, CRISTO, como DEUS, não precisava receber o ESPÍRITO SANTO, mas tinha sido previsto que o ESPÍRITO do Senhor repousaria sobre Ele (Is 11.2; 61.1), e aconteceu isto aqui; pois: [1] Ele devia ser um Profeta, e os profetas sempre falavam pelo ESPÍRITO de DEUS, que descia sobre eles. CRISTO devia realizar a obra profética, não pela sua natureza divina (diz o Dr. Whitby), mas pela inspiração do ESPÍRITO SANTO. [2] Ele devia ser a Cabeça da igreja; e o ESPÍRITO desceu sobre Ele, para ser, por seu intermédio, transmitido a todos os crentes, com os seus dons, as suas graças, e o seu consolo. A unção sobre a cabeça desceu até às bordas das vestes; CRISTO recebeu dons para os homens, para que Ele os pudesse dar aos homens. (2) O ESPÍRITO desceu sobre Ele como uma pomba; se esta era uma pomba real, e viva, ou, como era normal em visões, a representação ou a semelhança de uma pomba, não se sabe. Se é necessária uma forma corpórea (Lc 3.22), não poderia ser a de um homem, pois o ser visto como homem era peculiar à Segunda Pessoa: nenhuma forma, portanto, era mais adequada do que a forma de uma das aves do céu (que agora estava aberto), e entre todas as aves, nenhuma era tão significativa quanto a pomba. [1] O ESPÍRITO de CRISTO é um ESPÍRITO que pode ser tipificado por uma pomba; não como uma pomba enganada, sem entendimento (Os 7.11), mas como uma pomba inocente, sem amargura e sem ódio. O ESPÍRITO desceu, não sob a forma de uma águia, que, embora seja uma ave real, é uma ave predatória, mas sob a forma de uma pomba, que é a mais inofensiva das criaturas. Assim é o ESPÍRITO de CRISTO: Ele não luta nem grita; assim os cristãos devem ser, inofensivos como pombas. A pomba é notável por seus olhos; nós descobrimos que tanto os olhos de CRISTO (Ct 5.12) como os olhos da igreja (Ct 1.15; 4.1) são comparados aos olhos das pombas, pois têm o mesmo espírito. A pomba geme muito (Is 38.14). CRISTO chorava; e as almas penitentes são comparadas às pombas dos vales. [2] A pomba era a única ave que era oferecida em sacrifício (Lv 1.14), e CRISTO, pelo ESPÍRITO, o ESPÍRITO eterno, se ofereceu, imaculado, a DEUS. [3] As notícias do fim do dilúvio de Noé foram trazidas por uma pomba, que tinha um ramo de oliveira no bico; na ocasião adequada, portanto, as alegres notícias da paz feita com DEUS são trazidas pelo ESPÍRITO, como uma pomba. Isto fala da boa vontade de DEUS em relação aos homens; que os seus pensamentos sobre nós são pensamentos de bem, e não de mal. Através da expressão: “a voz da rola ouve-se em nossa terra” (Ct 2.12), a paráfrase em aramaico dá a entender que esta é a voz do ESPÍRITO SANTO. O fato de que DEUS está em CRISTO, reconciliando consigo o mundo, é uma mensagem de alegria, que chega até nós sobre as asas de uma pomba. 3. Para explicar e completar esta solenidade, veio uma voz do céu, que, temos razões para pensar, foi ouvida por todos os que estavam presentes. O ESPÍRITO SANTO se manifestou à semelhança de uma pomba, mas DEUS, o Pai, por uma voz; pois quando a lei foi entregue, não se viu semelhança, somente se ouviu uma voz (Dt 4.12). E este Evangelho veio assim, e realmente é um Evangelho, a melhor boa-nova que já veio do céu à terra; pois ela fala clara e plenamente sobre a graça de DEUS para com CRISTO, e também para conosco nele. (1) Veja como o nosso Senhor JESUS pertence a DEUS: “Este é o meu Filho amado”. Observe: [1] A relação que Eles tinham; Ele é o meu Filho. JESUS CRISTO é o Filho de DEUS, por geração eterna, como foi gerado do Pai antes de toda a criação, ou seja, “dos mundos” (Cl 1.15; Hb 1.3), e por concepção sobrenatural; portanto, Ele foi chamado de Filho de DEUS, porque foi concebido pelo poder do ESPÍRITO SANTO (Lc 1.35). Mas isto não é tudo. Ele é o Filho de DEUS por designação especial para o trabalho de Redentor do mundo. Ele foi santificado, selado, e enviado a esta missão, e sempre esteve de pleno acordo com o Pai para o desempenho dela (Pv 8.30), indicado para ela. “Lhe darei o lugar de primogênito” (Sl 89.27). [2] O afeto que o Pai sentia por Ele: “Este é o meu Filho amado”; o seu Filho amado, o Filho do seu amor (Cl 1.13). Ele tinha estado no seu seio por toda a eternidade (Jo 1.18), sempre tinha sido a sua alegria (Pv 8.30), mas particularmente como mediador, e ao assumir a obra da salvação do homem, Ele era o seu Filho amado. “Ele é o meu Eleito, em quem se compraz a minha alma” (veja Is 42.1). Por ter consentido no concerto da redenção, e se alegrado por realizar esta vontade de DEUS, o Pai o amou (Jo 10.17; 3.35). Observem, então, observem e maravilhem-se, que tipo de amor o Pai nos concedeu, para nos entregar aquele que era o Filho do seu amor para sofrer e morrer por aqueles que eram a geração da sua ira; portanto, DEUS Pai o amou, porque Ele deu a sua vida pelas ovelhas! Agora nós sabemos que DEUS Pai nos amou, porque Ele não poupou o seu próprio Filho, o seu único Filho, o Isaque que Ele amava, mas, ao invés disso, o entregou para ser um sacrifício pelos nossos pecados. (2) Veja aqui como Ele está disposto a nos tornar pertencentes a Ele, em CRISTO: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Ele se compraz com todos os que estão nele, e estão unidos a Ele pela fé. Até agora, DEUS tinha estado descontente com os filhos dos homens, mas agora a sua ira foi afastada e Ele nos fez agradáveis a si no Amado (Ef 1.6). Que todo o mundo saiba que este é o Pacificador, o Ancião de dias, que colocou a sua mão sobre nós, e que não há como ir a DEUS Pai senão por Ele, como Mediador (Jo 14.6). Nele, nossos sacrifícios espirituais são aceitáveis, pois é dele o altar que santifica todas as ofertas (1 Pe 2.5). Sem CRISTO, DEUS é um fogo consumidor; mas, em CRISTO, Ele é um Pai reconciliado. Este é o resumo de todo o Evangelho; é uma mensagem fiel e merecedora de toda a aceitação, a de que DEUS declarou, por meio de uma voz do céu, que JESUS CRISTO é o seu Filho amado, em quem Ele se compraz, com o que nós devemos, pela fé, alegremente estar de acordo e dizer que Ele é o nosso amado Salvador, em quem nos comprazemos. OBSERVAÇÃO SOBRE GENEALOGIA - Pr. Henrique POR QUE DIFERENTES GENEALOGIAS ENTRE MATEUS E LUCAS?
Porque Lucas mostra a humanidade de JESUS e Mateus sua Realeza (na de Mateus é demonstrada a descendência de JESUS do rei Davi por causa de José que era da casa real)
Lucas coloca mais nomes de descendentes humildes e às vezes sem expressividade em sua genealogia para mostrar a humildade e humanidade de JESUS.
A intenção de Lucas é mostrar JESUS se fazendo homem para salvar a todos os descendentes de Adão. Por isso a genealogia de Lucas vai até Adão.
Já Mateus está interessado em provar que JESUS é rei e mostra JESUS descendente dos reis até Davi porque é filho de José, da casa de Davi. Entre tantos outros descendentes de Davi, José é mais um que poderia se candidatar ao trono. Assim JESUS nasce em Belém, tribo de Judá. Também é filho legalmente de José da casa de Davi.
Cuidado com fábulas artificialmente compostas (2 Pedro 1:16) de que na genealogia de Lucas está registrada a genealogia de Maria e que Eli ou Heli é pai de Maria. Não existe nenhuma comprovação bíblica disso. A genealogia é de JESUS e as mulheres não influenciavam as genealogias. Apenas são citadas como esposas de alguém que faz parte da genealogia de JESUS. A única família de Maria encontrada na Bíblia é a de Isabel, sua prima, descendente de Arão, da tribo de Levi. Lucas 1:5 Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel. Lucas 1:36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; SE MULHER INFLUENCIASSE GENEALOGIA DAVI SERIA APENAS UM ZERO A ESQUERDA.
Davi é descendente de Raabe,a prostituta e de Rute, a Moabita (descendente de um incesto das filhas de Ló com ele) E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé; Mateus 1:5. ISSO NOS MOSTRA CLARAMENTE QUE MULHER NÃO INFLUENCIA NA GENEALOGIA. JESUS SÓ É RECONHECIDO COMO DA CASA DE DAVI POR CAUSA DE JOSÉ, QUE É DA CASA DE DAVI. E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi), Lucas 2:4
José tinha uma profissão que o mantinha dentro da classe média e não da pobre. Quando se ocupou com a ida a Belém, nascimento de JESUS, ida a Jerusalém para apresentação do menino JESUS e depois fuga para o Egito, ai sim, sem trabalhar, teve dificuldades financeiras, embora no Egito tivesse produtos ganhados no nascimento de JESUS com os quais podia sustentar sua família. JESUS - (W. W. Wiersbe Expositivo) - O Nascimento do Rei - Mateus 1 ; 2 Se um homem aparece de repente dizendo ser rei, a primeira coisa que as pessoas querem ver são as provas. De onde vem? Quem são seus súditos? Quais são suas credenciais? Prevendo essas perguntas importantes, Mateus começa seu livro com um relato detalhado do nascimento de lesus CRISTO e dos acontecimentos subseqüentes. Ele apresenta quatro fatos sobre o Rei. 1. A linhagem do Rei (Mt 1:1-25) Uma vez que a realeza depende da linhagem, era importante determinar o direito de JESUS ao trono de Davi. Mateus apresenta a linhagem humana de JESUS (Mt 1:1-17) bem como a divina (Mt 1:18-25). A linhagem humana (w. 1-17). Os judeus davam grande importância às genealogias, pois, sem elas, não podiam provar que faziam parte de determinada tribo nem quem possuía direito de herança. Qualquer um que afirmasse ser "filho de Davi" deveria ser capaz de provar tal asserção. Costuma-se concluir que Mateus apresenta a genealogia de JESUS pelo seu padrasto, José, enquanto Lucas fornece a linhagem de Maria (Lc 3:23ss). Muitos leitores pulam essa lista de nomes antigos (e, em alguns casos, impronunciáveis). Mas essa "lista de nome" é essencial para o registro do Evangelho, pois mostra que JESUS CRISTO faz parte da história. Mostra também que toda a história de Israel preparou o cenário para seu nascimento. Em sua providência, DEUS governou e prevaleceu sobre os acontecimentos históricos, a fim de realizar seu grande propósito de trazer seu Filho ao mundo. Essa genealogia também ilustra a maravilhosa graça de DEUS. É muito raro encontrar nomes de mulheres em genealogias judaicas, pois os nomes e heranças eram passados para os homens. No entanto, encontramos nessa lista referências a quatro mulheres do Antigo Testamento: Tamar (Mt 1:3), Raabe e Rute (Mt 1:5), e Bate-Seba, "a que fora mulher de Urias" (Mt 1:6). Fica claro que Mateus deixa alguns nomes de fora dessa genealogia. É provável que tenha feito isso a fim de apresentar um sumário sistemático de três períodos na história de Israel, cada um com catorze gerações. O valor numérico das letras em hebraico para "Davi" é igual a catorze. Talvez Mateus tenha usado essa abordagem a fim de ajudar seus leitores a memorizar essa lista complicada. Muitos judeus eram descendentes do rei Davi. Seria preciso mais do que um certificado de linhagem para provar que JESUS CRISTO era "filho de Davi" e herdeiro do trono de Davi. Daí a grande importância de sua linhagem divina. A linhagem divina (w. 18-25). Mateus 1:16 , 18 deixam claro que o nascimento de JESUS CRISTO foi diferente daquele de qualquer outro menino judeu mencionado na genealogia. Mateus ressalta que José não "gerou" JESUS CRISTO. Antes, José foi "marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama o CRISTO". JESUS nasceu de uma mãe terrena, sem a necessidade de um pai terreno. Esse fato é chamado de doutrina do nascimento virginal. Cada criança que nasce é uma criatura totalmente nova. Mas JESUS CRISTO, sendo o DEUS eterno (Jo 1:1, 14), existia antes de Maria, de José ou de qualquer outro de seus antepassados. Se JESUS CRISTO tivesse sido concebido da mesma forma que qualquer outra criança, não poderia ser DEUS. Era necessário que viesse ao mundo por meio de uma mãe terrena, mas sem ser gerado por um pai terreno. Assim, por um milagre do ESPÍRITO SANTO, JESUS foi concebido no ventre de Maria, uma virgem (Lc 1:26-38). Há quem questione se, de fato, Maria era virgem, dizendo que "virgem", em Mateus 1:23, deve ser traduzido por "moça". Porém, a palavra traduzida por virgem nesse versículo tem sempre esse significado e não permite qualquer outra tradução, nem mesmo "moça". Tanto Maria quanto José pertenciam à casa de Davi. As profecias do Antigo Testamento afirmavam que o Messias nasceria de uma mulher (Gn 3:15), da descendência de Abraão (Gn 22:18), pela tribo de Judá (Gn 49:10) e da família de Davi (2 Sm 7:12, 13). A genealogia de Mateus acompanha a linhagem através de Salomão, enquanto Lucas acompanha sua linhagem através de Natã, outro filho de Davi. É interessante observar que JESUS CRISTO é o único judeu vivo que pode provar seu direito ao trono de Davi! Todos os outros registros foram destruídos quando os Romanos tomaram Jerusalém em 70 d.C. Para o povo judeu daquela época, o noivado equivalia ao casamento - exceto pelo fato de que o homem e a mulher não coabitavam. Os noivos eram chamados de "marido e esposa", e, ao fim do período de noivado, o casamento era consumado. Se uma mulher que estava noiva ficava grávida, isso era considerado adultério (ver Dt 22:13-21). Porém, José não pediu nenhuma punição nem o divórcio quando descobriu que Maria estava grávida, pois o Senhor havia lhe revelado a verdade. Todas essas coisas cumpriram Isaías 7:14. Antes de terminar nosso estudo desta seção importante, devemos considerar três nomes dados ao Filho de DEUS. O nome JESUS significa "Salvador" e vem do hebraico Josué ("Jeová é salvação"). Havia muitos meninos judeus chamados Josué (ou, no grego, JESUS), mas o filho de Maria chamava-se "JESUS o CRISTO". O termo CRISTO quer dizer "ungido" e é o equivalente grego da designação Messias. Ele é "JESUS o Messias". JESUS é o seu nome humano; CRISTO (Messias) é o seu título oficial; e Emanuel descreve quem ele é - "DEUS conosco". JESUS CRISTO é DEUS! Encontramos a designação "Emanuel" em Isaías 7:14 ; 8:8. Assim, o Rei era um homem judeu e também o Filho de DEUS. Mas será que alguém reconheceu sua realeza? Sim, os magos que vieram do Oriente e o adoraram. 2. A reverência ao Rei (Mt 2:1-12) Devemos reconhecer que sabemos muito pouco sobre esses homens. A palavra traduzida por "magos" refere-se a eruditos que estudavam as estrelas. O título dá a impressão de que eram mágicos, mas é provável que fossem apenas astrólogos. No entanto, sua presença no relato bíblico não deve ser interpretada como corroboração divina para a prática da astrologia. DEUS lhes deu um sinal especial, uma estrela miraculosa que anunciou o nascimento do Rei. A estrela guiou-os a Jerusalém; lá, os profetas de DEUS lhes disseram que o Rei nasceria em Belém. Assim, os magos foram a Belém e, quando chegaram lá, adoraram o menino JESUS. Não sabemos quantos magos havia. Por causa dos três presentes relacionados em Mateus 2:11, costuma-se supor que os magos também eram três, mas não sabemos ao certo. De qualquer modo, quando a caravana chegou a Jerusalém, trouxe consigo gente suficiente para causar tumulto em toda a cidade. E preciso lembrar que esses homens eram gentios. Desde o começo, JESUS veio para ser "o Salvador do mundo" (Jo 4:42). Além de ricos, esses homens eram estudiosos -poderiam ser considerados os cientistas da época. Nenhuma pessoa culta que siga a luz que DEUS lhe mostra pode deixar de adorar aos pés de JESUS. Em CRISTO, "todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos" (Cl 2:3). Nele habita "corporalmente, toda a plenitude da Divindade" (Cl 2:9). Os magos estavam à procura do Rei, mas Herodes temia esse Rei e desejava destruí-lo. Trata-se, aqui, de Herodes, o Grande, chamado de rei pelo senado romano por causa da influência de Marco Antônio. Herodes era um homem cruel e astucioso que não permitia a ninguém, nem mesmo aos membros da própria família, qualquer interferência em seu governo nem que se impedisse a satisfação de seus desejos perversos. Assassino implacável, ordenou a morte da própria esposa e dos dois irmãos dela por suspeitar de traição. Casou-se pelo menos nove vezes, a fim de satisfazer sua luxúria e de fortalecer alianças políticas. Não é de se admirar que Herodes tenha tentado matar JESUS. Afinal, desejava ser o único a usar o título de "Rei dos Judeus". No entanto, havia outra razão para desejar se ver livre de JESUS. Herodes não era judeu puro, mas idumeu, descendente de Esaú. Vemos aqui um retrato do conflito antiqüís-simo entre Esaú e Jacó, que teve início antes mesmo de os meninos nascerem (Gn 25:19-34). É o espiritual contra o carnal, o piedoso contra o impiedoso. Os magos procuravam o Rei; Herodes opunha-se a ele e os sacerdotes judeus o ignoravam. Os sacerdotes conheciam as Escrituras e mostravam o Salvador a outros, mas eles mesmos se recusaram a adorá-lo! Citaram Miquéias 5:2, mas não obedeceram à Palavra. Estavam a menos de 10 quilômetros do Filho de DEUS e, no entanto, não foram vê-lo! Os gentios o buscaram e encontraram, mas os judeus não. De acordo com Mateus 2:9, a estrela que guiava os magos não ficava sempre visível. Dirigindo-se a Belém, eles a viram novamente, e ela os conduziu à casa onde JESUS estava. A essa altura, José e Maria haviam saído do local temporário onde JESUS havia nascido (Lc 2:7). Os presépios tradicionais que reúnem pastores e sábios não são fiéis às Escrituras, pois os magos chegaram bem depois. Mateus cita outra profecia que se cumpriu para provar que JESUS CRISTO é o Rei (Mt 2:5). Sua maneira de nascer cumpriu uma profecia, e o lugar onde nasceu cumpriu outra. Belém significa "casa do pão" e foi onde o "pão da vida" veio ao mundo (Jo 6:48ss). No Antigo Testamento, Belém é associada a Davi, um tipo de JESUS CRISTO em seu sofrimento e glória. 3. A HOSTILIDADE CONTRA O REI (Mt 2:13-18) Identifica-se alguém não apenas por seus amigos, mas também por seus inimigos. Herodes fingia querer adorar o Rei recém-nascido (Mt 2:8), quando na verdade queria matá-lo. DEUS mandou a José pegar a criança e Maria e fugir para o Egito, pois era perto e havia muitos judeus naquela região. Os tesouros recebidos dos magos seriam mais do que suficientes para pagar as despesas da viagem e de estadia nessa terra estrangeira. Além do mais, havia outra profecia a ser cumprida, Oséias 11:1: "do Egito chamei o meu filho". A fúria de Herodes mostra seu orgulho; não permitiría que ninguém o enganasse, especialmente um bando de estudiosos gentios! Assim, decretou a morte de todos os meninos com até 2 anos de idade que ainda permaneciam em Belém. Não devemos imaginar aqui centenas de garotinhos sendo mortos, pois não havia tantos meninos dessa idade em Belém naquela época. Mesmo hoje, a população em Belém é de cerca de vinte mil habitantes. É bem provável que não tenha havido mais de vinte execuções. Mas é claro que uma só morte já teria sido demais! Mateus introduz aqui o tema da hostilidade, do qual trata ao longo de todo o livro. Satanás é mentiroso e assassino (Jo 8:44), e o rei Herodes não era diferente. Mentiu para os magos e mandou matar os meninos. Mas, até mesmo esse crime hediondo foi o cumprimento da profecia em Jeremias 31:15. A fim de entendermos esse cumprimento, convém fazer uma recapitulação da história judaica. Belém é mencionada pela primeira vez nas Escrituras com referência à morte de Raquel, a esposa predileta de Jacó (Gn 35:16-20). Raquel morreu ao dar à luz um filho ao qual chamou Benoni, que significa "filho do meu sofrimento". Jacó mudou o nome do menino para Benjamim, "filho da minha destra". Os dois nomes são relacionados a JESUS CRISTO, pois ele foi um "homem de dores e que sabe o que é padecer" (Is 53:3), e agora é o Filho de DEUS, sentado a sua destra (Atos 5:31; Hb 1:3). Jacó levantou uma coluna para marcar o lugar da sepultura de Raquel nas cercanias de Belém. A profecia de Jeremias foi proferida cerca de seiscentos anos antes do nascimento de CRISTO, no contexto da captura de Jerusalém em cativeiro. Alguns dos cativos foram levados a Ramá, em Benjamim, perto de Jerusalém, episódio que lembrou Jeremias do sofrimento de Jacó quando Raquel morreu. No entanto, na passagem de Jeremias é Raquel quem chora, representando as mães de Israel chorando ao ver seus filhos sendo levados para o cativeiro. Era como se Raquel dissesse: "Entreguei minha vida para dar à luz um filho, e agora seus descendentes estão sendo destruídos". Jacó viu Belém como um lugar de morte, mas o nascimento de JESUS transformou-o num lugar de vida! A vinda do Messias traria libertação espiritual a Israel e, no futuro, o estabelecimento do trono e do reino de Davi. Um dia, Israel - "o filho do meu sofrimento" - seria chamado de "o filho da minha destra". Jeremias deu à nação a promessa de que seriam restaurados a sua terra (Jr 31:16, 17), e a promessa foi cumprida. Porém, prometeu-lhes algo ainda maior: algum dia, a nação seria reunida e o reino seria estabelecido (Jr 31:27ss). Essa profecia também se cumprirá. Hoje em dia, poucos identificam Belém como um lugar de sepultamento. Para muitos, é o lugar onde JESUS CRISTO nasceu. Por ter morrido por nós e ter ressuscitado, temos um futuro promissor. Viveremos com ele para sempre na cidade gloriosa, onde não haverá mais morte nem lágrimas. 4. A humildade do Rei (Mt 2:19-23) Herodes morreu em 4 a.C., o que significa que JESUS nasceu entre os anos 6 e 5 a.C. É impossível não ver o paralelo entre Mateus 2:20 e Êxodo 4:19, o chamado de Moisés. Como Filho de DEUS, JESUS estava no Egito e foi chamado para ir para Israel. Moisés estava fora do Egito, escondendo-se para não ser morto, e foi chamado para voltar ao Egito. Mas os dois faziam parte do plano de DEUS para a redenção da humanidade. José e sua família precisaram de coragem para deixar o Egito, a mesma coragem que Moisés precisou ter ao voltar para o Egito. Arquelau era um dos filhos de Herodes, escolhido pelo pai para ser seu sucessor. No entanto, os judeus descobriram que, apesar de suas promessas de bondade, Arquelau era tão perverso quanto o pai. Assim, os judeus enviaram uma delegação a Roma para protestar contra sua coroação. César Augusto concordou com os judeus e o rebaixou a etnarca, com autoridade somente sobre metade do reino de seu pai (talvez, JESUS estivesse pensando nesse fato histórico quando contou a parábola das dez minas em Lc 19:11-27). Esse episódio todo é um bom exemplo de como DEUS conduz seus filhos. José sabia que, sob o governo de Arquelau, ele e sua família não estariam mais seguros do que estavam sob o governo de Herodes, o Grande. É provável que estivessem indo para Belém quando descobriram que Arquelau estava no trono. Sem dúvida, José e Maria oraram, esperaram e buscaram a vontade de DEUS. O bom senso lhes recomendou cautela, e a fé pediu que esperassem. No tempo apropriado, DEUS falou a José em sonho, depois do qual ele levou sua família para Nazaré, onde haviam vivido antes (Mt 2:19, 20). Até essa mudança cumpriu uma profecia! Mais uma vez, Mateus ressalta que cada detalhe da vida de JESUS foi profetizado nas Escrituras. É importante observar que Mateus não se refere a um único profeta em Mateus 2:23; antes afirma que tudo ocorreu "para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas" (plural). JESUS não é chamado de "nazareno" em nenhuma profecia específica. O termo nazareno costumava ser usado em tom de reprovação: "De Nazaré pode sair alguma coisa boa?" (Jo 1:46). Várias profecias do Antigo Testamento mencionam a rejeição do Messias em sua infância, e talvez seja a elas que Mateus esteja se referindo (ver Sl 22; Is 53:2, 3, 8). O termo "nazareno" passou a ser usado tanto para JESUS quanto para seus seguidores (At 24:5). Em diversas ocasiões, o Mestre é chamado de "JESUS de Nazaré" (Mt 21:11; Mac 14:67; Jo 18:5, 7). No entanto, é possível que, guiado pelo ESPÍRITO, Mateus tenha observado uma ligação espiritual entre o nome "nazareno" e a palavra hebraica netzer, que significa "um ramo ou renovo". Vários profetas deram esse título a JESUS (ver Is 4:2; 11:1; Jr 23:5; 33:15; Zc 3:8; 6:12, 13). JESUS cresceu em Nazaré e foi associado a essa cidade. De fato, seus inimigos pensavam que ele havia nascido lá, pois diziam que ele era da Caliléia (Jo 7:50-52). Uma pesquisa dos registros do templo te-ria lhes revelado que ele havia nascido em Belém. Onde já se viu um rei nascer num vilarejo e crescer numa cidade desprezada? A humildade do Rei é, sem dúvida alguma, digna de nossa admiração e um exemplo a ser seguido (Fp 2:1-13). As Credenciais do Rei Mateus 3; 4 Entre os capítulos 2 e 3 de Mateus, passaram-se cerca de trinta anos, durante os quais JESUS viveu em Nazaré e trabalhou como carpinteiro (Mt 13:55; Mac 6:3). Chegou, enfim, o dia de começar o ministério público que culminaria na cruz. Suas qualificações para ser Rei ainda eram válidas? Havia ocorrido algo nesse tempo que pudesse desqualificá-lo? Nos capítulos 2 e 3, Mateus reúne os depoimentos de cinco testemunhas quanto à pessoa de JESUS CRISTO, afirmando que ele é o Filho de DEUS e o Rei. 1. João Batista (Mt 3:1-15) A nação havia passado mais de quatrocentos anos sem ouvir a voz de um profeta. Então, aparece João, iniciando um grande reavivamento. Consideremos quatro fatos sobre João Batista. Sua mensagem (w. 1, 2, 7-10). A pregação de João concentrava-se no arrependimento e no reino dos céus. A palavra arrepender significa "mudar a forma de pensar e agir de acordo com essa mudança". João não se contentava com remorso ou pesar. Desejava ver "frutos dignos de arrependimento" (Mt 3:8). Era preciso provas de que a vida e a forma de pensar do indivíduo haviam sido transformadas. Gente de todo tipo ia ouvir João pregar e vê-lo realizar os batismos. Muitos publica-nos e pecadores o procuraram com sincera humildade (Mt 21:31, 32), mas os líderes religiosos recusaram sujeitar-se a sua pregação. Consideravam-se bons o bastante para agradar a DEUS. No entanto, João os chamava de "raça de víboras". JESUS usou a mesma linguagem ao tratar dessa gente que se julgava tão virtuosa (Mt 12:34; 23:33; Jo 8:44). Os fariseus eram os tradicionalistas de seu tempo, enquanto os saduceus eram mais liberais (ver Act 23:6-9). Os saduceus abastados controlavam os "negócios do templo", o comércio que JESUS removeu daquele lugar de oração. Os fariseus e saduceus disputavam entre si o controle de Israel, mas uniram forças para se oporem a JESUS CRISTO. João proclamava uma mensagem de julgamento. Israel havia pecado e precisava arrepender-se, e cabia aos líderes religiosos dar o exemplo ao restante do povo. O machado estava posto à raiz da árvore, e se esta (Israel) não desse bons frutos, seria cortada (ver Lc 13:6-10). Se a nação se arrependesse, o caminho estaria preparado para a vinda do Messias. Sua autoridade (w. 3, 4). João cumpriu a profecia dada em Isaías 40:3. Em termos espirituais, João foi o "espírito e poder de Elias" (Lc 1:16,17). Até se vestia como Elias e pregava a mesma mensagem de julgamento (2 Rs 1:8). João foi o último dos profetas do Antigo Testamento (Lc 16:16) e o maior de todos (Mt 11:7-15; ver 17:9-13). Seu batismo (w. 5, 6, 11, 12). Os judeus batizavam gentios convertidos, mas João estava batizando judeus! O batismo não era algo que João havia inventado ou tomado emprestado de alguma outra religião, antes, era realizado com autoridade do céu (Mt 21:23-27). Era um batismo de arrependimento, que antevia a chegada do Messias (At 19:1-7) e que cumpriu dois propósitos: preparou a nação para CRISTO e apresentou CRISTO à nação (Jo 1:31). Mas João mencionou outros dois batismos: um batismo do ESPÍRITO e um batismo de fogo (Mt 3:11). O batismo do ESPÍRITO veio em Pentecostes (At 1:5; observar também que JESUS não fala nada sobre fogo). Hoje, sempre que um pecador crê em CRISTO, é nascido de novo e batizado no mesmo instante pelo ESPÍRITO SANTO, passando a fazer parte do corpo de CRISTO, a Igreja (1 Co 12:12, 13). O batismo de fogo, por outro lado, refere-se ao julgamento futuro, como Mateus explica (Mt 3:12). Sua obediência (w. 13-15). JESUS não foi batizado por ser um pecador arrependido. Até mesmo João tentou detê-lo, mas JESUS sabia que essa era a vontade do Pai. Por que JESUS foi batizado? Em primeiro lugar, seu batismo foi uma forma de aprovar o ministério de João. Em segundo lugar, mediante o batismo, CRISTO identificou-se com os publi-canos e pecadores, as pessoas que veio salvar. Mas, acima de tudo, foi um retrato do futuro batismo na cruz (Mt 20:22; Lc 12:50) no qual seria coberto por todas as "ondas e vagas" do julgamento de DEUS (Sl 42:7; Jn 2:3). Assim, João Batista testemunhou que JESUS CRISTO é o Filho de DEUS e, também, o Cordeiro de DEUS (Jo 1:29), e seu testemunho levou muitos pecadores a crer em JESUS CRISTO (Jo 10:39-42). 2. O ESPÍRITO SANTO (Mt 3:16) A vinda do ESPÍRITO SANTO em forma de pomba foi um modo de identificar JESUS para João (Jo 1:31-34); também serviu para garantir a JESUS, naquele momento em que iniciava seu ministério, que o ESPÍRITO estaria sempre com ele (Jo 3:34). A pomba é um símbolo muito bonito do ESPÍRITO de DEUS em sua pureza e seu ministério de paz. Essa ave aparece nas Escrituras pela primeira vez em Gênesis 8:6-11. Noé soltou dois pássaros, um corvo e uma pomba, mas apenas a pomba voltou. O corvo representa a carne, e não teve dificuldade em encontrar alimento fora da arca. Mas a pomba não se contaminaria com carcaças e, portanto, voltou para a arca. Da segunda vez que foi solta, a pomba voltou trazendo no bico o ramo de uma oliveira, um símbolo da paz. Da terceira vez que foi solta, não voltou. Podemos ver mais um significado nessa imagem. O nome Jonas significa "pomba", e ele também passou por um batismo! JESUS usou Jonas como um tipo do próprio Messias em sua morte, sepultamento e ressurreição (Mt 12:38-40). Jonas foi enviado aos gentios, e JESUS também ministraria aos gentios. 3. O Pai (Mt 3:17) O Pai falou dos céus em três ocasiões especiais: no batismo de CRISTO, na transfiguração (Mt 1 7:3) e pouco antes de CRISTO ser crucificado (Jo 12:27-30). Naquele tempo, DEUS falou a seu Filho; hoje, ele fala por meio de seu Filho (Hb 1:1, 2). A declaração do Pai vinda do céu parece repetir o Salmo 2:7: "Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei". De acordo com Atos 13:33, esse ato de "gerar" refere-se à ressurreição de CRISTO dentre os mortos, não a seu nascimento em Belém. Essa declaração encaixa-se perfeitamente com a experiência de batismo de JESUS em sua morte, sepultamento e ressurreição. Mas a declaração do Pai também associa JESUS CRISTO com o "Servo Sofredor" profetizado em Isaías 40.1-53.12. Em Mateus 12:18, Mateus cita Isaías 42:1-3, em que o Servo Messias é chamado de "meu escolhido, em quem a minha alma se compraz". O Servo descrito em Isaías é humilde, rejeitado, destinado a sofrer e morrer, mas é retratado como aquele que virá em vitória. Apesar de ser possível detectar uma imagem vaga de Israel como nação em alguns desses "cânticos do servo", a revelação mais clara dessas passagens diz respeito ao Messias, JESUS CRISTO. Mais uma vez, vemos a associação com CRISTO em sua morte, sepultamento e ressurreição. Por fim, a declaração do Pai deixou patente sua aprovação de tudo o que JESUS havia feito até aquele momento. Os anos que JESUS passou "escondido" em Nazaré alegraram muito o Pai. Sem dúvida, esse elogio foi um grande estímulo para o Filho ao começar seu ministério. OBSERVAÇÃO SOBRE GENEALOGIA - Pr. Henrique POR QUE DIFERENTES GENEALOGIAS ENTRE MATEUS E LUCAS?
Porque Lucas mostra a humanidade de JESUS e Mateus sua Realeza (na de Mateus é demonstrada a descendência de JESUS do rei Davi por causa de José que era da casa real)
Lucas coloca mais nomes de descendentes humildes e às vezes sem expressividade em sua genealogia para mostrar a humildade e humanidade de JESUS.
A intenção de Lucas é mostrar JESUS se fazendo homem para salvar a todos os descendentes de Adão. Por isso a genealogia de Lucas vai até Adão.
Já Mateus está interessado em provar que JESUS é rei e mostra JESUS descendente dos reis até Davi porque é filho de José, da casa de Davi. Entre tantos outros descendentes de Davi, José é mais um que poderia se candidatar ao trono. Assim JESUS nasce em Belém, tribo de Judá. Também é filho legalmente de José da casa de Davi.
Cuidado com fábulas artificialmente compostas (2 Pedro 1:16) de que na genealogia de Lucas está registrada a genealogia de Maria e que Eli ou Heli é pai de Maria. Não existe nenhuma comprovação bíblica disso. A genealogia é de JESUS e as mulheres não influenciavam as genealogias. Apenas são citadas como esposas de alguém que faz parte da genealogia de JESUS. A única família de Maria encontrada na Bíblia é a de Isabel, sua prima, descendente de Arão, da tribo de Levi. Lucas 1:5 Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel. Lucas 1:36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; SE MULHER INFLUENCIASSE GENEALOGIA DAVI SERIA APENAS UM ZERO A ESQUERDA.
Davi é descendente de Raabe,a prostituta e de Rute, a Moabita (descendente de um incesto das filhas de Ló com ele) E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé; Mateus 1:5. ISSO NOS MOSTRA CLARAMENTE QUE MULHER NÃO INFLUENCIA NA GENEALOGIA. JESUS SÓ É RECONHECIDO COMO DA CASA DE DAVI POR CAUSA DE JOSÉ, QUE É DA CASA DE DAVI. E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi), Lucas 2:4
José tinha uma profissão que o mantinha dentro da classe média e não da pobre. Quando se ocupou com a ida a Belém, nascimento de JESUS, ida a Jerusalém para apresentação do menino JESUS e depois fuga para o Egito, ai sim, sem trabalhar, teve dificuldades financeiras, embora no Egito tivesse produtos ganhados no nascimento de JESUS com os quais podia sustentar sua família. JESUS - Carson, D.A. O comentário de Mateus / D.A. Carson ; tradução Lena Aranha & Regina Aranha. — São Paulo : Shedd Publicações, 2010.
O nascimento de JESUS (1.18-25) 18 Foi assim o nascimento de JESUS CRISTO: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo ESPÍRITO SANTO. ,9 Por ser José, seu marido, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente. 20 Mas, depois de ter pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e disse: “José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do ESPÍRITO SANTO. 21 Ela dará á luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de JESUS, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”. 22 Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta-.23 “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel”, que significa “DEUS conosco”. 24 Ao acordar, José fez o que o anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu Maria como sua esposa. 25 Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele lhe pôs o nome de JESUS. Dois assuntos pedem um breve comentário: a historicidade do nascimento virginal (mais apropriadamente, da concepção virginal) e a ênfase teológica em torno desse tema em Mateus 1—2 e sua relação com o Novo Testamento. Primeiro, a historicidade do nascimento virginal é questionada por muitos motivos. 1. Os relatos de Mateus e de Lucas são aparentemente independentes e muitíssimo divergentes. Isso argumenta por forças criativas da igreja compondo todos os relatos, ou parte deles, a fim de explicar a pessoa de JESUS. Mas há muito tempo os relatos mostraram ser compatíveis (Machen), até mesmo mutuamente complementares. Além disso, nesse ponto, a independência literária, de M ateus e de Lucas não exige a con clu são d e que os dois evangelistas ignoravam o conteúdo um do outro. Contudo, se desconhecessem, as diferenças deles sugerem para alguns a força da mútua compatibilidade sem que houvesse conivência entre eles. Mateus foca larga- Mateus 1.18-25 96 mente em José, e Lucas, em Maria. R. E. Brown (Birth ofM essiah [N ascimento do Messias], p. 35) não aceita isso porque acha inconcebível que José possa ter contado sua história sem mencionar a Anunciação nem que Maria possa ter relatado sua história sem mencionar a fuga para o Egito. Isso é bem verdadeiro, embora não se deva concluir que os evangelistas estivessem obrigados a mencionar tudo que sabiam. É difícil imaginar como a Anunciação se encaixaria bem com os temas de Mateus. Além disso, já comentamos que Mateus estava preparado para omitir coisas que sabia a fim de apresentar seus temas escolhidos de forma coerente e concisa. 2. Alguns apenas ignoram o sobrenatural. Goulder (p. 33) diz que Mateus compôs os relatos; Schweizer (.M atthew [Mateus]) contrasta o mundo da Antiguidade no qual (supostamente) o nascimento virginal era uma noção aceita com as limitações científicas modernas sobre o que é possível. Mas a antítese é grandemente exagerada: os racionalistas extremos não eram incomuns no século I (e.g., Lucrécio); e milhões de cristãos modernos, conscientes do ponto de vista científico, não encontram muita dificuldade em acreditar no nascimento virginal nem em que DEUS pode interferir milagrosamente no que, afinal, é sua própria criação. Mais importante, o ponto de Mateus nesses capítulos, com certeza, é que o nascimento virginal e as circunstâncias que o acompanharam foram as mais extraordinárias. Apenas aqui ele menciona os magos; e sonhos e visões como meio de orientação não são de modo algum comuns no Novo Testamento (embora aqui se possa questionar se o cristianismo ocidental pode aprender alguma coisa com o cristianismo do Terceiro Mundo). Com certeza, o relato de Mateus é infinitamente mais sóbrio que as histórias amplamente especulativas preservadas nos evangelhos apócrifos (e.g., Protoevangelho d e Tiago 12.3—20.4; cf. Hennecke, 1:381-85). R. E. Brown (Birth ofM essiah [Nascimento do Messias]) aceita a historicidade do nascimento virginal, mas não leva em conta a historicidade da visita dos magos e dos eventos relacionados a ela. Mas se ele consegue admitir o nascimento virginal é difícil entender por que descarta os magos. (Veja o proveitoso livro de Manuel Miguens, The Virgin Birth: An Evaluation ofS crip - tural E vidence [O nascim ento virginal: um a avaliação da evid ên cia escriturai] [Westminster, Md.: Christian Classics, 1975].) 3. Muitos apontam artificialidades na narrativa: e.g., a estrutura da genealogia ou a demora em mencionar Belém como o local de nascimento de JESUS (Hill, M atthew [Mateus]). Todavia, mencionamos que, embora o arranjo da genealogia de Mateus nos forneça mais que uma mera tabela de nomes e datas, ela não nos revela menos. Mais que quaisquer outros dos sinóticos, Mateus delicia-se com arranjos tópicos. Mas isso não torna seu relato menos histórico. Não ficamos restritos à escolha extrema de crônicas históricas nem de invenção teológica! Mateus não menciona Belém em 1.18-25 porque isso não se encaixa com seus temas. Contudo, no capítulo 2, conforme Tatum demonstrou (W B. Tatum Jr., “The Matthean Infancy Narratives: Their Form, Structure, and Relation to the Theology of the First Evangelist” [“As narrativas mateanas da infância: sua forma, estrutura e relação com a teologia do primeiro evangelista”] [dissertação de Ph. D., Duke University, 1967]), um dos temas que une a narrativa de Mateus é a “origem geográfica” de JESUS e, por isso, Belém é introduzida. 97 Mateus 1.18-25 4. Tornou-se cada vez mais comum identificar o gênero literário de Mateus 1— 2 como “midrash”, ou “halaca midrashicó", e concluir que não se pretende que esses relatos sejam tomados ao pé da letra (e.g., com perspectivas amplamente distintas, Gundry, M atthew \Mateus]; Goulder; Davies, Setting [Cenário], p. 66 67). Não há nada fundamentalmente objetável na sugestão de que não se pretendia que alguns relatos da Bíblia fossem tomados como fatos; as parábolas representam esses tipos de relato. O problema é a falta de estabilidade das categorias (cf. Introdução, seção 12.b; e cf. mais em 2.16-18). Se o gênero tem características formais claras, há pouco problema em reconhecê-los. Contudo, está longe de esse ser o caso aqui; os paralelos frequentemente mencionados ostentam tantas diferenças formais (comparados com Mateus 1—2) quanto similaridades. Para citar um exemplo óbvio: os midrashim judaicos (no sentido técnico do século IV) apresentam relatos para servir de material ilustrativo como uma forma de comentar um texto contínuo do Antigo Testamento. Por contraste, Mateus 1—2 não oferece texto contínuo do Antigo Testamento: a continuidade do texto depende da linha da história; e as citações do Antigo Testamento, extraídas de vários livros do Antigo Testamento, podem ser removidas sem comprometer a continuidade da narrativa (cf. esp. M. J. Down, “The Matthean Birth Narratives” [“As narrativas mateanas do nascimento”], ExpT 90 [1978-79], p. 51-52; e France, JESUS, veja em 2.16-18). R. E. Brown (Birth ofM essiah [N ascimento do Messias], p. 557-63) argumenta de forma convincente que Mateus 1— 2 não é midrash. Todavia, ele acha que o tipo de pessoa que poderia inventar histórias para explicar textos do Antigo Testamento (midrash) também poderia inventar histórias para explicar JESUS. Mateus 1— 2, embora não seja em si mesmo midrash, é, no mínimo, midrashicó. Talvez esse seja o caso. Infelizmente, a declaração não só fica aquém de ser provada, mas também se perde, assim, o apelo para um gênero literário conhecido e reconhecível. Assim, não temos base objetiva para argumentar que os primeiros leitores de Mateus poderiam detectar de imediato seus métodos midrashicos. Claro que se "midrashicó” quer dizer que Mateus pretende apresentar um panorama das alusões e temas do Antigo Testamento, esses capítulos, com certeza, são midrashicos: nesse sentido os estudos de Goulder, Gundry, Davies e outros nos servem bem, advertindo-nos contra um padrão de pensamento linear rígido demais. Mas usado nesse sentido, não fica claro que “material m idrashicó’’ necessariamente não é histórico. 5. Uma objeção relacionada insiste que essas histórias “não são principalmente didáticas, mas querigmáticas” (Davies, Setting [Cenário], p. 67), que elas foram projetadas como proclamações sobre a verdade da pessoa de JESUS, mas não como informações factuais. A rígida dicotomia entre proclamação e ensino não é tão defensável como, primeiro, propôs C. H. Dodd (veja 3.1). Mais importante, podemos apenas perguntar o que a proclamação pretende anunciar. Se as histórias expressam o apreço dos cristãos primitivos por JESUS, exatamente o que eles apreciavam? Em face disso, os capítulos 1—2 de Mateus nao dizem nada vago como: “JESUS é tão maravilhoso que deve haver um toque de divino nele”, mas, antes: “JESUS é o Messias prometido da linha de Davi e ele é ‘Emanuel’, ‘DEUS Mateus 1.18-25 98 conosco’, porque seu nascimento foi resultado da intervenção sobrenatural de DEUS, tornando JESUS o próprio Filho de DEUS; e seus primeiros meses de vida foram marcados por ocorrências estranhas que, à luz dos eventos subsequentes, tecem um padrão coerente de verdades teológicas e de atestação histórica para a providência divina nesse assunto”. 6. Alguns argumentam que a forma artificial (para nós) como esses capítulos citam o Antigo Testamento mostra pouca preocupação com a historicidade. O argumento reverso, com certeza, é mais convincente: se os eventos de Mateus 1— 2 não são fáceis de ser relacionados com os textos do Antigo Testamento, isso atesta sua credibilidade histórica, pois ninguém em sã consciência inventaria episódios de “cumprimento” problemáticos para que os textos sejam cumpridos. O cumprimento dos textos, embora difíceis, ajustam-se a um padrão coerente (cf. Introdução, seção ll.b e, abaixo, em 1.22,23). Mais importante, a presença deles mostra que Mateus entende JESUS como aquele que cumpre o Antigo Testamento. Isso não só estabelece o palco para alguns dos temas mais importantes de Mateus, mas também quer dizer que Mateus está trabalhando a partir da perspectiva da história da salvação, que depende do antes e depois, de profecia e cumprimento, de tipo e antítipo, de relativa ignorância e revelação progressiva. Isso exerce uma importante influência em nossa discussão sobre o midrash, pois o midrash judaico, independentemente do que possa ser, não tem relação com história da salvação nem com esquemas de cumprimento. Acrescente-se às considerações precedentes o fato de que nos pontos em que, nos capítulos 1—2, ele pode ser testado contra o pano de fundo conhecido de Herodes, o Grande, Mateus provou ser confiável (alguns detalhes são fornecidos abaixo). Monta-se um bom caso para tratar os capítulos 1—2 como história e teologia. Segundo, as seguintes considerações teológicas exigem menção. 1. Argumenta-se, com frequência, ou até mesmo assume-se (e.g., Dunn, Christology \Cristologia\, p. 49-50), que os conceitos “concepção virginal” e “pré-existência” aplicados à pessoa de JESUS são mutuamente excludentes. Com certeza, é difícil perceber como um ser divino podia ser genuinamente humano por meio de um nascimento comum. Não obstante, não há motivo lógico nem teológico para pensar que a concepção virginal e a preexistência excluem uma à outra. 2. Relacionado a isso temos a teoria de R. E. Brown (Birth ofM essiah [Nascimento do Messias\, p. 140-41), que propõe uma cristologia retrocedente. Os cristãos primitivos, argumenta ele, focaram a atenção primeiro na ressurreição de JESUS, que perceberam como o momento da instauração dele em seu papel messiânico. Depois, eles, após mais reflexão, rememoraram o tempo de sua instauração no batismo, a seguir, em seu nascimento e, por fim, a teoria relacionada à preexistência de JESUS. Pode haver alguma verdade nesse esquema. Da mesma forma como os cristãos primitivos não apreenderam instantaneamente a relação entre lei e evangelho (conforme o livro de Atos dos Apóstolos atesta amplamente), também o entendimento deles de JESUS, sem dúvida, amadureceu e se aprofundou com o tempo e com revelação adicional. Mas a teoria, com frequência, depende de uma reconstrução rígida e falsa da história da igreja primitiva (cf. Introdução, seção 2) e data os documentos, 99 Mateus 1.18-25 contra outra evidência, com base nessa reconstrução. Pior, nas mãos de alguns, essa reconstrução transforma a compreensão dos discípulos em realidade histórica; ou seja, JESUS não é preexistente nem nasceu de uma virgem, essas coisas foram progressivamente atribuídas a ele por seus seguidores. Assim, a evidência do evangelho em relação à percepção de si mesmo de JESUS como preexistente é facilmente descartada como posterior e não autêntica. O método é de valor duvidoso. Mateus, a despeito da forte insistência na concepção virginal de JESUS, inclui diversas alusões veladas à preexistência de JESUS; e não há motivo para pensar que ele achasse os dois conceitos incompatíveis. Além disso, R. H. Fuller (“The Conception/Birth of JESUS as a Christological Moment” [“A concepção/nascimento de JESUS como um momento cristológico”] , Jou rn a l fo r the Study o fth e N ew Testam ent 1 [1978], p. 37-52) mostra que, no Novo Testamento, o tema concepçãonascimento virginal não é frequentemente ligado ao tema do “envio do Filho”, que (contra Fuller) em muitos lugares já pressupõe a preexistência do Filho. 3. Estamos lidando nesses capítulos com o Rei Messias que veio a seu povo em relacionamento de aliança. O ponto é bem estabelecido, embora às vezes exagerado, por Nolan, que fala da “cristologia da aliança real”. 4. É notável que não encontremos em Mateus 1—2 o título “Filho de DEUS” que, mais adiante, torna-se importante no evangelho de Mateus. Ele pode estar à espreita em 2.15. Contudo, seria falso argumentar que Mateus não conecta o nascimento virginal ao título “Filho de DEUS”. Mateus 1—2 serve como prólogo primorosamente trabalhado de todo tema importante do evangelho. Por essa razão, devemos entender que Mateus está nos dizendo que se JESUS é filho fisicamente de Maria e legalmente de José, ele, em um grau ainda mais fundamental, é Filho de DEUS; e nisso, Mateus concorda com a declaração de Lucas (Lc 1.35). A dupla paternidade, uma legal e uma divina, é inequívoca (cf. Cyrus H. Gordon, “Paternity at Two Leveis” [“Paternidade em dois graus”], JBL 96 [1977], p. 101). 18 A palavra traduzida por “nascimento” é, nos melhores manuscritos (cf. notas), a palavra traduzida por “genealogia” em 1.1. Maier prefere “história” de JESUS CRISTO, assumindo que a frase se refere ao resto do evangelho. Contudo, é melhor assumir que a palavra quer dizer “nascimento”, ou “origem”, no sentido do início do JESUS Messias. Nem mesmo uma cristologia bem desenvolvida gostaria de pôr o homem “JESUS” e seu nome de volta à condição de preexistência (cf. em 1.1). O compromisso de casamento era uma ligação legal. Apenas o divórcio em Juízo poderia desfazê-lo, e a infidelidade nesse estágio do compromisso era considerada adultério (cf. Dt 22.23,24; Moorc, fudaism Judaísm o], 2:121-22). O casamento mesmo acontecia quando o noivo (já denominado “marido”; 1.19) levava cerimonialmente a noiva para casa (veja em 25.1-3). Aqui, Maria é apresentada discretamente. Embora comparando os relatos do evangelho, eles forneçam-nos um retrato dela, mas Maria não ocupa muito espaço no evangelho de Mateus. “Antes que se unissem” (prin ê synelthein autous), às vezes, no grego clássico, refere-se ao intercurso sexual (LSJ, p. 1712); contudo, nas outras trinta ocorrências de synerchom ai no Novo Testamento nao há nuanças sexuais. Mas aqui a união sexual está incluída, ocorrendo quando, no casamento formal, a “esposa” vai morar Mateus 1.18-25 100 com seu “marido”. Apenas nesse momento, o intercurso sexual era apropriado. A frase afirma que a gravidez de Maria foi descoberta enquanto ela ainda era noiva, e o contexto pressupõe que Maria e José eram castos (cf. McHugh, p. 157-63; e para os costumes da época, M K iddushin [“Contrato de casamento, noivos”] e M K etuboth [“Casamento propriamente dito”]). O fato de Maria “ach[ar]-se” grávida não sugere uma tentativa sub-reptícia de encobrimento de alguma coisa (“achou-se”), mas apenas que a gravidez dela se tornou evidente. Essa gravidez aconteceu por intermédio do ESPÍRITO SANTO (fato ainda mais proeminente na narrativa do nascimento de Lucas). Não há nenhum indício de deidade humana pagã copulando em termos grosseiramente físico. Ao contrário, o poder do Senhor, manifesto no ESPÍRITO SANTO que se esperava fosse ativo na era messiânica, realizou milagrosamente a concepção. 19 A peculiar expressão grega apresentada nesse versículo permite diversas interpretações. Eis as três mais importantes. 1. José, por saber da concepção virginal, era um homem justo e não queria tornar o assunto público (i.e., divulgar essa concepção milagrosa), sentiu-se indigno de continuar com seu plano de casar com pessoa tão altamente favorecida e planejava desistir do casamento (conforme Gundry, M atthew [M ateus]; McHugh, p. 164-72; Schlatter). Isso pressupõe que M aria contou a José a respeito da concepção. Não obstante, a forma natural de ler os versículos 18 e 19 é que José soube da condição de sua noiva quando ela se tornou evidente, e não quando ela lhe contou. Além disso, o motivo apresentado pelo anjo para que José prosseguisse com o plano de casamento (v. 20) pressupõe (contra Zerwick, par. 477) que José não sabia da concepção virginal. 2. José, por ser era um homem justo e por não querer expor Maria à desgraça pública, propôs um divórcio discreto. O problema com essa interpretação é que “justo” (NVI; “reto”) não é definido de acordo com a lei do Antigo Testamento, mas no sentido de “misericordioso”, “não dado a vingança passional” ou até mesmo “bom” (cf. ISm 24.17; NTLH). Mas esse não é o sentido normal da palavra. Falando estritamente da justiça concebida nas prescrições mosaicas, ela exigia algum tipo de ação. 3. José, por ser um homem justo, não podia, em sã consciência, casar com Maria, agora sabidamente infiel a ele. E por esse casamento ser uma admissão tácita de sua própria culpa e também por ele não querer expô-la à desgraça do divórcio público, José escolheu uma solução mais discreta permitida pela lei. O pleno rigor da lei poderia levar ao apedrejamento de Maria, embora este acontecesse raramente no século I. Contudo, era possível um divórcio público, embora aparentemente José não estivesse disposto a expor Maria a essa vergonha. A lei também permitia o divórcio privado diante de duas testemunhas (Nm 5.11-31; interpretado como na M Sotah 1.1-5; cf. David Hill, “A Note on Matthew i. 19” [“Um nota sobre Mateus 1.19”], ExpT 76 [1964-65], p. 133-34; um tanto semelhante, A. Tosato, “Joseph, Being a Just Man (Mtt 1.19)” [“José, um homem justo (Mt 1.19)”], CBQ 41 [1979], p. 547-51). Esse era o propósito de José. Essa solução deixaria sua justiça (sua conformidade com a lei) e sua compaixão intatas. 101 Mateus 1.18-25 20 José tentou resolver esse dilema da forma que lhe parecia ser a melhor possível. Apenas nesse momento, DEUS interveio com um sonho. No Novo Testamento, os sonhos como forma de comunicação divina estão concentrados no prólogo de Mateus (1.20; 2.2,13,19,22; em outras passagens, possivelmente, 27.19; At 2.17). A expressão “Anjo do Senhor” (mencionada quatro vezes no prólogo; 1.20,24; 2.13,19) traz à lembrança os mensageiros divinos de eras passadas (e.g., Gn 16.7-14; 22.11-18; Êx 3.2— 4.16), nas quais nem sempre ficava claro se o "mensageiro” celestial (o sentido de angelos) era uma manifestação de Iavé. A maioria deles, em geral, aparecia como homens. Não devemos ler pinturas medievais na palavra “anjo” nem os querubins estilizados de Apocalipse 4.6-8. O foco é a interven ção graciosa de DEUS, e a comunicação privada do mensageiro, não os detalhes da angelologia e seu movimento panorâmico na história comum na literatura judaica apocalíptica (Bonnard). As palavras iniciais do anjo: “José, filho de Davi”, liga essa perícope à genealogia precedente, mantém o interesse no tema do Messias davídico e, da perspectiva de José, alerta-o para a relevância do papel que ele tem a desempenhar. A admoestação: “Não tema”, confirma o fato de que José já decidira o caminho a seguir quando DEUS interveio. Ele tinha de “receber” Maria como esposa — expressão que reflete principalmente os costumes de casamento da época, mas não exclui o intercurso sexual (cf. TDNT, 4:11-14, para outros usos do verbo) — porque a gravidez de Maria era um ato direto do ESPÍRITO SANTO (motivo pelo qual não faz sentido a ;entativa de James Lagrand [“How Was the Virgin Mary ‘like a man’...? A Note on M t i 18b and Related Syriac Christian Texts” (“Como a virgem era ‘semelhante ao homem’. . .? Um nota sobre M t 1.18b e textos cristãos siríacos relacionados”), XovTest 22 (1980) p. 97-107] para fazer referência ao ESPÍRITO SANTO em 1.18, ek fneum atos hagiou [“pelo ESPÍRITO SANTO”], com o sentido de que Maria gerou, “como um homem, pela vontade”). 21 Sem dúvida, foi a graça divina que solicitou a cooperação de Maria antes da concepção e a cooperação de José só depois disso. Aqui, José é apresentado ao mistério da encarnação. Nos tempos patriarcais, a mãe (Gn 4.25) ou o pai (Gn 4.26; 5.3; cf. R. E. Brown, Birth ofM essiah [N ascimento do Messias], p. 130) podia dar nome ao filho. De acordo com Lucas 1.31, foi dito a Maria apenas o nome JESUS, mas foi dito a José o nome e o motivo para dar esse nome. O sentido literal no grego é: “Você chamará o nome dele de JESUS”, estranho em grego e em português. Isso não é só um semitismo (BDF, par. 157 [2] — a expressão ocorre de novo em 1.23,25; Lc 1.13,31), mas também usa o futuro do indicativo (kaleseis, lit. “você chamará”) com força de imperativo — daí a NVI traduzir por: “Você deverá dar-lhe o nome de JESUS”. Essa construção é muito rara no Novo Testamento, exceto quando a LXX está sendo citada; o efeito é dar ao versículo uma forte nuança de Antigo Testamento. “JESUS” (Iêsous) é a forma grega de “Josué” (cf. gr. de At 7.45; Hb 4.8) que, quer na forma longa y h ô s u a ' (“Iavé é salvação”; Êx 24.14) quer nas formas abreviadas, e.g., y ê s ü a ' (“Iavé salva”; Ne 7.7), identifica o Filho de Maria como aquele que traz a prometida salvação escatológica de Iavé. Há diversos Josués no Antigo Testa Mateus 1.18-25 102 mento, pelo menos, dois deles de pouca relevância (ISm 6.14; 2Rs 23.8). No entanto, outros dois são usados no Novo Testamento como tipos de CRISTO: Josué, sucessor de Moisés, que leva o povo para a terra prometida (é um tipo de CRISTO em Hb 3— 4), e Josué o sumo sacerdote contemporâneo de Zorobabel (Ed 2.2; 3.2-9; Ne 7.7), “o ramo” que construiu o templo do Senhor (Zc 6.11-13). Mas o anjo, em vez de se referir a esses, explica o sentido do nome referindo-se a Salmos 130.8: “Ele [Iavé] próprio redimirá Israel de todas as suas culpas” (cf. Gundry, Use ofO T \U so do AT], p. 127-28). Havia muita expectativa por parte dos judeus em um Messias que “redimiria” Israel da tirania romana e até mesmo purificaria seu povo, quer por decreto quer pela lei (e.g., SI Sal 17). Mas não havia expectativa de que o Messias davídico daria sua própria vida em resgate (20.28) para salvar seu povo do pecado. O verbo “salvar” pode se referir à libertação do perigo físico (8.25), da doença (9.21,22) ou até mesmo da morte (24.22); no Novo Testamento, o verbo refere-se comumente à salvação abrangente inaugurada por JESUS e que será consumada em seu retorno. Aqui, o verbo foca o que é central, viz., a salvação do pecado; pois da perspectiva bíblica, o pecado é a causa fundamental (se não sempre a imediata) de todas as outras calamidades. Por isso, esse versículo orienta o leitor para o propósito fundamental da vinda de JESUS e para a natureza essencial do reinado que ele inaugura como Rei Messias, herdeiro do trono de Davi (cf. Ridderbos, p. 193ss.). Embora para José “seu povo” fosse judeu, até mesmo José entendia, a partir do Antigo Testamento, que alguns judeus caíram sob o julgamento de DEUS, enquanto outros se tornaram o remanescente piedoso. De todo jeito, Mateus, não muito depois, diz que João Batista (3.9) e JESUS (8.11) retratam a união dos gentios com o remanescente piedoso para se tornar discípulos do Messias e membros de “seu povo” (veja em 16.18; cf. Gn 49.10; Tt 2.13,14; Ap 14.4). Portanto, a expressão “seu povo” é cheia de sentidos que são revelados progressivamente conforme o evangelho se desenrola. Eles referem-se ao “povo do Messias”. 22 Embora a maioria das versões da Bíblia incluam as advertências do anjo no final do versículo 21, há bom motivo para pensar que elas continuam até o final do versículo 23 ou, pelo menos, até a palavra “Emanuel”. Há apenas três ocorrências dessa fórmula específica de cumprimento em Mateus: aqui, em 21.4 e em 26.56. E natural tomar a última como parte da fala relatada de JESUS (cf. 26.55); e, em 21.4, isso também é possível, embora seja menos provável. Os padrões de Mateus são bastante consistentes. Assim, não é artificial também estender a citação até o fim de 1.23. (BJ reconhece a consistência de Mateus terminando as palavras de JESUS em 26.55 e transformando 26.56 em comentário de Mateus!) O argumento é mais convincente quando lembramos que só essas três fórmulas de cumprimento usam o perfeito, gegon en (NVI, “aconteceu”), em vez do esperado aoristo. Alguns consideram o verbo como um exemplo perfeito para o aoristo (como BDF, par. 343, mas essa é uma classificação passível de discussão). Outros acham que isso representa que o evento “permanece registrado” na tradição cristã permanente (McNeile; Moule, Idiom Book [Livro d e expressões idiomáticas], p. 15); ainda outros consideram que isso é um indicador estilístico 103 Mateus 1.18-25 indicando que Mateus mesmo introduziu a passagem de cumprimento (Rothfuchs, p. 33-36). Mas se sustentarmos que Mateus apresenta o anjo dizendo as palavras, então o tempo perfeito pode desfrutar de sua força normal: “Tudo isso aconteceu” 'cf. esp. Fenton; cf. também Stendhal, Peake; B. Weiss, Das M atthäus-E vangelium Evangelho de Mateus\ [Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1898]; Zahn). R. E. Brown (Birth ofM essiah [Nascimento do Messias], p. 144, n. 31) objeta que em nenhum lugar da Escritura um anjo cita a Escritura desse modo; mas, igualmente, em nenhum lugar da Escritura há um nascimento virginal desse modo. Mateus sabia que Satanás pode citar a Escritura (4.6,7); talvez ele não tenha achado estranho que um anjo a citasse. A objeção de Broadus, de que o anjo, nesse caso, poderia ser a antecipação de um evento que ainda não ocorreu e de que isso é estranho quando posto em linguagem de cumprimento, não tem peso; pois a concepção tinha ocorrido, e a gravidez estava bem avançada, mesmo que o nascimento ainda não tivesse acontecido. E José tinha de saber nesse estágio que “tudo isso aconteceu” em cumprimento ao que o Senhor dissera por intermédio do profeta. O argumento mais sólido é o do tempo perfeito. A última sentença é formada com extraordinário cuidado, o sentido literal é: 'A palavra falada pelo [hypo] Senhor por intermédio [dia] do profeta”. As preposições fazem distinção entre o agente mediado e o intermediador (RHG, p. 636), pressupondo uma percepção da Escritura como a de 2Pedro 1.21. Mateus usa o verbo “cumprir” plêroô) principalmente em suas fórmulas de cumprimento (1.22; 2.15,17,23; 4.14; S.17; 12.17; 13.35; 21.4; 26.56; 27.9; cf. 26.54), mas também em alguns poucos outros contextos (3.15; 5.17; 13.48; 23.32). (A respeito da compreensão de Mateus sobre o cumprimento e a origem de seus textos de cumprimento, cf. 5.17-20 e Introdução, seção ll.b .) Aqui, duas observações se fazem necessárias. A primeira, a maioria das citações do Antigo Testamento de Mateus são bastante fáceis de compreender, mas as difíceis exceções, às vezes, tendem a aumentar a dificuldade das mais fáceis. Casos difíceis tazem má teologia e também má lei. A segunda, Mateus não está simplesmente rirando textos do contexto do Antigo Testamento porque precisa encontrar uma profecia a fim de gerar um cumprimento. Princípios discerníveis governam suas escolhas, sendo o mais importante o de que ele encontra no Antigo Testamento não só predições isoladas concernentes ao Messias, mas também que considera a história e o povo do Antigo Testamento paradigmas que, os que têm olhos para ver, apontam para o Messias (e.g., veja 2.15). 23 Esse versículo, no qual a literatura é numerosa, é razoavelmente claro em seu contexto aqui em Mateus. Maria é a virgem; JESUS é seu filho Emanuel. Mas por ser uma citação de Isaías 7.14, questões complexas são levantadas concernentes ao uso do Antigo Testamento por Mateus. A evidência linguística não é determinante como pensam alguns. A palavra hebraica ‘alm âh não equivale exatamente à palavra “virgem” (NVI), na qual todo o foco está na falta de experiência sexual; nem é exatamente equivalente a “mulher jovem”, em que o foco é a idade sem referência à experiência sexual. Muitos preferem a tradução “jovem mulher em idade de casar”. Todavia, a maior parte Mateus 1.18-25 104 das poucas ocorrências no Antigo Testamento referem-se à mulher jovem em idade de casar que também é virgem. A passagem mais discutida é Provérbios 30.19: “O caminho do homem com uma m oça . Aqui, o foco da palavra, sem dúvida, nao é a virgindade. Alguns alegam que aqui a moça nao pode possivelmente ser uma virgem; outros (veja esp. E. J. Young, Studies in Isaiah [Estudos s Isaías] [London: Tyndale, 1954], p. 143-98; Richard Niessen, “The Virginity of na1??? in Isaiah 7:14” [“A virgindade da nabr em Isaías 7.14”], BS 137 [1980], p. 133-50) insistem que Provérbios 30.19 refere-se a um homem jovem cortejando e conquistando uma moça ainda virgem. Embora seja justo dizer que a maioria das ocorrências no Antigo Testamento pressuponha que ‘alm âh é uma virgem, por causa de Provérbios 30.19, não se pode ter certeza de que o sentido da palavra seja necessariamente esse. Os linguistas mostram que os argumentos etimológicos (revistos por Niessen) têm pouca força. Young argumenta que ‘alm âh é o termo escolhido por Isaías porque a alternativa mais provável (iftdlâh) pode se referir a mulher casada (J1 1.8 é comumente citado; Young é apoiado por Gordon J. Wenham, “Bethulãh, A Girl of Marriageable Age’” [“Bethulãh, ‘uma moça em idade de casar’”], VetTest 22 [1972[, p. 326-29). Contudo, mais uma vez o argumento linguístico não está tão nítido como gostaríamos. Tom Wadsworth (“Is There a Hebrew Word for Virgin? Bethulãh in the Old Testament” [“Existe uma palavra hebraica para virgem? Bethulãh no Antigo Testamento”], Restoration (Quarterly 23 [1980], p. 161-70) insiste que toda ocorrência de tftülâh no Antigo Testamento se refere a virgem: a mulher em Joel 1.8, por exemplo, é noiva. Mais uma vez a evidência é um pouquinho ambígua. Em suma, há a pressuposição em favor da tradução de ‘âlm âh por “jovem virgem” ou como em Isaías 7.14. Não obstante, deve-se dar atenção a outra evidência. A LXX traduz a palavra porparthenos, que quase sempre quer dizer “virgem”. Contudo, mesmo para essa palavra há exceções: Gênesis 34.4 refere-se à Diná como parthenos, embora o versículo anterior deixe claro que ela não é mais virgem. Esse tipo de dado instigou C. H. Dodd (“New Testament Translation Problems I” [“Problemas de tradução do Novo Testamento I”] T heB ible Translator27 [1976], p. 301-5, publicação póstuma) a sugerir que parthenos quer dizer “jovem mulher” até mesmo em Mateus 1.23 e em Lucas 1.27. Isso não se aplica, pois a maioria esmagadora das ocorrências de parthenos no grego bíblico e profano requer a tradução por “virgem”; e o contexto claro de Mateus 1 (cf. w . 16,18,20,25) põe a intenção de Mateus acima de qualquer dúvida, conforme Jean Carmignac (“The Meaning of parthenos in Luke 1.27: A reply to C. H. Dodd” [“O sentido de parthenos em Lucas 1.27: uma resposta a C. H. Dodd”], The Bible Translator 28 [1977], p. 327-30) foi rápido em apontar. Se, ao contrário da LXX, as traduções gregas posteriores (século II d.C.) do texto hebraico de Isaías 7.14 preferem neanis (“jovem mulher”) a parthenos (conforme Áquila, Símaco, Teodócio), podemos suspeitar legitimamente de um esforço consciente dos tradutores judeus para evitar a interpretação cristã de Isaías 7.14. A questão crucial é como temos de entender Isaías 7.14 em sua relação com Mateus 1.23. Das muitas sugestões existentes, cinco merecem menção. 105 Mateus 1.18-25 1. Hill, J. B. Taylor (Douglas, B ible D ictionary [.D icionário bíblico], 3:1625) e outros apoiam o argumento de W. C. van Unnik (“Dominus Vobiscum”, N ew Testament Essays, ed. A. J. B. Higgins [Manchester: University Press, 1959], p. 270-305) de que Isaías queria dizer que uma jovem mulher chamara seu filho de Emanuel como tributo à presença e à libertação de DEUS e que a passagem se aplica a JESUS porque Emanuel se encaixa na missão dele. Esse argumento não leva o sinal a sério (Is 7.11,14); o versículo 11 espera algo extraordinário. Nem considera adequadamente o lapso de tempo (w. 15-17). Além disso, assume uma ligação muito casual entre Isaías e Mateus. 2. Muitos outros consideram que Isaías está falando que uma mulher jovem — uma virgem na época da profecia (Broadus) — teria um filho e que antes que este alcançasse a idade do entendimento (talvez menos de dois anos da época da profecia), Acaz seria libertado de seus inimigos. Mateus, escritor inspirado, vê um cumprimento posterior em JESUS; e devemos aceitar isso por conta da autoridade de Mateus. W. S. LaSor acha que isso fornece suporte canônico para uma abordagem sensus plen ior (“sentido pleno”) da Escritura (“The Sensus P lenior and Biblical Interpretation” [“O sensusplenior e a interpretação biblical”], Scripture, Tradition, a n d Interpretation, ed. W Ward Gasque e William S. LaSor [Grand Rapids: Eerdmans, 1978], p. 271-72). Além das diversas deficiências na interpretação de Isaías 7.14 (e.g., a sobrenaturalidade do sinal em 7.11 não continua em 7.14), essa posição é intrinsecamente instável quer ao tentar aprofundar a ligação entre Isaías e Mateus quer ao confiar menos na autoridade de Mateus. Hendriksen (p. 140) sustenta que a destruição de Peca e de Rezim foi um claro sinal de que a linhagem do Messias estava sendo protegida. Mas isso representa postular, sem justificação textual, dois sinais — o sinal da criança e o sinal da libertação — e pressupõe que Acaz possuía notável perspicácia teológica para reconhecer o último sinal. 3. Muitos (esp. os mais antigos) comentaristas (e.g., Alexander, Hengstenberg, Young) rejeitam qualquer noção de duplo cumprimento e dizem que Isaías 7.14 se refere exclusivamente a JESUS CRISTO. Isso faz justiça à expectativa de um sinal milagroso, ao sentido de “Emanuel” e ao sentido mais provável de ‘alm âh e de parthenos. Mas põe mais tensão na relação do sinal para Acaz. Parece sem lógica dizer que antes de um período de tempo equivalente à distância de tempo entre a concepção de JESUS (de Emanuel) e sua chegada à idade do entendimento os inimigos de Acaz seriam destruídos. Muitos comentaristas desse grupo insistem em um elemento milagroso na forma de “sinal” (v. 11). Mas embora o nascimento de Emanuel seja milagroso, como o “sinal” dado a Acaz é milagroso? 4. Poucos argumentam, mais recentemente Gene Rice (“A Neglected Interpretation of the Immanuel Prophecy” [“A interpretação negligenciada da profecia de Emanuel”], ZAW 90 [1978], p. 220-27), que, em Isaías 7.14-17, Emanuel representa o remanescente justo — DEUS está “com eles” — e que a mãe é Sião. Isso pode ser aplicado corretamente a JESUS e a Maria em Mateus 1.23, uma vez que a história pessoal de JESUS parece recapitular algo da história nacional dos judeus (cf. 2.15; 4.1-4). Não obstante, soa artificial. Acaz teria entendido as palavras de forma tão metafórica? E embora JESUS, às vezes, pareça recapitular Israel, é duvidoso que os escritores do Novo Testamento sequer pensassem que Maria recapitulasse Sião. Mateus 1.18-25 106 5. A percepção mais plausível é a de J. A. Motyer (“Context and Content in the Interpretation of Isaiah 7:14” [“Contexto e conteúdo na interpretação de Isaías 7.14”], TyndaleBulletin 21 [1970], p. 118-25). Essa percepção é uma forma modificada da terceira interpretação e, em parte, depende do reconhecimento de um caráter crucial em Isaías. No Antigo Testamento, os sinais podem funcionar como “persuasão no presente” (e.g., Êx 4.8,9) ou como “confirmação no futuro” (e.g., Êx 3.12). Isaías 7.14 cai no segundo caso porque o nascimento de Emanuel vem muito depois para ser uma “persuasão no presente”. O “sinal” (v. 11) aponta principalmente para a ameaça e o mau presságio. Acaz rejeitou a oferta graciosa do Senhor (w. 10-12), e Isaías responde com ira (v. 13). A “coalhada e mel” que Emanuel comeria (v. 15) representam os únicos alimentos deixados na terra no dia da ira (w. 18-22). Até mesmo a promessa da destruição de Efraim (v. 8) deve ser entendida como envolvendo uma advertência (v. 9b; Motyer, “Isaiah 7:14” [“Isaías 7.14”], p. 121-22). Isaías vê uma ameaça não só para Acaz, mas também para os “descendentes de Davi” (w. 2,13) pegos em infidelidade. Isaías pronuncia sua profecia para essa casa infiel. Por isso, o nascimento de Emanuel segue os eventos por vir (é uma “confirmação no futuro”) e aconteceria quando a dinastia davídica tivesse perdido o trono. Motyer mostra o paralelo próximo entre a palavra profética para Judá (7.1— 9.7) e a palavra profética para Êfraim (9.8— 11.16). As duas chegam ao momento de decisão quando a palavra do Senhor ameaça ira (7.1-17; 9.8— 10. 4) no tempo do julgamento mediado pela invasão assíria (7.18— 8.8; 10.5-15), a destruição dos inimigos de DEUS além da salvação do remanescente (8.9-22; 10.16-34) e a promessa de uma gloriosa esperança quando o monarca davídico reinasse e trouxesse prosperidade para seu povo (9.1-7; 11.1-16). A estrutura dupla argumenta pela unidade coesa entre a profecia de Judá e a de Efraim. Se isso estiver correto, Isaías 7.1—9.7 deve ser lido como uma unidade — i.e., 7.14 não deve ser tratado isoladamente. O Emanuel prometido (7.14) possuiria a terra (8.8), frustraria todos os oponentes (8.10), apareceria na Galileia dos gentios (9.1) como a grande luz para os que estavam na terra das sombras da morte (9.2). Em 9.6, ele é chamado Menino e Filho “Maravilhoso Conselheiro, DEUS Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz”, cujo governo e paz nunca terminarão enquanto ele governa para sempre no trono de Davi (9.7). Muito da obra de Motyer é confirmada por um artigo recente de Joseph Jensen (“The Age of Immanuel” [“A idade de Emanuel”], CBQ 41 [1979], p. 220-39; ele não se refere a Motyer), que estende a plausibilidade dessa estrutura, mostrando que Isaías 7.15 pode ser tomado em um sentido final; i.e., Emanuel comeria o pão da aflição a fim de aprender (ao contrário de Acaz!) a lição da obediência. Não há referência à “idade do entendimento”. Além disso, Jensen acredita que 7.16-25 aponta para a vinda de Emanuel só depois da destruição da terra (6.9-13 sugere que a destruição se estende tanto a Judá quanto a Israel); que Emanuel e Maher-Shalal-Hash-Baz, filho de Isaías (8.1), não são a mesma pessoa; e que apenas o filho de Isaías estabelece um tempo limite relevante para Acaz. A discussão precedente era inevitável. Pois se a percepção de Motyer representa justamente o pensamento de Isaías e se Mateus entendia esse profeta dessa maneira, 107 Mateus 1.18-25 então muita luz é derramada no primeiro evangelho. A figura de Emanuel de Isaías 7.14 é messiânica, ponto que Mateus apreendeu com acerto. Além disso, essa interpretação acende uma compreensão do lugar do exílio em Isaías 6— 12, e Mateus dividiu sua genealogia (1.11,12,17) precisamente para chamar a atenção para o exílio. Em 2.17,18, o tema do exílio retorna. Pouco depois, quando JESUS começa seu ministério (4.12-16), Mateus cita Isaías 9.1,2, que, se a interpretação adotada aqui estiver correta, pertence adequadamente às profecias de Emanuel de Isaías 7.14; 9.6. Não é de espantar que após esses comentários de Mateus, as palavras seguintes de JESUS anunciem o Reino (4.17; cf. Is 9.7). A referência de Isaías ao sofrimento de Emanuel por causa do aprendizado da obediência (cf. sobre Is 7-15 acima) antecipa a humilhação, sofrimento e obediência filial de JESUS, tema recorrente nesse evangelho. Essa interpretação também explica parcialmente o interesse de Mateus na linhagem davídica; e reforça uma interpretação firme de “Emanuel”. Muitos estudiosos (e.g., Bonnard) supõem que esse nome em Isaías reflete a esperança de que DEUS o faria presente com seu povo (“Emanuel” deriva de ‘im m â n u êl, “DEUS conosco”); e eles aplicam o nome a JESUS de forma similar, representando que DEUS está conosco e é por nós por causa de JESUS. Mas se Emanuel em Isaías for uma figura messiânica cujos títulos incluem “DEUS Poderoso”, há motivo para pensar que “Emanuel” refere-se a JESUS mesmo, que ele é “DEUS conosco”. O uso de Mateus da preposição “com” no fim de 1.23 favorece essa interpretação (cf. Fenton, “Matthew 1:20-23” [“Mateus 1.20-23”], p. 81). Embora “Emanuel” não seja um nome no sentido em que “JESUS” é o nome do Messias (1.21), no Antigo Testamento, Salomão foi chamado “Jedidias” (“amado pelo S enhor”; 2Sm 12.25), embora aparentemente ele não fosse chamado assim. De modo semelhante, Emanuel é um “nome” no sentido de título ou descrição. Não é possível conceber bênção maior que DEUS habitar com seu povo (Is 60.18-20; Ez 48.35; Ap 21.23). JESUS é o chamado “DEUS conosco”: designação que evoca João 1.14,18. Como se isso não fosse suficiente, JESUS promete logo antes de sua ascensão estar conosco até o fim das eras (28.20; cf. também 18.20), quando ele retornará a fim de compartilhar seu banquete messiânico com seu povo (25.10). Se “Emanuel” estiver corretamente interpretado nesse sentido, então se deve levantar a questão se “JESUS” (1.21) deveria receber o mesmo tratamento. “JESUS” (“Iavé salva”) quer dizer apenas que o Filho de Maria traz a salvação de Iavé ou que ele mesmo, em algum sentido, é o Iavé que salva? Se “Emanuel” impõe a mais alta cristologia, não é implausível que Mateus veja o mesmo em “JESUS”. O mínimo que podemos dizer é que Mateus não hesita em aplicar as passagens do Antigo Testamento que descrevem Iavé diretamente a JESUS (cf. em 3.3). A citação de Isaías 7.14 por Mateus está muito próxima da LXX, mas ele muda “o chamará” para “lhe chamarão”. Isso pode refletir uma tradução do original hebraico, se lQIsa3 estiver mencionado apropriadamente (cf. Gundry, Use ofO T\U so do AT], p. 90). Mas há mais aqui: as pessoas cujos pecados JESUS perdoa (1.21) são as que o chamarão alegremente de “DEUS conosco” (cf. Frankemõlle, p. 17-19). Mateus 1.18-25 108 24,25 Quando José desperta (de seu sono, não de seu sonho), ele “recebeu Maria como sua esposa” (v. 24; a mesma expressão de 1.20). Do começo ao fim de Mateus 1—2 repete-se o padrão da intervenção soberana de DEUS, seguida da resposta de José ou dos magos. Embora a história seja contada de forma simples, a obediência e submissão de José sob essas circunstâncias são dificilmente menos notáveis que a de Maria (Lc 1.38). Mateus quer deixar bem clara a concepção virginal de JESUS, pois acrescenta que José não teve união sexual com Maria (lit., ele não a “conheceu”, eufemismo do Antigo Testamento) enquanto ela não deu à luz a JESUS (v. 25). O condicional “enquanto” quer dizer mais naturalmente que, após o nascimento de JESUS, Maria e José desfrutaram de relações conjugais normais (cf. mais em 12.46; 13-55)- Contrário a McHugh (p. 204), o imperfeito eginôsken (“não [a] conheceu”) nao indica celibato continuado após o nascimento de JESUS, mas enfatiza a fidelidade do celibato até o nascimento de JESUS. Assim, o Emanuel virginalmente concebido nasceu. E oito dias depois, quando chegou o momento de ele ser circuncidado (Lc 2.21), José chamou-o de “JESUS”. Notas 18 Alguns manuscritos trazem yévvr|aiç (gennêsis, “nascimento”), em vez de yéfeoiç (genesis, “nascimento”, “origem” ou “história”): as duas palavras são facilmente confundidas tanto na ortografia quanto, no sistema de pronúncia antigo, na fonética. A primeira palavra é comum nos pais da igreja para se referir à natividade e é cognata de 'yevváw (gennaô, “gerei”); portanto, da perspectiva transcricional, é menos provável de ser original. O ôe (de, “mas”) começando o versículo é, sem dúvida, um adversativo brando. Todas as gerações precedentes foram enumeradas, “mas” o nascimento de JESUS aparece em classe totalmente sua. Ouxcoç (houtôs, “assim”) com o verbo f)V (ên, “foi”) é raro e aqui equivale a Touxútr) (toiàutê, “dessa maneira”; cf. BDF, par. 434 [2]). “ESPÍRITO SANTO” é usado sem artigo, o que não é incomum nos evangelhos; e nesse caso, a ordem da palavra é sempre nveü|ia cqaov (pneuma hagioii). Quando o artigo é usado, há até mesmo, aproximadamente, uma distribuição entre xò ayi,ov tiveújia (to hagion pneuma, “o ESPÍRITO SANTO”) e zò TTvet)|ia to ayiov (t0 pneuma to hagion; o “o ESPÍRITO o SANTO”); cf. Moule, Idiom Book [Livro de expressões idiomáticas], p. 113. 19 Em ÕLKoaoç õ v Kai (-if) Gelcov (dikaios ôn Kai m ê thelôn, lit., “sendo justo e não estando disposto”; NVI, “homem justo, e não querendo”) não parece possível considerar o primeiro particípio concessivamente (i.e., “embora um homem justo”) por causa do kai-, os dois particípios devem ser considerados como coordenados. 20 ’Iôoú (idou, “olhe”) é a primeira das sessenta e duas ocorrências em Mateus. O verbo, com frequência, introduz ação surpreendente (cf. Schlatter) ou serve para levantar interesse (Hendriksen), mas é tão comum que, às vezes, não ter força alguma (cf. Moulton, Prolegomena \Prolegômenos\, p. 11; E. J. Pryke, “IDE and IDOU” [“IDE e IDOU”], NTS 14 [1968], p. 418-24). 21 O substantivo 'qiapTÚx (hamartia, “pecado”) ocorreem3.6; 9.2,5,6; 12.31; 26.38; 'oqoaprava) (hamartanê, “peco”) é encontrado em 18.15,21; 27.4; e 'ajiapicòXó^\hamartôlos, “pecador”) ocorre em 9.10,11,13; 11.19; 26.45- 109 Mateus 2.1-12 22 Ao contrário de Moule (.Idiom Book \Livro de expressões idiomáticas], p. 142), o condicional 'Iva (hina, “a fim de que” ou “com o resultado de que”) não denota uma mera consequência ou resultado (consecutivo). Embora, no Novo Testamento grego, o termo hina nem sempre seja télico, todavia, a exata ideia de cumprimento pressupõe um plano abrangente; se existe esse plano, é difícil imaginar Mateus simplesmente dizer que esse fato e aquele aconteceram com o resultado de que as Escrituras foram cumpridas, a menos que a mente por trás desse plano náo tenha poder para efetivá-lo — o que é claramente contrário ao pensamento de Mateus. Veja mais em 5.17. C. A visita dos magos (2.1-12) 1 Depois que JESUS nasceu em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém 2 e perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo”. 3 Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda Jerusalém.4 Tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei, perguntou-lhes onde deveria nascer o CRISTO.5 E eles responderam: “Em Belém da Judeia; pois assim escreveu o profeta: 6 “‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor entre as principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo’. 7 Então Herodes chamou os magos secretamente e informou-se com eles a respeito do tempo exato em que a estrela tinha aparecido.8 Enviou-os a Belém e disse: “Vão informar-se com exatidão sobre o menino. Logo que o encontrarem, avisem-me, para que eu também vá adorá-lo". 9 Depois de ouvirem o rei, eles seguiram o seu caminho, e a estrela que tinham visto no oriente foi adiante deles, até que finalmente parou sobre o lugar onde estava o menino. 10 Quando tornaram a ver a estrela, encheram-se de júbilo. 11 Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra.12 E, tendo sido advertidos em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram a sua terra por outro caminho. Poucas passagens já receberam interpretações mais variadas que essa (cf. W! A. Schulze, “Zur Geschichte der Auslegung von Matth. 2.1-12”, Theologische Zeitschrift 31 [1975], p. 150-60; M. Hengel e H. Merkel, “Die Magier aus dem Osten und die Flucht nach Ägypten (Mt 2) im Rahmen der antiken Religionsgeschichte und der Theologie des Matthäus”, em Hoffmann e outros, p. 139-69). Durante os últimos cem anos ou por volta disso, surgiu muitas vezes tal diversidade a partir da relutância em aceitar quer os detalhes sobrenaturais quer a história toda como historicamente verdadeira. Assim, torna-se necessário encontrar motivo teológico para criar a perícope. E. Neilessen (Das K in d u n d seine M utter [Stuttgart: KBW 1969]), embora intenso em suas observações teológicas, sustenta que o evangelista fundiu e melhorou duas lendas palestinas (e provavelmente galileias; semelhante a Soarés Prabhu, p. 261 93). Muitos (e.g., Gundry, Hill, Schweizer) supõem que as citações do Antigo Testamento constituíam uma coletânea de testemunhos de JESUS em seu próprio direito antes de Mateus (ou a igreja da qual ele se origina) adornasse-os com histórias midráshicas a fim de produzir nosso Mateus 2. Os relatos têm laços duvidosos com a história. O verdadeiro ponto deles é teológico, mostrar que o Messias, conforme predito, nasceu em Belém, que o aparecimento dele provocou a hostilidade dos judeus, mas conquistou a aceitação dos gentios (os magos) e, acima de tudo, estabeleceu um contraste entre Moisés e JESUS. A tradição judaica é impregnada em histórias sobre o conhecimento dos astrólogos do faraó de que a mãe do futuro libertador de Israel estava grávida, que Mateus 2.1-12 110 haveria a matança (por afogamento) de todos os bebês judeus e egípcios para os nove meses seguintes, que toda a casa em que Moisés nasceu estava cheia de grande luz, etc. Portanto, talvez Mateus estivesse tentando mostrar a relevância de JESUS atribuindo ao seu nascimento efeitos semelhantes ou talvez maiores. Essas histórias sobre Moisés, completamente desenvolvidas, são preservadas no M idrash Rabbah sobre Êxodo 1, compilação do século VIII d.C. Contudo, suas raízes estendemse, pelo menos, até o século I (Jos. Antiq. II, p. 205-7, 15-16 [ix.2-3]; cf. também Targ. j sobre Êx 1.15; e Davies, Setting [Cenário], p. 78-82, para outros indícios velados de Moisés em M t 1—2). Essa reconstrução tem inúmeros pontos fracos. A existência independente de coletâneas de testemunhos não é certa. Não há evidência de escrito m idráshico sobre essa diversa coletânea de textos (se é que a própria coletânea já existiu). A antítese pressuposta entre teologia e história é falsa; em face disso, Mateus registra história a fim de apresentar sua relevância teológica e sua relação com a Escritura. Mateus escreve em um período tão inicial que se JESUS não tivesse nascido em Belém, essa declaração teria sido contestada. Estamos lidando com décadas, não com um milênio e meio que separam Moisés de Josefo. Os relatos do século I sobre deduções astrológicas ligadas com o nascimento de César Augusto (Suetônio, D e Vita Caesarum [Da vida d e César], p. 94), sobre as visitas dos párticos a Nero (Cícero, De D ivinatione, 1.47) ou sobre o nascimento de Moisés (acima) podem sugerir que Mateus 2.1-12 foi fabricado; mas eles podem igualmente atestar a prevalência da astrologia e o fato de que, indubitavelmente, algumas visitas aconteciam no mundo antigo. Assim, esses fatos poderiam estabelecer a verossimilhança da passagem. Mais importante, as histórias sobre o nascimento de Moisés (e.g., em Josefo) eram quase com certeza vistas pelos leitores como verdades factuais; e há pouca dúvida (contra Gundry) de que Mateus pretende que as histórias sobre JESUS sejam lidas da mesma maneira. Se sim, podemos argumentar de modo concebível que Mateus estava ele mesmo enganado ou, caso contrário, quis enganar. O que não podemos fazer é argumentar que ele escreveu de modo que sua narrativa, pela forma, fosse reconhecidamente divorciada de sua realidade histórica. Em todo caso, o pano de fundo sugerido — relatos sobre o nascimento de Moisés — não é muito adequado; o estudo atento mostra que a matriz teológica do prólogo é centrada em JESUS como o Rei davídico e o Filho de DEUS (cf. esp. Nolan; Kingsbury, M atthew [Mateus]), e não nele como o novo Moisés, a quem as alusões são poucas e não explícitas. Claro que Mateus não registra apenas eventos sem sentido. Ele escreveu para desenvolver seu tema de cumprimento da Escritura (DEUS não prometera que as nações seriam atraídas pela luz do Messias [Is 60.3]?); para estabelecer o cuidado providencial e sobrenatural de DEUS desse Filho de nascimento virginal; para antecipar as hostilidades, ressentimentos e sofrimento que ele enfrentaria; e para indicar o fato de que os gentios seriam atraídos para seu Reino (cf. Is 60.3; Nellessen, Das Kind, p. 120, compare de forma acentuada com 8.11,12; cf. 28.16-20). Os magos são como os homens de Nínive que se levantam em julgamento e condenam os que, a despeito de seu privilégio de muito maior luz, não receberam o Messias prometido nem se curvaram ao reinado dele (12.41,42). 111 Mateus 2.1-12 1 Belém, local próximo do qual Jacó enterrou sua Raquel (Gn 35.19) e do qual Rute conheceu Boaz (Rt 1.22— 2.6), foi de modo destacado a cidade em que Davi nasceu e foi criado. Para os cristãos, ela tornou-se o lugar em que multidões de anjos romperam o silêncio e anunciaram o nascimento do Messias (Lc 2). Ela é distinguida da Belém de Zebulom (Js 19.15) pelas palavras “da Judeia”. Os estudiosos entendem essas duas palavras como preparação para o versículo 6: “Belém, da terra de Judá” (embora lá a forma hebraica “Judá” seja usada, em vez da grega “Judeia”), ou para o versículo 2: “Rei dos judeus”. Todavia, talvez “Belém da Judeia” não fosse muito mais que uma frase estereotipada (cf. Jz 17.7,9; 19.1 20; Rt 1.1,2; ISm 17.12; M t 2.5). Lucas 2.39 não faz menção de uma estadia prolongada em Belém e uma viagem ao Egito antes do retorno a Nazaré; se Lucas conhecia esses eventos, achou-os irrelevantes para seu propósito. Mateus, ao contrário de Lucas, não oferece descrição do nascimento de JESUS nem da visita dos pastores; ele especifica a época do nascimento como ocorrido durante o reinado do rei Herodes (também Lc 1.5). Herodes, o Grande, como agora é chamado, nasceu em 73 a.C. e foi nomeado rei da Judeia pelo Senado romano em 40 a.C. Por volta de 37 a.C., ele acabou, com a ajuda das forças romanas, com todos que se opunham ao seu governo. Filho do idumeu Antípatro, ele era rico, dotado politicamente, muitíssimo leal, excelente administrador e astuto o bastante para permanecer nas boas graças de sucessivos imperadores romanos. Seu programa de auxílio contra a fome foi soberbo e seus projetos de construção (incluindo o templo começado em 20 a.C.) eram admirados até mesmo por seus inimigos. Mas ele amava o poder, impôs impostos incrivelmente pesados sobre o povo e se ressentia com o fato de que muitos judeus o consideravam um usurpador. Em seus últimos anos, Herodes, sofrendo de uma doença que aumentou sua paranóia, tornou-se cruel e, tomado por acesso de raiva e de ciúme, matou associados próximos, sua esposa Mariana (descendente judia dos macabeus) e, pelo menos, dois de seus filhos (cf. Jos., Antiq. XTV-XVTII; S. Perowne, The Life a n d Times o f H erod the Great [A vida e os tempos d e Herodes, o Grande] [London: Hodder and Stoughton, 1956]; e esp. Abraham Schalit, K önig H erodes: D er M ann u n d sein Werk [Berlin: de Gruyter, 1969]). Tradicionalmente, alguns sustentam que Herodes morreu em 4 a.C.; portanto, JESUS deve ter nascido antes disso. Josefo (Antiq. XVII, 167 [vi.4]) menciona um eclipse da lua ocorrido pouco antes da morte de Herodes, e esta é normalmente identificada como tendo ocorrido em 12-13 de março de 4 a.C. Após a morte de Herodes houve uma celebração de Páscoa (Jos. Wars II, 10 [i.3]; Antiq. XVII, 213 [íx.3]), presumivelmente em 11 de abril de 4 a.C.; portanto, à primeira vista a data de sua morte parece segura. Contudo, recentemente, Ernest L. Martin (The Birth o f Christ R ecalculated! [O nascim ento de CRISTO recalculado!\ [Pasadena: FBR, 1978], p. 22-49) propôs sólidos motivos para achar que o eclipse ocorreu em 10 de janeiro do século I a.C.; e Martin, integrando essa informação com sua interpretação de outras datas relevantes, propôs a data do nascimento de JESUS em setembro do século II a.C. (Sua localização exata da data em 1 de setembro baseou-se em sua interpretação de Apocalipse 12.1-5, muito especulativa para ser considerada.) Diversas linhas Mateus 2.1-12 112 de evidência levantam-se contra essa tese: Josefo data a extensão do reinado de Herodes em 37 anos de sua ascensão ao trono ou em 34 anos a partir do momento de seu efetivo reinado (Antiq. XVII, 191 [viii.l]; Wars I, 665 [xxxiii.8]), e isso favorece a data da morte de Herodes em 4 a.C. Moedas datadas da época de 4 a.C., cunhadas sob o reinado dos filhos de Herodes, apoiam a data tradicional. Martin responde a essas objeções alegando que os sucessores de Herodes antedataram seus reinados para 4 a.C. em homenagem aos fdhos de Herodes, Alexandre e Aristóbulo a quem ele matou naquele ano e argumentando que, entre 4 a.C. e 1 a.C., houve alguma forma de governo conjunto de Herodes e seu filho Antipar. Nesse caso, os dados de Josefo em relação à extensão do governo de Herodes referem-se ao seu reinado não compartilhado. Isso não é convincente do ponto de vista psicológico, não seria provável que um homem que matou dois de seus filhos por paranóia e ciúme e arranjou para executar centenas de líderes judeus no dia de sua morte compartilhasse sua autoridade, mesmo que de maneira meramente formal. A questão permanece sem solução. Para uma datação mais tradicional do nascimento de JESUS no final de 5 a.C. ou no início de 4 a.C., veja Hoehner, C hronological Aspects [.Aspectos cronológicos], p. 11-27 (escrito antes da obra de Martin). Os “magos” (magoi) não são fáceis de identificar com precisão. Diversos séculos antes, o termo era usado para uma casta sacerdotal dos medos que desfrutava de poder especial para interpretar sonhos. Daniel (1.20; 2.2; 4.7; 5.7) refere-se aos m agoi no Império Babilônio. Em séculos posteriores aos tempos do Novo Testamento, o termo cobria indistintamente uma ampla variedade de homens interessados em sonhos, astrologia, mágica, livros tidos como contendo referências misteriosas em relação ao futuro e semelhantes. Alguns magos buscavam honestamente a verdade; muitos eram patifes e charlatães (e.g., At 8.9; 13.6,8; cf. R. E. Brown, Birth o f Messiah [Nascimento do Messias], p. 167-68, 197-200; TDNT, 4:356-59). Aparentemente, esses homens foram a Belém estimulados por cálculos astrológicos. Mas é provável que tenham aumentado suas expectativas de uma figura real labutando em vários livros judeus (cf. W. M. Ramsey, The B earing ofR ecen t D iscovery on the Trustworthiness o fth e N ew Testament [O suporte de recente descoberta sobre a confiabilidade do Novo Testamento], 4a ed. [London: Hodder and Stoughton, 1920], p. 140-49). A tradição de que os magos eram reis pode ser traçada até a época de Tertuliano (morto em c. 225). E provável que essa tradição tenha se desenvolvido sob a influência de passagens do Antigo Testamento que dizem que reis viriam e adorariam o Messias (cf. SI 68.29,31; 72.10,11; Is 49.7; 60.1-6). A teoria de que houve três “homens sábios” provavelmente é uma dedução a partir dos três presentes (2.11). No final do século VI, os homens sábios foram chamados de Melcon (depois Melquior), Baltasar e Gaspar. Mateus não fornece nomes. Seus m agoi foram a Jerusalém (que, como Belém, tem fortes conexões davídicas [2Sm 5.5-9]), aparentemente vindos do Oriente (cf. nota 5) — é provável que do leste — possivelmente da Babilônia, onde havia um assentamento judaico de tamanho considerável e que exercia considerável influência, mas possivelmente da Pérsia ou do deserto da Arábia. O local mais distante, Babilônia, pode ser sustentado pelo tempo de viagem aparentemente exigido (veja em 2.16). 113 Mateus 2.1-12 2 Os magos viram uma estrela “quando se levantava” (NVI nota de rodapé; cf. nota em 2.1). Permanece incerto o que eles viram. 1. Kepler (morto em 1630) mencionou que no ano romano 747 a.u.c. (7 a.C.), lá ocorreu uma conjunção dos planetas Júpiter e Saturno na constelação zodiacal de Peixes, signo, às vezes, ligado na astrologia antiga com os hebreus. Muitos detalhes podem ser ajustados a essa sugestão (Alf; R. E. Brown, Birth o f M essiah [.Nascimento do Messias], p. 172-73; DNTT, 3:735; Maier), em particular, o fato de que os judeus medievais viam relevância messiânica na mesma conjunção planetária. Além disso, a conjunção ocorreu em maio, outubro e novembro de 7 a.C.; e uma das duas últimas aparições poderia explicar 2.9. Todavia, não há sólida evidência de que os antigos se referiam a essas conjunções como “estrelas”; e Júpiter e Saturno, mesmo em sua fase de maior proximidade, estariam cerca de um grau distantes — uma distância percebida de cerca de duas vezes o diâmetro da lua — portanto, nunca fundiriam em uma única imagem. 2. Kepler mesmo preferia a sugestão de que essa estrela era uma supernova — estrela que perde brilho, desbota e acaba por sofrer uma explosão violenta e dá origem a enorme quantidade de luz por algumas semanas ou meses. A sugestão não passa de palpite; não há evidência que confirme isso e é difícil essa teoria explicar 2.9. 3. Outros sugerem cometas, ao que alguns autores antigos se referem como “estrelas variáveis”. O mais provável é o cometa de Halley (cf. Lagrange) que passou em 12 a.C., mas essa data parece extremamente precoce. 4. Martin opta por uma série de conjunções planetárias e concentrações de corpos celestes em 2/3 a.C. Essa sugestão depende da reconstrução completa dele e a data posterior para a morte de Herodes (veja em 2.1), o que não é mais que uma possibilidade. A teoria também compartilha algumas das dificuldades do ponto 1. 5. Muitos comentaristas, à luz de 2.9, insistem que as considerações astronômicas são uma perda de tempo: Mateus apresenta a estrela como estritamente sobrenatural. Isso também é possível e obviamente impossível de falsificar, mas 2.9 não é tão determinante quanto é sugerido com frequência (cf. em 2.9). A evidência é inconclusiva. A linguagem usada por Mateus quase com certeza alude a Números 24.17: “Uma estrela surgirá de Jacó; um cetro se levantará de Israel”. Esse oráculo, vindo das montanhas do oriente” (Nm 23.7), pronunciado por Balaão, é amplamente visto como messiânico (Targ., Jonathan e Onkelos; CD 7.19-20; 1QM 11.6; lQ Sb 5.27; 4QTest 12— 13; T Judá 24.1). Mateus e Números tratam do o rei de Israel (cf. Nm 24.7), embora Mateus não recorra à alegorização incontrolada sobre “estrela” frequentemente encontrada nos primeiros escritos cristãos pósapostólicos (cf. Jean Daniélou, The Theology ofjew ish Christianity [London: Darton, Longman & Todd, 1964], p. 214-24). De acordo com a devoção instruída de Mateus p elo Antigo Testamento, ele, com certeza, sabia que o Antigo Testamento ridiculariza os astrólogos (Is 47.13 15, Dn 1.20; 2.27; 4.7; 5.7) e proíbe a astrologia (Jr 10.1,2). Não obstante, ela era amplamente praticada no sécu lo I, até mesmo entre os judeus (c£ Albright e Mann). Mateus não condena nem santifica essa prática; em vez disso, ele contrasta Mateus 2.1-12 114 a anseio dos magos em adorar a JESUS, a despeito do conhecimento limitado que tinham dele, com a apatia dos líderes judeus e a hostilidade da corte de Herodes — todos os quais tinham as Escrituras para lhes fornecer informação. O conhecimento formal das Escrituras, sugere Mateus, não leva em si mesmo ao conhecimento de quem JESUS é; da mesma forma como DEUS operou de forma soberana por meio do decreto de César para que fosse feito um censo (Lc 2.1) a fim de assegurar o nascimento de JESUS em Belém em cumprimento à profecia, também DEUS usou soberanamente os cálculos dos magos para fazer acontecer a situação descrita nessa perícope. A pergunta feita pelos magos não conta como a astrologia deles os levou a buscar um “rei dos judeus” nem o que os fez pensar que aquela estrela em particular era dele. A ideia amplamente sustentada de que o mundo antigo procurava um líder judeu de renome (muitíssimo baseada em Josefo, War VI, 312-13 [v. 4]; Suetônio, Vespasian [Vespasiano\ 4; Tácito, H istories [Histórias], v. 13; Virgílio, E clogue \Eclogd\ 4) não sustenta um exame atento. A passagem de Josefo refere-se à expectativa judaica de um Messias, e os outros, provavelmente, emprestaram de Josefo. Os magos ligaram a estrela ao “rei dos judeus” por meio do estudo do Antigo Testamento e de outros escritos judaicos — possibilidade plausível em vista da grande comunidade judaica existente na Babilônia. Não devemos pensar que a pergunta dos magos representa: onde está o que nasceu para ser rei dos judeus?; mas, sim: onde está o que nasceu rei dos judeus? (cf. notas). A condição real de JESUS não lhe foi conferida depois, ela vinha de seu nascimento. A participação de JESUS na dinastia davídica já foi estabelecida pela genealogia. O mesmo título que os magos usaram para ele encontrou seu lugar sobre a cruz (27.37). “Adorá-lo” (cf. notas) não sugere necessariamente que os magos reconheciam a divindade de JESUS; pode apenas ter o sentido de “prestar homenagem” (Broadus). A própria declaração deles sugere homenagem prestada à realeza, em vez de adoração da divindade. Contudo, Mateus, já tendo relatado sobre a concepção virginal, sem dúvida, esperava que seus leitores discernissem algo mais — viz., que os magos “adoravam” mais do que conheciam. 3 Em contraste com (de, adversativo brando, NVI, “quando”) o desejo dos magos em adorar o rei dos judeus, Herodes fica profundamente perturbado com a notícia. Nesse sentimento, “toda Jerusalém” junta-se a ele, não porque a maioria do povo lamentaria ver Herodes substituído, nem porque relutavam em ver a vinda do rei Messias, mas porque sabiam bem que uma pergunta como a dos magos resultaria em mais crueldade do doente Herodes, cuja paranóia o levara a matar sua esposa favorita e dois filhos. 4 Aqui o termo “todos” modifica “os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei”, não o “povo”, e refere-se àqueles que viviam em Jerusalém e podiam ser consultados com rapidez. A expressão “Chefes dos sacerdotes” refere-se à hierarquia, constituída do sumo sacerdote atual e todos que tinham ocupado anteriormente esse posto (uma vez que Herodes, contrário à lei, fazia mudanças bastante frequentes no sumo sacerdócio) e um substancial número de outros líderes 115 Mateus 2.1-12 sacerdotais (cf. Jos. Antiq. XX, 180 [viii.8]; War IV, 159-60 [iii.9]; a mesma palavra grega é usada para “sumos sacerdotes” e “chefes dos sacerdotes”). Os “mestres da lei”, ou “escribas”, como outras versões os denominam, eram peritos no Antigo Testamento e em sua fecunda tradição oral. O trabalho deles não era tanto de copiar os manuscritos do Antigo Testamento (como sugere a palavra “escribas”) quanto de ensinar o Antigo Testamento. Como muitas leis civis eram baseadas no Antigo Testamento e nas interpretações do Antigo Testamento estimuladas pelos líderes, os “escribas” também eram “advogados” (cf. 22.35, “perito na lei”). A grande maioria dos escribas era fariseu; os sacerdotes eram saduceus. Os dois grupos mal se davam, por isso, Schweizer (M atthew [Mateus]) julga esse versículo “quase inconcebível historicamente”. Todavia, Mateus não diz que os dois grupos foram ao mesmo tempo. Herodes, não amado pelos dois grupos, bem pode ter chamado os dois grupos para evitar ser enganado. Se os fariseus e os saduceus mal se falavam havia menos probabilidade de conspiração. “Perguntoulhes” (epynthaneto, o tempo imperfeito, às vezes, conota pedidos hesitantes: Herodes pode ter esperado o malogro do silêncio; cf. Turner, Insights [Percepções], p. 27) onde o CRISTO (aqui um título; veja em 1.1) nasceria, compreendendo que “o CRISTO” e “o rei dos judeus” (2.2) eram títulos da mesma pessoa esperada. (Veja 26.63; 27.37 para a mesma equivalência.) 5 Os líderes judeus responderam à pergunta referindo-se ao que foi escrito, que é a força do verbo passivo perfeito gegraptai (NVI, “assim escreveu”), sugerindo a força autoritativa e reguladora do documento mencionado Deiss BS, p. 112-14; 249-50). A NVI omite a preposição dia (lit., “o que permanece escrito p o r interm édio do profeta”), o que sugere que o profeta não é a fonte última do que foi escrito (cf. em 1.22). Em 1.22 e aqui, alguns testemunhos textuais inserem o nome do profeta (e.g., Miqueias ou até mesmo Isaías). “Belém da Judeia” foi introduzida na narrativa em 2.1. 6 Embora a expectativa de que o Messias venha de Belém ocorra em outras passagens (e.g., Jo 7.42; cf. Targ., sobre M q 5.2: “De ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel”), aqui ela repousa em Miqueias 5.2 (1 TM ), ao qual são acrescentadas algumas palavras de 2Samuel 5.2 (lC r 11.2). Mateus não segue o texto massorético nem a LXX, e as mudanças que realizou provocaram bastante especulação. 1. “Belém-Efrata” (LXX, “casa de Efrata”) torna-se “Belém, da terra de Judá”. Hill (M atthew [Mateus]) diz que essa mudança foi feita para excluir “alguma outra cidade de Judá como Jerusalém”. Mas isso é ler demais no que é uma forma comum da LXX se referir a Belém (cf. Gundry, Use o fO T [Uso do AT], p. 91). “Efrata” é arcaico e, até mesmo no texto massorético, está primariamente restrito às seções poéticas, como Miqueias 5.2. 2. A forte negativa “de forma alguma” (oudamôs) é acrescentada em Mateus e contradiz formalmente Miqueias 5.2. Argumenta-se, com frequência, que essa mudança foi feita a fim de enfatizar Belém como o local de nascimento do Messias. Na verdade, o comentário de Gundry usa essa mudança como exemplo do uso midráshico que Mateus faz do Antigo Testamento, ele faz um uso tão livre que Mateus 2.1-12 116 não teme cair em total contradição. Há melhores explicações. Até mesmo o texto massorético de Miqueias sugere a grandeza de Belém: “Mas tu, Belém-Efrata, embora pequena entre os clãs [ou governantes que personificam as cidades; na ARA, ‘milhares’ está pedantemente correto, mas ‘milhares’ é uma forma de se referir aos grandes clãs em que as tribos eram subdivididas; cf. Jz 6.15; ISm 10.19; 23.23; Is 60.22] de Judá”, estabelece o palco para a grandiosidade que se segue. Da mesma forma, a formulação de Mateus assume que Belém, afora ser o local de nascimento do Messias, na verdade, tem pouca importância (cf. Hengstenberg, 1:475-76, mencionado por Gundry, Use ofO T [U so do AT\, p. 91-92). Para pôr de outra maneira, embora a segunda linha de Miqueias 5.2 contradiga formalmente a segunda linha de Mateus 2.6, uma leitura completa e capacitada dos versículos mostra que a contradição é meramente formal. Talvez Mateus 2.6 enfatize levemente mais um fator que torne Belém maior. 3. Mateus acrescenta a linguagem de pastor de 2Samuel 5.2, deixando claro que o governante de Miqueias 5.2 não é outro senão aquele que cumpre as promessas feitas a Davi. É tentador achar que Mateus vê dois contrastes: (1) entre os falsos pastores de Israel, que fornecem respostas corretas, mas não liderança (cf. 23.2-7), e JESUS que é o verdadeiro Pastor de seu povo Israel e (2) entre um governante como Herodes e o nascido para governar. As palavras “Israel, o meu povo” são incluídas não só porque estão em 2Samuel 5.2, mas também porque Mateus, como Paulo, registra fielmente o foco judaico essencial das promessas do Antigo Testamento e da expectativa do Antigo Testamento de uma aplicação mais ampla aos gentios (cf. sobre 1.1,5,21). JESUS não é apenas o rei davídico prometido, mas também a prometida esperança de bênção para todas as nações, aquele que exige a reverência delas (cf. SI 68.28-35; Is 18.1-3,7; 45.14; 60.6; Sf 3.10). A mesma dualidade faz o desejo dos magos gentios de adorar o Messias destacar-se contra a apatia dos líderes, os quais, aparentemente, não se dão ao trabalho de ir a Belém. Claro que talvez os líderes judeus tenham visto a chegada dos magos em Jerusalém como mais um alarme falso. Até o ponto em que podemos saber, os saduceus (e, portanto, os chefes dos sacerdotes) não tinham interesse na questão de quando o Messias viria; os fariseus (e, portanto, muitos dos mestres da lei) esperavam que ele viesse apenas um tanto mais tarde. Apenas os essênios, que não foram consultados por Herodes, esperavam a chegada iminente do Messias (cf. R. T. Beckwith, “The Significance of the Calendar for Interpreting Essene Chronology and Eschatology” [“A relevância do calendário para interpretar a cronologia e escatologia essênias”] , R evue de Qumran 38 [1980], p. 167-202). Mas Mateus diz claramente que, embora JESUS fosse o Messias, nascido na linhagem de Davi e fosse, com certeza, o Pastor e Governante de Israel, foram os gentios que foram o adorar. 7-10 O motivo para Herodes querer saber, em seu encontro secreto com os magos (v. 7), o momento exato do aparecimento da estrela era por ele já ter planejado matar os bebês do sexo masculino de Belém (cf. v. 16). A história toda é consistente (veja sobre v. 16). A hipócrita humildade de Herodes — “para que 117 Mateus 2.1-12 eu também vá adorá-lo” (v. 8) — enganou os magos. Herodes, cônscio de seu sucesso, não enviou escolta com eles. Isso não foi “confiança absurda” (Schweizer, M atthew \Mateus\), uma vez que a fraude dependia de conquistar a confiança dos magos. Dificilmente se poderia esperar que Herodes previsse a intervenção de DEUS (v. 12). Mateus não diz que a estrela ascendente que os magos tinham visto (cf. sobre 2.2) os levou a Jerusalém. Eles foram primeiro para a capital porque acharam que seria o local natural para o nascimento do rei dos judeus. Mas, agora, a estrela reaparece acima deles (v. 9) à medida que se dirigem para Belém (não era incomum viajar à noite). Os magos, supondo que isso confirmava o propósito deles, ficaram enlevados (v. 10). O texto grego não sugere que a estrela apontou a casa em que JESUS estava, ela pode ter simplesmente pairado sobre Belém enquanto os magos se aproximavam da cidade. A seguir, eles devem ter encontrado a casa correta por meio de discreta inquirição, uma vez que (Lc 2.17,18) os pastores que foram adorar o recém-nascido JESUS não guardaram silêncio sobre o que viram. 11 Esse versículo alude claramente a Salmos 72.10,11 e a Isaías 60.6, passagens que reforçam a ênfase sobre os gentios (cf. sobre v. 6). A sugestão de Nolan (p. 206-9) de que o paralelo mais próximo é Isaías 39.1,2 é atraente da perspectiva linguística, mas fraca do ponto de vista contextuai. A evidência de que Ezequias serviu como figura escatológica é deficiente e não explica por que ele tornaria acessível aos visitantes o tesouro guardado em “seus armazéns”. Passara algum tempo desde o nascimento de JESUS (w. 7,16), e a família estava estabelecida em uma casa. Embora os magos procurassem filho e mãe, só adoraram (cf. sobre v. 2) o filho. Levar presente era particularmente importante no Oriente da Antiguidade na aproximação a um superior (cf. Gn 43.11; ISm 9.7,8; lRs 10.2). Esses presentes, em geral, eram recíprocos (Derrett, N T Studies [Estudos do NT], 2:28). Isso não é mencionado aqui, mas o leitor do século I teria presumido isso e visto a Grande Comissão (28.18-20) chegando a sua plena realização. O olíbano, tipo de incenso, é a resina brilhante e perfumada obtida fazendo incisão na casca de diversas árvores; a mirra é exsudada de uma árvore encontrada na Arábia e em poucos outros lugares e era um condimento e perfume muito valorizado (SI 45.8; Ct 3.6) usado para embalsamar (Jo 19.39). Comentaristas, antigos (Orígenes, Contra Celsum [Contra Celso], 1.60) e modernos (Hendriksen), encontram valor simbólico nos três presentes — ouro, sugerindo realeza; incenso, divindade; e mirra, a paixão e o funeral. Essa interpretação exige percepção demais por parte dos magos. Os três presentes foram simplesmente caros e nada incomuns e talvez tenham ajudado a financiar a viagem para o Egito. Nesse contexto, provavelmente, a palavra “tesouros” refere-se a “cofres” ou “caixas de tesouro”. 12 Esse segundo sonho (cf. 1.20) não menciona anjo. Talvez José e os magos tenham comparado impressões e visto o perigo que corriam (cf. P. Gaechter, “Die Magierperikope” [“Da perícope dos magos”], Z eitschrifi fü r K atholische Theologie 90 [1968], p. 257-95); em meio a sua incerteza e temor, os sonhos os levaram a fugir (w. 12,13). Não fica claro que caminho os magos seguiram; eles podem ter ido para as redondezas da ponta norte do mar Morto, evitando passar por Jerusalém, ou para as redondezas da ponta sul do mar. Mateus 2.13-15 118 Notas 1,2 A palavra àvaxolr| (anatolê) pode ter o sentido de “ascendente” ou “Oriente”. No v. 1, a NVI traduz corretamente o c ttÒ àvaxoXãv ( apo anatolôn, “do Oriente”), uma vez que o nome, em geral, indica o ponto da bússola quando ele é plural e usado sem artigo (cf. BDF, 253 [5]). Por meio da mesma indicação, é menos provável queéf ttj àvazokr\ (en tê anatolê) nos versículos 2 e 9 seja “no Oriente” que “em sua ascensão” (o artigo pode abrandar a força possessiva). Outras sugestões — e.g., que a expressão se refere a uma terra específica do Oriente ou a Anatólia no Ocidente — parecem menos convincentes; mas a questão é extraordinariamente complexa (cf. Turner, Insights [Percepções], p. 25-26; R. E. Brown, Birth ofMessiah [Nascimento do Messias], p. 173). 2 O particípio na construção 'o texOelç PaoLÀeúç (ho techtheis basileus, lit., “recém-nascido rei”) é adjetivo, não substantivo e é usado atributivamente. Além disso, não há sugestão de “recém-nascido” (cf. C. Burchard, “Fussnoten zum neutestamendichen Griechisch II”, ZNW 29 [1978], p. 143-57), o que já foi descartado pelas notas cronológicas (w. 7,16). Há três ocorrências do verbo irpoaKUvéco (proskyneô, “adorar”) nessa perícope (cf. w. 8,11) e dez outras no evangelho de Mateus. No Novo Testamento, o objeto dessa “adoração” é quase sempre DEUS ou JESUS, a não ser quando alguém está agindo de forma ignorante e é repreendido (At 10.25,26; Ap 19.10; 22.8,9). Mas Apocalipse 3.9 é uma importante exceção (NVI, “prostrem aos seus pés”). O grego secular usava o verbo para uma grande variedade de graus de reverência e é precário para a construção de muita cristologia sobre o uso do termo nos evangelhos. 3 As palavras u&oct 'l€poaólu|ia (pasa Hierosolyma, “toda Jerusalém”) trai uma ruptura de harmonia uma vez que a palavra pasa é feminina, mas essa forma de “Jerusalém”, ao contrário da forma alternativa 'IcpouoaÀrni (Ierousalêm), não é feminina, mas plural neutro. Provavelmente pasa é um precursor do indeclinável pasa do grego moderno (por isso, BDF, par. 56[4]); mas marginalmente é mais provável que o substantivo esteja sendo tratado como feminino singular, uma vez que há outras circunstâncias em que é construído como feminino singular, embora pasa não esteja no presente. 5,6 Mateus usa o singular irp0cj)r|T0i) (prophêtou, “profeta”), embora sejam citadas duas passagens diferentes, a do primeiro e do último profeta , respectivamente. Contudo, parece uma prática comum referir-se a um autor, talvez o principal, quando cita dois ou três autores (cf. 27.9; Mc 1.2,3). 7 TÓtc (tote, “então”) é muito comum em Mateus, havendo noventa ocorrências, quando comparado com as seis ocorrências em Marcos e quatorze, em Lucas; mas o uso em Mateus só, às vezes, tem força temporal (como aqui), servindo com mais frequência como um conectivo indefinido. 10 As palavras “encheram-se de júbilo” traduz um acusativo cognato è/ápipav %apáv (echarêsan charan, lit., “regozijaram com alegria”) provavelmente sob influência semítica (cf. Moule, Idiom Book [Livro de expressões idiomáticas], p. 32; BDF, par. 153[1]). D. A fuga para o Egito (2.13-15) 13 Depois que partiram, um anjo do Senhor apareceu a José em sonho e lhe disse: “Levante-se, tome 0 menino e sua mãe, e fuja para o Egito. Fique lá até que eu lhe diga, pois Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. 14 Então ele se levantou, tomou o menino e sua mãe durante a noite, e partiu para o Egito, 15 onde ficou até a morte de Herodes. E assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu filho”. 119 Mateus 2.13-15 Muitos comentaristas acham que esse relato foi criado a fim de dar conteúdo à declaração de que o Antigo Testamento foi “cumpri[do]” (v. 15). A respeito de questões críticas mais abrangentes veja os comentários introdutórios de 1.18-25 e 2.1-12. Considerando-se o que sabemos dos últimos anos de Herodes, não há nada improvável, da perspectiva histórica, nesse relato; e exatamente porque o texto de cumprimento é difícil, pode-se presumir que a história incita a reflexão a respeito do texto do Antigo Testamento, em vez de vice-versa. 13,14 O verbo “ficar” (v. 13) é o mesmo para “retornar” do versículo precedente, ligando os dois relatos. Esse é o terceiro sonho nesses dois capítulos, e, pela segunda vez, um anjo do Senhor é mencionado (cf. 1.20; 2.12). O ponto é que DEUS agiu de forma soberana para preservar seu Messias, seu Filho — algo bem entendido por JESUS mesmo, e esse é o tema principal do evangelho de João. O Egito era o lugar natural para onde fugir. Era uma província romana próxima, bem organizada e fora da jurisdição de Herodes; e, de acordo com Filo (escreveu em c. 40 d.C.), a população do Egito incluía cerca de um milhão de judeus. Gerações anteriores de israelitas fugiram de sua terra natal (lR s 11.40; Jr 26.21 23; 43.7) e buscaram refugio no Egito. No entanto, se Mateus estava pensando em algum paralelo particular do Antigo Testamento, provavelmente tinha em mente Jacó e sua família (Gn 46) fugindo da fome que assolou Canaã, uma vez que essa foi a viagem que estabeleceu o palco para o êxodo (cf. 2.15). A ordem do anjo foi explícita. José, Maria e a criança deviam permanecer no Egito não só até Herodes morrer, mas também até ser dada ordem para que retornassem (cf. w . 19,20). A ordem também era urgente. José partiu imediatamente, saindo à noite para iniciar a jornada de 120 quilômetros até a fronteira. E indiscutível o foco na proteção de DEUS para “o menino”. Herodes tentaria matá-lo (v. 13), e José tomou “o menino e sua mãe” (v. 14 — não na ordem normal) e partiu para o Egito. 15 A morte de Herodes trouxe alívio para muitos. Apenas então, por exemplo, os aliançados de Qumran retornaram ao seu centro, destruído em 31 a.C. e o reconstruíram. No Egito, a morte de Herodes tornou possível a volta do menino, de Maria e de José, que aguardavam a palavra do Senhor. Poder-se-ia traduzir o grego por: “E assim se cumpriu” (NVI); ou: “[Isso aconteceu] a fim de que a Palavra do Senhor [...] fosse cumprida”. Dessas duas maneiras, a noção de cumprimento preserva alguma força télica na sentença: a saída de JESUS do Egito cumpriu a Escritura escrita havia muito tempo. A citação do Antigo Testamento (v. 15) quase com certeza (cf. notas) vem de Oseias 11.1 e foi traduzida exatamente do hebraico, nao da LXX que traz “seus filhos”, e não “meu filho”. (Nisso, Mateus concorda com Aq., Sim. e Teod., mas só porque todos os quatro dependem do hebraico.) Alguns comentaristas (e.g., Beng; Gundry, Use ofO T [U so do AT], p. 93-94) argumentam que a preposição ek (“do”, NVI) poderia ser tomada temporalmente, isto é, “desde o Egito”, ou melhor: “Da época [em que ele morou] no Egito”. A preposição pode ter essa força; e há concordância que o versículo 15 quer dizer que DEUS “cham[ou] ” JESUS do Egito, no sentido de que ele o reconheceu especialmente e o preservou da época de sua jornada egípcia em diante, protegendo-o contra Herodes. Afinal, o êxodo mesmo não é mencionado até os versículos 2 1,22. Mateus 2.13-15 120 Alguns comentaristas interpretam de maneira similar o chamado de Israel registrado em Oseias 11.1. No entanto, há argumentos convincentes contra essa interpretação. O contexto de Oseias 11.1 menciona o retorno de Israel para o Egito (1 1.5), o que pressupõe que 11.1 se refere ao êxodo. Gundry, para preservar a força temporal de ek em Mateus 2.15, aceita a duvidosa afirmação de que a preposição em Oseias é temporal e locativa. Em apoio a essa percepção, salientase que a verdadeira partida de JESUS do Egito não é mencionada até o versículo 2 1. Mas embora isso seja verdade, não obstante, é sugerido pelos versículos 13,14. E provável que o motivo para Mateus introduzir a citação de Oseias nesse ponto, em vez de no versículo 2 1, seja porque quis usar o retorno da jornada mesma para estabelecer a referência ao destino, Nazaré (v. 23), em vez de ao ponto inicial, Egito (R. E. Brown, Birth ofM essiah [Nascimento do Messias], p. 220). Se Oseias 11.1 refere-se ao êxodo de Israel do Egito, em que sentido Mateus pretende que o retorno de JESUS para a terra de Israel “cumpr[a]” esse texto? Quatro observações esclarecem a questão. 1. Muitos notam que, com frequência, JESUS é apresentado no Novo Testamento como o antítipo de Israel, ou melhor, a recapitulação tipológica de Israel. A tentação de JESUS após quarenta dias de jejum recapitula os quarenta anos de provação de Israel (veja sobre 4 .1-11). Em outra passagem, se Israel é a videira que não produz o fruto esperado, JESUS, em contrapartida, é a videira verdadeira (Is 5; Jo 15). O motivo pelo qual o faraó deve deixar Israel partir é que por este ser o fdho do Senhor (Ex 4.22,23), um tema apresentado por Jeremias (31.9) e também por Oseias (cf. também SI 2.6,12). Em Mateus, o tema do “filho” (cf. esp. T. de Fruijf, D erSohn des lebendigen Gottes: Ein Beitrag zur Christologie des M atthãusevangeliums [O Filho de DEUS vive. Uma contribuição à cristologia do evangelho de Mateus] [Rome: BIP, 1962], p. 56-58, 190) já está presente, uma vez que JESUS é o “filho” messiânico “de Davi” e, pela concepção virginal, é o Filho de DEUS, e torna-se extraordinariamente proeminente em Mateus (veja sobre 3.17): “Este é o meu Filho amado”. 2 . O verbo “cumprir” tem relevância mais abrangente que a mera predição individual (cf. introdução, seção ll.b ; e comentários sobre 5.17). Não só em Mateus, mas também em outras passagens do Novo Testamento, a história e as leis do Antigo Testamento são percebidas como aspectos que têm relevância profética (cf. sobre 5.17-20). A epístola aos Hebreus argumenta que as leis relativas ao tabernáculo e ao sistema sacrificial foram, desde o começo, destinadas a apontar em direção ao único sacrifício que podia realmente remover o pecado e ao único Sacerdote que podia servir de uma vez por todas como o Mediador eficaz entre DEUS e o homem. Da mesma forma, Paulo insiste que o Messias agrega em si mesmo seu povo. Quando Davi foi ungido rei, as tribos reconheceram que eles eram sangue de seu sangue (2Sm 5.1 “Representantes de todas as tribos de Israel foram dizer a Davi, em Hebrom: “Somos sangue do teu Sangue”), ou seja, Davi como rei ungido agrega Israel, com o resultado de que o pecado dele trazia desastre para o povo (2Sm 12, 24). Da mesma maneira que Israel é filho de DEUS, também o Filho davídico prometido é Filho de DEUS (2Sm 7.13,14; cf. N. T. Wright, “The Paul of History” [“O Paulo da história”], Tyndale Bulletin 29 [1978]; esp. p. 66-67). O “cumpri- 121 Mateus 2.13-15 [mento] ” deve ser entendido contra o pano de fundo desses temas interligados e as conexões tipológicas deles. 3. Portanto, segue-se que os escritores do Novo Testamento não pensam que estão lendo em retrospectiva coisas do Antigo Testamento que, na verdade, não estão lá embrionariamente. Isso não quer dizer que Oseias tinha o Messias em mente quando escreveu Oseias 11.1. Essa admissão incitou W L. LaSor (“Prophecy, Inspiration, and Sensus P len ior’ [“Profecia, Inspiração e Sensus P lenior”], Tyndale Bulletin 29 [1978], p. 49-60) aver no uso de Oseias 11.1 por Mateus um exemplo de sensus p len ior, com o que ele pretende um “sentido mais pleno” do que estava presente na mente de Oseias, mas algo que, entretanto, estava presente na mente de DEUS. Mas um apelo tão brusco ao que DEUS ocultou de forma tão absoluta parece um estranho pano de fundo para a insistência de Mateus de que, em algum sentido, a partida de JESUS do Egito cumpre a passagem de Oseias. Essa observação não é trivial; Mateus estava argumentando com judeus que poderiam dizer; “Você nao está sendo justo com o texto”! Portanto, é necessária uma posição mediadora. Oseias 11 retrata o amor de DEUS por Israel. Embora DEUS ameace trazer julgamento e desastre, todavia, ele por ser DEUS e não homem (11.9), olha para um tempo em que rugirá como leão, e seus filhos retornarão para ele (1 1.10,11). Em suma, o próprio Oseias aguarda uma visita salvadora do Senhor. Por isso, sua profecia ajusta-se ao padrão mais abrangente da revelação do Antigo Testamento até esse ponto, a revelação que, explícita e implicitamente, aponta para a semente da mulher, o Filho eleito de Abraão, o Profeta como Moisés, o Rei davídico, o Messias. A linguagem de “filho” faz parte dessa matriz messiânica (cf. Willis J. Beecher, The Prophets a n d the Prom ise [O sprofetas e a prom essa] [New York; Thomas Y. Crowell, 1905], p. 331-35); à medida que essa matriz aponta para JESUS, o Messias, e à medida que a história de Israel aguarda aquele que a agrega; então, por enquanto, Oseias 11.1 também olha para a frente. Perguntar se Oseias pensava no Messias é fazer a pergunta errada, da mesma maneira que o é usar o serrote quando o que se precisa é de bisturi. E melhor dizer que Oseias, fundamentado na revelação existente, apreende as nuanças messiânicas da linguagem de “filho” já aplicada a Israel e ao prometido herdeiro de Davi em revelação anterior de forma que se ele pudesse ver o uso de 11.1 por Mateus, talvez não o tivesse desaprovado, mesmo que não tivesse nuanças messiânicas em mente ao escrever aquele versículo. Ele forneceu uma pequena parte da revelação exposta durante a história da salvação, mas ele mesmo entendia que essa parte era uma representação pictórica do amor divino e redentor. Os escritores do Novo Testamento insistem que o Antigo Testamento só pode ser interpretado de modo correto se toda a revelação for mantida em perspectiva à medida que é estendida historicamente (e.g., G1 3.6-14). Do ponto de vista hermenêutico, isso não é uma inovação. Os escritores do Antigo Testamento extraem lições da história da salvação anterior, lições essas difíceis de ser percebidas enquanto essa história estava sendo vivida, mas lições que o olhar em retrospectiva pode esclarecer (e.g., Asafe em SI 78; cf. sobre M t 13.35). Mateus faz o mesmo no contexto do cumprimento, em JESUS CRISTO, das esperanças do Antigo Testamento. Portanto, podemos legitimamente falar de um “sentido mais pleno” que nenhum Mateus 2.16-18 122 texto fornece. Mas o apelo não pode ser feito a algum conhecimento divino velado, mas ao padrão de revelação feita até aquela época — padrão ainda nao discernido de forma adequada. Assim, a nova revelação pode ser realmente nova, contudo, pode, ao mesmo tempo, ser verificada contra a antiga. 4. Se essa interpretação de Mateus 2.15 estiver correta, infere-se que, para Mateus, JESUS mesmo é o lócus da verdadeira Israel. Isso não quer necessariamente dizer que DEUS não tem mais propósito para a Israel racial; mas quer dizer que a posição do povo de DEUS na era messiânica é determinada pela referência a JESUS, não à raça. Notas 13 O presente histórico ctJoáyeToa [phainetai, lit., “aparecer”) acrescenta um toque vívido. 15 Em razão do fato de “do Egito” ocorrer em Números 23.22; 24.8, alguns sugerem haver uma ligação entre Mateus 2.15 e Números 24.7,8 (e.g., Lindars, Hill, Schweizer). Esse argumento, em sua forma mais forte, depende da LXX que diz: “Um homem emergirá de sua semente”, em vez de: “Seus reservatórios de água transbordarão” (Nm 24.7), e uma referência a ele [“DEUS que o tirou do Egito”; TB], em vez de a eles [“DEUS os está trazendo do Egito”; NVI] (Nm 24.8). Isso transforma Números 24.8 em uma referência a DEUS tirando o Messias do Egito. Afora a questão textual, deve-se observar que (1) Mateus 2.15 corresponde exatamente a TM Oseias 11.1, mas só aproximadamente a Números 24.8 da LXX; (2) a tradução da LXX, antes, torna Números 24 incoerente.
O massacre dos meninos de Belém (2.16-18) 16 Quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades, de acordo com a informação que havia obtido dos magos. 17 Então se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias: 1B “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque já não existem”. Poucas seções de Mateus 1—2 foram tão criticadas quanto essa. Muitos estudiosos modernos acham que Mateus inventou a história (e.g., Goulder, p. 33; E. M. Smallwood, The Jew s Under Roman Rule [Os ju deu s sob governo romano] [Leiden: Brill, 1976], p. 103-4), prolongando Jeremias 31-15, citado em Mateus 2.18 (também C. T. Davis, “Tradition and Redaction in Matthew 1:18—2:23” [“Tradição e redação de Mateus 1.18— 2.23”], JBL 90 [1971], p. 419). Nessa percepção, talvez Mateus tenha inventado a narrativa a fim de extrair analogia entre JESUS e Moisés ou entre JESUS e as tradições judaicas posteriores em relação a Abraão ou a Jacó; ou por causa da necessidade de uma apologética para construir um sinal inicial do julgamento iminente sobre Israel por rejeitar seu Messias (Kingsbury, Structure [Estrutura], p. 48). Contudo, o versículo 16 não pode ser extirpado do capítulo sem reescrevê-lo todo. A citação do Antigo Testamento no versículo 18, como outras citações assim em Mateus 1—2, não é em si mesma estritamente necessária à narrativa. Essas citações iluminam a narrativa e mostram sua relação com a Escritura do Antigo Testamento, mas nao criam a narrativa (cf. sobre 1.18-25; 2 .1-12). E difícil perceber um paralelo 123 Mateus 2.16-18 verdadeiro com Moisés, uma vez que o decreto do faraó era geral e anterior ao nascimento de Moisés, ao passo que o decreto de Herodes é especificamente para Belém e foi feito depois do nascimento de JESUS. Na melhor das hipóteses, o paralelo é tênue. Além disso, os versículos 16-18 oferecem um sinal insatisfatório da destruição prestes a ocorrer a Israel — até porque JESUS escapa, em vez de sofrer, e as crianças não causaram dano a JESUS. Na verdade, a história está em perfeita harmonia com o que sabemos do caráter de Herodes em seus últimos anos de vida (Schalit, p. 648). Não é de surpreender que não haja confirmação extracristã; pode-se dizer o mesmo da crucificação de JESUS. Dificilmente, a morte de poucas crianças (talvez uma dezena ou por volta disso, a população total de Belém não era grande) dificilmente seria registrada em épocas violentas como aquela. (Veja o excelente tratamento de R. T. France, “Herod and the Children of Bethlehem” [“Herodes e as crianças de Belém”], NovTest 21 [1979], p. 98-120; id., “The Massacre ofthe Innocents” [“O massacre dos inocentes”], Livingstone, p. 83-94.) “Mateus nao está simplesmente meditando a respeito de textos do Antigo Testamento, mas está afirmando que eles encontram cumprimento no que aconteceu. Se os eventos são lendários, o argumento é futil” (France, “Herod” [“Herodes”], p. 120). 16 Provavelmente não levou muito tempo para executar a ordem bárbara de Herodes. Belém fica a apenas oito quilômetros de Jerusalém. Os magos partiram na mesma noite (v. 9) e talvez tenham partido na mesma noite em que tiveram o sonho (v. 12); o mesmo pode ser verdade para José com Maria e JESUS (w. 13-15). Por volta da noite seguinte, a paciência de Herodes já teria acabado. O limite de dois anos de idade visava impedir que JESUS escapasse com vida, pois, na época, ele tinha entre seis e vinte meses. Herodes, objetivando eliminar um rei em potencial, restringiu o massacre aos meninos. Furioso por ser “enganado” (essa tradução é melhor que “iludido”; ARA), ele enfureceu-se contra o Senhor e seu ungido (SI 2 .2). Contudo, esse escape não foi do tipo quando consideramos que alguém escapou por pouco. O entronado no céu ri e zomba dos Herodes deste mundo (SI 2.4). 17,18 Jeremias é mencionado três vezes em Mateus (cf. 16.14; 27.9) e em mais nenhuma outra passagem do Novo Testamento. Nesses versículos, a forma do texto dessa citação do Antigo Testamento é complexa, mas é provável que seja uma tradução de Mateus do hebraico (cf. Gundry, Use ofO T [U so do AT\, p. 94 97; R. E. Brown, Birth ofM essiah [N ascimento do Messias], p. 221-23). É incerto se Jeremias 31.15 refere-se à deportação das tribos do norte pela Assíria, em 722-721 a.C., ou à deportação de Judá e Benjamim em 587-586 a.C. (cf. R. E. Brown, Birth ofM essiah [Nascimento do Messias], p. 205-6). A segunda hipótese é a mais provável. Nebuzarada, comandante da guarda real de Nabucodonosor, reuniu os cativos em Ramá antes de levá-los para o exílio na Babilônia (Jr 40.1,2). Ramá fica ao norte de Jerusalém no caminho para Betei; o túmulo de Raquel ficava em Zelza, na mesma vizinhança (ISm 10.2). Jeremias 31.15 descreve o pesar com a perspectiva do exílio, Raquel é vista chorando em seu túmulo porque seus “filhos”, seus descendentes (Raquel é a mãe idealizada dos judeus, embora Lia tenha dado Mateus 2.16-18 124 à luz a mais tribos que Raquel) “já não existem” — isto é, eles estão sendo removidos da terra e nao são mais uma nação. Mas, em outra passagem, é-nos dito que Raquel foi sepultada no caminho para Efrata, identificada como Belém (Gn 35-19; 48.7). Alguns veem confusão de tradições aqui e presumem que, depois, o clã Efrata estabeleceu-se em Belém e deu seu nome à cidade, começando, assim, uma falsa ligação à qual Mateus segue. Todavia, o problema é artificial. Gênesis 35-16 deixa claro que Jacó estava a alguma distância de Belém-Efrata quando Raquel morreu — viz., algum lugar entre Betei e Belém (só ISm 10.2 diz com mais exatidão onde ele estava). Ademais, Mateus não diz que Raquel foi enterrada em Belém, a conexão entre a profecia e seu cumprimento é mais sutil que isso. Por que Mateus menciona essa passagem do Antigo Testamento? Alguns acham que a conexão resulta da associação de palavras: as crianças foram mortas em Belém; Belém = Efrata; Efrata está ligada à morte de Raquel; e Raquel figura no oráculo. Rothfuchs (p. 64) vê um paralelo entre a condenação ao exílio como resultado do pecado (Jr) e o julgamento de Israel como resultado da rejeição do Messias (interpretação que vê a matança em Belém como um sinal do último). Mais crível é a observação (Gundry, Use ofO T\U so do AT], p. 210; Tasker) de que Jeremias 31.15 ocorre em um cenário de esperança. A despeito das lágrimas, diz DEUS, os exilados retornarão; e, agora, Mateus, referindo-se a Jeremias 31.15, também diz que a despeito das lágrimas das mães de Belém há esperança porque o Messias escapou de Herodes e, no final, reinará. E fantasiosa a sugestão adicional de que o profundo pesar em Belém refletia a crença de que o Messias fora massacrado e de que a notícia da fuga dele abrandaria o pesar (cf. Broadus). Mas talvez haja mais algum motivo para Mateus citar essa passagem do Antigo Testamento, motivo esse discernível uma vez que as diferenças entre Mateus e o Antigo Testamento são expostas. Aqui, JESUS não recapitula, como no versículo 15, um evento da história de Israel. O exílio enviou Israel para o cativeiro e, por isso, provocou lágrimas. Contudo, as lágrimas, aqui, não são por ele ter ido para o “exílio”, mas pelas crianças que ficaram para trás e foram mortas. Por que, então, de qualquer modo, referir-se ao exílio? O auxílio para compreender vem da observação do contexto mais abrangente de Jeremias e de Mateus. Jeremias 31.9,20 refere-se a Israel = Efraim como filho querido de DEUS e também introduz a nova aliança (31.31 -34) que o Senhor fará com seu povo. Por isso, as lágrimas associadas com o exílio (31.15) terminarão. Mateus já fez do exílio um ponto de guinada em seu pensamento (1.1 1,12), pois, daquela vez, a linhagem davídica foi destronada. As lágrimas do exílio, agora, estão sendo cumpridas — isto é, as lágrimas que começaram nos dias de Jeremias atingem o ponto culminante e terminam com as lágrimas das mães de Belém. O herdeiro do trono de Davi chegou, o exílio acabou, o verdadeiro Filho de DEUS chegou, e ele introduzirá a nova aliança (26.28) prometida por Jeremias. Notas 16 “Ordenou que matassem” é uma excelente tradução do “particípio vívido” de áTroaTeí.A.<xç áveilev (aposteilas aneilen, lit., “tendo enviado, ele matou”; cf. Zerwick, par. 363). 1 Mateus 2.19-23 126 se frequentemente para o território dele (14.13; 15.29; 16.13), longe do fraco, mas cruel, Antipas. José, guiado pelo quinto e último sonho, estabeleceu a família na Galileia. 23 A cidade escolhida por José foi Nazaré, que, de acordo com Lucas 1.26,27; 2.39, foi seu lar anterior e também de Maria (cf. 13.53-58). Essa fórmula de citação final, como a do versículo 15, provavelmente foi construída de forma télica: isso aconteceu “a fim de cumprir”. Mas a fórmula é única em dois aspectos: só aqui Mateus usa o plural “profetas” e só aqui exclui o equivalente grego de “dito” e o substitui pela conjunção hoti, que pode introduzir uma citação direta (NVI), mas mais provavelmente devia ser traduzida por “que”, tornando a citação indireta: “Para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno” (cf. W. Barnes Tatum, Jr., “Matthew 2.23” [“Mateus 2.23”], The Bible Translator 27 [1976], p. 135-37; contra Hartman, “Scriptural Exegesis” [“Exegese escriturai”], p. 149-50). Isso sugere que Mateus não tem uma citação específica do Antigo Testamento em mente; na verdade, essas palavras não são encontradas em nenhuma passagem do Antigo Testamento. A interpretação desse versículo tem uma história tão longa (para obras mais antigas, cf. Broadus; para obras mais recentes, cf. Gundry, Use o f O T [Uso do AT\, p.97.104; R. E. Brown, Birth ofM essiah [Nascimento do Messias], p. 207-13) que não é possível enumerar aqui as principais opções. Podemos excluir as que parecem ter alguma ligação de jogo de palavras com palavras hebraicas do Antigo Testamento, mas não têm conexão óbvia com Nazaré. Isso elimina a popular interpretação que torna JESUS um nazireu ou um segundo Sansão (cf. esp. Jz 13-5,7; 16.17, em que a LXX apresenta naziraios como oposto ao nazôraios de Mateus; cf. Lc 1.15). Os defensores dessa interpretação incluem Calvino, Loisy, Stendahl, Schweizer e, mais recentemente, Ernst Zuckschwerdt (“Nazôraios em Matth 2,23” [“Nazôraios em M t 2.23”], Theologische Z eitschrifi 31 [1975], p. 65-77). Também devem ser eliminadas as interpretações que tentam encontrar no termo de Mateus uma referência a algum tipo de seita pré-cristã. Mas a evidência para isso é fraca (cf. Soarés Prabhu, p. 197-201) e a conexão meramente verbal com Nazaré. E. Earle Ellis (“How the New Testament Uses the Old” [“Como o Novo Testamento usa o Antigo”] Marshall, N T Interpretation [Interpretação do NT], p. 202) veem um jogo de palavras aqui como uma “midrash implícita”, mas, depois, ele, de forma relevante, põe a palavra “cumprimento” entre aspas, indicando ser uma citação. Mateus, com certeza, usou nazôraios como forma adjetival de apo Nazaret (“de Nazaré” ou “nazareno”), embora o adjetivo mais aceitável seja nazarenos (cf. Bonnard, Brown, Albright e Mann, Soarés Prabhu). Provavelmente, nazôraios tem origem na forma aramaica galileia. Nazaré era um lugar desprezado (Jo 7.42,52), até mesmo por outros galileus (cf. Jo 1.46). Lá, JESUS não cresceu como “JESUS, o belemita”, com suas nuanças davídicas; mas como “JESUS, o nazareno”, com todo o opróbrio do escárnio. Quando, em Atos, os cristãos são mencionados como “seita dos nazarenos” (24.5), a expressão tem a intenção de ofender. Os leitores cristãos do século I de Mateus que haviam provado sua cota de escárnio logo apreenderiam o ponto de Mateus. Ele não está dizendo que um profeta 127 Mateus 3.1-12 específico do Antigo Testamento predisse que o Messias viveria em Nazaré; ele está dizendo que os profetas do Antigo Testamento predisseram que o Messias seria desprezado (cf. SI 22.6-8,13; 69.8,20,21; Is 1 1.1; 49.7; 53.2,3,8; Dn 9.26). O tema é abordado diversas vezes por Mateus (e.g., 8.20; 11.16-19; 15.7,8). Em outras palavras, Mateus fornece-nos a essência de diversas passagens do Antigo Testamento, não a citação direta (como também Ed 9.10-12; cf. SBK 1:92-93). E possível que, ao mesmo tempo, haja uma discreta alusão ao n eser (“renovo”) de Isaías 11.1, que recebeu interpretação messiânica nos targum im , na literatura rabínicae nos PMM (cf. Gundry, Use ofOT\Uso do AT\, p. 104); pois aqui também é afirmado que o filho de Davi emergiria de humilde obscuridade e posição baixa, jesus é o Rei Messias, o Filho de DEUS, o Filho de Davi, mas ele é o renovo de uma linha real cortada no toco e cultivada em cercanias garantidas para vencer seu escárnio, jesus, o Messias, Mateus assim nos relata, não introduziu seu reino com espetáculo exterior nem se apresentou com a pompa de um monarca terreno. De acordo com a profecia, ele veio como o Servo desprezado do Senhor. Notas 20 O particípio oi' (r|T;oí)VTeç (hoizêtountes, lit., “os que procuravam”), bem desassociado do fato de ser plural, não tem o sentido de ato precedente porque está no tempo presente, mas, antes, de ação continuada, persistente; o contexto determina que, da perspectiva temporal, ele é praticamente um tempo imperfeito (cf. Turner, Syntax \Síntaxe\, p. 80-81; Moule, Idiom Book [Livro de expressões idiomáticas], p. 206; corretamente, NVI). 22 É incerto se o verbo ^piporcí-Ça) (chrêmatizô, “avisado”) inclui a determinação de Nazaré como o destino apropriado para José ou se este é apenas “advertido” para não permanecer na Judeia, deixando a escolha da cidade por conta dele. II. O evangelho do reino (3.1—7.29) A. Narrativa (3.1—4.25) 1. Passos fundamentais (3.1—4.11) a. O ministério de João Batista (3.1-12) I Naqueles dias surgiu João Batista, pregando no deserto da Judeia. 2 Ele dizia: “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo”. 3 Este é aquele que foi anunciado pelo profeta Isaías: “Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor, ' façam veredas retas para ele’ ”. 4 As roupas de João eram feitas de pêlos de camelo, e ele usava um cinto de couro na cintura. O seu alimento era gafanhotos e mel silvestre.5 A ele vinha gente de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região ao redor do Jordão. 6 Confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão. 7 Quando viu que muitos fariseus e saduceus vinham para onde ele estava batizando, disse-lhes: “Raça de víboras! Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima? 8 Deem fruto que mostre o arrependimento! 9 Não pensem que vocês podem dizer a si mesmos: ‘Abraão é nosso pai’. Pois eu lhes digo que destas pedras DEUS pode fazer surgir filhos a Abraão.10 O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo. II “Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o ESPÍRITO SANTO Mateus 3.1-12 128 e com fogo. 12 Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga”. Pela primeira vez Mateus faz paralelo com Marcos (1.1-11), com Lucas (3.1 22) e, ainda de forma mais vaga, com João (1.19-34). Independentemente da diversidade que haja entre os prólogos, os quatro evangelhos unanimemente prefaciam o ministério de JESUS com o ministério de João Batista. Mateus omite qualquer menção à juventude de JESUS (Lc 2.41-52) ou ao nascimento e histórico de João Batista (Lc 1.5-25,39-45,57-80). Talvez isso sugira que os leitores de Mateus já estavam familiarizados com esse histórico (Tasker) ou que Mateus queria mergulhar drasticamente em seu relato. Após quatrocentos anos de silêncio, DEUS voltava a falar por intermédio de um novo profeta que chamou o povo ao arrependimento e prometeu a vinda de alguém maior. Em acréscimo às implicações do esboço de Mateus deste comentário, o evangelho tem muitas subestruturas apontando um escritor de grande habilidade literária. Gooding (p. 234) aponta paralelos interessantes entre os capítulos 1—2 e 3—4, muito longos para ser detalhados aqui (cf. também 13.3-53). 1 A nota temporal de Mateus, “naqueles dias”, é vaga e reflete uma expressão igualmente vaga do Antigo Testamento (e.g., Gn 38.1; Êx 2.11,23; Is 38.1). Talvez a frase dele queira dizer: “Naqueles dias cruciais” (Hill, M atthew \Mateus]), ou até mesmo: “Naqueles dias em que JESUS e sua família viveram em Nazaré” (Broadus, cf. 4.13). Contudo, é mais provável que seja um termo genérico que revela pouco do ponto de vista cronológico, mas insiste que o relato é histórico (Bonnard). Lucas 3.1 oferece mais ajuda cronológica, mas sua relevância é discutida (cf. Hoehner, C hronologicalAspects [Aspectos cronológicos], p. 29-44). O ano era 27, 28 ou 29 d.C. (26 seria menos provável). “João” ou “Joanã” eram nomes populares entre os judeus desde a época de João Hircano (morto em 106 a.C.). Quatro ou cinco “Joãos” são mencionados no Novo Testamento. O João de Mateus 3.1 foi logo designado como João Batista (cf. notas) porque o batismo foi muitíssimo proeminente em seu ministério. Ele começou sua pregação no “deserto da Judeia”, área vagamente definida incluindo a parte mais baixa do vale do Jordão ao norte do mar Morto e o país imediatamente a oeste do mar Morto. É uma região muito quente e, à parte o próprio rio Jordão, muitíssimo árida, embora não desabitada. A região era usada para pastagens (SI 65.12; J1 2.22; Lc 15.4) e tinha comunidades essênias. “Deserto” havia muito tempo tinha nuanças proféticas (a lei foi entregue no “deserto”). Os zelotes usavam o deserto como esconderijo (cf. M t 24.26; At 21.38; Jos., Antiq. XX, p. 97-98 [v. 1]). Por isso, alguns comentaristas veem mais força teológica que geográfica em Mateus 3.1 (e.g., Bonnard, Maier). A expressão modificadora “da Judeia” faz a antítese entre geografia e falsa teologia. O deserto era uma região específica (cf. R. Funk, “The Wilderness” [“O deserto”], JBL 78 [1959] p. 205-14), mas também podia ter implicações proféticas para os leitores do século I. 2 A pregação de João tinha dois elementos. O primeiro era o chamado ao arrependimento. Embora o verbo m etanoeô, com frequência, seja explicado etimolo- 129 Mateus 3.1-12 gicamente como “mudar de ideia” ou, popularmente, como “pedir desculpa por alguma coisa”, nenhuma dessas traduções é adequada. No grego clássico, o verbo pode referir-se a uma mudança de ideia puramente intelectual. Mas o uso no Novo Testamento foi influenciado pelos verbos hebraicos nãham (“desculpar-se pelos atos de alguém”) e süb (“mudar de direção para abraçar novos atos”). O último é comum nos chamados dos profetas para que o povo retorne para a aliança com Iavé (cf. DNTT, 1:357-59; Turner, Christian Words [Palavras cristãs\, p. 374-77). O que se pretende dizer não é uma mera mudança intelectual de ideia nem mero pesar, menos ainda fazer penitência (cf. notas), mas uma transformação radical de toda a pessoa, uma guinada fundamental envolvendo mente e ação e incluindo nuanças de pesar, o que resulta no “fruto de permanecer arrependido”. Claro que tudo isso pressupõe que os atos do homem estão fundamentalmente fora de curso e precisam de mudança radical. João aplica esse arrependimento, com especial veemência, aos líderes religiosos de seu tempo (3.7,8). (A respeito das diferenças entre a ênfase bíblica e a rabínica em relação ao arrependimento, cf. Lane, Mark [Marcos], p. 593-600.) O segundo elemento da pregação de João era a proximidade do reino dos céus, e esta é fornecida como fundamento para o arrependimento. Em todo o Antigo Testamento havia crescente expectativa da visita divina que estabeleceria justiça, esmagaria a oposição e renovaria o próprio universo. Essa esperança foi expressa em muitas categorias: ela foi apresentada como cumprimento das promessas feitas para o herdeiro de Davi, como o Dia do Senhor (que, com frequência, tem nuanças sombrias de julgamento, embora tivesse brilhantes expectativas, e.g., Sf 3.14-20), como a nova terra e o novo céu, como o tempo da nova reunião de Israel, como a inauguração de uma nova e transformadora aliança (2Sm 7.13,14; Is 1.24-28; 9.6,7; 11.1-10; 64—66; Jr 23.5,6; 31.31-34; Ez 37.24; Dn 2.44; 7.13,14; cf. esp. Ridderbos, p. 3-17; Ladd, Presence [Presença], p. 45-75). No Antigo Testamento, o sentido predominante da palavra “reino” (heb. malküt, aram., malkúta) é de reinado ou domínio: o termo tem força dinâmica. De forma semelhante no Novo Testamento, embora basileia (“reino”) possa se referir a território (4.8), a maioria esmagadora das ocorrências usa o termo com força dinâmica. Isso prevalece contra a terminologia rabínica predominante na qual o termo “reino” foi cada vez mais espiritualizado ou plantado no coração dos homens (e.g., b Berakoth ^Bênçãos] 4a). Em oposição às alegações em contrário (AlvaJ. McClain, The Greatness o ft h e K ingdom [A grandeza do reino] [Grand Rapids: Zondevan, 1959], p. 274ss.), no século I havia pouca concordância entre os judeus em relação a como seria um reino messiânico. Uma pressuposição muito popular era de que o jugo romano seria derrubado e haveria paz política e muita prosperidade. A não ser por 12.28; 19.24; 21.31,43 e alguns PMM de 6.33, Mateus sempre usa “Reino dos céus”, em vez de “Reino de DEUS” (essa avaliação exclui referências a “meu Reino” e expressões semelhantes), ao passo que Marcos e Lucas preferem "Reino de DEUS”. Com certeza, a expressão preferida de Mateus não restringe o Reino de DEUS aos céus. O objetivo bíblico é o exercício manifesto da soberania de DEUS, de seu “Reino” na terra e entre os homens. Há paralelos suficientes entre Mateus 3.1-12 130 os sinóticos para indicar que “Reino de DEUS” e “Reino dos céus” indicam a mesma coisa (e.g., M t 19.23,24 = Mc 10.23-25), a distinção conotativa é menos certa. Os dispensacionalistas (e.g., A. C. Gaebelein, Walvoord) sustentam que “Reino de DEUS” é um reino caracteristicamente espiritual, uma categoria mais estreita envolvendo apenas os verdadeiros crentes, ao passo que “Reino dos céus” é o reino de esplendor milenar, uma categoria mais abrangente que inclui (como na parábola, 13.47-50) peixes bons e maus. A distinção é infeliz; ela chega perigosamente perto de confundir reino e igreja (veja mais a respeito no capítulo 13 e em 16.17-19), ela falha em explicar passagens em que a categoria mateana não é menos restritiva que o “Reino de DEUS” nos outros evangelistas e, fundamentalmente, compreende mal a natureza dinâmica do reino. Igualmente não convincente é a sugestão de Pamment de que “Reino dos céus” sempre se refere ao reino futuro após a consumação dos tempos, enquanto “Reino de DEUS”, em Mateus, refere-se à manifestação atual do reino. Pamment, para chegar a essa dicotomia absoluta, deve ter recorrido a muitas interpretações improváveis de inúmeras passagens (e.g., 1 1.12; parábolas do cap. 13). Muitas outras propostas (e.g., J. Julius Scott, EBC, 1:508) são firmemente afirmadas, mas não resistem a um exame rigoroso. A explicação mais comum é que Mateus evitou a expressão “Reino de DEUS” a fim de remover ofensa desnecessária contra os judeus, os quais, com frequência, usavam de circunlocuções como “céu” para se referir a DEUS (e.g., Dn 4.26; IMac 3.50,60; 4.55; Lc 15.18,21). Essa sugestão tem mérito. Contudo, Mateus é um escritor sutil e alusivo, e dois outros fatores podem também estar envolvidos: (1) “Reino dos céus” pode antecipar a extensão da autoridade de CRISTO após a ressurreição: a soberania de DEUS no céu e na terra, agora, é mediada por intermédio de CRISTO (28.18); e (2) “Reino de DEUS” faz de DEUS o Rei e, embora isso não impeça os outros sinóticos de atribuir a realeza a JESUS (cf. Lc 22.16,18,29,30), deixa menos espaço para manobra. O “Reino dos céus” de Mateus presume que este é o Reino de DEUS e, ocasionalmente, designa-o de forma específica o Pai (26.29), embora deixando espaço para atribuí-lo, com frequência, ajesus (16.28; 25.31,34,40; 27.42; provavelmente 5.35), pois JESUS é o Rei Messias. Isso inevitavelmente tem implicações cristológicas. O Reino dos céus é simultaneamente o reino do Pai e o reino do Filho do homem. Esse Reino, conforme pregava João Batista, “está próximo” (êngiken , lit., “aproxima-se”). Os judeus falavam do Messias como “aquele que haveria de vir” (11.3) e da era messiânica como a “era que há de vir” (Hb 6.5); agora, João diz que ela está próxima, a mesma mensagem pregada por JESUS (4.17) e seus discípulos (10.7). Ê possível, mas não uma certeza, que o verbo tenha a mesma força de ephthasen em 12.28. Passagem na qual JESUS afirma claramente que o Reino “chegou”. Essa passagem deixa claro que é o exercício da soberania salvadora, ou reino, de DEUS que alvoreceu. A expressão ambígua “está próximo” (3.2; 4.17) combinada com o sentido dinâmico de “Reino” prepara-nos para um tema constante: o Reino veio com JESUS e sua pregação e milagres, veio com sua morte e ressurreição e virá no fim das eras. 131 Mateus 3.1-12 Mateus já estabeleceu que JESUS nasceu Rei (2.2). Mais tarde, JESUS declarou que sua obra testificava que o Reino chegara (12.28), embora ele fale frequentemente do Reino como algo a ser herdado quando o Filho do homem vier em sua glória. E falso dizer que o “Reino” é submetido a uma mudança radical com a menção de “segredos” (NTLH) (“mistérios”; NVI, veja sobre 13.11). Já no sermão do monte, entrar no Reino (5.3,10; 7.21) equivale a entrar na vida (7.13,14; cf. 19.14,16; e veja Mc 9.45,47). Esse tema e outros relacionados ficam mais claros à medida que o evangelho avança (cf. esp. Ladd, N T Theology [Teologia do NT\, p. 57-90). Todavia, há duas observações que não podem ser adiadas. A primeira, a terminologia de Batista, embora velada, despertava necessariamente enorme entusiasmo (3.5). Mas essa terminologia classificada como expectativas apocalíptica e política teria produzido uma interpretação muitíssimo errônea do Reino pregado. Por isso, JESUS mesmo usava intencionalmente terminologia velada quando tratava de temas como esse. Esse fato fica cada vez mais óbvio ao longo do evangelho. A segunda observação relaciona-se com a primeira. Da mesma maneira que o anúncio do anjo para José declarou que o principal propósito de JESUS era salvar seu povo do pecado (1.21), também o primeiro anúncio do Reino está associado com arrependimento e confissão do pecado (3.6). Esses temas estão constantemente entrelaçados em Mateus (cf. Goppelt, T heologie [Teologia], p. 128-88). 3 Se o ga r (“porque”) tem sua força total, então a NVI deveria dizer: “Porque este é aquele” [cf. “Porque este é o referido” ARA]; e o versículo 3 torna-se o fundamento para a pregação de João Batista do versículo 2. Essa é uma das onze citações diretas do Antigo Testamento que Mateus faz sem ser introduzida pela fórmula de cumprimento (cf. introdução, seção 1 l.b). No entanto, seria exagero contra Gundry) dizer que a omissão de linguagem de cumprimento representa que João Batista, para Mateus, não cumpre a Escritura, mas serve apenas como 'protótipo do pregador cristão”. Se Mateus tivesse querido dizer tão pouco, ele faria melhor eliminando a passagem do Antigo Testamento. Em vez disso, ele a introduz com a fórmula pesher (e.g., At 2.16; cf. introdução, seção 1 l.b) que só pode ser entendida com a identificação de João Batista em uma estrutura escatológica e de profecia e cumprimento como aquele a quem Isaías (40.3) se referia. O papel de Batista é minimamente exemplar. De acordo com João 1.23, João Batista, certa vez, aplicou essa passagem de Isaías a si mesmo. Aqui, Mateus íaz isso por ele. No TM , as palavras “no deserto” modificam “preparem”: “No deserto preparem o caminho para o Senhor”. Mas, aqui, os três sinóticos seguem a LXX. O efeito imediato é localizar no deserto aquele que está chamando. Alguns acham que essa é uma tentativa deliberada de estender o cumprimento a detalhes geográficos. Todavia, Marcos segue de forma consistente a LXX, e Mateus, com frequência, segue Marcos. Portanto, não devemos ler demais nessa mudança. Talvez haja um erro nos acentos hebraicos, o que associa “no deserto” com “preparem” Gundry, Use o f O T [Uso do AT], p. 10). Em todo caso, se alguém grita uma ordem no deserto, sua intenção é que ela se propague para todos os lados; assim, há pouca diferença no sentido (Alexander). Mateus 3.1-12 132 Em Isaías 40.3, o caminho de Iavé está sendo feito “reto” (uso de metáfora de construção de estrada para se referir a arrependimento); em Mateus 3.3, o caminho é de JESUS. Esse tipo de identificação de JESUS como Iavé é comum no Novo Testamento (e.g., Êx 13.21 e ICo 10.4; Is 6.1 e Jo 12.41; SI 68.18 e Ef 4.8; SI 102.25 27 e Hb 1.10-12) e confirma o fato de o Reino ser igualmente o Reino de DEUS e o Reino de JESUS. Embora a divindade de CRISTO esteja apenas implícita nesses textos, a implicação, com certeza, vai além de JESUS ser um mero enviado real. Os aliançados de Qumran mencionaram essa mesma passagem para favorecer o estudo da lei em preparação para o fim dos tempos (1QS 8.12ss.; 9.19; cf. Fitzmyer, Sem itic B ack ground [H istórico sem ítico], p. 34-36); mas Mateus identifica João Batista como a voz e a era escatológica que já alvorece na vinda de JESUS. 4,5 Roupas de pêlo de camelo e cinto de couro (v. 4; o cinto para prender a peça de roupa externa solta) não só eram roupas de pessoas pobres, mas também estabelecia ligação com Elias (2Rs 1.8; cf. Ml 4.5). “Gafanhotos” (akrides) são locustas, e ainda hoje são degustados no Oriente, não o fruto da “alfarrobeira” (BAGD, s. v.). Mel silvestre é o que diz ser, e não resina de árvore (cf. Jz 14.8,9; ISm 14.25-29; SI 81.16). Vestimenta e alimentação sugerem um homem pobre e acostumado à vida no deserto, e isso sugere ligação com os profetas (cf. 3.1; 1 1.8,9) — tanto que na época de Zacarias (13.4), alguns falsos profetas vestiam-se como profetas a fim de enganar as pessoas. Elias e João Batista tiveram um ministério duro em que a austeridade da vestimenta e da alimentação confirmava sua mensagem e condenava a idolatria da comodidade física e espiritual. “Até mesmo o alimento e a roupa de João pregavam” (Beng). O impacto causado por João Batista foi imenso (v. 5), e suas multidões vinham de lugares distantes. No grego, os lugares são personificados (como em 2 .3). 6 A lei ordenava a confissão do pecado não só como parte das obrigações do sacerdote (Lv 16.21), mas também como responsabilidade pessoal pelos erros cometidos (Lv 5.5; 26.40; Nm 5.6,7; Pv 28.13). Nos melhores tempos de Israel, isso era realizado (Ne 9.2,3; SI 32.5). No Novo Testamento (cf. At 19.18; ljo 1.9), dificilmente a confissão é menos importante. Pelo fato de Mateus não incluir “para o perdão dos pecados” (Mc 1.4), alguns deduzem que ele quer evitar a sugestão de haver alguma possibilidade de perdão antes da morte de JESUS (Mt 26.28). Isso é engenhoso demais. Dificilmente, o leitor do século I sustentaria que os pecados não eram perdoados depois de serem honestamente confessados. E, uma vez que Mateus regularmente resume Marcos nas passagens em que o usa, devemos ter cuidado ao tirar conclusões teológicas dessas omissões. O grego não deixa claro se a confissão era individual ou corporativa, sendo o batismo simultâneo a ela ou a antecedendo. Josefo (Antiq. XVIII, 116-17 [v.2]) diz que João, “de sobrenome Batista”, exigia conduta reta como “preliminar necessária se fosse para o batismo ser aceitável para DEUS”. Uma vez que João Batista incitava as pessoas a se prepararem para a vinda do Messias por meio do arrependimento e do batismo, podemos supor que a renúncia pública ao pecado era uma pré-condição para o batismo dele, o qual, portanto, era a confirmação de confissão e sinal escatológico. 133 Mateus 3.1-12 Desde a descoberta dos PMM, muitos tentaram ligar o batismo de João com o dos aliançados de Qumran. Mas a lavagem deles, embora relacionada com a confissão, era provavelmente vista como purificação e era repetida (cf. 1QS 1.24ss.; 5.13-25) para remover a impureza ritual. E provável que o batismo de João fosse um ritual que acontecia só uma vez (contra Albright e Mann) e não tinha relação com impureza cerimonial. Os rabis usavam o batismo como ritual de iniciação dos prosélitos, mas esse batismo nunca era usado com os judeus (SBK, 1:102-12). Até o ponto em que sabemos, embora o batismo mesmo não fosse incomum, as associações apontadas, mas limitadas, põem a origem do batismo de João em João Batista mesmo — não diferente da circuncisão que é anterior ao tempo de Abraão, mas carecia de relevância de aliança antes da época dele. O rio Jordão tem correnteza que flui com rapidez. Sem dúvida, João postavase em um dos vaus e preparava o caminho para o Senhor. 7 Muitos levantam a questão da probabilidade de indivíduos de dois grupos tão mutuamente hostis, como os fariseus e saduceus (cf. introdução, seção 1 l.f), apresentarem-se juntos (um artigo governa os dois substantivos) para o batismo. Mas o texto grego não precisa ser entendido como dizendo que eles foram para ser batizados. O texto pode apenas querer dizer que eles estavam “vindo para o -Ugar em que João estava batizando” (cf. notas). Se for esse o caso, pode sugerir que representantes do Sinédrio (composto de ambos os grupos e dos anciões) roram examinar o que João estava fazendo (cf. Jo 1.19,24; que menciona não só sacerdotes e levitas [saduceus], mas também fariseus). Ou muitos fariseus e saduceus podem ter ido para ser batizados com a ostentação que caracterizava suas outras atividades religiosas (e.g., 6.2,5,16) — ou seja, eles estavam mostrando para o mundo como estavam prontos para o Messias, embora não estivessem realmente arrependidos dos pecados. Mateus junta-os porque eram líderes; em outra passagem, ele distingue-os (22.34). A pergunta com que João Batista os confronta uem este sentido: “Quem lhes sugeriu que escapariam da ira por vir?” Assim, a pergunta retórica de João assume uma nuança sarcástica: “Quem os advertiu para rugir da ira futura e vir para ser batizados — quando, na verdade, vocês não mostram sinal de arrependimento?” Embora a pergunta seja a mesma em Lucas 3.7, á, Lucas relaciona-a com a multidão, ao passo que Mateus relaciona-a com os líderes judeus. João Batista permanece diretamente na tradição profética — tradição em que o Dia do Senhor aponta muito mais para as trevas que para a luz para os que acham que não cometeram pecado (Am 2.4-8; 6.1-7). A expressão: “Raça de víboras” também pertence à tradição profética (cf. Is 14.29; 30.6; cf. CD 19.22); em Mateus 12.34, JESUS usa esses termos para denunciar os fariseus. 8,9 A vinda do Reino de DEUS exige arrependimento (v. 2) ou traz julgamento. O arrependimento tem de ser genuíno; se quisermos escapar da ira futura (v. 7), então, todo nosso estilo de vida tem de estar em harmonia com nosso arrependimento oral (v. 8). Apenas descender de Abraão não é suficiente (v. 9). No Antigo Testamento, DEUS cortou fora, repetidas vezes, muitos israelitas e salvou um remanescente. Contudo, no período interbíblico o uso geral da descendência de Abraão, no contexto Mateus 3.1-12 134 de levantamento de mérito teológico, sustenta a noção de que Israel foi separada porque foi uma escolha e de que o mérito dos patriarcas seria suficiente para seus descendentes (cf. Carson, D ivine Sovereignty [Soberania divina ], p. 39ss.). Mas DEUS pode não só reduzir Israel a um remanescente, como também pode levantar filhos autênticos de Israel “destas pedras” (talvez pedras do leito do rio — tanto o hebraico como o aramaico têm um jogo de palavras com “filhos” e “pedras”). Pedras comuns serão suficientes, não há necessidade da “rocha” dos patriarcas e do mérito deles (cf. S. Schechter, Some Aspects ofR abbinic Theology [Alguns aspectos da teologia rabínica] [London: Black, 1903], p. 173; cf. também Rm 4). O versículo 9 não só censura a hipocrisia dos líderes que se achavam retos, mas também sugere que a participação no Reino é resultado da graça e se estende as fronteiras para além do povo de DEUS e das diferenças raciais (cf. 8.11). 10 O machado “já” (enfático) está posto na raiz das árvores (para a expressão idiomática, cf. Is 10.33,34; Jr 46.22). “Não só há a vinda da ira messiânica, como já há o início da descriminação messiânica entre os descendentes de Abraão” (Broadus). Da mesma forma como o Reino já está irrompendo (v. 2), também o julgamento se aproxima; os dois são inseparáveis. Pregar o Reino é pregar arrependimento; qualquer árvore (não “toda árvore”, NVI; cf. Turner, Syntax [Sintaxe], p. 199), independentemente de suas raízes, que não produzir bom fruto será destruída. 11 Compare os versículos 11 e 12 com Lucas 3.15-18 (Q?). Em razão de só Mateus dizer: “Eu os batizo com água para arrependim ento,, (grifo do autor), Hill detecta um esforço consciente para subordinar João Batista a JESUS. João batiza como preparação “para arrependimento”; JESUS batiza para cumprimento “com o ESPÍRITO SANTO e com fogo”. Mas Marcos (1.4) e Lucas (3.3) falam do batismo de João como batismo de arrependimento. E quando JESUS começa a pregar, ele também exige arrependimento (4.17). Se há uma antítese aqui entre João e JESUS, ela está presente em todos os três evangelhos sinóticos. Mateus pode estar enfatizando a diferença entre os batismos de João e de JESUS a fim de apresentar o ponto a respeito de escatologia (veja abaixo e sobre 11.7-13). A expressão “para arrependimento” (eis m etanoian) é difícil; com frequência, eis mais o acusativo sugerem propósito (“Eu os batizo [...] para arrependimento”). Do ponto de vista contextuai (v. 6), isso é improvável, mesmo no peculiar sentido télico sugerido por Broadus: “Eu os batizo com vistas a arrependimento contínuo”. Mas o eis causal, ou muito próximo disso, não é desconhecido no Novo Testamento (cf. Turner, Syntax [Sintaxe], p. 266-67): “Eu os batizo por causa de seu arrependimento”. No entanto, a força pode ficar mais fraca — ou seja: “Eu os batizo com referência ao arrependimento ou em conexão com o arrependimento”. Em qualquer caso, João quer contrastar seu batismo com o daquele que vem depois dele (é duvidosa qualquer alusão aqui ao título messiânico em “vem alguém”; cf. Arens, p. 288-90). Esse alguém é “mais poderoso” que João: o mesmo termo (ischyros) é aplicado a DEUS no Antigo Testamento (L)OÍ, Jr 32.18; Dn 9.4; cf. também Is 40.10) e o substantivo cognato para Messias em Salmos de Salomão 17. Essa não é a ordem normal, em geral, o que vem depois é o discípulo, o menor (cf. 135 Mateus 3.1-12 M t 16.24; Jo 13.16; 15.20). Mas pelo fato de o ministério especial de João ser o de anunciar a figura escatológica, ele não pode fazer outra coisa a não ser precedê-la. Embora João seja o pregador mais procurado de Israel em séculos, ele protesta que não é digno de “levar” (Marcos e Lucas, “desamarrar”) as sandálias daquele que vem. Muitos estudiosos argumentam que essa fala deve ter sido uma invenção posterior de cristãos determinados a manter João Batista em seu lugar e a exaltar JESUS. Na verdade, essa humildade de João, na ética cristã, é uma virtude, não uma fraqueza. Além disso, se ele via seu papel como de precursor do Messias, João não podia se situar em igualdade com aquele para quem ele apontava (cf. também Jo 3.28-31). Sem dúvida, a igreja foi rápida em usar a depreciação de si mesmo de João em conflitos posteriores com os seguidores dele. Mas não há evidência de que os cristãos inventaram essa fala. Segue-se que, da mesma maneira que o propósito de João era preparar o caminho para o Senhor chamando às pessoas ao arrependimento, também seu batismo aponta para aquele que traria o batismo escatológico em espírito e em fogo. O batismo de João era “essencialmente preparatório” (cf. J. D. G. Dunn, Baptism in the Holy Spirit [Batismo no ESPÍRITO SANTO\ [London: SCM, 1970], p. 14-17; Bonnard E Lang, “Erwägungen zur eschatologischen Verkündigung Johannes des Täufers” [“Considerações sobre a pregação escatológica de João Batista”], em Strecker,/ímf Christus, p. 459-73); o batismo de JESUS inaugurou a era messiânica. “Bati[smo] com o ESPÍRITO SANTO” não é uma expressão especializada do Novo Testamento. Seu histórico do Antigo Testamento inclui Ezequiel 36.25-27; 39.29; Joel 2.28. Não podemos pensar que João Batista não poderia ter mencionado o ESPÍRITO SANTO, no mínimo, por causa de referências um tanto similares na literatura de Qumran (1QS 3.7-9; 4.21; 1QH 16.12; cf. Dunn, Baptism [Batismo], p. 8 10). Todavia, Mateus e Lucas acrescentam “e fogo” (NTLH). Muitos veem isso como um duplo batismo, um no ESPÍRITO SANTO para o justo e outro no fogo para o impenitente (cf. o trigo e a palha no v. 12). O fogo (Ml 4.1) destrói e consome. Há bons motivos, contudo, para falar de “fogo”, junto com o ESPÍRITO SANTO, como agente purificador. As pessoas a quem João se dirige estão sendo batizadas por ele; elas, provavelmente, arrependeram-se. Mais importante, a preposição en (“com”) não é repetida antes de fogo: uma preposição governa o “ESPÍRITO SANTO” e o “fogo”, e isso normalmente sugere um conceito unificado, ESPÍRITO-fogo, ou algo semelhante (cf. M. J. Harris, DNTT, 3:1178; Dunn Baptism [Batismo], p. 10-13). No Antigo Testamento, fogo, com frequência, tem uma conotação purificadora, não destrutiva (e.g., Is 1.25; Zc 13.9; Ml 3.2,3). O batismo de água de João relacionase com arrependimento; mas aquele de quem ele prepara o caminho administrará o batismo de ESPÍRITO-fogo que purifica e refina a pessoa. Em uma época na qual muitos judeus sentiam que o ESPÍRITO SANTO fora removido até a era messiânica, esse anúncio só podia ser saudado com animada antecipação. 12 A vinda do Messias separará o trigo da palha. O forcado de separar balança tanto o trigo quanto a palha no ar. O vento sopra a palha para longe, e o grão mais pesado cai para ser recolhido no chão. A palha espalhada é amontoada e queimada, Mateus 3.13-17 136 e a eira fica limpa (cf. SI 1.4; Is 5-24; Dn 2.35; Os 13.3). O “fogo que nunca se apaga” representa o julgamento escatológico (cf. Is 34.10; 66.24; Jr 7.20), o inferno (cf. 5.29). O “fogo que nunca se apaga” não é só uma metáfora: a realidade temível está subjacente à separação do trigo da palha feita pelo Messias. Portanto, a proximidade do Reino pede arrependimento (v. 2). Notas 1 Mateus apresenta 'o Paimornç (ho baptistês, “o batista”); Marcos (1.4) usa o particípio [b] paTruíCcw ([ho] baptizên, lit., “o batizante”). E duvidoso se foi pretendida alguma distinção uma vez que “Batista” não tem aroma sectário nem denominacional. E um exagero fazer coro com Gundry (M atthew [Mateus]) e dizer que Mateus usa consistentemente “Batista”, em vez de “o batizante” a fim de distrair a atenção da prática de batismo de João para seu papel de pregador; pois o último não é enfatizado, e Mateus inclui a declaração específica do versículo 6: “Eram batizados por” João. “Pregação” (verbo KTpúaoco [kêryssô], substantivo K ip u y jia [kêrygmd]) tem sido, com frequência nos últimos cinquenta anos, distinguida de “ensino” (õiôaxr| [didachê]) de tal maneira que os ditos elementos querigmáticos, muitas vezes, foram tirados de seu conteúdo; e praticamente tudo do Novo Testamento, com segurança, estava em uma categoria ou na outra. Estudo mais recente demonstrou como essa antítese foi totalmente super simplificada (J. I. H. McDonald, Kerygma and Didache [Querigma e didaqué] [Cambridge: University Press, 1980]) e sugeriu outras categorias igualmente importantes e, às vezes, sobrepostas (e.g., A. A. Trites, The New Testament Concept ofW itness [O conceito de testemunho no Novo Testamento] [Cambridge: University Press, 1977]). 2 O verbo |i€Tavoá(J (metanoeô, “arrependam”) foi traduzido do latim poenitentiam agere (“exercício de penitência”), a palavra “penitência” sugere pesar, angústia e dor, mas não necessariamente mudança. De vez em quando a expressão poenitentiam agite (“fazer penitência”) era preferida, e a contradição de “fazer penitência” completava o deslize de um conceito pernicioso e bem estranho ao Novo Testamento. 7 A expressão èiu’ xò (3ÓTia|ia aúçxoü (epi to baptisma autou) é peculiar (lit., vindo “para seu batismo”); ela também poderia querer dizer “vir para ser batizado” ou “vir para o lugar em que ele estava batizando” (conforme NVI). 10 Moule (Idiom Book [Livro de expressões idiomáticas], p. 5 3) vê irpóç (pros) mais o acusativo aqui combinando movimento linear com descanso meticuloso na chegada: o machado, por assim dizer, dá seu primeiro talho. Mas é possível que o verbo Keixai (keitai, lit., “repousa”; NVI, “está”) sugere que o machado está apenas repousando na raiz da árvore, pronto para a ação. b. O batismo de JESUS (3.13-17) 13 Então JESUS veio da Galileia ao Jordão para ser batizado por João. 14 João, porém, tentou impedilo, dizendo: “Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” 15 Respondeu JESUS: “Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça”. E João concordou. 16 Assim que JESUS foi batizado, saiu da água. Naquele momento o céu se abriu, e ele viu o ESPÍRITO de DEUS descendo como pomba e pousando sobre ele. 17 Então uma voz dos céus disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado”. A comparação dos três relatos sinóticos do batismo de JESUS (cf. Mc 1.9-11; Lc 3.21,22) revela aspectos característicos (e.g., apenas M t apresenta a informação de 3.14,15). Mas é fácil exagerar as diferenças. Conforme é muitas vezes mencionado, 137 Mateus 3.13-17 Lucas não comenta que João batizou JESUS; mas em vista de Lucas 3.1-21, não há dúvida em relação a esse fato. Conforme será demonstrado, algumas alegadas distin ções entre os evangelistas são artificiais; outras salientam valiosas ênfases teológicas. 13 “Então” itotê) é vago em Mateus (veja sobre 2.7); cada uso precisa ser tratado separadamente. Aqui, tote sugere que durante o tempo em que João Batista pregava para as multidões e as batizava, “então” JESUS veio — isto é equivalente a Lucas: “Quando todo o povo estava sendo batizado, também JESUS o foi” (3.21). Se esse for o caso, é artificial dizer que, em Lucas, o batismo é um testemunho público para JESUS, mas testemunho privado em Mateus. Essa conclusão é especialmente importante para Kingsbury (Structure [Estrutura], p. 13-15), porque ele quer evitar qualquer reconhecimento público de JESUS até 4.17. Jeremias (NT Theology [Teologia do NT], p. 51) acha que o relato de Lucas é mais próximo da realidade histórica e supõe que JESUS mergulhou a si mesmo junto com os outros na presença de João. Os dois refinamentos são muito inconsistentes. Qualquer interpretação que exija privacidade ou multidão no batismo de JESUS, conforme relatado por Mateus ou por Lucas, é ler demais nos textos e, provavelmente, perde os principais pontos dos evangelistas. JESUS veio da Galileia (Marcos especifica de Nazaré) para ser batizado por João (embora Mateus deixe esse objetivo explícito, Lucas e Marcos deixam-no implícito) e, como resultado, o Pai testificou de seu Filho. Esse tanto é comum aos três relatos e pouca importa se só João ouviu esse testemunho celestial ou se a multidão também ouviu. 14 Mateus 3.14,15 é exclusivo desse evangelho. João tentou deter JESUS (imperfeito de tentativa de ação) de ser batizado, insistindo (os pronomes são enfáticos) que ele, João Batista, precisava ser batizado por JESUS. Antes, João tivera dificuldade em batizar fariseus e saduceus por estes serem indignos de receber seu batismo. Agora, ele tem problema para batizar JESUS por seu batismo não ser digno de JESUS. Há dois caminhos possíveis para entender a relutância de João. 1. João reconhece JESUS como o Messias e quer receber o batismo do ESPÍRITO e de fogo de JESUS. A despeito da crescente popularidade dessa percepção, ela acarreta sérias dificuldades. O tema do ESPÍRITO não é importante em Mateus; a justiça o é, e ela é central para a resposta de JESUS (v. 15). Mateus não apresenta JESUS aplicando seu batismo de ESPÍRITO e fogo sobre qualquer um; a cruz e a ressurreição são focais para ele, e Mateus, tendo escrito depois do Pentecoste (At 2), sem dúvida, acreditava que o batismo de JESUS foi aplicado sobre seu povo depois da época sobre a qual está escrevendo. Em vista das declarações de João Batista em relação a seu relacionamento com o Messias (v. 11), se ele tivesse reconhecido JESUS como o Messias seria duvidoso se ele teria sido convencido pela refutação de JESUS (v. 15). Além disso, essa percepção acarreta um desnecessário conflito de Mateus com o quarto evangelho (Jo 1.31-34), que diz que o Batista não “conhecia” JESUS — isto é, reconhecia-o como Messias — até depois do batismo deste. 2. Mas o batismo de João não tem apenas relevância escatológica. Ele também representava arrependimento e confissão do pecado. Não sabemos se João Batista conhecia bem JESUS. Contudo, é inconcebível que seus pais não tenham lhe contado Mateus 3.13-17 138 a respeito da visita de Maria para Isabel que ocorrera cerca de três décadas antes (Lc 1.39-45). No mínimo, João Batista deve ter reconhecido que JESUS, de quem era parente, cujo nascimento foi mais extraordinário que o seu mesmo e cujo conhecimento da Escritura era prodigioso até mesmo em criança (Lc 2.41-52), excedia-o. João Batista era um homem humilde; consciente de seu próprio pecado, ele não conseguia detectar pecado em JESUS que precisasse de arrependimento e de confissão. Por isso, João achava que JESUS podia batizá-lo. Mateus não nos conta quando João Batista também percebeu que JESUS era o Messias (embora os w . 16,17 possam indicar isso); Mateus foca a impecabilidade de JESUS e o testemunho do Pai, não o testemunho de João Batista (ao contrário do quarto evangelho no qual o testemunho de João a respeito de JESUS é muito importante). 15 0 consentimento de João foi conseguido porque JESUS lhe disse; “Convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça”. Esse versículo tem legiões de interpretações. Estas podem ser resumidas como seguem: 1. JESUS, ao ser submetido ao batismo, antecipa seu próprio batismo de morte por meio da qual ele assegura “justiça” para todos. Isso pode ser lido no servo sofredor de Isaías 53.11 (“Pelo seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e levará a iniqüidade deles”). Essa percepção, abraçada por muitos, é bem defendida por O. Cullmann (Baptism in the N ew Testament [Batismo no Novo Testamento] [London: SCM, 1950], p. 15ss.). Isso pressupõe que a relevância do batismo cristão deve ser lida em retrospectiva no batismo de João e não leva em consideração sua localização salvífica-histórica. Pior, Cullmann vê o uso de “justiça” feito por Paulo em Mateus, o qual, na verdade, nunca usa o termo dessa maneira, mas sempre com o sentido de “conformidade à vontade de DEUS” ou afins (cf. discussão e notas de Bonnard e esp. Przybylski, p. 91-94). Além disso, a primeira pessoa do plural não é um “nós” real; JESUS e João devem “cumprir toda a justiça”, o que é duvidoso que traduza alguma teoria que ligue muito intimamente a justiça à morte de JESUS. G. Barth (Bornkamm, Tradition [Tradição], p. I40ss.) rejeita a percepção de Cullmann, mas cai no mesmo ponto fraco, sustentando que JESUS cumpre toda justiça entrando humildemente na categoria dos pecadores e agindo por eles. Aplicam-se as mesmas objeções. 2. Outros sugerem que JESUS deve obedecer (“cumprir”) toda ordem divina (“toda a justiça”) e o batismo é uma dessas ordens. Mas essa percepção esquece grosseiramente que o batismo diz respeito a arrependimento e confissão de pecados, não à justiça mesma. Uma leve modificação no sentido do batismo diz que JESUS, ao ser batizado, reconhece a validade da vida justa pregada por João e exigida dos que aceitam o batismo de João, pois JESUS reconhece (21.32) que este veio para mostrar o caminho de justiça. Mas essa percepção força o “cumprimento” a se tornar “reconhecimento” e negligencia o fato de que o batismo de João não se relaciona com o padrão de justiça pregado por João, mas ao arrependimento. 3. Pode-se integrar a força das percepções alternativas em uma síntese melhor. Lembrar-se-á que o batismo de João tem dois focos: arrependimento e sua relevância escatológica. De fato, JESUS afirma que é vontade de DEUS (“toda a justiça”) que João o batize; e ambos, JESUS e João, “cumpr[em|” essa vontade, essa justiça, ao se 139 Mateus 3.13-17 submeterem à vontade de DEUS realizando, até o fim, esse ritual (“convém que assimfaçam os"; grifo do autor). O resultado, como Mateus logo observa (w. 16,17), mostra que esse batismo realmente aponta para JESUS. Conseguimos reconhecer outros temas nessa estrutura. Em particular, que JESUS, na verdade, é visto como o servo sofredor (Is 42.1; cf. sobre 3.17). Mas a primeira marca do servo é a obediência a DEUS: ele “cumpr[e] toda a justiça” uma vez que sofre e morre para realizar redenção em obediência à vontade de DEUS. JESUS, por meio de seu batismo, afirma sua determinação em fazer a obra designada a ele. Por isso, esse “por enquanto” pode ser relevante: JESUS está dizendo que, em princípio, a objeção de João (v. 14) é válida. Contudo, “por enquanto”, nesse ponto da história da salvação, ele deve batizar JESUS; pois, nesse ponto, JESUS deve demonstrar sua disposição em assumir o papel de servo, acarretando sua identificação com o povo. Ao contrário do que diz Gundry, “por enquanto” não serve para contar aos cristãos convertidos que eles não devem adiar “esse primeiro passo no caminho da justiça”. Essa interpretação presume que JESUS conhecia seu papel de servo sofredor desde o início de seu ministério; cf. mais no v. 17. Esse papel é sugerido em 2.23, aqui ele faz sua primeira aparição velada nos atos de JESUS. A narrativa da tentação logo a seguir confirma isso (4.1-11). Nela, JESUS recusa a tentação do demônio de perseguir a glória e o poder messiânico, escolhendo, em vez disso, o papel de servo obediente a toda palavra que vem da boca de DEUS. 16 “Assim que” não só sugere que JESUS saiu da água imediatamente após seu batismo, mas também que o testemunho do ESPÍRITO foi igualmente imediato. O batismo de JESUS e sua atestação são uma só peça e devem ser interpretados juntos. O mais natural é que “ele viu” se refere a JESUS (cf. Mc 1.10), não a João Batista, não tanto porque Matéus exclui João, mas porque ele não é o foco de interesse. E provável que a presença de João (e possivelmente de outros) esteja implícita no tratamento na terceira pessoa: “Este é o meu Filho” (v. 17), substituindo o: “Tu és o meu Filho” de Marcos (1.11). “O céu se abriu” traz à mente as visões do Antigo Testamento (e.g., Is 64.1; Ez 1.1; cf. At 7.56; Ap 4.1; 19.11). A comparação “o ESPÍRITO de DEUS descendo como pomba” pode representar que o ESPÍRITO desceu da mesma maneira que uma pomba ou que o ESPÍRITO apareceu na forma de uma pomba. Quer o último seja visionário quer não, Lucas 3.22 especifica essa forma. Por não haver uma clara referência pré-cristã ligando pomba e ESPÍRITO SANTO, alguns desenvolveram teorias complexas, e.g., Marcos reuniu duas histórias — uma mencionando a descida do ESPÍRITO SANTO, e outra, a descida da pomba — e as fundiu (S. Gero, “The Spirit as a Dove at the Baptism of JESUS” [“O ESPÍRITO como pomba no batismo de JESUS”], NovTest 18 [1976], p. 17-35). Todavia, excluir alguma nova metáfora da revelação cristã, com certeza, é precipitado. A descida do ESPÍRITO não pode ser avaliada de forma adequada separada do v. 17; por isso, a decisão a respeito de seu sentido aguarda o comentário sobre o versículo 17. 17 Alguns veem o bat-kôl (lit. “filha de uma voz”) na expressão “voz dos céus”, categoria usada pelos escritores rabínicos e outros para se referir à comunicação divina ecoando o ESPÍRITO de DEUS segundo o ESPÍRITO e os profetas Mateus 3.13-17 140 por meio dos quais ele falava tinham sido removidos. O ponto, contudo, é mais forte que isso. Essa voz é de DEUS (“dos céus”) e testifica que DEUS mesmo rompeu o silêncio e está se revelando de novo para os homens — um claro sinal do alvorecer da era messiânica (cf. 17.5 e Jo 12.28). O que os céus dizem em Marcos e Lucas é: “Tu és o meu Filho”; aqui é: “Este é o meu Filho”. A mudança nao apenas mostra a preocupação de Mateus só com a ipsissima vox [voz exata] (não geralmente a ipsissima verba [palavras exatas]; cf. notas), mas também assume que alguém além de JESUS ouviu o testemunho do céu. Devia haver uma multidão lá, se foi esse o caso, isso não interessa a Mateus. Mas João Batista precisava ouvir a voz confirmar sua decisão (v. 15). O pronunciamento, a despeito de argumentos em contrário (e.g., Hooker, JESUS a n d the Servant Jesu s e o servo], p. 70ss.), reflete Isaías 42.1: “Eis o meu servo, a quem sustento, o meu escolhido, em quem tenho prazer.Porei nele o meu ESPÍRITO”; e isso é modificado por Salmos 2.7: “Tu és meu filho” (cf. Gundry, Use o f O T JJso doAT\, p.29-32; e esp. Moo, “Use of OT” [“Uso do AT”], p. 1 12ss.). Os resultados desses pronunciamentos são extraordinariamente importantes. 1. Essas palavras do céu ligam JESUS ao servo sofredor no início mesmo de seu ministério e confirmam nossa interpretação do versículo 15. 2. Aqui, DEUS refere-se a JESUS como “meu Filho”; o título “Filho de DEUS” é introduzido de forma implícita e usado imediatamente no capítulo seguinte (4.3,6). O salmo 2 é davídico, embora no século I esse salmo não fosse considerado messiânico, a ligação com Davi rememora outras passagens de “filho” em que Davi ou seu herdeiro é visto como filho de DEUS (e.g., 2Sm 7.13,14; SI 89.26-29). 3. JESUS já é anunciado como a verdadeira Israel para a qual a Israel real apontava e como Filho de DEUS (veja sobre 2.15); agora, o testemunho celestial confirma a ligação. 4. A concepção virginal sugere, ao mesmo tempo, mais que uma filiação titular ou funcional; nesse contexto há indício de filiação ontológica, tornada mais explícita no evangelho de João. 5. JESUS é o Filho “amado” (agapêtos): o termo pode representar não só afeição, mas também eleição, reforçada pelo tempo aorístico que segue (lit. “agrado-me bastante com ele”), sugerindo eleição pré-temporal do Messias (cf. Jo 1.34 [gr. mg.]). 6 . Essas coisas estão ligadas em uma única declaração: no início mesmo do ministério público de JESUS, seu Pai apresentou-o, de maneira velada, como, simultaneamente, o Messias davídico, o Filho de DEUS, o representante do povo e o servo sofredor. Mateus já introduziu todos esses temas e os desenvolverá mais. Na verdade, ele, definitivamente, cita Isaías 42.1-4 em 12.18-21, que termina com a afirmação (já deixada clara) de que as nações confiarão nesse servo. A expressão “Filho de DEUS” tem associações particularmente ricas. Por isso, é difícil fixar sua força precisa em cada ocorrência. Da mesma maneira que é errado ver filiação ontológica em todo uso, também é errado excluí-la prematuramente. (Para discussão mais adequada, veja além dos dicionários padrões, Blair, p. 60ss.; Cullman, Christology [Cristologia], p. 270-305; Kingsbury, Structure [Estrutura], 141 Mateus 4.1-11 p. 40-83 [embora ele exagere a importância do tema em Mateus: cf. Hill, “Son and Servant” (“Filho e servo”), p. 2-16]; Ladd, N T Theology [Teologia do NT\ p. 159-72; e Moule, C hristology [Cristologia], p. 22ss.) A descida do ESPÍRITO, no versículo 16, precisa ser entendida à luz do versículo 17. O ESPÍRITO é derramado sobre o servo em Isaías 42.1 -4, passagem à qual o versículo 17 alude. Esse derramamento não muda a condição de JESUS (ele era o Filho antes disso) nem concede novos direitos a ele. Antes, o derramamento identifica-o como o servo e o Filho prometidos e marca o início de seu ministério público e sua confrontação direta com Satanás (4.1), o alvorecer da era messiânica (12.28). Notas 14 O Koá (kai, “e”) tem força adversativa — “porém” (cf. Zerwick, par. 455; Turner, Syntax [Sintaxe], p. 334). Isso pode refletir o início de uma apódose aramaica (Lagrange, p. xci). 16 Se aúxcò (auto) é a leitura correta, o texto diz que os céus se abriram “para ele”, isto é, para JESUS. Mas isso não precisa representar que ninguém mais vivenciou nada (veja comentário sobre “este é” no v. 17), mas só que, além da voz mais pública, só JESUS percebeu o céu abrindo. No período do Novo Testamento, a preposição dciró (apo, “a partir de, para fora de”) não pode sempre ter o sentido distinguido de ék (ek), usado em Marcos 1.10 (cf. Zerwick, par. 87; Turner, Syntax [Sintaxe], p. 259). 17 A palavra latina vox quer dizer simplesmente “voz” e verba, “palavras”. Ipsissima, da palavra latina ipse (“eu”), quer dizer basicamente “todos por si mesmos” ou sentido semelhante. No estudo do Novo Testamento, ipsissima vox e ipsissima verba, em geral, referem-se à “própria voz [de JESUS]” e às “exatas palavras [de JESUS]”, respectivamente. A primeira sugere que o ensinamento de JESUS está preservado de forma acurada, mas nas palavras, estilo, etc. do evangelista, ao passo que a última se refere às passagens em que as próprias palavras de JESUS são preservadas. Contudo, no sentido mais estreito, ipsissima verba, uma vez que JESUS falava principalmente aramaico, estaria restrita às palavras como abba, talitha, cum, etc. Outros entendem que o termo inclui palavras de JESUS que são apresentadas com tradução precisa no grego; mas também seria uma categoria destrutiva para usar como a única reflexão aceitável sobre o que JESUS ensinou. E claro que nesse versículo, as palavras não são as de JESUS, mas as da voz do céu. Mesmo assim, Mateus preserva só o sentido geral, a ipsissima vox. Para discussão adicional, veja EBC, 1:13-20. OBSERVAÇÃO SOBRE GENEALOGIA - Pr. Henrique POR QUE DIFERENTES GENEALOGIAS ENTRE MATEUS E LUCAS?
Porque Lucas mostra a humanidade de JESUS e Mateus sua Realeza (na de Mateus é demonstrada a descendência de JESUS do rei Davi por causa de José que era da casa real)
Lucas coloca mais nomes de descendentes humildes e às vezes sem expressividade em sua genealogia para mostrar a humildade e humanidade de JESUS.
A intenção de Lucas é mostrar JESUS se fazendo homem para salvar a todos os descendentes de Adão. Por isso a genealogia de Lucas vai até Adão.
Já Mateus está interessado em provar que JESUS é rei e mostra JESUS descendente dos reis até Davi porque é filho de José, da casa de Davi. Entre tantos outros descendentes de Davi, José é mais um que poderia se candidatar ao trono. Assim JESUS nasce em Belém, tribo de Judá. Também é filho legalmente de José da casa de Davi.
Cuidado com fábulas artificialmente compostas (2 Pedro 1:16) de que na genealogia de Lucas está registrada a genealogia de Maria e que Eli ou Heli é pai de Maria. Não existe nenhuma comprovação bíblica disso. A genealogia é de JESUS e as mulheres não influenciavam as genealogias. Apenas são citadas como esposas de alguém que faz parte da genealogia de JESUS. A única família de Maria encontrada na Bíblia é a de Isabel, sua prima, descendente de Arão, da tribo de Levi. Lucas 1:5 Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel. Lucas 1:36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; SE MULHER INFLUENCIASSE GENEALOGIA DAVI SERIA APENAS UM ZERO A ESQUERDA.
Davi é descendente de Raabe,a prostituta e de Rute, a Moabita (descendente de um incesto das filhas de Ló com ele) E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé; Mateus 1:5. ISSO NOS MOSTRA CLARAMENTE QUE MULHER NÃO INFLUENCIA NA GENEALOGIA. JESUS SÓ É RECONHECIDO COMO DA CASA DE DAVI POR CAUSA DE JOSÉ, QUE É DA CASA DE DAVI. E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi), Lucas 2:4
José tinha uma profissão que o mantinha dentro da classe média e não da pobre. Quando se ocupou com a ida a Belém, nascimento de JESUS, ida a Jerusalém para apresentação do menino JESUS e depois fuga para o Egito, ai sim, sem trabalhar, teve dificuldades financeiras, embora no Egito tivesse produtos ganhados no nascimento de JESUS com os quais podia sustentar sua família. JESUS - BEP - CPAD - CRISTO NO ANTIGO TESTAMENTO 2RS 5.14 “Então, desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de DEUS; e a sua carne tornou, como a carne de um menino, e ficou purificado.” Um dos ensinos fundamentais do NT é que JESUS CRISTO (o Messias) é o cumprimento do AT. O livro de Hebreus mostra que CRISTO é o herdeiro de tudo o que DEUS falou através dos profetas (Hb . O próprio JESUS asseverou que viera para cumprir a lei e os profetas (Mt 5.17). Após a sua gloriosa ressurreição, Ele demonstrou aos seus seguidores, tendo por base a lei de Moisés, os profetas e os salmos, i.e., as três principais divisões do AT (hebraico) que DEUS predissera, há muito tempo, tudo quanto lhe havia sucedido (Lc 24.25-27,44-46). Para melhor compreendermos as profecias do AT a respeito de JESUS CRISTO, precisamos ver algo da tipologia bíblica. PRINCÍPIOS DE TIPOLOGIA. O estudo cuidadoso do AT revela elementos chamados tipos, (do grego typos) que têm seu cumprimento na vinda do Messias (que é o antitipo); noutras palavras, há uma correspondência entre certas pessoas, eventos, ou coisas do AT e JESUS CRISTO no NT. Note-se dois princípios básicos concernentes a essa forma de profecia e seu cumprimento: (1) Para um trecho do AT prenunciar a CRISTO, é preciso sempre analisar o referido trecho como um acontecimento na história divina da redenção, i.e., devemos primeiramente analisar o trecho do AT sob o aspecto histórico, e então ver de que modo ele prenuncia a vinda de JESUS CRISTO como o Messias prometido. É preciso reconhecer que o cumprimento messiânico de um trecho do AT está geralmente num plano espiritual mais elevado do que o evento registrado no AT. Na realidade, os personagens de determinado acontecimento bíblico por certo não perceberam que o que estavam vivenciando era um prenúncio profético sobre o Filho de DEUS que um dia viria aqui. Por exemplo, Davi sem dúvida não percebeu que, ao escrever o Salmo 22, seu sofrimento era uma forma de profecia do sofrimento de CRISTO na cruz. Nem os judeus expatriados e chorosos que passavam pelo túmulo de Raquel em Ramá (Jr 31.15) sabiam que um dia o seu pranto teria cumprimento profético na morte de todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém (Mt 2.18). Quase sempre, só à luz do NT é que percebe-se que um trecho do AT é uma profecia a respeito de nosso Senhor. CATEGORIAS DE TIPOS PROFÉTICOS. Há pelo menos quatro formas pelas quais o AT prenuncia e profetiza a vinda de CRISTO para o NT: Textos específicos do AT citados no NT. Certos trechos do AT são manifestamente profecias sobre CRISTO, porque o NT os cita como tais. Por exemplo, Mateus cita Is 7.14 para comprovar que o AT profetizava aí o nascimento virginal de CRISTO (Mt 1.23), e Mq 5.2 para comprovar que JESUS devia nascer em Belém (Mt 2.6). Marcos observa aos seus leitores (Mc 1.2,3) que a vinda de João Batista como precursor de CRISTO fora profetizada tanto por Isaías (Is 40.3), quanto por Malaquias (Ml 3.1). Zacarias predisse a entrada triunfante de JESUS em Jerusalém no domingo que precede a Páscoa (Zc 9.9; cf. Mt 21.1-5; Jo 12.14,15). A experiência de Davi, descrita no Sl 22.18, prenuncia os soldados ao derredor da cruz, dividindo entre si as vestes de JESUS (Jo 19.23,24), e sua declaração no Sl 16.8-11 é interpretada como uma clara predição da ressurreição de JESUS (At 2.25-32; 13.35-37). O livro de Hebreus afirma que Melquisedeque (cf. Gn 14.18-20; Sl 110.4) é um tipo de CRISTO, nosso eterno Sumo Sacerdote. Muitos outros exemplos poderiam ser citados. Alusões a passagens do AT pelos escritores do NT. Outra forma de revelação de CRISTO no AT consiste em passos do NT que, mesmo sem citação direta, referem-se a pessoas, eventos, ou objetos do AT prefigurando profeticamente a CRISTO. Por exemplo, no primeiro de todos os textos proféticos da Bíblia (Gn 3.15), DEUS promete que enviará o descendente da mulher para ferir a cabeça da serpente. Certamente, Paulo tinha em mente esse trecho quando declarou que CRISTO nasceu de mulher para redimir os que estavam debaixo da lei (Gl 4.4,5; cf. Rm 16.20). João, igualmente, declara que o Filho de DEUS veio “para desfazer as obras do diabo” (1Jo 3.8). A referência de João Batista a JESUS como Cordeiro de DEUS que tira o pecado do mundo (Jo 1.29,36), recua a Lv 16 e Is_ 53.7. A referência de Paulo a JESUS como “nossa páscoa” (1Co 5.7) revela que o sacrifício do cordeiro pascal profetizava a morte de CRISTO em nosso favor (Êx 12.1-14). O próprio JESUS declarou que o ato de Moisés, ao levantar a serpente no deserto (Nm 21.4-9) era uma profecia a respeito dEle, quando pendurado na cruz. E quando João diz que JESUS, o Verbo de DEUS, participou da criação de todas as coisas (Jo 1.1-3), não podemos deixar de pensar em Sl 33.6: “Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus” (cf. Hb 1.3,10-12). Essas são apenas algumas das alusões no NT a passos do AT referentes a CRISTO. Pessoas, eventos, ou objetos do AT que apontam para a redenção. O êxodo de Israel do Egito, que em todo o AT é visto como o maior evento redentor do antigo concerto, prefigura CRISTO e a redenção que Ele efetuou no novo concerto. Alguns tipos do livro de Êxodo que prenunciam CRISTO e sua obra redentora são: Moisés, a Páscoa, a travessia do mar Vermelho, o maná, a água que brotou da rocha, o Tabernáculo com seus pertences e o sumo sacerdote. Eventos do AT que prefiguram o modo de DEUS lidar com o crente em CRISTO. Muitos fatos do AT constituem uma das formas de DEUS lidar com seu povo, tendo seu real cumprimento em JESUS CRISTO. Note os seguintes exemplos: (a) Abraão teve de esperar com paciência por quase vinte e cinco anos até DEUS sarar a madre de Sara e lhes dar Isaque. Abraão nada poderia fazer para apressar o nascimento do filho prometido por DEUS. Fato idêntico cumpriu-se no NT, quando DEUS enviou seu próprio Filho como Salvador do mundo, ao chegar a plenitude dos tempos (Gl 4.4); o ser humano nada podia fazer para apressar esse momento. Nossa salvação é obra única e exclusiva de DEUS (cf. Jo 3.16), e jamais pelo esforço humano. (b) Antes dos israelitas serem libertos do Egito pelo poder gracioso de DEUS, em aflição eles clamavam por socorro contra seus inimigos (Êx 2.23,24; 3.7). Temos aí um indício profético do plano divino da nossa redenção em CRISTO. O pecador, antes do seu livramento pela graça de DEUS, do jugo do pecado e dos inimigos espirituais, precisa clamar arrependido e recorrer à graça salvífica de DEUS (cf. At 2.37,38; 16.29-32; 17.30,31). Todos aqueles que invocarem o nome do Senhor serão salvos. (c) Quando Naamã, o siro, buscou a cura da sua lepra, recorrendo ao DEUS de Israel, recebeu a ordem de lavar-se sete vezes no rio Jordão. Essa ordem inicialmente provocou ira nele, o qual a seguir, humilhou-se e submeteu-se ao banho no Jordão, para ser curado (2Rs 5.1-14). No fato de a graça salvífica de DEUS transpor os limites da nação de Israel, temos uma antevisão de JESUS e o novo concerto (cf. Lc 4.27; At 22.21; Rm 15.8-12), e também do fato que, para recebermos a salvação, precisamos renunciar ao orgulho, humilhar-nos diante de DEUS (cf. Tg 4.10; 1Pe 5.6) e receber a purificação pelo sangue de JESUS (cf. At 22.16; 1Co 6.11; Tt 3.5; 1Jo 1.7,9; Ap 1.5). Em resumo: O AT narra histórias de pessoas piedosas que nos servem de modelo e exemplo (cf. 1Co 10.1-13; Hb 11; Tg 5.16-18), mas ele vai além disso; ele (o AT) “nos serviu de aio, para nos conduzir a CRISTO, para que, pela fé, fôssemos justificados” (Gl 3.24). JESUS E O ESPÍRITO SANTO - BEP -CPAD Lc 11.13: “Pois, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o ESPÍRITO SANTO àqueles que lhopedirem?” JESUS tinha um relacionamento especial com o ESPÍRITO SANTO, relacionamento este importante para nossa vida pessoal. Vejamos as lições práticas desse relacionamento. AS PROFECIAS DO ANTIGO TESTAMENTO. Várias das profecias do AT sobre o futuro Messias afirmam claramente que Ele seria cheio do poder do ESPÍRITO SANTO (ver Is 11.2 nota; 61.1-3 nota). Quando JESUS leu Is 61.1,2 na sinagoga de Nazaré, acrescentou: “Hoje, se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos” (4.18-21; ver Jo 3.34b). O NASCIMENTO DE JESUS. Tanto Mateus quanto Lucas declaram de modo específico e inequívoco que JESUS veio a este mundo como resultado de um ato milagroso de DEUS. Foi concebido mediante o ESPÍRITO SANTO e nasceu de uma virgem, Maria (Mt 1.18,23; Lc 1.27). Devido à sua concepção milagrosa, JESUS era um “santo” (1.35), i.e., livre de toda mácula do pecado. Por isto, Ele era digno de carregar sobre si a culpa dos nossos pecados e expiá-los (ver Mt 1.23 nota). Sem um Salvador perfeito e sem pecado, não poderíamos jamais obter a redenção. O BATISMO DE JESUS. Quando JESUS foi batizado por João Batista, Ele, que posteriormente batizaria seus discípulos no ESPÍRITO, no Pentecoste e durante toda a era da igreja (ver Lc 3.16; At 1.4,5; 2.33,38,39), Ele mesmo pessoalmente foi ungido pelo ESPÍRITO (Mt 3.16,17; Lc 3.21,22). O ESPÍRITO veio sobre Ele em forma de uma pomba, dotando-o de grande poder para levar a efeito o seu ministério, inclusive a obra da redenção. Quando nosso Senhor foi para o deserto depois do seu batismo, estava “cheio do ESPÍRITO SANTO” (4.1). Todos os que experimentarem o sobrenatural renascimento espiritual pelo ESPÍRITO SANTO, devem, como JESUS, experimentar o batismo no ESPÍRITO SANTO, para lhes dar poder na sua vida e no seu trabalho (ver At 1.8 notas). A TENTAÇÃO DE JESUS POR SATANÁS. Imediatamente após o batismo, JESUS foi levado pelo ESPÍRITO ao deserto, onde foi tentado pelo diabo durante quarenta dias (4.1,2). Foi pelo fato de estar cheio do ESPÍRITO SANTO (4.1) que JESUS conseguiu resistir firmemente a Satanás e vencer as tentações que lhe foram apresentadas. Da mesma maneira, a intenção de DEUS é que nunca enfrentemos as forças espirituais do mal e do pecado sem o poder do ESPÍRITO. Precisamos estar equipados com a sua plenitude e obedecer-lhe a fim de sermos vitoriosos contra Satanás. Um filho de DEUS propriamente dito deve estar cheio do ESPÍRITO e viver pelo seu poder. O MINISTÉRIO DE JESUS. Quando JESUS fez referência ao cumprimento da profecia de Isaías acerca do poder do ESPÍRITO SANTO sobre Ele, usou também a mesma passagem para sintetizar o conteúdo do seu ministério, a saber: pregação, cura e libertação (Is 61.1,2; Lc 4.16-19). (1) O ESPÍRITO SANTO ungiu JESUS e o capacitou para a sua missão. JESUS era DEUS (Jo 1.1), mas Ele também era homem (1Tm 2.5). Como ser humano, Ele dependia da ajuda e do poder do ESPÍRITO SANTO para cumprir as suas responsabilidades diante de DEUS (cf. Mt 12.28; LC 4.1,14; Rm 8.11; Hb 9.14). (2) Somente como homem ungido pelo ESPÍRITO, JESUS podia viver, servir e proclamar o evangelho (At 10.38). Nisto, Ele é um exemplo perfeito para o cristão; cada crente deve receber a plenitude do ESPÍRITO SANTO (ver At 1.8 notas; 2.4 notas). A PROMESSA DE JESUS QUANTO AO ESPÍRITO SANTO. João Batista profetizara que JESUS batizaria seus seguidores no ESPÍRITO SANTO (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16, ver nota; Jo 1.33), profecia esta que o próprio JESUS reiterou (At 1.5; 11.16). Em 11.13, JESUS prometeu que daria o ESPÍRITO SANTO a todos quantos lhe pedissem (ver nota sobre aquele versículo). Todos estes versículos acima referem-se à plenitude do ESPÍRITO, que CRISTO promete conceder àqueles que já são filhos do Pai celestial — promessa esta que foi inicialmente cumprida no Pentecoste (ver At 2.4 nota) e permanece para todos que são seus discípulos e que pedem o batismo no ESPÍRITO SANTO (ver At 1.5; 2.39 nota). A RESSURREIÇÃO DE JESUS. Mediante o poder do ESPÍRITO SANTO, JESUS ressuscitou dentre os mortos e, assim, foi vindicado como o verdadeiro Messias e Filho de DEUS. Em Rm 1.3,4 lemos que, segundo o ESPÍRITO de santificação (i.e., o ESPÍRITO SANTO), CRISTO JESUS foi declarado Filho de DEUS, com poder, e em Rm 8.11 que “o ESPÍRITO... ressuscitou dos mortos a JESUS”. Assim como JESUS dependia do ESPÍRITO SANTO para sua ressurreição dentre os mortos, assim também os crentes dependem do ESPÍRITO para a vida espiritual agora, e para a ressurreição corporal no porvir (Rm 8.10,11). A ASCENSÃO DE JESUS AO CÉU. Depois da sua ressurreição, JESUS subiu ao céu e assentou-se à destra do Pai como seu co-regente (24.51; Mc 16.19; Ef 1.20-22; 4.8-10; 1Pe 3.21,22). Nessa posição exaltada, Ele, da parte do Pai, derramou o ESPÍRITO SANTO sobre o seu povo no Pentecoste (At 2.33; cf. Jo 16.7-14), proclamando, assim, o seu senhorio como rei, sacerdote e profeta. Esse derramamento do ESPÍRITO SANTO no Pentecoste e no decurso desta era presente dá testemunho da contínua presença e autoridade do Salvador exaltado. A COMUNHÃO ÍNTIMA ENTRE JESUS E SEU POVO. Como uma das suas missões atuais, o ESPÍRITO SANTO toma aquilo que é de CRISTO e o revela aos crentes (Jo 16.14,15). Isto quer dizer que os benefícios redentores da salvação em CRISTO nos são mediados pelo ESPÍRITO SANTO (cf. Rm 8.14-16; Gl 4.6). O mais importante é que JESUS está bem perto de nós (Jo 14.18). O ESPÍRITO nos torna conscientes da presença pessoal de JESUS, do seu amor, da sua bênção, ajuda, perdão, cura e tudo quanto é nosso mediante a fé. Semelhantemente, o ESPÍRITO atrai nosso coração para buscar ao Senhor com amor, oração, devoção e adoração (ver Jo 4.23,24; 16.14 nota). A VOLTA DE JESUS PARA BUSCAR SEU POVO. JESUS prometeu voltar e levar para si o seu povo fiel, para estar com Ele para sempre (veja Jo 14.3 nota; 1Ts 4.13-18). Esta é a bendita esperança de todos os crentes (Tt 2.13), o evento pelo qual oramos e ansiamos (2Tm 4.8). As Escrituras revelam que o ESPÍRITO SANTO impulsiona nosso coração a clamar a DEUS pela volta do nosso Senhor. É o ESPÍRITO quem testifica que nossa redenção permanece incompleta até a volta de CRISTO (cf. Rm 8.23). No final da Bíblia, temos estas últimas palavras que o ESPÍRITO SANTO inspirou “Ora, vem, Senhor JESUS” (Ap 22.20). OBSERVAÇÃO SOBRE GENEALOGIA - Pr. Henrique POR QUE DIFERENTES GENEALOGIAS ENTRE MATEUS E LUCAS?
Porque Lucas mostra a humanidade de JESUS e Mateus sua Realeza (na de Mateus é demonstrada a descendência de JESUS do rei Davi por causa de José que era da casa real)
Lucas coloca mais nomes de descendentes humildes e às vezes sem expressividade em sua genealogia para mostrar a humildade e humanidade de JESUS.
A intenção de Lucas é mostrar JESUS se fazendo homem para salvar a todos os descendentes de Adão. Por isso a genealogia de Lucas vai até Adão.
Já Mateus está interessado em provar que JESUS é rei e mostra JESUS descendente dos reis até Davi porque é filho de José, da casa de Davi. Entre tantos outros descendentes de Davi, José é mais um que poderia se candidatar ao trono. Assim JESUS nasce em Belém, tribo de Judá. Também é filho legalmente de José da casa de Davi.
Cuidado com fábulas artificialmente compostas (2 Pedro 1:16) de que na genealogia de Lucas está registrada a genealogia de Maria e que Eli ou Heli é pai de Maria. Não existe nenhuma comprovação bíblica disso. A genealogia é de JESUS e as mulheres não influenciavam as genealogias. Apenas são citadas como esposas de alguém que faz parte da genealogia de JESUS. A única família de Maria encontrada na Bíblia é a de Isabel, sua prima, descendente de Arão, da tribo de Levi. Lucas 1:5 Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; e o seu nome era Isabel. Lucas 1:36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril; SE MULHER INFLUENCIASSE GENEALOGIA DAVI SERIA APENAS UM ZERO A ESQUERDA.
Davi é descendente de Raabe,a prostituta e de Rute, a Moabita (descendente de um incesto das filhas de Ló com ele) E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé; Mateus 1:5. ISSO NOS MOSTRA CLARAMENTE QUE MULHER NÃO INFLUENCIA NA GENEALOGIA. JESUS SÓ É RECONHECIDO COMO DA CASA DE DAVI POR CAUSA DE JOSÉ, QUE É DA CASA DE DAVI. E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi), Lucas 2:4
José tinha uma profissão que o mantinha dentro da classe média e não da pobre. Quando se ocupou com a ida a Belém, nascimento de JESUS, ida a Jerusalém para apresentação do menino JESUS e depois fuga para o Egito, ai sim, sem trabalhar, teve dificuldades financeiras, embora no Egito tivesse produtos ganhados no nascimento de JESUS com os quais podia sustentar sua família. JESUS - A Vida Diária Nos Tempos de JESUS - HENRI DANIEL-ROPS - Editora Vida JESUS ENTRE SEU POVO E EM SEU TEMPO JESUS de Nazaré, um judeu entre judeus — "CRISTO superou a Lei" — O povo judeu e JESUS JESUS DE NAZARÉ, UM JUDEU ENTRE JUDEUS Que tipo de homem era Ele, cuja vinda deveria marcar a maior data na história da humanidade, cujo advento renovou, de uma vez para sempre, a revelação feita a Israel? De que forma se enquadrou Ele, como homem, no padrão dessa nação cujas características procuramos descrever? Quais as razões, derivadas tanto de sua natureza como da de seu povo, que iriam forçar a separação entre eles e provocar o amargo drama em que a mensagem trazida por Ele seria transmitida em toda a sua plenitude? Nenhum livro sobre a vida na Palestina na época de CRISTO poderia terminar sem ter considerado essas questões. Uma única frase fornece a resposta, a frase que Péguy dirigiu ao "povo dos judeus": "Ele era um judeu, um simples judeu, um judeu como você, um judeu entre vocês . .Este é o fato inegável, um fato que um número excessivo de cristãos tem tentado esquecer por muito tempo, mas que uma das obras históricas e exegéticas mais recentes vem tornando cada vez mais evidente. "JESUS CRISTO, a quem os cristãos adoram comoDeus mas (quem eles também dizem ser) também verdadeiramente homem" era um judeu, um judeu palestino da época de Augusto e Herodes. Ele não era apenas judeu por descendência, pelo seu estilo de vida e hábitos intelectuais, mas sua mensagem espiritual achava-se profundamente enraizada no solo judeu de Israel. "Cujo fato," escreve o padre Lagrange,"de forma alguma diminui a sua origem divina".2 Os textos do Novo Testamento não poderiam ser mais categóricos. 0 apóstolo Paulo, ao declarar com orgulho que os israelitas eram seus "compatriotas, segundo a carne", também recorda, como uma verdade evidente por si mesma, que "deles descende o CRISTO”3 "Pois é evidente que nosso Senhor procedeu de Judá,"4 acrescenta a Epístola aos Hebreus. E à sua própria maneira simbólica o apóstolo João repete esta afirmativa no Apocalipse.6 Os evangelistas escrevem continuamente sobre nosso Senhor como o "filho de Davi"; e dois deles, Mateus e Lucas, dão até mesmo a genealogia deste descendente remoto dos reis que haviam sido a glória do Povo Escolhido.6 JESUS, "nascido sob a lei",7 foi imediatamente integrado na comunidade judaica de acordo com as regras de que já falamos.8 Ele foi circuncidado no oitavo dia.9 Seus pais obedeceram a todos os requisitos da Lei, tanto com relação às suas pessoas como à dele. Sua mãe observou os regulamentos estabelecidos na Torá para as mulheres depois de terem dado à luz,e Ele foi apresentado ao Templo, consagrado ao Senhor e remido pela oferta de duas pombas, como qualquer outro primogênito de uma família judia,10 O nome recebido por Ele, Yeshua, ou JESUS, do qual Josué é uma outra forma, era um nome judeu bastante antigo, relacionado com DEUS, significando "Javé é salvação" ou "Javé nos salva", muito encontrado na Bíblia, não só como o nome daquele famoso juiz de Israel que fez parar o sol em seu curso, mas também como o do autor do livro de "Eclesiástico", que assinou sua obra, quase no final — JESUS, filho de Siraque. Quatro sumo sacerdotes, entre os anos 37 A.C. e 70 A.D.; tiveram esse nome; e, segundo Lucas, um dos ancestrais do Senhor também o tivera.11 Os nomes dos pais deles eram outrossim tipicamente judeus: aquele famoso patriarca, o administrador do Faraó que estabelecera Israel no Egito, chamava-se José; e Maria era um nome dos mais comuns entre as mulheres judias da época.12 Os nomes de todos os parentes de JESUS eram judeus: João (Yohanan) seu primo, que seria o Batista; os pais de João, Zacarais e Isabel; e aqueles não mencionados no evangelho mas que se encontram nos escritos apócrifos assim como fazem parte da tradição da Igreja — Ana e Joaquim, seus avós. Em sua infância, JESUS deve ter sido certamente educado como qualquer outra criança judia; isto é, recebeu uma educação religiosa, aprendendo a ler as Escrituas na Beth ha-Sefer, a escola de sua cidadezinha. Seus pais o ensinaram a ser um israelita piedoso, fazendo com que os acompanhasse desde cedo em suas peregrinações a Jerusalém. O episódio do Menino entre os doutores da Lei, debatendo com eles no Templo, nos diz muito sobre a instrução bfblica por Ele recebida. Por mais sobrenaturais que tenham sido os seus dojes nas ciências teológicas, é razoável supor que um menino de doze anos devesse ter bastante cultura para "surpreender" os rabinos com seus conhecimentos.13 Ele com certeza aprendeu o offcio do pai, a carpintaria,14 e quando adulto, como a maioria dos judeus daquela época, JESUS trabalhou com as mãos, fazendo arados e jugos para os bois. Existe uma tradição, registrada por Justino Mártir no segundo século, que preserva a memória de seus trabalhos. Os seus contemporâneos o viram então usar uma apara de madeira por trás da orelha, que era a identificação especial dos que trabalhavam com madeira; e 0 viram alisando a madeira com um plaina e batendo nela com um malho. A casa em que viveu na cidade de Nazaré, antes de iniciar sua missão e não ter "onde reclinar a cabeça",era sem dúvida uma daquelas habitações humildes, em forma de cubo, como os camponeses da Palestina continuam construindo até hoje. Pode ter também sido em parte uma caverna. Quando a noite caía e chagava a hora de dormir, Ele estendia o tapete que servia de leito para o povo comum, e se enrolava numa coberta ou na sua capa. A sua aparência física, sobre a qual milhares de pintores exercitariam a imaginação nos séculos futuros, era a de um judeu praticante daqueles dias. Cabelo longo, a barba não era uma exigência necessária, mas certamente usava os cachos laterais (costeletas) que são uma continuação do cabelo nas têmporas e que a lei tornou obrigatórios.15 Suas roupas eram aquelas usadas por todos: o evangelho fala de sua "túnica sem costura",15 e pelo episódio da mulher com um fluxo de sangue fica claro que não deixou de usar as quatro borlas de lã nos cantos da capa — aqueles tzitzith que lembram simbolicamente o usuário dos mandamentos do Senhor.17 Levava nos pés sandálias, como a maioria de seus companheiros. Sua alimentação, como vemos nos textos, era a mais comum do país. Deve ter comido pouca carne. No evangelho o novilho cevado só é morto em uma ocasião extraordinária, e o cordeiro escassamente é visto na mesa, exceto na Páscoa. O peixe, por outro lado, que, como sabemos, tinha lugar importante na dieta judia,é mencionado com frequência. Afim de provar aos discípulos que não era um espírito, o CRISTO ressurreto comeu um pedaço de peixe na frente deles, nas praias do Mar da Galiléia.15 O evangelho também menciona com frequência um outro dos principais alimentos dos judeus — o pão, aquele pão que o Senhor elevaria ao nível de um símbolo sagrado. As bodas de Caná já bastam para mostrar que CRISTO bebia sem dúvida aquele vinho pesado e escuro que deve ser misturado com água antes de servir,cujo vinho viría também a partilhar da revelação da Ceia do Senhor. Os hábitos alimentares citados nos evangelhos são sempre muito frugais. Como vimos, a cozinha judia, pelo menos entre os pobres, nada tinha dos elaborados pratos romanos; mas, mesmo assim, a família era regalada com ricas iguarias nos dias festivos; e vemos no evangelho nosso Senhor participando fre-qüentemente desses banquetes em companhia de seus amigos. Todos esses costumes, como aparecem nos quatro evangelhos, nos apresentam JESUS como um judeu idêntico em todos os sentidosa qualquer outro homem de sua raça. A linguagem por Ele falada nâo diferia de modo algum da de seus conterrâneos — oaramaico, que Marcos não hesita em citar, injetando a mesma em seu texto grego, com alguns termos ditos pelo próprio Senhor.19 Quanto ao hebraico, a Ifngua litúrgica, a linguagem bíblica, nâo há dúvida de que também o conhecia, pois fez a leitura de uma passagem das escrituras em voz alta na sinagoga e depois a comentou. - Quando iniciou seu ministério, qual o contexto em que o exerceu, e quem foram seus ajudantes, seus colaboradores? O contexto físico foi o da terra judaica, a Palestina que praticamente nâo deixou apesar de suas muitas viagens. Seus discípulos, os doze apóstolos, eram todos judeus, a maioria deles camponeses e pescadores da Galiléia. Os próprios nomes deles mostram isso: Simâç, João, Judas, Levi, que viría a ser Mateus, e os demais. Quando falava, seu estilo mostrava-se de tal forma impregnado com a forma judia de expressão que os rj]t-mos, as repetições harmoniosas e as aliterações da poesia judaica20 se fazem sentir mesmo, no grego dos evangelhos. Percebemos também em suas parábolas o mesmo tipo de pensamento que produziu o midrash de Israel. Dizer que Ele possuía excelente conhecimento da Bíblia é obviamente inadequado: o texto sagrado formava parte de sua própria mente; Ele o citava a toda hora, e mesmo quando nâo usava as palavras exatas da Bíblia, com que fre-qüencia se referia a ela e quantas vezes fez harmonizarem-se as suas passagensI Alguns de seus ditos mais originais nâo passam de citações bíblicas brilhando com uma nova luz.21 Fica claro que este era um hábito mental que devia â sua educação israelita. Basta lembrar como sua mâe, Maria, ao improvisar o "Magnificat" o recitou do começo ao fim baseada em suas memórias do Livro, a tal ponto que este hino esplêndido parece ser um resumo de todos os grandes temas da esperança dos judeus. Mas nâo foi somente pelo nascimento, roupas, estilo de vida, amizades e modo de falar que JESUS, como um homem, foi judeu; e tâo inteiramente judeu, que tudo que tem sido dito sobre a vida diária de seu povo aplica-se a Ele e permite que formemos uma imagem concreta dEle, em sua época e entre o seu povo. Era também judeu ao reconhecer que seu povo possuía uma missão particular e um destino inteiramente seu. Da mesma forma que seus conterrâneos, Ele era um filho da aliança. E aqui novamente nâo há dúvida de que podemos sentir a influência da educação materna: todo o conjunto final do Magnificat glorifica "a promessa que ele fizera a nossos pais, Abraão e sua descendência, para sempre". A salvação, afinal de contas, deve vir dos judeus, disse JESUS á mulher samaritana, como se isto fosse uma coisa ordenada.22 Parece mesmo que pelo menos no início de seu ministério ele desejou limitar a revelação da sua mensagem, "às ovelhas perdidas da casa de Israel",23 e "nâo tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos"24 como se pretendesse enraizar seus ensinamentos firmemente na terra judaica antes da dar-lhes aquele caráter universal que deveria ter num período posterior, quando ordenou aos discípulos que fossem pregar em "todo o mundo, a fim de que todas as nações ouvissem a verdade". JESUS, um filho da aliança, comportou-se como um judeu praticante, fervorosamente religioso. O evangelho menciona repetidamente sua presença nas sinagogas a fim de ensinar e orar — sente-se que ali ele estava em casa — e quando foi a Jerusalém subiu ao Templo a fim de orar ao Pai. Seu respeito pelo prédio sagrado, o centro da vida religiosa judia, fica evidenciado pela sua indignação contra os que "compravam e vendiam no Templo",que transformaram sua "casa de oração" em um "covil de salteadores".28 Ele nâo deixou de celebrar as grandes festas que se salientavam como marcos durante o ano, santificando-o: Ele celebrou a Festa dos Tabernáculos e a da Dedicação;28 e apenas alguns dias antes de sua morte mandou que dois de seus discípulos providenciassem os arranjos para a Páscoa, a fim de poder celebrá-la com eles.27 Supõe-se erradamente, e muitos fazem isso, que ele rejeitou e conde-nou todas as observâncias da Lei -Mosaica. Mas nâo foi assim. Uma conhecida passagem em Mateus declara formalmente: "Em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus”.28 Ele referiu-se com grande respeito ao sábado, aquela pedra de toque da observância judia: por exemplo,Iquando falou do fim do mundo, Ele disse: "Orai para que a vossa fuga nâo se dê no sábado",29 por ser proibido viajar nesse dia mais do que a jornada de um sábado ou levar quaisquer pertences. Um dos "ditados nâo-registrados" encontrado num papiro atribui ao Senhor estas palavras: "Se nâo guardares o sábado, nâo vereis o Pai".30 E se de fato Ele tomou posição contra as observâncias e contra o sábado foi por causa da excessiva importância dada pelos doutores a essas práticas ritualistas, e nâo por estar em desacordo com o princípio subjacente. Sua atitude é definida na famosa frase: "Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir".31 Todos os temas essenciais da fé judia podem ser encontrados nos ensinos de CRISTO. Em primeiro lugar, vemos aquele monoteísmo absoluto e imperativo, aquele avanço em direção ao DEUS Único que era o orgulho de Israel. Para JESUS, DEUS sempre foi "o primeiro a ser servido", como diria Joana D'Arc. Para Ele, como afirmamos antes, o "primeiro de todos os mandamentos" era amar a DEUS; e não foi por simples acaso que na resposta ao escriba Ele replicou recitando a Shema: "0 Senhor nosso DEUS é o único DEUS".32 Vimos, no entanto, que o grande princípio evangélico, "Ama teu próximo como a ti mesmo", o "segundo mandamento",33 também tinha suas raízes na tradição israelita. 0 ensino moral de CRISTO originava-se também da doutrina fundada por Moisés e desenvolvida pelos profetas, por Jó, o Salmista e JESUS, o filho de Siraque, com o mesmo propósito de tornar a vida espiritual mais interior e impedir que se transformasse numa obediência mecânica a determinados mandamentos. Quantos profetas, desde Isaías até Joel, já haviam dito que o jejum e a penitência ostentosos não bastavam I 0 próprio universalismo cristão está ligado a uma corrente de pensamento judeu que, embora não tenha talvez sido a mais largamente aceita, mesmo assim possuía uma força muito real.34 Embora seja verdade que o Senhornão possa ser tido como membro de qualquer das seitas religiosas que dividiam a comunidade judia, não existe dúvida que Ele concordava com os ensinos às vezes de um às vezes de outro grupo — até mesmo com a doutrina dos fariseus que, por uma leitura superficial do evangelho, parecem ter sido seus inimigos, homens rejeitados imediatemente por ele. Renan exagera quando diz que "o rabino Hillel foi o verdadeiro mestre de JESUS"; mas em muitos assuntos fundamentais, como a parte desempenhada pela Providência no mundo e pela Graça no homem, os conceitos do Senhor estão em conformidade com os dos fariseus. Vimos também36 quantas semelhanças podem ser apontadas entre a sua doutrina e seu modo de expressá-la, com a dos essênios, como revelado pelos rolos do Mar Morto. Existem até alguns ritos tipicamente cristãos que podem ser associados, embora apenas até um ponto limitado, com os costumes dos monges de Cunrã:por exemplo, aquelas purificações que nos fazem lembrar do batismo de CRISTO por João, e aquelas refeições de toda a comunidade que prefiguram a Última Ceia, em relação à qual os textos essênios falam de pão e vinho.38 Tudo isto situa JESUS e sua mensagem numa estrutura que é tão claramente judia que qualquer consideração de seu pensamento e sua personalidade que não dê crédito às raízes judias de ambos está fadada a cair em erro. Quando o Filho de Maria veio ao mundo, ele assumiu a função daquele Messias sobre quem as esperanças de Israel se haviam concentrado por centenas de anos; e foi no contexto da "redenção de Israel"37 que ele tornou conhecida a salvação que trouxe à humanidade. Esse sublime conceito do Redentor jamais teria sido acessível a não ser que uma longa tradição o fizesse surgir e desenvolver-se na consciência da nação a quem fora confiada a vontade expressa de DEUS; É preciso perceber perfeitamente os múltiplos elos que ligavam JESUS a seu povo, e reconhecer por completo sua associação racial, intelectual, moral e espiritual com a nação da aliança, a fim de medir até que ponto Ele superou suas idéias fundamentais, e compreender por que não era o Messias esperado por Israel. CRISTO SUPEROU A LEI Pois ele não era. Falando de maneira geral, Israel não reconheceu JESUS como o Messias longamente esperado. Apenas um pequeno grupo seguiu-O. Desta recusa resultou o amargo drama em que o breve ministério terreno do jovem galileu, que havia ensinado a seus discípulos um modo mais perfeito de conhecer e servir a DEUS, chegou ao fim. As razões que podemos atribuir a esta recusa e seus resultados estão também ligadas âs suposições básicas do povo judeu, tanto quanto da originalidade fundamental de sua mensagem. Na condição em que Israel se achava por ocasião da vinda de JESUS, seria possível para os judeus aceitarem um ensinamento que, embora profundamente arraigado em sua tradição, ultrapassava de muito sua expressão comum, e até mesmo contrariava suas crenças em alguns assuntos que poderiam ser perfeitamente consideradas como de importância vital? Acabamos de ver JESUS, em muitas partes de seu ministério, como o herdeiro do pensamento judeu. 0 herdeiro da soma total desse pensamento? Não. Mas de tudo que era mais puro nele, de tudo que era mais elevado e respondia melhor às exigências espirituais. No grande conjunto dos ensinamentos rabínicos, na maneira de pensar do povo, qual o peso desses elementos mais elevados? Alguns doutores da Lei sustentavam o exaltado conceito de DEUS como um Pai, contrariando a idéia de um DEUS todo-Poderoso perdido em mistério, um Juiz medonho e aterrador, como nosso Senhor o fez plena mente; mas quantos deles haveria? Alguns rabinos entre os fariseus e alguns teólogos entre os essênios mantinham a doutrina dos dons da Graça, tão"repugnante à mente judia'',38 que foi um dos temas centrais dos ensinos de CRISTO e de seu intérprete, o apóstolo Paulo. 0 Talmude, como sabemos, reuniu textos admiráveis sobre a caridade, o amor ao próximo e o perdão fraternal das ofensas; mas teriam eles prevalecido contra a dureza de coração daquele povo obstinado e do famoso "olho por olho, dente por dente"? E embora seja certo que tanto os textos bíblicos como os preceitos rabínicos ensinavam uma conduta moral mais sincera em que não bastava "limpar o exterior do copo" — ensinamento este conforme o de CRISTO — existem muitos sinais que mostram terem tido menor influência entre os fiéis do que os que insistiam em uma obediência mecânica aos mandamentos formais. JESUS pode muito bem colocar-se na linha direta dos grandes mestres espirituais de seu povo, mas fica perfeitamente claro que ele pertencia àquela pequena minoria que compunha sua aristocracia espiritual, os precursores, que raramente estão conformes com o corpo principal. Mesmo neste grupo limitado Ele se destaca como um não-conformista. JESUS levou as implicações de algumas das tradições rabínicas ao seu limite máximo e, agindo assim, Ele ultrapassou-as infinitamente. Qual o rabino que, falando do Templo, esse ponto central da vida religiosa, jamais teria ousado dizer que havia "alguém maior que o Templo"39 ou que "vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade"?40 Que líder espiritual judeu, estabelecendo a lei do amor pelo próximo, teria ousado pronunciar o sublime paradoxo sobre o qual a doutrina cristã está alicerçada: "amai os vossos inimigos",41 mesmo alguém tão magnânimo quanto Hillel? Essas palavras não contêm apenas um cumprimento, mas também um passar além, uma transcendência. Cuja transcendência, além do mais, pode ser também vista em muitos outros campos, no dos ritos, por exemplo. Os dois principais ritos cristãos, o batismo e a ceia, parecem estar associados a certas cerimônias judias; mas a semelhança é de fato somente superficial, Os sacerdotes do Templo e os monges de Cunrã se banhavam ritualmente muitas vezes, e João Batista lavava os penitentes que o procuravam nas águas do rio; mas o batismo cristão devia ser muito diferente de uma purificação, mesmo tendo esta o propósito de uma purificação simbólica; e, como nos é dito em Atos,42, ele nâo era só um "batismo de arrependimento” como o de Joâo. Os essênios também tinham uma refeição comunal em que o pâo e o vinho eram abençoados, mas nâo existe texto que nos leve a supor ter havido qualquer intenção além daquela de estabelecer a fraternidade. Qual será então o significado das palavras do Senhor que acabamos de citar: "Nâo penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir (aperfeiçoar)". As palavras "cumprir ou aperfeiçoar" têm sido muito discutidas. 0 Senhor usou certamente uma expressão aramaica, mas como não sabemos qual era somos obrigados a pesquisar o grego de Mateus, plerosai, que pode significar "cumprir" ou "terminar". Os historiadores e comentaristas divergiram em sua escolha da tradução; alguns interepretaram as palavras como significando que a mensagem de CRISTO apenas prosseguia com a tradição de Israel, outros como indicando que ela pôs um término â mesma.43 Mas, a idéia de CRISTO não pode ter de fato abrangido ambos os significados, de modo que ambos sejam verdadeiros? Ele "aperfeiçoou a lei", isto é, realizou todas as suas potencialidades; mas, nesse ponto, a função da Lei chegou ao fim — foi cumprida. Paulo usa também uma frase ambígua praticamente com o mesmo sentido quando escreve: "CRISTO superou a lei."44!8) Não pode ser negado que èm certos assuntos — os quais eram, como sabemos, da máxima importância aos olhos dos judeus — JESUS deixou as tradições de sua raça e tomou posições que não podiam senão chocar o seu povo. Entramos aqui, portanto, em contato com as causas subjacentes do drama. Esta era uma nação que estivera lutando em defesa de sua religião, a própria razão de sua existência, durante séculos; uma nação que se achava na época sob o governo e ocupação de pagãos idólatras, e devido â sua longa experiência, os judeus sabiam muito bem que o pagão poderia transformar-se num acirrado inimigo. A defesa da fé era assim uma questão de vida ou morte, sendo este o motivo por que a nação expulsava os hereges e cismáticos com tanto horror e desprezava igualmente aqueles que se mostravam infiéis aos preceitos religiosos. Qual foi, porém, a atitude de CRISTO? Ele adiantou-se muito ao mais universalista dos rabinos, vendo um irmão no pagão incircunciso, no pecador declarado e no incrédulo. Não partilhou de modo algum dos sentimentos anti-romanos de seus compatriotas mais violentos; em sua conhecida resposta: "Dai a César o que é de César", tornou perfeitamente claro que não se preocupava absolutamente com as questões políticas; e chegou ao ponto de apontar a fé manifestada pelo centurião de Cafarnaum, um gentio, como exemplo.48 Ele teve esse mesmo comportamento em relação aos samaritanos, aqueles heréticos cujo "pão era pior do que carne de porco”; pois falava deliberadamente com eles, e também os usou como exemplos de gratidão e caridade.48 Sua bondade estendeu-se igualmente a pecadores notórios, os desprezados publicanos, mulheres de vida fácil e aos am-ha-arez tidos como desconhecedores da Lei. Houve aqui uma inversão tão completa de tudo que era tão costumeiro, não havendo portanto outro modo de considerar seu comportamento senão como escandaloso. Tratava-se de uma nação que para melhor defender a sua fé, durante centenas de anos a protegera incessantemente com preceitos formais que deveriam assegurar a observância invariável dos grandes princípios religiosos. A tendência do conjunto global dos ensinamentos rabínicos era providenciar para que em todas as circunstâncias de sua vida o indivíduo tivesse um mandamento aplicável âs mesmas, sabendo que agindo assim conformava-se â sua religião. Para eles, a verdadeira proteção do sistema, o "resguardo" dos fariseus, era sem dúvida a letra da Lei: mas JESUS se opunha a esta severidade. Duas questões preocupavam a mente dos rabinos: a observância do sábado e a impureza ritual. JESUS tomou, em relação a ambas, posições que desafiaram a opinião pública. Ele poderia dizer que o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado sem que isso constituísse um insulto muito grande, pois havia doutores da mesma opinião. Mas ao mesmo tempo em que afirmava a obrigação de respeitar o dia, Ele referiu-se è sua pessoa como "Senhor do sábado"; aprovou a desobediência dos discípulos às proibições rabínicas;47 e se dermos atenção ao Codex Bezae, chegou a dizer a um homem que trabalhava no dia santo: "Se sabes o que fazes, és abençoado".48 Sua atitude com relação à impureza ritual era a mesma. Ao declarar que "Não é o que entra pela boca o que contamina o homem",49 JESUS reduziu às suas devidas proporções aquilo a que os rabinos atribuíam uma importância capital. Adiantou-se ainda mais, pois seu ensinamento que Paulo expressa nas palavras: "A lei escrita inflinge a morte, enquanto a espiritual traz vida", proclamava a vaidade de toda simples observância. Isto implicava em opor-se diretamente ao ensino oficial e â opinião pública: cujo resultado fo provocar uma cisão declarada. Mesmo que não tivessem surgido essas duas causas sérias de discórdia, JESUS, como Ele era, tinha poucas possibilidades de ser reconhecido como o Messias. As razões são claras: de modo natural numa nação humilhada, a grande maioria dos judeus esperava que o homem enviado pela Providência viesse vingá-los, e disto surgira a imagem largamente difundida do Messias como um líder guerreiro, um rei glorioso, o terror de seus inimigos, o vingador de Israel. 0 filho do carpinteiro de Nazaré correspondia realmente a esta descrição? 0 fato do Senhor ter contado a seus discípulos as tentações que sofrera e rejeitara durante seu retiro no deserto é significativo. E ele deve ter feito isso, pois não poderiam ficar sabendo dessas coisas por qualquer outra fonte. É como se desejasse que compreendessem claramente, desde o início, que o seu reino não seria deste mundo. Porém a idéia de um Messias absolutamente terreno estava de tal forma arraigada que até seus próprios discípulos ingenuamente se referiram a ela, e na sua simplicidade perguntaram-Lhe se iria naquela ocasião estabelecer o reino em Israel, e que estavam espantados com o fim que Ele teria. Quanto à imagem de um Messias sofredor, sacrificado pela salvação do mundo, que poderia ter-se formado com base em algumas poucas e breves passagens da Bíblia, devemos dizer de novo que era "completamente estranha ao judaísmo do período próximo â era cristã". Mais do que isso, a opinião pública daquela orgulhosa nação teria julgado escandaloso tal conceito, pois a derrota jamais lhes parecera um sinal divino. Esse o motivo pelo qual na multidão de observadores não surgiu piedade à vista daquele homem açoitado, sangrando, em quem haviam cuspido com desprezo. Aquele Messias ridículo bem tinha direito â cruz. Não há sombra de dúvida que o próprio JESUS tinha plena consciência de que Ele e sua mensagem eram contrários aos sentimentos do povo. Expressões tais como, "não confiavam nele", "pedra de tropeço" e "vocês não me receberam" mostram perfeitamente seu modo de pensar. Segundo Ele, falando da plenitude de seu conhecimento, o "vinho novo" que trouxera não podia ser colocado em "odres velhos".0 seu ensino era realmente novo, e ele o transmitia embora corresse o risco de cortar relações com aqueles que defendiam a antiga doutrina. A recusa de Israel em aceitar o Messias surgiu de um processo lógico que a história tende a reconhecer. Seria ultrapassar o escopo deste livro dizer que do ponto de vista cristão esta recusa só pode ser plenamente reconhecida â luz de seu significado divino, desde que uma espécie de necessidade faz com que ela se associe ao ministério do sacrifício redentor da Cruz. Deve ser porém destacado que esta recusa colocou o selo sobre outro mistério, o do destino maravilhosamente estranho e único do povo a quem a revelação divina fora confiada, o povo que tivera DEUS em seu meio. O POVO JUDEU E JESUS Resta ainda uma pergunta: a recusa de Israel englobou toda a nação? Todos os compatriotas de CRISTO tinham conhecimento de sua missão e mensagem? Todos eles sabiam que Ele se proclamara Messias e tinham eles capacidade para distingüir aquilo que fazia dEle um "sinal de contradição"? Afim de responder a isto, seria preciso conhecer exatamente a importância do progresso terreno do Senhor na vida do seu povo, a extensão em que seus ensinos e milagres eram conhecidos e quantos criam nele. Isto é bastante diffcil. Nâo existem outros documentos além dos registros cristãos — Josefo não fala absolutamente do Senhor60 — e os quatro escritores dos evangelhos são nossa única fonte de informação. Mas, como todos sabem, os escritores inspirados não se preocupam com a documentação histórica, e aquelas questões que pareceriam da máxima importância a um historiador, nem sequer entraram-lhes em cogitação. A informação que fornecem é, pois, pouco clara. Todavia, quando lemos essa informação concluímos que a repercussão imediata do ministério do Senhor não foi extensa. Os três evangelhos sinóticos concordam que a Galiléia foi a cena da parte principal de seus ensinos,61 especialmente a região do lago e a vizinhança de Cafarnaum. A Galiléia era uma província remota, longe do centro, pouco considerada pelos judeus da Judéia, os verdadeiros defensores das tradições de Israel. Na Galiléia propriamente dita, no momento em que as forças policiais de Herodes Antipas passaram a agir, as atividades de JESUS se tornaram mais discretas, e quando viajava "não queria que alguém o soubesse".62 Havia sem dúvida pessoas vindas de outras partes reunidas com os galileus, que O rodeavam.63 Isto significa que o número de ouvintes era muito grande? Por ocasião dos dois milagres dos pães e dos peixes, cinco mil e quatro mil pessoas foram alimentadas; isto é com certeza uma multidão, mas está longe de englobar a nação inteira, e uma simples assembléia local poderia computar tais números. Apesar do período que passou na Judéia, um ou dois períodos curtos em três anos, segundo os evangelhos sinóticos, fica claro em Mateus que JESUS não era conhecido naquela parte do país quando visitou a região na segunda fase de seu ministério, pois no Domingo de Ramos, o dia da entrada do Messias em Jerusalém, os espectadores perguntaram: "Quem é este?"64 E mesmo tendo durado seu ministério na Judéia tanto quanto afirma João, Ele ainda não teria sido muito conhecido, pois o próprio evangelista nos conta que JESUS frequentemente se mantinha oculto.66 Parece, portanto, que a mensagem de CRISTO teve uma certa influência e foi geralmente conhecida na Galiléia, embora no restante da Palestina suas repercussões devam tersido bastante limitadas. Os judeus da Diáspora só podem ter ouvido falar dele casualmente, através dos peregrinos que voltavam de Jerusalém; mas, em separado deles, a grande massa do povo judeu ignorava provavelmente as palavras do profeta nazareno na mesma proporção em que os franceses da Idade Média desconhecériam as atividades de um agitador obscuro na Bretanha ou Auvergne que finalmente chegasse a Paris, apenas para ser enforcado ao fim de cinco dias. A opinião pública com toda certeza não se entusiasmou demasiado; e mesmo os que estavam a par dos acontecimentos podem não ter levado muito a sério aquela história de um suposto Messias. Os Messias por conta própria eram muito comuns: houve pelo menos meia dúzia deles no período entre o nascimento de CRISTO e a queda de Jerusalém. Além disso, ninguém havia esquecido do Mestre da Justiça dos essênios que entrara em conflito com o clero de Jerusalém, e muito menos de Judas de Gamala, que fora executado em 6 A.D. Essas crises não perturbaram por muito tempo a ordem pública. Os cidadãos melhor informados teriam sem dúvida considerado a carreira humana de JESUS como algo mais do que uma notícia comum, a fait divers, mas muito inferior a um acontecimento de importância nacional. Sua mensagem provou uma reação hostil imediata? Ao que parece, houve por bastante tempo um sentimento de simpatia por Ele entre o povo comum, e até um certo entusiasmo. Quando Lucas diz que "ao ouvi-lo, todo o povo ficava dominado por ele",66 certamente se referia à multidão, à populaça, e não àclasse governante. Existe bastante evidência no sentido de provar que até o domingo de sua entrada triunfal em Jerusalém, e incluindo esse dia, o sentimento popular estava a favor de JESUS. Além disso, teriam aquelas partes de seus ensi-nos que nos parecem contrariar as tradições judias mais estabelecidas, ofendido seriamente os ouvintes? Os camponeses e pescadores galileus dificilmente ficariam indignados quando o jovem profeta tratou os enfadonhos e cansativos regulamentos rabínicos sem o devido respeito, e se ele zombou da meticulosidade excessiva do dízimo, com o que eles eram os primeiros prejudicados, será que isso os vexaria muito? Sua personalidade messiânica, tão diferente da esperada, poderia ter dado causa a uma dissensão crescente; mas parece que Ele procurou manter a mesma oculta na medida do possível. Foi apenas à mulher samaritana, uma estrangeira insignificante, que proclamou ser o Messias. Toda vez que sua divindade revelou-se aos apóstolos, como na transfiguração, por exemplo, ou mediante os seus milagres, ele sempre exigiu silêncio. A única exceção a esta regra foi aceitar a entrada "triunfal" em Jerusalém no Domingo de Ramos; e mesmo assim este triunfo não parece ter sido grande, mas modesto. Quanto aos seus milagres, Lagrange observou perfeitamente que, por mais extraordinários que fossem, não constituiriam de forma alguma uma prova, aos olhos do povo, de que Ele era o Messias — menos ainda que tivesse feito qualquer alegação nesse sentido. Não haviam certos profetas, como Elias e Eliseu, ressuscitado mortos?67 As raízes do conflito que chegou ao seu término terrível no mês de abril do ano 30, não serão encontradas na hostilidade espontânea do povo. Quem, então, fez surgir esta hostilidade? Tiago, o apóstolo que na sua Epístola mostra-se tão profundamente judeu, não hesitou em replicar que foram os ricos e poderosos58 — em suma, a classe governante de Israel. Desde os primeiros dias do ministério de CRISTO, os doutores da Lei e os fariseus, com pouquíssimas exceções, desconfiaram dele, e nós os vemos fazendo-lhe perguntas que não passavam de simples armadilhas e tramas contra Ele; fica claro que de sua parte compreendiam que a nova revelação não poderia senão entrar em conflito com os ensinamentos tradicionais. A reação natural dos saduceus, no final de sua missão, quando o Senhor ensinou na Judéia, foi a princípio desconfiança e depois hostilidade. A política praticada por eles era a de evitar dificuldades, mantendo-se em bons termos com as autoridades romanas, que detestavam os agitadores e perturbadores da ordem, reivindicando o titulo de Messias ou de Rei de Israel. Foi fácil então para os dois grandes partidos religiosos chegarem a um acordo, e a grande maioria do Sinédrio que o julgou naquela noite trágica de quinta para sexta-feira santa, achava-se contra Ele. Quanto á multidão (e estas são geralmente volúveis), não foi difícil transfomar seu entusiasmo em indignação, citando algumas de suas frases, fora do contexto, adulteradas e com um significado falso — expressões como aquela em que falou de si mesmo como sendo o Filho de DEUS, por exemplo, ou disse que poderia levantar o Templo novamente em três dias. 0 amor pelo conformismo fez o resto e o povo seguiu as autoridades. Assim, no dia 7 de abril do ano 30, pôde-se ver um homem, uma visão penosa, com seu rosto marcado e coberto de sangue, levando uma pesada trave nos ombros e cambaleando sob o seu peso, enquanto descia as ruas íngremes de Jerusalém, saindo da sala de julgamento da fortaleza Antônia, e depois subindo em direção â Porta de Efraim. Uma tropa de soldados romanos o escoltava, e com ele seguiam alguns de seus discípulos, na maioria mulheres. Será que o povo, as donas-de-casa a caminho do mercado para fazer as compras da Páscoa, os artesãos, os adoradores que seguiam para o Templo, os condutores de jumentos, perceberam aquela procissão? Um condenado dirigindo-se para o lugar da execução não era um espetáculo incomum. E depois que tudo acabou, quando as três cruzes, a Cruz de CRISTO e as dos dois ladrões, se levantaram sobre o pico desnudo do Gólgota, aquele lugar freqüentado por cães e abutres, quantos dos que viajavam para Jafa pararam para contemplar aqueles pobres remanescentes de humanidade, para ler a inscrição colocada sobre a cruz central e perguntar aos soldados que jogavam dados, "Quem é esse?" Na vida diária do povo judeu, não ê bem possívei que o acontecimento mais importante na história do mundo tenha passado despercebido? A VIDA DE JESUS CRISTO - The World o f the New Textament - Editora Vida - O Mundo do Novo Testamento - J. L. Packer, Maerril C. Tenney, Willian White Jr O Novo Testamento conduz-nos ao clímax da obra redentora de I >fun, porque nos apresenta o Messias, Jesus Cristo, e nos fala do mmeço da sua igreja. Os escritos de Mateus, Marcos, Lucas e Joáo Inunda-nos do ministério de Jesus. Esses escritores foram testemunhas iHulitres da vida do Mestre, ou registraram o que testemunhas ocuUrro lhes contaram, todavia nâo escreveram dele uma biografia completa. i. Tudo quanto registraram, realmente aconteceu, porém concentiaram-ftc no ministério de Jesus, e deixaram aqui e acolá algumas U< unns na história da vida do Divino Mestre. Imaginemos alguém escrevendo uma carta a um amigo para apresentar- lhe uma pessoa importante. Estaria o autor da carta em condições de descrever tudo acerca da vida dessa pessoa? Claro que não. Ele só podia escrever acerca daquilo que conhecia — e provavelmente não tentaria, também, escrever tudo o que soubesse. Ele se concen* traria no que, a seu ver, o amigo deseja e precisa conhecer. Os homens que escreveram os Evangelhos fizeram a mesma coisa. Eles tinham em mira explicar a pessoa e a obra de Jesus, registrando o que ele íez e disse. E cada autor apresenta uma perspectiva ligeiramente diferente acerca de Jesus e de suas obras. Os autores dos Evangelhos náo tentaram relatar todos os eventos da meninice de Jesus, porque nâo era esse o motivo de escreverem. Não procuraram dar-nos, tampouco, registro da vida cotidiana de Jesus. Eles se ativeram ao que é pertinente à salvação e ao discipulado. Nesta seção seguiremos o exemplo dos Evangelistas. Simplesmente esboçaremos os principais acontecimentos da vida de Jesus e faremos um resumo de como ele levou ao clímax a história da redenção. Mais informação sobre a vida do Mestre o leitor encontrará no capítulo 6, "Jesus Cristo". Muitos sabem algo a respeito do nascimento e da infância de Jesus Cristo. Por ocasião do Natal, ouvimos as alegres e tão conhecidas canções acerca da Virgem Maria (a máe de Jesus), de sua viagem a Belém, decerto montada no lombo de um burro, e do nascimento do bebi Jesus Cristo — verdadeiro homem e verdadeiro Deus, que veio à terra para salvar o povo de Deus. Ouvimos a tão familiar história de como Jesus nasceu em Belém, da manjedoura em que ele estava deitado, e dos anjos que anunciaram o seu nascimento aos pastores. Sabemos que os anjos declararam que Jesus era o rei da descendência de Davi, de longa data esperado. Os sábios (magos) que trouxeram presentes para o menino Jesus sâo figuras misteriosas. Náo sabemos de que país (ou países) vieram; só sabemos que eram "do oriente" (Mateus 2:1). Bem podem ter vindo dos grandes impérios orientais da Mesopotámia, Babilônia, ou Pérsia. Eles estudavam as estrelas e viram que nascia entre os judeus um novo rei, por isso vieram a Jerusalém, a capital judaica, para prestar as suas homenagens. Quão surpresos devem ter ficado ao saber que o rei I lerodes n io tinha novos filhos! Entáo seguiram uma dara profecia de Miquéias 5:2, que os levou a Belém onde encontraram o menino Jesus. A Bíblia não diz que eram trés os magos, mas os pintores geralmente têm retratado três para mostrar as três dádivas que trouxeram — ouro, incenso e mirra (Mateus 2:11). Evidentemente os magos vieram ver Jesus diversos meses depois do seu nascimento, e alguns estudiosos pensam que Jesus já devia estar com dois anos de idade. Depois que Jesus nasceu, os pais o levaram ao templo em Jerusalém para ser consagrado (Lucas 2:22-28). Começaram a prepará-lo para viver "em graça, diante de Deus t dos homens" (Lucas 2:52). O rei Herodes desejava assegurar-se de que as pessoas náo se congregassem em tom o do rei menino para dar início a uma rebelião, por isso ordenou aos seus soldados que matassem todos os meninos cm Belém e dos arredores (Mateus 2:16). A família de Jesus fugiu para » ligito a fim de escapar ao perverso decreto. Morto Herodes, eles voltaram para a Palestina e se estabeleceram na cidade de Nazaré. Nada mais diz a Bíblia acerca de Jesus até ele estar com doze ou tn‘/e anos. Então, para assumir seu próprio papel na congregação judaica, ele tinha de fazer uma visita especial a Jerusalém e oferecer tkH-riftcio no templo. Enquanto estava ali, Jesus conversou com os dirigentes religiosos sobre a fé judaica. Ele revelou extraordinária i untprecnsáo do verdadeiro Deus, e suas respostas deixaram-nos admirados- Mais tarde, de volta para casa, os pais de Jesus notaram a sua ausência. Encontraram-no no templo, ainda conversando com os eapedalistas judaicos. De novo, a Bíblia se cala até ao ponto em que nos apresenta os acontecimentos que deram inicio ao ministério de Jesus, tendo ele criva de trinta anos. Primeiro vemos João Batista deixando o deserto p pregando nas ddades ao longo do rio Jordão, instando com o povo a que se preparasse para receber o Messias (Lucas 3:3-9). João nasceu no seio de uma família piedosa e cresceu para amar c servir fielmente a Deus. Deus falava por intermédio de Joáo, e multidões acudiam l>.ira ouvi-lo pregar. Dizia-lhes que se voltassem para Deus e come- «.nnnem a obedecer-lhe. Ao ver Jesus, ele anundou que este homem rra o . .Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29). M o batizou a Jesus; e ao sair Jesus da água, Deus enviou o Espírito Ha i i Io cm forma de pomba, que pousou sobre ele. O Kspírito Santo guiou Jesus ao deserto, e aí ele permaneceu sem «llim»ntar-se durante quarenta dias. Enquanto ele se encontrava nessa 'ituaçáo de eníraquedmento, o diabo veio e procurou tentá-lo de vAnoti modos. Jesus recusou as propostas do diabo e ordenou que ele m- retirasse. Então vieram anjos que o alimentaram e confortaram. A princípio Jesus tinha a estima do povo. Na região do mar da i MiliiC-ia ele foi a uma festa de casamento e transformou água em vinho. I.ntr (oi o primeiro de seus milagres que a Bíblia mendona. Este da mesma forma que os últimos, demonstrou que ele era vfnl.KlriMfnonte Deus. Da Galiléia ele foi para Jerusalém onde exiiuImhi do templo um grupo de religiosos vendedores ambulantes. iVln primeira vez ele asseverou de público sua autoridade sobre a vida religiosa do povo, o que fez que muitos dos dirigentes religiosos se voltassem contra ele. Um desses dirigentes, Nicodemos, viu que Jesus ensinava a verdade acerca de Deus. Certa noite ete foi ter com Jesus o lhe perguntou como poderia entrar no reino de Deus, que é o reino de redenção e salvação. Jesus disse a Nicodemos que ele devia "nascer dc novo" (João 3:3); em outras palavras, ele tinha de tomar-se uma nova pessoa. Desta conversa de Jesus com Nicodemos aprendemos que o cristáo é uma pessoa que "nasceu de novo". Quando JoAo Batista começou a pregar e atrair grandes multidões na Judéia, Jesus voltou para a CaUIéia. Aí ele operou muitos milagres e grandes multidões o cercavam. Infelizmente, as multidões estavam mais interessadas nos seus milagres do que nos seus ensinos. Porta D ou n ilt, L o o b u d a no muro oriental da Ana do templo, p a iim r <|w w u «Mmtura do quinto «tfmlo da era o » tá M cwMmCda ik> hjgar ooòr Critto íe t »u» rrrtitcU irtunfoiem fenualcn (d M jtru t 214-11). O gpvemadot turco de JetuaaWm bloqueou a porta cm 1530. História do Novo Testamento 21 Não obstante, Jesus continuou ensinando. Ele entrava nos lares, participava das festas públicas, e adorava com outros judeus em suas sinagogas. Denunciou os dirigentes religiosos do seu tempo porque exibiam uma fé hipócrita. Ele não rejeitou a religião formal deles; pelo contrário, Jesus respeitava o templo e a adoração que ai se prestava (cf. Mateus 5:17-18). Mas 09 fariseus e outros dirigentes náo viram nele o Messias e náo cuidaram de ser salvos do pecado. Além do mais, não satisfeitos com o que Deus lhes revelara no Antigo Testamento, continuaram fazendo-lhe acréscimos e revisando-o. Acreditavam que sua versão das Escrituras, examinada nos seus mínimos detalhes, dava-lhes a única religião verdadeira. Jesus chamou-os de volta às primitivas palavras de Deus. Ele era cuidadoso na sua forma di* citar as Escrituras, e incitava seus seguidores a entendê-las melhor. l-'nsinava que o conhecimento básico das Escrituras mostraria que a vontade de Deus era que as pessoas fossem salvas mediante a fé nele. Perto da Galiléia, Jesus operou seu mais surpreendente milagre até então. Tomou sete pães e dois peixes, abençoou-os e partiu-os em (H.*daços suficientes para alimentar quatro mil pessoas! Mas este mi- Ligre não atraiu mais gente à fé em Jesus; na verdade, as pessoas se retiraram porque nào podiam imaginar por que e como ele queria que das "comessem" seu corpo c "bebessem " seu sangue 0oáo 6:52-66). Os doze discípulos, porém, permaneceram fiéis, e ele começou a concentrar seus esforços em prepará-los. Cada vez mais ensinava-lhes •tri-rca de sua futura morte e ressurreição, explicando-lhes que eles também sofreriam a morte se continuassem a segui-lo. líssa atitude de Jesus o leva ao fim da sua vida na terra. Judas .motes, um dos doze, traiu-o, entregando-o aos líderes de Jeru- •uil^m, que lhe eram hostis, e eles pregaram Jesus numa cruz de nunlcira entre criminosos comuns. Mas ele ressuscitou e apareceu a muitos de seus seguidores, exatamente como havia prometido, e deu inMruçftcs finais aos seus discípulos mais íntimos. Enquanto o ob- MMv,»vam subir ao céu, apareceu um anjo c disse que eles os veriam voltar do mesmo modo. Em outras palavras, cie voltaria de modo vitlvcl e em seu corpo físico. Referências Bibliográficas (outras estão acima)
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