Pneumatologia, este é o nome que se atribui ao ramo da Teologia que se concentra no estudo da terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo. Parece intuitivo que a origem do termo esteja no radical grego pneuma, que se traduz como "vento", "ar", "sopro"; o termo hebraico empregado é ruach.
Em Holman Illustrated Bible Dictionary está dito que em pelo menos 87 passagens bíblicas o Espírito érepresentado como um vento (Holman Illustrated Bible Dictionary. Holman Reference: Nashville, 2003, p. 773). Evidente que o acontecimento primordial que nos vem à mente diz respeito ao batismo com o Espírito Santo, no Dia de Pentecostes, ocasião em que se descreve que "E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles" (At 2.2-3).
O primeiro aspecto crucial no estudo do Espírito Santo é divisar que Ele não é uma força, embora fortaleça; não é uma inspiração, embora inspire; nem é um sentimento, embora cause sensações. O Espírito Santo é uma pessoa, não no sentido humano, obviamente, mas no ser dotado de personalidade.
O prof. Antônio Gilberto, com a propriedade que lhe é peculiar, assevera: "No seu aspecto psíquico, a personalidade consiste de intelecto, sensibilidade e vontade. Os três são também chamados de inteligência, afetividade e autodeterminação... No Espírito vemos essa triplicidade de atributos da personalidade..." (GILBERTO. Antonio et al. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 177).
O mestre segue lecionando, ilustrando a presença destes atributos de personalidade no Espírito Santo: intelecto - Ele sabe as coisas de Deus (1 Co 2.11); sensibilidade - Ele é passível de entristecer-se (Ef 4.30); Ele édotado de vontade própria - reparte os dons como quer (1 Co 12.11), além de ser dotado de intenção (Rm 8.27) (GILBERTO, Antonio. Cit, p. 177).
Note-se, contudo, que o Espírito Santo não é apenas um Ser vivente, uma personalidade autônoma. O Espírito Santo é Deus! Ele é dotado dos atributos divinos. O Espírito Santo é onipresente, conforme compreendemos pelas palavras do Salmista: "Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?" (Sl 139.7). Ele é Eterno, vemo-Lo na fundação do mundo, e no apagar das luzes escatológico: "E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas" (Gn 1.2); "E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça daágua da vida" (Ap 22.17).
O Espírito Santo é onisciente: "Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" (1 Co 2.10-11). Ninguém O ensina (Is 40.13), Ele sim instrui (Jo 14.26).
Por fim, o Espírito Santo é onipotente, e vez mais nos valeremos da maestria de Antônio Gilberto que arrola assim a evidência deste atributo: i) na conversão dos ouvintes (At 2.37-38); ii) no batismo com o Espírito Santo (At 10.44); iii) na expulsão de espíritos malignos (At 8.6-7); iv) na cura divina de enfermos (At 3.6-8); v) na obediência dos crentes ao Senhor (At 16.19) (Cit., p. 175).
Claro que sendo o Espírito Santo Deus, compartilha todos os propósitos do próprio Deus, e neles toma parte como agente realizador. Entretanto há algumas missões que a Bíblia menciona como sendo atribuições especificas do Santo Consolador. Vejamos ainda que brevemente algumas delas.
Uma primeira operação do Espírito Santo já foi alhures destacada: ensinar. Disse Jesus: "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Jo 14.26). Na idéia de instrução incluiu-se o rememorar os ensinamentos de Jesus. Vemos uma ação vívida deste tipo quando Jesus disse aos discípulos que se derribassem o templo, Ele o reergueria em três dias: "Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito" (Jo 2.22 - grifei). Vale lembrar que foi justamente após a ressurreição de Jesus que Ele soprou sobre seus discípulos o Espírito (Jo 20.22).
Aliás, calha uma observação: cremos que todos os relatos bíblicos são dotados de especial credibilidade exatamente porque houve a ação sobrenatural do Espírito exatamente a permitir aos seus autores (diretos e indiretos) recordarem com especial vivacidade dos eventos narrados. Daí a inspiração divina que permeia todo texto bíblico (2 Tm 3.16).
Em segundo lugar outra específica missão do Espírito Santo bastante famigerada aos leitores da Bíblia. Disse Jesus a respeito do Consolador: "E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo" (Jo 16.8). Nos versículos que seguem Jesus explicita o teor exato desta operação: "Do pecado, porque não crêem em mim; Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; E do juízo, porque já o príncipe deste mundo estájulgado" (Jo 16.9-11).
A morte salvífica de Jesus implicou estes três efeitos: tornar pecado digno de perdição eterna o rejeitá-Lo (Jo 3.18); a Sua ressurreição e ascensão aos céus a indicar a aceitação de Sua morte como propiciação pelos nosso pecados, e consequentemente satisfação da justiça divina (Rm 5.18; 2 Co 5.21; Ef 4.24; etc.); e por fim, a consumação do juizo que recai sobre Satanás, como explicitado pelo próprio Jesus ao aproximar-se o tempo de Sua morte: "Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo" (Jo 12.31; cf Lc 10.18).
É incumbência do Espírito Santo este tríplice convencimento.
Ação deste tipo vemos exemplificada no Dia de Pentecostes, após um dos mais emblemáticos discursos evangelísticos, proferido por Pedro, cujas palavras literalmente atravessavam como punhais os corações dos ouvintes (At 2.37). Em tempos mais modernos, é conhecido o episódio envolvendo o pregador John Edwards, em 1740, ao ministrar o conhecido sermão "Pecadores nas mãos de um Deus irado", em que havia relatos de que os ouvintes foram tão impactados pela ação do Espírito que aos prantos agarravam-se às colunas da igreja suplicando perdão.
Além disto, em terceiro lugar curial destacar a missão intercessória do Espírito Santo, conforme vemos exposta em Romanos 8.26: "E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis".
Um bom conceito da expressão "intercessão" no texto pode ser encontrada no tradutor online "bibliaportugues.com": refere-se ao Espírito intercedendo em todos os cenários das nossas vidas de modo que estejamos alinhados com os propósitos de Deus. O conteúdo desta intercessão vai além da linguagem humana e inclui aflorar os sagrados mistérios na nossa caminhada diária com Cristo.
Assim sendo concluímos que é o Espírito que assegura a eficácia de nossa oração. Não custa lembrar que por vezes pedimos e não recebemos porque "pedimos mal", isto é, sem a intercessão do Espírito Santo. O Espírito Santo visa sempre glorificar a Jesus Cristo, de modo que a oração feita sem esta ação espiritual visa unicamente nossos próprios interesses. É isto que foi dito por Tiago (Tg 4.3).
Esta atividade intercessória do Espírito não se resume a levar diante do Senhor nossas necessidades, mas também retorna do céu com o conforto e consolo divinos. "O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16).
Quando Saul foi ungido rei sobre Israel, o Espírito Santo entrou em ação, com outra de Suas especialidades, eis palavras de Samuel a Saul: "Então chegarás ao outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando ali na cidade, encontrarás um grupo de profetas que descem do alto, e trazem diante de si saltérios, e tambores, e flautas, e harpas; e eles estarão profetizando. E o Espírito do SENHOR se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e tornar-te-ás um outro homem" (1 Sm 10.5-6, grifo nosso).
É o Espírito quem transforma o homem. E qual o sentido desta transformação? A resposta está na carta de Paulo aos Gálatas, onde estão enumeradas as virtudes do fruto do Espírito, é dizer: o resultado da influência do Espírito Santo sobre a vida do ser humano: "Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança" (Gl 5.22).
Jesus disse que pela qualidade do fruto conconheceríamos árvore (Mt 7.16-20). Assim sendo, a árvore cujo fruto se alinhe com as características postas no texto retro enunciado evidencia uma vida que foi transformada pelo Espírito.
Claro que muito mais poderia ser dito, mas é preciso concluir este estudo. Façamos isto relembrando ainda que o Espírito Santo alegra (Lc 10.21 - valendo observar que Jesus se alegrou no Espírito a despeito das circunstâncias, a saber, a perspectiva da traição; da tortura; da humilhação pública; da morte excruciante; apesar de cercado pela pobreza; pela enfermidade e pelas mais variadas necessidades humanas; até mesmo apesar de cercado pela hipocrisia dos fariseus e pela pouca fé dos discípulos, o que nos sugere observar que a alegria do Espírito não há de depender das circunstâncias ou pessoas que nos cercam). O Espírito Santo conduz (Lc 4.1); e também inspira (2 Pe 1.21), e por fim, Jesus o chamou de Consolador, o parakleto, que se traduz literalmente como ajudador ou auxiliador, pois o Espírito conforta.
Enfim, é livre escolha do homem viver sob a tutela, influência e condução do Espírito Santo, ou dele se afastar. Paulo nos conclama a nos enchermos do Espírito, ao mesmo tempo em que nos adverte a não O extinguirmos (Ef 5.18 e 1 Ts 5.19). Sigamos o conselho sempre seguro do apóstolo dos gentios!
Soli Deo Gloria!
José Wellington Bezerra da Costa Neto.