TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Efésios 2.1-101 – E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,2 – em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência;3 – entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.
4 – Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,5 – estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),6 – e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;7 – para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.8 – Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.9 – Não vem das obras, para que ninguém se glorie.10 – Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:
- conhecer o entendimento romano sobre a participação humana na salvação;
- compreender o princípio de sola gratia;
- entender que ninguém é capaz de alcançar as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais; para esta vida e/ou para a vindoura) por méritos próprios.
PALAVRA INTRODUTÓRIA
Nesta lição, veremos que na Idade Média, sobretudo, a doutrina da salvação pela Graça foi completamente abandonada, sendo restabelecida pela teologia reformada.
Lembremo-nos que o conceito de salvação pela graça foi sendo esquecido à medida que a vontade do homem prevalecia contra a vontade de Deus.
Os dogmas, criados pelos homens foram paulatinamente substituindo a Palavra do Senhor e a igreja transformou-se em um lugar de favores e interesses desregrados.
1 – O ENTENDIMENTO ROMANO QUANTO À PARTICIPAÇÃO HUMANA NA SALVAÇÃO
A ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) é considerada a igreja oficial, ou igreja mãe, ou igreja escolhida por Deus para continuar o ministério de Jesus, que escolheu Pedro como primeiro Papa. Desta forma, ela trabalha seus dogmas de acordo com a Palavra de Deus e também com os pensamentos dos sacerdotes católicos.
No tocante à salvação, o conceito da ICAR é muito claro, as pessoas serão salvas pela fé e pelos sacramentos de fé.
“Nos últimos anos, a Igreja tem sempre e sempre reiterado que somos salvos pela fé e os sacramentos de fé. AMBOS SÃO NECESSÁRIOS”. (J.D. Crichton, Christian Celebration: The Sacraments, p. 65). (GRIFO NOSSO).
A ICAR ao longo da história, conforme estudamos na última lição, organizou vários concílios para tratar de assuntos que na opinião deles eram importantes. Nestes eventos foram definidas a posição da igreja sobre vários assuntos, tais como a infalibilidade papal, a virgindade de Maria, o culto aos santos e vários outros.
No Concílio Vaticano II (CVII), XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica, convocado no dia 25 de Dezembro de 1961, através da bula papal “Humanae salutis”, pelo Papa João XXIII. Este mesmo Papa inaugurou-o, a ritmo extraordinário, no dia 11 de outubro de 1962. O Concílio, realizado em 4 sessões, só terminou no dia 8 de dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI.
Nestas quatro sessões, mais de 2 000 Prelados convocados de todo o planeta discutiram e regulamentaram vários temas da Igreja Católica. As suas decisões estão expressas nas 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações elaboradas e aprovadas pelo Concílio.
Vejamos um dos promulgamentos deste concílio:
“Todos os filhos da Igreja deveriam, contudo, lembrar-se de que a sua exaltada condição resulta, não dos seus próprios méritos, mas da graça de Cristo. Se eles não responderem em pensamento, em palavra e em obras àquela graça, então não apenas não serão salvos, mas serão mais severamente julgados”. (Vaticano II, Dogmatic Constitution on the Church, chap. 2, 14, p. 337).
De acordo com o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, promulgar significa: Do latim – promulgo – are, publicar, propor. Publicar ou mandar publicar uma lei com todos os requisitos necessários para tornar executória.
“promulgados”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/promulgados [consultado em 08-11-2017].
ESTE CONCEITO É UMA MISTURA ENTRE A GRAÇA E AS OBRAS.
Enquanto os reformados sustentam que somos salvos somente pela Graça, a Igreja Romana entende que há participação humana nesse processo. É o que veremos a seguir.
1.1 – A doutrina das indulgências
Resumidamente, pode-se dizer que a Igreja Romana entendia que as indulgências (lt. indulgentia = gentil) serviam para reparar, total ou parcialmente, os males decorrentes do pecado, porém o pecado já havia sido perdoado no sacramento da confissão.
Em outras palavras, significa dizer que, para os romanistas, as indulgências, que eram obtidas pela prática de boas obras, não estavam relacionadas ao perdão dos pecados, mas ao perdão da pena temporal causada pelo pecado.
A revista traz um comentário interessante sobre o significado das indulgências: “elas seriam semelhantes ao ladrão que, conseguindo o perdão daquele que foi roubado, deve restituir o dono com o dinheiro equivalente ao que foi extorquido”.
Vejamos o que o Catecismo da Igreja Católica nos diz sobre as indulgências no Capítulo II, artigo 4, seção X e XI:
“A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do sacramento da Penitência”.
“A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos”.
“A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida pelos pecados”. Todos os fiéis podem adquirir indulgências (…) para si mesmos ou aplicá-las aos defuntos”.
AS PENAS DO PECADO
Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta privação se chama “pena eterna” do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado “purgatório”. Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como uma consequência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo que não haja mais nenhuma pena. O perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado. Suportando pacientemente os sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora, enfrentando serenamente a morte, o cristão deve esforçar-se para aceitar, como urna graça, essas penas temporais do pecado; deve aplicar-se, por início de obras de misericórdia e de caridade, como também pela oração e por diversas práticas de penitência, a despojar-se completamente do “velho homem” para revestir-se do “homem novo”.
NA COMUNHÃO DOS SANTOS
O cristão que procura purificar-se de seu pecado e santificar-se com o auxílio da graça de Deus não está só. “A vida de cada um dos filhos de Deus se acha unida, por um admirável laço, em Cristo e por Cristo, com a vida de todos os outros irmãos cristãos na unidade sobrenatural do corpo místico de Cristo, como numa única pessoa mística”.
Na comunhão dos santos, “existe certamente entre os fiéis já admitidos na posse da pátria celeste, os que expiam as faltas no purgatório e os que ainda peregrinam na terra, um laço de caridade e um amplo intercâmbio de todos os bens”. Neste admirável intercâmbio, cada um se beneficia da santidade dos outros, bem para além do prejuízo que o pecado de um possa ter causado aos outros. Assim, o recurso à comunhão dos santos permite ao pecador contrito se purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do pecado.
Esses bens espirituais da comunhão dos santos também são chamados o tesouro da Igreja, “que não é uma soma de bens comparáveis às riquezas materiais acumuladas no decorrer dos séculos, mas é o valor infinito e inesgotável que têm junto a Deus as expiações e os méritos de Cristo, nosso Senhor, oferecidos para que a humanidade toda seja libertada do pecado e chegue à comunhão com o Pai. E em Cristo, nosso redentor, que se encontram em abundância as satisfações e os méritos de sua redenção”.
“Pertence, além disso, a esse tesouro o valor verdadeiramente imenso, incomensurável e sempre novo que têm junto a Deus as preces e as boas obras da Bem-aventurada Virgem Maria e de todos os santos que, seguindo as pegadas de Cristo Senhor, por sua graça se santificaram e totalmente acabaram a obra que o Pai lhes confiara, de sorte que, operando a própria salvação, também contribuíram para a salvação de seus irmãos na unidade do corpo místico”.
OBTER A INDULGÊNCIA DE DEUS MEDIANTE A IGREJA
A indulgência se obtém de Deus mediante a Igreja, que, em virtude do poder de ligar e desligar que Cristo Jesus lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o tesouro dos méritos de Cristo e dos santos para obter do Pai das misericórdias a remissão das penas temporais devidas a seus pecados. Assim, a Igreja não só vem em auxílio do cristão, mas também o incita a obras de piedade, de penitência e de caridade.
Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação também são membros da mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los entre outros modos, obtendo em favor deles indulgências para libertação das penas temporais devidas por seus pecados.
A CELEBRAÇÃO DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA
Como todos os sacramentos, a Penitência é uma ação litúrgica. São estes ordinariamente os elementos da celebração: saudação e bênção do sacerdote, leitura da Palavra de Deus para iluminar a consciência e suscitar a contrição, exortação ao arrependimento; confissão que reconhece os pecados e os manifesta ao padre; imposição e aceitação da penitência; absolvição do sacerdote; louvor de ação de graças e despedida com a bênção do sacerdote.
A liturgia bizantina conhece diversas fórmulas de absolvição, forma depreciativa, que exprimem admiravelmente o mistério do perdão: “Que o Deus que pelo profeta Natã perdoou a Davi, que confessou seus próprios pecados; a Pedro, quando chorou amargamente; à prostituta, quando lavou seus pés com lágrimas; ao publicano e ao filho pródigo, que esse mesmo Deus vos perdoe, por mim, pecador, nesta vida e na outra, e vos faça comparecer em seu terrível tribunal sem vos condenar, Ele que é bendito nos séculos dos séculos. Amém.
O sacramento da Penitência também pode ter lugar no quadro de uma celebração comunitária, na qual as pessoas se preparam juntas para a confissão e também juntas agradecem pelo perdão recebido. Neste caso, a confissão pessoal dos pecados e a absolvição individual são inseridas numa liturgia da Palavra de Deus, com leituras e homilia, exame de consciência em comum, pedido comunitário de perdão, oração do Pai-Nosso e ação de graças em comum. Esta celebração comunitária exprime mais claramente o caráter eclesial da penitência. Mas, seja qual for o modo da celebração, o sacramento da Penitência sempre é, por sua própria natureza, uma ação litúrgica, portanto eclesial e pública.
Em casos de necessidade grave, pode-se recorrer à celebração comunitária da reconciliação com confissão e absolvição gerais. Esta necessidade grave pode apresentar-se quando há um perigo iminente de morte sem que o ou os sacerdotes tenham tempo suficiente para ouvir a confissão de cada penitente. A necessidade grave pode também apresentar-se quando, tendo-se em vista o número dos penitentes, não havendo confessores suficientes para ouvir devidamente as confissões individuais num tempo razoável, de modo que os penitentes, sem culpa de sua parte, se veriam privados durante muito tempo da graça sacramental ou da sagrada Eucaristia. Nesse caso, os fiéis devem ter, para a validade da absolvição, o propósito de confessar individualmente seus pecados graves no devido tempo. Cabe ao Bispo diocesano julgar se os requisitos para a absolvição geral existem. Um grande concurso de fiéis por ocasião das grandes festas ou de peregrinação não constitui caso de tal necessidade grave.
“A confissão individual e integral seguida da absolvição continua sendo o único modo ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, salvo se uma impossibilidade física ou moral dispensar desta confissão”. Há razões profundas para isso. Cristo age em cada um dos sacramentos. Dirige-se pessoalmente a cada um dos pecadores: “Filho, os teus pecados estão perdoados” (Mc 2,5); ele é o médico que se debruça sobre cada um dos doentes que têm necessidade dele para curá-los; ele os soergue e reintegra na comunhão fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e com a Igreja.
1.1.1 – Refutação reformistas à doutrina das indulgências
Calvino chama as indulgências e o purgatório de “suplementos que adicionam satisfação” em seu Tratado da Religião Cristã, as Institutas III, no capítulo 5.
“Desta doutrina da satisfação jorram, com efeito, as indulgências. Ora, o que falta a nossa capacidade para efetuar satisfação, pilheriam que é suprido por meio destas. E a tal grau de insânia se precipitam que definem que as indulgências são a administração dos méritos de Cristo e dos mártires, que o papa distribui por meio de suas bulas”! (CALVINO, p. 140)
Observando o que o catecismo da ICAR prescreve, chega a parecer loucura o que fora proposto pelos papas, pois parece uma mescla de conceitos heréticos, completamente anti bíblicos, com uma “pitada” de loucura.
“Os pobres cristãos viam que, abertamente e sem dissimulação, eram tidos em ridículo pelo papa e seus forjadores de bulas; viam que era rendoso o comércio realizado acerca da salvação de suas almas; viam ser taxado, em umas pouquíssimas moedas, o preço da salvação e em público nada era oferecido gratuitamente…” (CALVINO, p. 140)
Infelizmente milhões de cristãos foram ludribriados por séculos, mas louvado seja o Senhor, a Reforma Protestante aconteceu.
Calvino continua sua conceituação destes “dogmas” dizendo:
“Entretanto, para caracterizá-las bem, elas não passam de uma profanação do sangue de Cristo e engano de Satanás, para afastar o povo cristão da graça de Deus, da vida que está em Cristo, e separá-lo do verdadeiro caminho da salvação”. (CALVINO, p. 141)
O grande cerne desta aberração doutrinária está no fato dela ser um “complemento” ao sacrifício vicário de Cristo.
Vejamos o que o escritor aos Hebreus declara a respeito do sacrifício de Cristo:
“Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus; nem também para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio; De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo”. (Hb 9.24-26) (Grifo nosso).
1.2 – A doutrina do purgatório
Segundo essa doutrina, advinda de uma antiga crença pagã, os cristãos parcialmente santificados — no caso, a maioria — passariam por uma espécie de purificação para, somente depois, entrarem na comunhão eterna. Vale destacar que, para a Igreja Romana, o Purgatório não é um lugar, mas sim um estado.
Leiamos o que o catecismo da ICAR fala a respeito deste dogma:
Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu.
A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura, a tradição da Igreja fala de um fogo purificador:
No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem presente século nem no século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro.
Este ensinamento apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala: “Eis por que ele [Judas Macabeu) mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado” (2Mc 12,46). Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos:
Levemo-lhes socorro e celebremos sua memória. Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai que deveríamos duvidar de que nossas oferendas em favor dos mortos lhes levem alguma consolação? Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer nossas orações por eles.
AS PENAS DO PECADO
Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos toma incapazes da vida eterna; esta privação se chama “pena eterna” do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado “purgatório”. Esta purificação liberta da chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas penas não devem ser concebidas como uma espécie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como uma consequência da própria natureza do pecado. Uma conversão que procede de uma ardente caridade pode chegar à total purificação do pecador, de tal modo que não haja mais nenhuma pena.
Para os romanistas, todo ser humano traz consigo certa desordem interior, que deve ser extinta nesta vida. Na confissão — ainda segundo a Igreja Romana —, o homem recebe o perdão dos seus pecados, mas, na grande maioria das vezes, a raiz de iniquidade não é totalmente removida, e, por isso, ele (o homem) acaba reincidindo nas mesmas faltas. Apenas no Purgatório essa desordem interior é totalmente destruída, possibilitando a alma chegar ao céu em plena comunhão com Deus, que rejeita todo pecado.
1.2.2 – Refutação reformista à doutrina do purgatório
Mais uma vez os romanistas incorrem na heresia de afirmar que alguém que estava em Cristo poderia ter morrido sem o perdão completo.
Vale ressaltar que as referências utilizadas não podem ser tidas como base para este dogma, haja vista, uma estar em um livro apócrifo (não inspirado) e fugir de todo o contexto bíblico sobre salvação e outras não terem respaldo pelas regras da hermenêutica, que afirma que um texto só deve ser interpretado dentro de seu contexto.
Um ponto marcante no catecismo é que ele faz menção do sacrifício que Jó fazia em prol de seus filhos, mas esquece de mencionar que eles estavam vivos.
Outro texto utilizado no catecismo está no evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus, no capítulo 12, versículo 32:
“E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro”.
Este texto é explícito e fala sobre um único pecado que NÃO será perdoado, que é a blasfêmia contra o Espírito Santo, desta forma, nem se existisse purgatório este pecado teria perdão.
2 – SOLA GRATIA
Aqui está um dos conceitos mais marcantes do cristianismo, do qual deriva toda a Reforma Protestante e suas teses.
Sem a graça de Deus é impossível ocorrer salvação, pois o homem tem o pecado impregnado na sua essência.
2.1 – Definição do termo
De acordo com o Dicionário Bíblico Wycllife, o conceito de graça é multiforme e sujeito a desdobramentos nas Escrituras. No AT, hen, “favor”, é o favor imerecido de um superior a um subalterno. No caso de Deus e do homem, hen é demonstrado por meio de bênçãos temporais, embora também o seja por meio de bênçãos espirituais e livramentos, tanto no sentido físico quanto no espiritual (Jr 31,2; Ex 33.19). Hesed, “benevolência”, é a firme benevolência expressada entre as pessoas que estão relacionadas, e particularmente em alianças nas quais Deus entrou com seu povo e nas quais sua kesed foi firmemente garantida (2 Sm 7.15; Êx 20.6).
Na literatura grega a palavra charis tinha os seguintes significados: (1) Era usada para aquilo que causara atração, tal como a graça na aparência ou na fala. (2) Era usada quanto à consideração favorável sentida em relação a uma pessoa. (3) Era usada quanto a um favor. (4) Era usada para significar gratidão. (5) Era usada adverbialmente em frases como: “Por amor a alguma coisa”, charin tinos. Mas foi somente com a vinda de Cristo que a graça assumiu seu significado pleno. O seu auto-sacrifício é a graça propriamente dita (2 Co 8,9). Esta graça é absolutamente gratuita (Rm 6.14; 5.15-18; Ef 1.7; 2.8,9). Quando recebida pelo crente, ela governa sua vida espiritual compondo favor sobre favor. Ela capacita, fortalece e controla todas as fases da vida (2 Co 8.6,7; Cl 4.6; 2 Ts 2.16; 2 Tm 2,1). Consequentemente, o cristão dá graças (icharis) a Deus pelas riquezas da graça em seu dom inefável (2 Co 9.15)
A Bíblia nos mostra na carta aos Efésios o cerne desta questão:
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”. (Ef 2.8,9)
A própria versão católica na edição Ave Maria traduz estes versículos da seguinte forma:
“Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para que ninguém se glorie.” (Grifo Nosso).
O Comentário Beacon usa uma frase interessante sobre o versículo 9:
“Nossa salvação da escravidão ao pecado, brotando da graça de Deus e apropriada pela fé, é o dom de Deus (cf. 1.7). Não obtemos por boas obras (a essência da religião legalista) o direito à libertação do pecado e da morte. Jamais! Graça significa que tudo começa e termina com Deus. A salvação é, então, um presente de nosso Criador”. (BEACON, p. 50,51).
Já o Comentário Bíblico Esperança, escrito por Eberhard Han mostra o seguinte:
“A própria fé que propicia salvação, pela qual o cristão recebe a graça, é parte do presente divino: “e isto não vem de vós, é dom de Deus”. Visto que a fé nasce de ouvir a palavra de Deus (Rm 10.17), ela não é algo humanamente possível. No entanto é uma fé que apreende a Jesus Cristo, obtendo assim a outorga de toda a riqueza. Essa é a dádiva concedida por Deus. O conceito “dádiva” pertence ao mesmo grupo semântico da palavra “gratuitamente” em Rm 3.24”.
2.2 – As Epístolas Paulinas
Paulo, não os reformadores, foi quem maior destaque deu ao tema graça. Das 155 referências existentes em relação ao favor imerecido concedido por Deus aos homens, 133 são dele. A Graça abre e fecha boa parte de suas epístolas; sendo a Fp 1.7; Cl 1.6; 1 Ts 5.28; 2 Ts 2.16; 1 Tm 1.14; 2 Tm 1.9; Tt 2.11; 3.7).
O conceito de graça ensinado por Paulo mostra-nos um Deus que sabia que o homem pecaria e mesmo assim, providenciou um meio de reaproximar-nos Dele. Isto evidencia o conceito de graça, ou seja, algo que literalmente não tínhamos nenhuma condição de conseguir, mas Deus interveio com seu amor incomensurável e nos proporcionou um meio de restauração da comunhão.
Vejamos o que Paulo escreve aos Romanos:
“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus”. (Rm 5.1,2)
Em outro versículo na mesma carta escreve:
“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. (Rm 5.8)
Ainda aos Romanos, Paulo escreve:
“Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós”. (Rm 4.16).
Fé e graça “caminham” juntos para que o homem alcance a salvação em Cristo Jesus e somente Jesus é o caminho para que o homem seja levado a Deus.
Paulo escreve aos Gálatas sobre o cumprimento da Lei efetuado por Jesus, que não somente expiou os pecados do homem, mas perdoou-os definitivamente, pagando com sua própria vida.
Os judeus no A.T. haviam aprendido sobre a fé e a obediência. Aqueles que haviam ouvido Deus no deserto e recebido as suas promessas, deveriam seguir rigorosamente o que a Lei previa, caso contrário, não poderiam apresentar-se a Deus.
Como nenhum homem teve condições de cumprir a lei na íntegra, salvo Jesus, o Cristo; sendo homem; todos os pecados deveriam ser expiados.
Segundo o Dicionário Wycliffe, o termo expiação vem como tradução do termo hebraico hatta’t (Nm 8.7, (água da expiação”) ekaphar (Nm 35.33; Dt 32.43; 1 Sm 3.14; 2 Sm 21.3; Is 27.9; 47.11), e dos termos gregos hilasterion (Rm 3.25), hilaskomai (Hb 2.17) e hilasmos (1 Jo 2.2; 4.10).
A ideia básica da expiação está ligada à reparação de um mal, à satisfação das exigências da justiça por meio do pagamento de uma penalidade. A propiciação ainda traz consigo a ideia de apaziguar a pessoa ofendida, de voltar a obter a graça de um indivíduo superior. A ideia de apaziguar a Deus, como poderíamos apaziguar a um tirano arbitrário, não faz justiça ao caráter de Deus, conforme revelado em Cristo. Por esse motivo, a palavra “expiação” é preferida, pelos estudiosos mais recentes, como a tradução para hilasteríon. Deus jamais deve ser visto como um déspota temperamental e zangado exigindo sua “porção de carne”. Ao invés disso, nós o vemos em sua santidade que não pode ser minada, porque Ele deve manter sua divina integridade. As exigências da santidade de Deus são cumpridas pelo seu amor e pela sua misericórdia, pela sua entrega de Cristo, seu único Filho, como uma expiação pelos nossos pecados.
Leiamos o que Paulo escreve aos Gálatas:
“Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós. Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido. Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque. Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora. Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre. De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre”.
Estes versículos nos mostram que Agar tipifica a Lei e Sara a Graça de Deus e deixam claro que em Jesus somos filhos legítimos e recebemos do Pai todas as promessas como tais.
Já em sua carta à igreja que estava em Éfeso, Paulo explica sobre o estado de pecaminosidade do homem, pois após o pecado original, TODOS estão sobre este peso de acusação.
Vale reforçar que apesar do pecado habitar em nós, existem pessoas que são boas, fazem boas ações, procuram viver de uma forma digna e respeitosa diante da sociedade, mas isto DE MANEIRA ALGUMA, os faz justos diante de Deus.
A carta aos Efésios nos mostra isto de forma clara.
“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência; Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus”. (Ef 2.1-7)
3 – ADVERTÊNCIA À IGREJA REFORMADA: TUDO, TÃO SOMENTE PELA GRAÇA
Reforçando o conceito de graça, lembremos que apesar de alguns acreditarem que o homem pode salvar-se de acordo com suas obras ou crença, de acordo com a Bíblia isto é impossível, pois a graça vem de Deus e a fé também.
Desta forma, o homem não pode escolher ser salvo, mas é alvo do amor e favor de Deus.
A revista nos mostra que sem a graça divinal, não haveria preservação da vida, provisão de ordem alguma, consciência, livre volição, cura, perdão ou qualquer outro elemento capaz de conferir beleza ou sentido à existência.
3.1 – Não se podem comprar bençãos: nem materiais, nem espirituais; nem para esta vida, nem para a eterna
Aprendemos que ICAR vendia bênçãos de Deus através das indulgências, mas refutamos este conceito equivocado através de um estudo sistemático das Escrituras Sagradas, pois o homem não tem condições de ser um mercador de Deus.
Infelizmente naquela época existiam tais pessoas e nos dias hodiernos alguns continuam mercadejando a fé e a graça de Deus, oferecendo subterfúgios para alcançarmos as bênçãos de Deus, como amuletos e utensílios que supostamente podem nos favorecer.
Na Era das Trevas, a Igreja Romana comercializava bênçãos espirituais e eternas; na pós-modernidade, comunidades protestantes têm comercializado bênçãos materiais e terrenas; a ambos os grupos, a teologia reformada grita:
Sola gratia!
REFERÊNCIAS
AIRHART, Arnold E.; GOULD, J. Glenn; HOWARD, R.E.; KNIGHT, John A.; NIELSON, John B.; TAYLOR, Willard H. Comentário Bíblico Beacon. CPAD, Rio de Janeiro, 2012.
BÍBLIA. A Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. Ed. Vida. São Paulo, 2001.
BÍBLIA. Bíblia de Estudo Pentecostal. Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida. CPAD. Rio de Janeiro, 1995.
BÍBLIA. A Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada.CPAD. Rio de Janeiro, 1998.
CALVINO. John. Tratado de Religiões Cristãs, as Institutas. Volume 3. La Aurora. Buenos Aires, 1962.
CRICHTON, J.D. Christian Celebration: The Sacraments, The Mass. London Chapman, 1981.
HAHN, Eberhard. Carta aos Efésios – Comentário Esperança. Ed. Evangélica Esperança. Curitiba, 2006.
PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard F.; REA, John. Dicionário Bíblico Wycliffe. CPAD. Rio de Janeiro, 2000.
VINE, W. E.; UNGER, Merril F.; JR, William White. Dicionário Vine. CPAD. Rio de Janeiro, 2002.
https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/efesios/2 [consultado em 08-11-2017].
http://www.catequisar.com.br/dw/catecismo.pdf [consultado em 08-11-2017].
https://www.priberam.pt/dlpo/promulgados [consultado em 08-11-2017].
Por Leonardo Novais de Oliveira ebdcomentada.com.br/