Lição 3, A Superioridade de JESUS em relação a Moisés 1º Trimestre de 2018 - Título: A Supremacia de CRISTO - Fé, Esperança e Ânimo na Carta aos Hebreus

Comentarista: Pr. José Gonçalves, pastor presidente das Assembleias de DEUS em Água Branca, PI.
Complementos, Ilustrações e Vídeos: Pr. Luiz Henrique de Almeida Silva - 99-99152-0454.
Ajuda - http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/hebreus.htm  
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao2-ujf-1tr14-umlibertadorparaisrael.htm
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao7-ujf-1tr14-osdezmandamentos.htm
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao13-ujf-1tr14-olegadodemoises.htm
FIGURAS
 
 
 
TEXTO ÁUREO
"Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou." (Hb 3.3)
 

VERDADE PRÁTICA
CRISTO em tudo foi superior a Moisés na Casa de DEUS, pois enquanto o legislador hebreu foi um mordomo, o Salvador foi o dono.
 

LEITURA DIÁRIA
Segunda - Hb 3.1 Uma vocação superior dada a CRISTO por DEUS Pai
Terça - Lc 19.10 Uma missão superior que apenas CRISTO poderia cumprir
Quarta - Hb 3.1; 1 Tm 2.5 CRISTO - O único Mediador entre os homens e DEUS
Quinta - Hb 3.2 CRISTO, o edificador da Casa de DEUS
Sexta - Hb 3.5,6 CRISTO, não apenas servo, mas Filho
Sábado - Hb 3.7,8 CRISTO, superior em palavra à Lei

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Hebreus 3.1-19
1 - Pelo que, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a JESUS CRISTO, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão, 2 - sendo fiel ao que o constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa. 3 - Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou. 4 - Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é DEUS. 5 - E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar; 6 - mas CRISTO, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim. 7 - Portanto, como diz o ESPÍRITO SANTO, se ouvirdes hoje a sua voz, 8 - não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto, 9 - onde vossos pais me tentaram, me provaram e viram, por quarenta anos, as minhas obras. 10 - Por isso, me indignei contra esta geração e disse: Estes sempre erram em seu coração e não conheceram os meus caminhos. 11 - Assim, jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso. 12 - Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do DEUS vivo. 13 - Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado. 14 - Porque nos tornamos participantes de CRISTO, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim. 15 - Enquanto se diz: Hoje, se ?ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação. 16 - Porque, havendo-a alguns ouvido, o provocaram; mas não todos os que saíram do Egito por meio de Moisés. 17 - Mas com quem se indignou por quarenta anos? Não foi, porventura, com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto? 18 - E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes? 19 - E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade.
 
OBJETIVO GERAL
Evidenciar a superioridade de JESUS em relação ao legislador Moisés.
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Apresentar a superioridade da vocação, da missão e da mediação de JESUS em relação a Moisés;
Exprimir a autoridade maior de JESUS em relação a Moisés;
Esclarecer a superioridade do discurso de JESUS em relação ao de Moisés.
 
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
A Antiga Aliança apresenta Moisés como "apóstolo", isto é, o mensageiro de DEUS da Aliança com o povo de Israel, e o seu irmão Arão, como sumo sacerdote do povo de DEUS, respectivamente. Essa dispensação deu lugar a uma nova ordem, a um novo concerto em que CRISTO JESUS se apresenta como executor desses dois ofícios. Agora, Ele é o apóstolo da Nova Aliança e o Sumo Sacerdote perfeito. Essa verdade é que permeia toda a lição.
 
PONTO CENTRAL
A carta de Hebreus revela a superioridade de JESUS em relação a Moisés quanto à tarefa, à autoridade e o discurso.
 
Resumo da Lição 3, A Superioridade de JESUS em relação a Moisés
I - UMA TAREFA SUPERIOR
1. Uma vocação superior.
2. Uma missão superior.
3. Uma mediação superior.
II - UMA AUTORIDADE SUPERIOR
1. Construtor, não apenas administrador.
2. O perigo de ver, mas não crer.
3. O perigo de começar, mas não terminar.
III - UM DISCURSO SUPERIOR
1. O perigo de ouvir, mas não atender.
2. A humilhação do servo.
3. O exemplo a ser seguido.
 
SÍNTESE DO TÓPICO I - Em relação a Moisés, a carta de Hebreus apresenta o Senhor JESUS com uma vocação superior, uma missão superior e uma mediação superior.
SÍNTESE DO TÓPICO II - Hebreus destaca o Senhor JESUS como o construtor da Nova Aliança; o Filho amado de DEUS; o ministro excelente da Igreja de DEUS.
SÍNTESE DO TÓPICO III - A mensagem de CRISTO faz alguns alertas: o perigo de ouvir, mas não atender ao apelo; o perigo de ver, mas não crer na revelação; o perigo de começar, mas não terminar a jornada
 
SUBSÍDIO DIDÁTICO - TOP 1
Prezado(a) professor(a), inicie a aula desta semana fazendo as seguintes perguntas:
a) O que Moisés representou para o povo de Israel?
b) Qual foi o papel de Moisés no estabelecimento da Antiga Aliança de DEUS com o seu povo?
c) Por que Moisés é uma autoridade respeitada na história de Israel?
Ouça as respostas dos alunos e em seguida faça um resumo abordando as respostas das três perguntas a fim de amarrar as informações. A ideia dessa atividade é familiarizar a classe com Moisés a fim de, a partir da importância dele para o povo judeu, destacar a magnitude de JESUS CRISTO como o mediador da Nova Aliança.
 
CONHEÇA MAIS
*A possibilidade de não chegar ao fim da caminhada
"O livro de Hebreus considera a possibilidade de permanecer firme na fé ou de abandoná-la como uma escolha real, que deve ser feita por cada um dos leitores; o autor ilustra as consequências da segunda opção referindo-se à destruição dos hebreus rebeldes no deserto após sua gloriosa libertação do Egito." Leia mais em "COMENTÁRIO Bíblico Pentecostal Novo Testamento", CPAD, p.1557-59.
 
SUBSÍDIO TEOLÓGICO - TOP 2
"[...] Pedro apresenta JESUS como o Profeta semelhante a Moisés (vv.22,23). Moisés havia declarado: 'O SENHOR, teu DEUS, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis' (Dt 18.15). Seria natural dizer que Josué cumpriu essa profecia. Josué, o seguidor de Moisés, realmente veio depois deste e foi um grande libertador de seu tempo. Surgiu, porém, outro Josué (na língua hebraica, os nomes Josué e JESUS são idênticos). Os cristãos primitivos reconheciam JESUS como o derradeiro cumprimento da profecia de Moisés.
No final do capítulo (vv.25,26), Pedro lembra aos ouvintes a aliança com Abraão, muito importante para se entender a obra de CRISTO: 'Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que DEUS fez em nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. Ressuscitando DEUS a seu Filho JESUS, primeiro o enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, e vos desviasse, a cada um, das vossas maldades'. Claro está que, agora, é JESUS quem traz a bênção prometida e cumpre a aliança com Abraão - e não apenas a Lei dada por meio de Moisés" (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, pp.307,08).

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO - TOP 3
"SE OUVIRDES HOJE A SUA VOZ
Citando Salmos 95.7-11, o escritor se refere à desobediência de Israel no deserto, depois do êxodo do Egito, como advertência aos crentes sob o novo concerto. Porque os israelitas deixaram de resistir ao pecado e de permanecer leais a DEUS, foram impedidos de entrar na Terra Prometida (ver Nm 14.29-43; Sl 95.7-10). Semelhantemente, os crentes do Novo Testamento devem reconhecer que eles, também, podem ficar fora do repouso divino, se forem desobedientes e deixarem que seus corações se endureçam.
NÃO ENDUREÇAIS O VOSSO CORAÇÃO
O ESPÍRITO SANTO fala conosco a respeito do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11; Rm 8.11-14; Gl 5.16-25). Se formos indiferentes à sua voz, nossos corações se tornarão cada vez mais duros e rebeldes a ponto de se tornarem insensíveis à Palavra de DEUS ou aos apelos do ESPÍRITO SANTO (v.7). A verdade e o viver em retidão já não serão prioridades nossas. Cada vez mais, buscaremos prazer nos caminhos do mundo e não nos caminhos de DEUS (v.10). O ESPÍRITO SANTO nos adverte que DEUS não continuará a insistir conosco indefinidamente se endurecermos os nossos corações por rebeldia (vv.7-11; Gn 6.3). Existe um ponto do qual não há retorno (vv.10,11; 6.6; 10.26)" (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.1902).

PARA REFLETIR - A respeito da Superioridade de JESUS em relação a Moisés, responda:
Qual o ponto de partida para o autor aos Hebreus introduzir o assunto sobre a vocação superior de JESUS? Que JESUS era o autor e mediador da nossa salvação (Hb 2.14-18).
Em que concordamos quando confessamos JESUS como Salvador? Quando confessamos JESUS como Salvador, concordamos que Ele em tudo tem a primazia. Ele é o Senhor. Ele é maior do que tudo e do que todos; Ele e somente Ele é a razão do nosso viver.
O que devemos destacar quando o autor usa aksioô, isto é, "digno", "valor" e "mérito"? Diferente de Moisés, o mérito de JESUS era maior e sua glória era permanente.
Se Moisés foi um ministro de DEUS no culto da congregação do deserto, o que foi JESUS? O ministro da Igreja, o povo de DEUS na Nova Aliança, "a qual casa somos nós" (Hb 3.6).
Qual risco corria os cristãos neotestamentários? O perigo de ouvir, mas não atender, o perigo de ver, mas não crer e o perigo de começar, mas não terminar.
 
CONSULTE-  Revista Ensinador Cristão - CPAD, nº 73, p. 37.
 
 
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Ajuda de outros trimestres passados
 
Subsídios - LIÇÃO 3 - CRISTO SUPERIOR A MOISÉS  - 3º trimestre 2001 - www.cpad.com.br - Comentários Pr. Elinaldo Renovato de Lima, Natal - RN
 
TEXTO ÁUREO:
“Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou” (Hb 3.3).
VERDADE PRÁTICA:
Se conservarmos firmes nossa fé e confiança em CRISTO JESUS, Ele será sempre o nosso fiel Sumo Sacerdote perante DEUS.
 
LEITURA DIÁRIA:
Segunda Sl 103.7 A revelação de DEUS a Moisés
Terça  Sl 77.20 Moisés, o líder provido por DEUS
Quarta Êx 2.11,12 Moisés falhou ao agir segundo a carne
Quinta Dt 32.1-43 O canto de Moisés
Sexta Sl 105.26 Moisés, servo do Senhor
Sábado Js 1.1-7 Moisés reconhecido
 
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - HEBREUS 3.1-8,12,14.
1 Pelo que, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a JESUS CRISTO, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão, 2 sendo fiel ao que o constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa. 3 Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou. 4 Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é DEUS. 5 E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar; 6 mas CRISTO, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão-somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim. 7 Portanto, como diz o ESPÍRITO SANTO, se ouvirdes hoje a sua voz, entramos no repouso, tal como disse: Assim, jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo. 8 não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto, 
12 Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do DEUS vivo.
14 Porque nos tornamos participantes de CRISTO, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.
 
PONTO DE CONTATO:
Você já resistiu a voz do ESPÍRITO SANTO alguma vez na em sua vida? Resistir a voz de DEUS tem sido a prática de muitos em nosso meio, que semelhantemente aos hebreus no deserto, tornaram-se insensíveis e desobedientes aos preceitos do  Todo-Poderoso: habituaram-se com as bênçãos, sem contudo, reverenciar, obedecer e servir ao Doador e Provedor de todos os benefícios. Ouvir a voz de DEUS e abster-se do mal são procedimentos de um coração bom e fiel. O Senhor está sempre pronto para agraciar seu povo com o suficiente “maná diário”, garantindo sobrevivência e crescimento espiritual. Podemos estar certos de que não pereceremos no “deserto desta vida”; nossa jornada culminará na prometida
Canaã celestial.
 
OBJETIVOS:
Considerar CRISTO como nosso Sumo Sacerdote.
Reconhecer a superioridade de JESUS sobre Moisés.
Decidir não endurecer o coração ao ouvir a voz de DEUS.
Destacar a importância de ser um participante de CRISTO.
INTRODUÇÃO
Nesta lição, somos exortados a considerar JESUS CRISTO como “Sumo Sacerdote da nossa confissão”. Os israelitas tinham grande respeito aos profetas e sacerdotes da antiga aliança, destacando-se entre eles Moisés e Arão. Na Nova Aliança, JESUS é superior a todos eles, pois encarnou-se tomando a forma humana, ou seja, tornou-se o Emanuel, “DEUS entre nós”, concedendo a gloriosa e eterna salvação para todos os que nEle crêem.
I. CONVOCAÇÃO DOS SANTOS À ADORAÇÃO A CRISTO (v.1)
1. “Irmãos santos”.
A palavra santo vem do latim, sanctu, que, originalmente, quer dizer aquele ou aquilo que “era estabelecido segundo a lei”, passando depois a significar aquele ou aquilo “que se tornou sagrado”. No Antigo Testamento, a palavra hebraica para santo é qodesh e seus derivados, que significam santo, santificado, santificar, separar, pôr à parte. No Novo Testamento, a palavra “santo”, no grego hagios, tem sentido semelhante ao da língua hebraica; santos, segundo o ensino bíblico, são somente aqueles que têm comunhão com DEUS e com seu Filho, JESUS. Estes são convocados para adorarem a CRISTO, separados do mundo.
2. “Participantes da vocação celestial”.
Os santos que vivem aqui na terra não são apenas os mártires, ou os que fizeram algum milagre, como ensina o Catolicismo. Os santos são pessoas de carne e osso, “participantes da vocação celestial”, por aceitarem a CRISTO como seu Salvador ao ouvirem o seu convite através do evangelho.
3. CRISTO, Apóstolo e Sumo Sacerdote.
Os santos são convocados para considerar “JESUS, apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão”. Ele foi, de fato, o Apóstolo por excelência. JESUS foi enviado por DEUS ao mundo, “não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3.17). No Antigo Testamento, os sacerdotes intercediam pelo povo, tendo que oferecer, por todos os pecantes, sacrifícios com sangue de animais, que apenas encobriam o pecado. Na Nova Aliança, JESUS é o Sumo Sacerdote perfeito, pois ofereceu o seu próprio sangue para nos salvar e nos apresentar a DEUS com a nossa confissão.
II. MAIOR GLÓRIA DO QUE MOISÉS
1. Moisés, fiel como servo (v.5).
Moisés foi fiel em sua casa, como acentua o escritor, na condição de servo, sendo o mensageiro que testemunhou das “coisas que haviam de vir”. Ele foi o porta-voz de DEUS ao receber as tábuas da Lei no Sinai, transmitindo, com fidelidade, a palavra que de DEUS ouviu no monte. Ele nada alterou do que recebeu do Senhor. Foi servo em sua casa, no âmbito do que lhe foi confiado, e desincumbiu-se muito bem de sua tarefa na “casa” de DEUS. Por isso, foi considerado um modelo entre os homens (cf. Jr 15.1).
2. JESUS, fiel sobre sua própria casa (v.6).
JESUS foi superior a Moisés. Este foi servo. Aquele é o Filho, o Sumo Sacerdote constituído por DEUS, posição que não foi confiada a mais ninguém. Moisés, mesmo sendo fiel como homem, não foi perfeito. Falhou em algum momento. No episódio em que DEUS mandou que ele falasse à rocha pela segunda vez, descontrolou-se emocionalmente e feriu-a, ao invés de falar (Nm 20.11). JESUS, no entanto, nunca falhou. “Em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15).
3. A casa somos nós (v.6).
Em nossa imperfeição, como poderíamos ser chamados “casa” de CRISTO para que Ele, nessa “casa”, fosse sumo sacerdote? Só a graça de DEUS pode explicar. A condição para que sejamos “casa” do Senhor, é que tão-somente conservemos “firme a confiança e a glória da esperança, até o fim”. O apóstolo Paulo teve de DEUS revelação semelhante. Na primeira Epístola aos Coríntios 6.19,20, lemos: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do ESPÍRITO SANTO, que habita em vós, proveniente de DEUS, e que não sois de vós mesmos?” Diante disso, é grande a nossa responsabilidade para com essa “casa”, em que, ao mesmo tempo, habitam CRISTO, nosso Sumo Sacerdote, e o ESPÍRITO SANTO, nosso intercessor, que nos tem como seu templo.
III. ADVERTÊNCIA QUANTO AO ENDURECIMENTO CONTRA DEUS
1. Ouvindo a voz do ESPÍRITO.
A advertência é grave e solene: “Portanto, se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto...” (vv.7,8). Citando o Salmo 95.8-11 o escritor admoesta os destinatários da carta valendo-se de fatos constrangedores, relativos ao povo de Israel. Na advertência, o ESPÍRITO SANTO os lembra para não fazerem como seus pais, que provocaram a DEUS no deserto com graves atitudes:
1) Tentaram a DEUS;
2) Provaram a DEUS, mesmo tendo visto suas obras por 40 anos (v.9; Êx 15.22-25; 17.1-7).
Esse aviso quanto a ouvir o ESPÍRITO SANTO é significativo e oportuno para nós em nosso tempo, pois há crentes tão insensíveis, em todos os sentidos, que suas consciências já se encontram irremediavelmente cauterizadas (cf. 1 Tm 4.2).
2. Não endurecer o coração (v.8).
O povo israelita, não obstante presenciar as maravilhas do poder miraculoso de DEUS no deserto, a começar pela passagem do Mar Vermelho, rebelou-se contra o Senhor. Em conseqüência, DEUS se indignou. Manifestou a sua ira e decretou seu juízo: “Não entrarão no repouso de DEUS”. Daquela geração rebelde, todos os que tinham mais de 20 anos não entraram na Terra Prometida (menos Josué e Calebe que foram fiéis). O endurecimento do coração é um obstáculo para o recebimento da bênção de DEUS.
3. Um coração mau e infiel (v.12).
Outra advertência é dada pelo ESPÍRITO SANTO através do escritor da Epístola aos Hebreus, para que neles não houvesse “um coração mau e infiel”, que viesse afastá-los “do DEUS vivo”. O verbo afastar, no texto, é apostenai (gr.), palavra que dá origem ao termo apostasia. No versículo seguinte vem um conselho divino: “Antes exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (v.13). Muitos, por falta de orientação e advertência (exortação), endurecem o coração para DEUS, desviam-se e até negam a fé, aceitando falsas doutrinas e envolvendo-se em práticas extra-bíblicas, semelhantes às do espiritismo, incluindo “regressão espiritual” e outras invencionices.
4. Como nos tornamos participantes de CRISTO (v.14).
O escritor nos mostra como nos tornamos participantes de CRISTO: “Se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até o fim”. Essa afirmação é corroborada pelo que JESUS asseverou: “...mas aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 10.22). “Até o fim...”. O homem só alcança a salvação plena quando aceita a CRISTO como Salvador e permanece em santidade, até a “redenção do nosso corpo” (Rm 8.23b). Se por um lado é difícil iniciar a carreira cristã, mais difícil ainda é continuar e terminá-la. Porém, todas as promessas futuras na eternidade estão reservadas para os vencedores, os que completam a carreira, como diz o apóstolo Paulo (2 Tm 4.7).
CONCLUSÃO
A superioridade de CRISTO em relação a Moisés é incontestável. Moisés era homem imperfeito e falho, mesmo tendo de DEUS uma missão tão grande. JESUS, nosso Salvador, mesmo na condição humana, em face de sua missão salvífica, “em tudo foi tentado, mas sem pecado”. Nós, cristãos, precisamos honrar a JESUS CRISTO, o Sumo Sacerdote da nossa confissão. 
Subsídios Teológico
“Havendo declarado o pensamento central do sacerdócio de CRISTO, e antes de desenvolvê-lo nos capítulos 5 a 7, o autor interrompe o assunto, a fim de estabelecer, sob outro ponto de vista, a superioridade do Novo Concerto sobre o Antigo. Ele já demonstrou que CRISTO é superior aos profetas, aos anjos, os mediadores espirituais da Lei. Agora demonstra que também JESUS CRISTO é superior a Moisés, o homem que promulgou a Lei.
“O autor, ao abordar o assunto, emprega a expressão ‘o mundo futuro’, ou ‘o século que há de vir’ (2.5; 6.5) — que no grego é cukoumenen (literalmente “o mundo vindouro habitado”). Ele se refere ao reino de DEUS que será estabelecido entre os habitantes da Terra. Isso leva, naturalmente, à comparação entre os fundadores da velha teocracia judaica, sob Moisés e Josué, e JESUS, do novo Reino. A posição de Moisés para com o sistema judaico torna necessário o argumento, porque os cristãos hebreus estavam confusos sobre esse ponto.“O ponto de comparação, no versículo 2, prende-se ao fato de que tantos Moisés como CRISTO se ocuparam da administração de economia divina: aquele, sob a velha ordem da Lei; este, sob a nova ordem da graça de DEUS, tendo ambos cumprido fielmente suas responsabilidades. Mas o autor apresenta em seguida uma série de contrastes que demonstram a glória muito superior de JESUS.” (Comentário Bíblico Hebreus, CPAD, págs. 129-131).
 
 
A CARTA AOS HEBREUS - Introdução e Comentário por DONALD GUTHRIE - SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA E ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTÃO
 
HEBREUS 3:1
C. A SUPERIORIDADE DE JESUS A MOISÉS (3.1-19)
Por causa da grande importância de Moisés como legislador, uma comparação entre ele e JESUS teria sido de grande relevância para os cristãos judeus bem como para os cristãos gentios, mas especialmente para aqueles. O escritor demonstra que a posição de Moisés como servo era muito inferior à posição de JESUS como Filho. Além disto, a despeito da sua grandeza, Moisés nunca conseguiu sua intenção de levar os israelitas para a terra prometida; este fato, também, está em forte contraste com a obra completa de CRISTO, que é fortemente ressaltada mais tarde na Epístola.
 
(i) Moisés o servo e JESUS o Filho (3.1-6)
HEBREUS 3:1-2
1. Talvez pareça, à primeira vista, haver bem pouca conexão entre o tema de Moisés e o tema do capítulo 2. Mesmo assim, o escritor tinha a intenção de ligar as duas idéias, porque começa, dizendo: Por isso,santos irmãos, que depende da sua declaração de JESUS como Sumo Sacerdote. Há, também, uma seqüência na menção de “irmãos” em 2.11, sua repetição em 2.12, 17 e a descrição dos leitores com a mesma palavra aqui. Duas vezes mais a mesma descrição é usada (10.19 e 13.22), mas somente aqui é que o adjetivo “santos” é acrescentado. É surpreendente neste contexto. Demonstra ao mesmo tempo familiaridade e respeito. É uma combinação que os cristãos fariam bem em acalentar. Sem dúvida, há outras coisas ou pèssoas descritas nesta Epístola como sendo santas (cf. as muitas ocorrências da menção do ESPÍRITO SANTO, do santo lugar, do SANTO dos Santos).
O escritor não está aplicando a palavra levianamente aos irmãos. É, naturalmente, usada de modo ideal, conforme ocorre quando se toma um substantivo para descrever os crentes (os santos), como em 13.24.
Esta descrição dos irmãos passa, então, a ser seguida por uma definição para excluir qualquer possibilidade de confusão. São as pessoas que participam da vocação celestial. Isto, aliás, introduz outro tema característico desta carta, a palavra “celestial.” O escritor fala também do dom celestial (6.4), do santuário celestial (8.5), das coisas celestiais (9.23), da pátria celestial (11.16) e da Jerusalém celestial (12.22). Em todos os casos, o “celestial” é contrastado com o terrestre, e em todos os casos o celeste é o superior, a realidade comparada com a sombra. Se a vocação celestial for compreendida da mesma maneira, deve significar uma vocação que tem uma direção espiritual e não material. Esta palavra para “vocação” (klèsis, “chamada”) é especialmente característica do apóstolo Paulo, que a emprega nove vezes. Ocorre alhures somente em 2 Pedro 1.10. Nffo há apoio para a opinião de que a chamada vem do interior do homem, porque em todos os casos a chamada vem de DEUS. A parte do homem é tomar-se um cooperador ao responder a ela. A idéia de compartilhar volta a ocorrer em 3.14, onde se diz que os cristãos são “participantes de CRISTO.” A frase que o escritor usa no presente contexto é repleta de significado. Participar de
uma chamada celestial é ficar estreitamente identificado com Aquele que chama, i.é, DEUS. Não admira que tais pessoas são chamadas “santas.” O Novo Testamento dá a entender que esta é a norma para os cristãos. São um povo chamado para fora.
Na declaração seguinte acerca de JESUS, os leitores são exortados a considerar (katanoeò) a Ele, ou seja: concentrar a mente inteiramente em direção a Ele (o mesmo verbo é usado em 10.24). Para uma idéia semelhante, embora os verbos sejam diferentes, podemos comparar 12.2-3, onde, mais uma vez, o objeto da consideração é JESUS. Nalgum sentido, o escritor está dando em forma epigramática sua intenção inteira — a de dirigir seus leitores a examinarem as reivindicações de CRISTO quanto ao ser o Sumo Sacerdote superior. Por enquanto, contenta-se em descrever CRISTO como o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão. Não somente é esta a única ocorrência da palavra “apóstolo” nesta carta, como também é a única ocasião no Novo Testamento em que é usada para CRISTO. É notável que o mesmo termo usado para os homens aos quais JESUS escolhera é usado para o próprio JESUS. Não é, nó entanto, tão inesperado quando as próprias palavras de JESUS são consideradas: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18); sem dúvida, vale a pena notar que a idéia de JESUS sendo enviado é freqüente no Novo Testamento. Noutras palavras, eles se tomaram apóstolos porque Ele foi um Apóstolo. Ele é o perfeito cumpridor do encargo. Todos os demais são pálidas imagens.
Há, além disto, uma estreita conexão entre o apóstolo e o sumo sacerdote. Os dois foram “constituídos” e não tomaram o cargo sobre si. Os dois eram cargos de representação, em que os detentores agiam em
prol doutras pessoas. O apóstolo representava JESUS CRISTO, e o sumo sacerdote representava DEUS diante dos homens e os homens diante de DEUS. Haja vista que uma comparação entre CRISTO e Moisés segue imediatamente, é digno de nota que Moisés realizou a função de um apóstolo ao agir como representante de DEUS diante do povo e a função de um intercessor diante de DEUS em prol do povo. Nunca é especificamente chamado de apóstolo ou sacerdote. Seu irmão Arâo foi, de fato, nomeado ao cargo de sacerdote ao invés dele. CRISTO é visto como sendo superior a Moisés por cumprir perfeitamente as duas funções. Mas porque os cargos são qualificados pelas palavras “da nossa confissão?" O substantivo homologia (“confissão”) não é freqüente no Novo Testamento, sendo que ocorre uma vez em 2 Coríntios (9.13), duas vezes em 1 Timóteo (6.12-13) e três vezes em Hebreus (aqui e em 4.14; 10.23).
Na presente declaração, é usado subjetivamente, i.é, JESUS a quem professamos. Algum reconhecimento extemo da nossa lealdade é evidentemente pretendido, embora esta deva ser considerada em termos de uma confissão constante de CRISTO e não seja restrita a um único ato. Hebreus 4.14 tem um uso semelhante da palavra, porque os leitores são ordenados a conservarem firme a sua confissão, mais uma vez com referência a JESUS como Sumo Sacerdote. De modo semelhante, em 10.23 há outra exortação no sentido de guardar firmemente a confissão. A idéia dominante em Hebreus é que os crentes têm uma confissão maravilhosa para fazer, e que devem vigiar cuidadosamente para não negligenciarem aquilo que DEUS lhes providenciou.
 
2. Outra característica do nosso Sumo Sacerdote é que Ele era fiel. Este fato é especialmente focalizado a esta altura da discussão, já tendo sido mencionado em 2.17. É feita uma comparação entre a fidelidade de JESUS e a fidelidade de Moisés. Semelhante comparação terá muito valor para aqueles que vieram do judaísmo e que transportaram para o cristianismo altíssimo respeito pelo antigo legislador. Sem dúvida, até mesmo os cristãos gentios aprenderiam rapidamente, da sua crescente familiaridade com o Antigo Testamento, que Moisés é um nome de máxima influência na história antiga do Antigo Testamento. A fidelidade de Moisés é subentendida em Números 12.7, londe o Senhor menciona que Moisés era fiel em toda a Sua casa. É este aspecto que fornece uma comparação apropriada com JESUS CRISTO.
As palavras àquele que o constituiu (i.é, a JESUS) são literalmente: “que o fez” (grego poiêsanti). Pode ser que o verbo fosse sugerido por 1 Samuel 12.6, onde a Septuaginta o usa no sentido de “constituir” que
parece ser o significado aqui. Diz-se que a fidelidade de Moisés era em toda a casa de DEUS, que parecer ser uma expressão figurada para todas as responsabilidades confiadas a ele em prol da comunidade teocrática. O texto em toda a casa de DEUS (em comparação com a alternativa: “na casa de DEUS”) ressalta sobremaneira a extensão da fidelidade de Moisés. Apesar disto, esta fidelidade obtém seu maior renome quando serve de padrão para a fidelidade de CRISTO, que até mesmo sobrepuja o padrão.
 
HEBREUS 3:3-4
3. Há uma conexão direta entre o v. 3 e o versículo anterior, conforme é mostrada pela conjunção todavia (gar). As palavras JESUS, todavia, tem sido considerado digno citam a razão porque os leitores devem considerar (katanoèsate) a Ele (v. 1). É um digno objeto de pensamento. Se Moisés era tão altamente respeitado pelos judeus e pelos cristãos judeus igualmente, quanto mais JESUS devia ser honrado! A comparação é ressaltada pela declaração de que aquele que estabeleceu a casa é maior do que a própria casa. Embora a glória de Moisés seja indisputável e seja ressaltada noutras passagens neotestamentárias (especialmente 2 Co 3), ele não era o inovador do sistema legal, mas simplesmente o agente através de quem foi dado. A descrição vívida no Antigo Testamento das tábuas da lei sendo escritas pelo dedo de DEUS imediatamente coloca Moisés na sua perspectiva certa, quase como um espectador que foi, pessoalmente, afetado intimamente por aquilo que viu.
Mas quem é aquele que a estabeleceu que tem mais honra do que a casa que estabelece? Há duas interpretações, (i) Pode referir-se a JESUS, já que Ele está sendo comparado com Moisés. Neste caso, a comparação é entre JESUS, o edificador da casa, e Moisés, a casa que Ele eficiou. Esta interpretação, porém, levanta dificuldades por subentender um conceito da pré-existência de JESUS e da Sua identificação com a outorga da Lei, que introduz um novo pensamento para o qual não houve preparativo nos capítulos anteriores. A glória e a honra atribuídas a JESUS são mediante o sofrimento e a morte (2.9), não através do poder criador (embora este seja referido em 1.2). (ii) A interpretação alternativa identifica DEUS como o edificador, o que é apoiado pelo v. 4. Embora (ii) se encaixe no contexto melhor do que (i), há verdade na idéia de JESUS CRISTO como Fundador da Sua casa, i.é, a igreja. Bruce pensa que nenhuma distinção pode ser feita entre o Pai e o Filho aqui, porque é DEUS quem funda Sua própria casa, mas o faz através do Seu Filho. Deve ser notado que a combinação de glória honra neste versículo corresponde não somente à citação do Salmo 8 em 2.7, como também ao louvor ao Cordeiro pelos seres viventes em Apocalipse 5.12-13 (cf. também Ap 4.9, 11; 7.12). Mesmo assim, no presente versículo “glória” é aplicada às pessoas e “honra” à casa e ao edificador, presumivelmente porque “glória” seria uma idéia menos apropriada a aplicar a uma construção ou ao seu construtor.
 
4. Este versículo é um parêntese, porque faz uma declaração geral que visa reforçar aquilo que acaba de ser dito. A conjunção pois (gar) demonstra a conexão. Toda casa é estabelecida por alguém; esta é uma declaração genérica que dificilmente precisa ser feita a não ser que haja razões para disputá-la, e estas razões podem ser achadas naquilo que, bem possivelmente, era uma abordagem contemporânea à Lei. Certamente havia perigo em certos ambientes judaicos de um respeito excessivo por Moisés, às expensas de reconhecer que DEUS era o originador da Lei. Mas o presente contexto, em que se fala de DEUS, é muito mais amplo do que isto. Ele é aquele que estabeleceu todas as coisas, não meramente a “casa.” É parte da semelhança a DEUS o ser o inovador de todas as coisas. Podemos rejeitar a opinião de que a segunda parte do versículo é uma glosa que desfaz o contexto31 O propósito do autor em fazer esta consideração é ressaltar a glória de JESUS que foi nomeado por DEUS para Seu cargo (v. 2). Algumas pessoas restringem “todas as coisas” a questões que dizem respeito à igreja,32 mas é melhor entender a expressão mais abrangente a respeito da totalidade da criação material, bem como do estabelecimento da nova comunidade espiritual.
 
HEBREUS 3:5-6
5-6. Outra linha de argumento agora é introduzida para reforçar a posição superior de CRISTO sobre Moisés — a diferença entre um Filho e um servo.33 Mais uma vez, a fidelidade de Moisés é enfatizada de uma
maneira que sugere nada mais de que um servo. A palavra traduzida “servo” aqui não é o teimo usual doulos que é usado noutras partes do Novo Testamento, mas, sim, therapôn que ocorre somente aqui. Refere-se a um “serviço pessoal prestado gratuitamente. É uma palavra de mais ternura do que doulos e não subentende as implicações de servilidade desta última palavra. Mesmo assim, o assistente pessoal não pode compartilhar da mesma categoria do Filho. No caso de Moisés, o servo tinha uma tarefa importante a realizar, para dar testemunho do que havia de se seguir. Noutras palavras, aquilo que Moisés representa na história judaica não é completo em si mesmo. Apontava para o futuro, para uma revelação mais plena de DEUS num tempo posterior, i.é, diz respeito a coisas que haviam de ser anunciadas, expressão esta que deve indicar o tempo de CRISTO. A missão do servo, por mais grandiosa que fosse, prepara o caminho para a missão muito maior do Filho.
A fidelidade de CRISTO é repetida para ressaltar sua superioridade à de Moisés, em virtude da Sua Filiação. Como Filho ecoa o tema principal da parte inicial da Epístola. O escritor está impressionado pelo pensamento de que nosso Sumo Sacerdote não é outro senão o Filho de DEUS. Isto ficará evidente em vários momentos no desenvolvimento da sua discussão. Para ele, a Filiação de JESUS acrescenta dignidade incomparável ao ofício sumo-sacerdotal.
Enquanto ainda pensa na casa de DEUS, fica sendo mais específico e identifica seus leitores com a casa, mas estabelece uma condição ao assim fazer: se guardamos firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança. As declarações condicionais nesta Epístola são significantes. O escritor deseja tomar claro que somente aqueles que são coerentes com aquilo que professam têm qualquer direito de fazer parte da “casa”. A palavra traduzida “ousadia” ou “confiança” (parrèsia) é outra idéia característica nesta Epístola. Aqui a implicação é que temos uma certeza sólida à qual podemos apegar-nos. A palavra neotestamentária para “esperança” é muito mais enfática do que o uso normal em português, onde quase não significa mais do que um piedoso desejo que talvez não tenha base real nos fatos. Tal tipo de esperança dificilmente forneceria uma base satisfatória para a exultação. Ninguém vai exultar numa coisa que não tem certeza de que irá acontecer. O escritor está suficientemente convicto da certeza da esperança cristã para usar uma expressão enfática (tokauchéma, jactância exultante) para descrever a atitude do cristão para com ela. Vale notar que a ousadia da qual aqui se fala é referida outra vez no fim da discussão teológica e no começo da aplicação (cf. 10.19). A mesma idéia de “guardar firme” que é usada aqui ocorre lá na forma de uma exortação.
 
(ii) Enfoque sobre o fracasso do povo de DEUS sob Moisés (3.7-19)
HEBREUS 3:7-8
7. A idéia de que é possível uma nova interpretação da ilustração da casa — uma transferência dos israelitas como sendo a casa de Moisés para a igreja como sendo a casa do Messias — levou o autor a refletir mais sobre a falta de Israel de herdar as promessas. A intenção disto é obvia mente reforçar a importância da condição que acaba de ser imposta, i. é, a de guardarmos firme a nossa confiança. O escritor tem consciência do fato de que alguns dos seus leitores estavam correndo perigo de fazer aquilo que os israelitas tinham feito. Um breve interlúdio histórico, portanto, não está fora de lugar aqui.Começa com uma citação bíblica de Salmo 95.7-11, introduzida pelas palavras: Assim, pois, como diz o Espirito SANTO. Esta expressão, juntamente com 10.15-16, é uma indicação clara que o escritor considera que as palavras do Antigo Testamento são inspiradas pelo ESPÍRITO. Embora não o declare explicitamente ao introduzir outras citações, pode ser considerado que este conceito subjaz a totalidade da sua abordagem do Antigo Testamento. Certamente a sua doutrina do ESPÍRITO em relação à Escritura abrange a relevância da linguagem figurada usada, conforme demonstra 9.8. Ao introduzir assim o texto bíblico, dá tremenda autoridade às palavras que cita, por conterem uma forte advertência. As primeiras palavras da citação captaram a imaginação do escritor de modo especial, porque as repete três vezes (w. 7-8; 3.15 e 4.7). Vê o Hoje inicial como sendo relevante, por permiti-lo a aplicar as palavras aos seus leitores atuais. Embora se volte para a história, sua mente está fixada no cenário contemporâneo. Sem dúvida, as palavras se ouvirdes a sua vozenfatizam esta relevância presente, sendo que Sua voz é a voz de DEUS em CRISTO. Além disto, o contexto nos Salmos é especialmente apropriado, porque o Salmo 95.7 diz: “nós somos povo do seu pasto, e ovelhas de sua mão,” que se enquadra bem no conceito cristão da igreja como o rebanho de DEUS. Mas a exortação subseqüente contra a imitação do exemplo dos israelitas introduz uma nota severa de advertência.
 
HEBREUS 3:8-12
8-9. A idéia do endurecimento do coração ocorre freqüentemente como uma descrição da desobediência de Israel, e é uma lembrança permanente contra adoção de uma atitude fixa de desobediência a DEUS. Es(
34) É esta seção que foima o âmago da teoria de Käsemann de um fundo histórico gnóstíco paxa esta Epístola (cf. Das wandernde Gottesvolk). O. Hofius: Katapausis: Die Vorstellung vom endzeitlichen Ruheort im Hebräerbrief, nega uma origem gnóstica e alega um backgraound apocalíptico. A tese de Hofius é que o lugar de descanso falado nesta seção é o SANTO dos Santos. G. Theissen: Untersuchungen zum Hebraerbrief, págs. 128ss., critica o apelo de Hofius à apocalíptica. Muitos exegetas concordariam com a interpretação do povo de DEUS como um povo peregrino, sem aceitarem a teoria gnóstica de Käsemann.
se endurecimento é realmente visto em várias fases da história do Antigo Testamento. Começou, conforme deixa claro a passagem citada, durante as peregrinações no deserto. A provocação (ou “a rebelião”) refere-se a incidentes tais quais aqueles que foram registrados em Êxodo 15.22*25; 17.1-7 e 32.1ss. De fato, o texto hebraico do Salmo citado menciona Meribá e Massá. Estas foram duas ocasiões clássicas que se destacam na história de Israel como ocorrências de rebelião contra DEUS. A palavra usada para rebelião (parapikrasmos) ocorre no Novo Testamento somente aqui e no v. 15, e vem da raiz pikros (“amargo”); pode ter sido sugerida pelo incidente em Meribá, onde a água foi achada amarga. Parece ter sua origem na própria Septuaginta, para expressar de modo deliberado a provocação contra DEUS. Deve ser distinguida da palavra paralela em SI 95.10 (ARA desgostado), que significa “ter nojo de, aborrecer,” MM). O dia da tentação talvez se refira ao início, e os quarenta anos à duração. Aquilo que apareceu numa determinada ocasião como sintoma desenvolveu-se num hábito fixo da mente; isto levou a uma atitude de indignação da parte de DEUS, a despeito do fato de que no Antigo Testamento DEUS é revelado como Aquele que não é facilmente provocado, mas, sim, é “longânimo” - lento para Se irar. Tem sido sugerido que o escritor desta Epístola talvez tenha entendido por conta própria os “quarenta anos” como o período que decorrera desde a crucificação de JESUS, durante o qual o povo judaico de modo geral tinha continuado a rejeitá-Lo. Mas não chama atenção especial a esta parte da citação. O ponto principal da passagem inteira é advertir contra uma repetição de rebelião semelhante contra DEUS. Outra sugestão é que os quarenta anos talvez tenham tido relevância especial para o escritor, conforme parece ter tido entre os Pactuantes de Cunrã. Estes últimos relacionavam seu futuro com um período de quarenta anos contados após a morte do Mestre da Justiça.
 
10-11. Se acharmos estranho que DEUS possa ser provocado, deve ser lembrado que muitas dificuldades surgem quando qualquer tipo de resposta emocional é atribuída a DEUS. As analogias humanas são o único meio de expressão disponível, mas estão carregadas com o perigo de que DEUS seja reduzido a termos humanos. Quando DEUS é provocado, o é de modo inteiramente diferente da maior parte da provocação humana, porque a ira nunca surge na mente de DEUS sem justa causa, ao passo que isto acontece freqüentemente nas mentes humanas. A descrição dos israelitas recalcitrantes é dupla: seu desvio habitual de DEUS, e sua ignorância (“Estes sempre erram no coração; eles também não conheceram os meus caminhos”). Uma destas coisas aumenta a outra. A ignorância dos caminhos de DEUS naturalmente leva as pessoas a desviar-se deles. Mas o escritor do Salmo menciona-as na ordem inversa, como se a atitude habitual de desviar- se contribuíra à sua ignorância. Um estado endurecido de mente torna-se impenetrável à voz de DEUS e leva à ignorância cada vez maior dos Seus caminhos, não porque DEUS nâío os faça conhecidos, mas, sim, porque a mente endurecida não tem disposição alguma para escutar. O que era verdadeiro para os israelitas é um comentário sobre todos aqueles que resistem às reivindicações de DEUS. O veredito sobre os rebeldes no Salmo é conclusivo, expresso na forma de um juramento. Uma passagem do Antigo Testamento que parece estar refletida aqui é Números 14.21, onde DEUS dá Sua palavra com um juramento. O contexto desta passagem do Antigo Testamento é a ocasião em que os espias voltaram para Cades-Baméia e o relatório da maioria foi desfavorável. As palavras do juramento: Não entrarão no meu descanso, são introduzidas por uma cláusula com “se" (ei), que, por causa de não ser seguida por uma cláusula “então” serve como uma forte negação. O significado de “descanso” é discutido ainda mais no capítulo 4. O que é importante aqui é que os rebeldes efetivamente se colocam fora da provisão de
DEUS. Não são elegíveis.
 
12. Segue-se agora uma discussão, baseada na citação, que é claramente relacionada com a situação histórica dos leitores. Parece mais provável que entre eles houvesse alguns que estavam sendo tentados a  afastarse de DEUS. Tende cuidado (blepete) como exortação aos leitores ocorre outra vez em 12.25, e nos dois casos há uma questão séria envolvida. Assim como os israelitas se tomaram presa da descrença, assim também seus sucessores, os cristãos, devem ter cuidado para não cair na mesma armadilha. O escritor resume o estado de mente dos israelitas no Salmo como sendo de perverso coração de incredulidade,e vê a possibilidade da mesma condição nalguns dos seus leitores. A ordem das palavras, no grego como em ARA, deixa em aberto se a perversidade antecede a incredulidade ou vice-versa. O escritor não está interessado em tais distinções minuciosas. O que lhe preocupa é que a descrença invariavelmente leva a conseqüências malignas. A descrença leva as pessas a afastar-se do DEUS vivo. A palavra usada para “afastar-se” (apostènai) é a raiz da qual é derivada “apostasia.” Envolve um desvio da verdade. Afastar-se do DEUS vivo é a maior  apostasia possível. Este título específico para DEUS, que é familiar no Antigo Testamento, ocorre várias vezes no Novo Testamento, e freqüentemente sem o artigo, como aqui. A forma sem o artigo chama a atenção mais vividamente ao adjetivo “vivo.” Os cristãos nos ambientes pagãos vibrariam com o contraste entre o DEUS vivo, a quem adoravam, e os ídolos mortos do paganismo (cf. At 14.15). O título era igualmente atraente a um discípulo judeu, como na confissão de Pedro em Cesaréia de Filipe (Mt 16.16), ou a um sumo sacerdote judeu, conforme demonstra o juramente em Mateus 26.63. Há outros lugares em Hebreus onde o mesmo título é usado (9.14; 10:31; 12.22). As palavras transmitem a idéia de um DEUS dinâmico e são especialmente relevantes em quaisquer comentários acerca dos homens que se desviam dEle (cf. especialmente 10.31). Semelhante DEUS, além disto, está em comunicação constante com os homens. Se a apostasia em questão for uma volta ao judaísmo, em que sentido ela poderia ser descrita como um afastamento do DEUS vivo, já que os judeus realmente reconheciam a DEUS? A resposta deve ser que os “apóstatas” neste sentido não achariam a DEUS no judaísmo, tendo voltado suas costas ao caminho melhor providenciado em CRISTO.36 Se o escritor considera
que JESUS é DEUS, conforme é o caso, rejeitar a CRISTO seria considerado uma apostasia de DEUS.
 
HEBREUS 3:13-14
13. Ao pensar na passagem que acaba de ser citada, o escritor imediatamente transfere o hoje do Salmo para os dias dos seus próprios contemporâneos. Desta maneira, toma o Salmo relevante a eles, de modo
que assume um sentido duplo: uma aplicação imediata e uma estendida. Sem dúvida, o hoje é estendido para representar a totalidade da presente era da graça, uma vez que os leitores modernos desta Epístola conseguem estendê-lo ainda mais a eles mesmos. O conselho: exortai-vos mutuamente cada dia demonstra a mentalidade prática do escritor em aplicar uma citação do Antigo Testamento. Este é um convite para a constante vigilância contra a possibilidade do “endurecimento.” O escritor reconhece que seus contemporâneos são tão passíveis deste processo de endurecimento quanto foram os israelitas. Atribui-o ao engano do pecado. O pecado aqui parece ser personificado, usando o engano como meio de desenvolver uma atitude endurecida nos seus  aderentes. Se alguns dos cristãos hebreus estavam enganando a si mesmos ao ponto de pensarem que o cristianismo pudesse ser contido nos odres velhos do judaísmo, estariam adotando uma posição inflexível semelhante, que seria contrária à revelação de DEUS mediante CRISTO. Uma atitude endurecida não é uma aberração repentina, mas, sim, um estado mental habitual. 0 pecado usa o manto do engano com efeito devastador contra os que têm a propensão de cair presos nos seus encantos.
Foi a fascinação das riquezas que sufocou a semente na parábola do semeador (Mt 13.22). Um aspecto importante da advertência contra o engano do pecado é que é endereçada ao indivíduo — a fim de que nenhum de vós seja endurecido, Ê certamente mais fácil para os indivíduos serem enganados em isolamento doutros cristãos do que quando compartilham da comunhão dos irmãos na fé. O fato de que havia uma
tendência para os leitores deixarem de congregar-se com os outros (Hb 10.25) lança luz sobre a presente passagem. É impossível exortar-se mutuamente a não ser que se faça parte de uma comunhão. No presente caso, um endurecimento do coração é estreitamente ligado com o “pecado” e esta deve ter sido uma tendência no caso dos hebreus que eram tentados a desviar-se do cristianismo.
 
14. Como contraste com este endurecimento do coração, há a posição daqueles que estSo estabelecidos em Cnsto. Têm uma base firme e estável, porque o escritor diz: Porque nos temos tomado participantes
de CRISTO. A palavra metochoi (“participantes”) poderia ser entendida no sentido ou de “participantes de CRISTO” ou “participantes com CRISTO.” Este último sentido certamente é melhor adaptado ao contexto,
onde a estreita conexão do crente com CRISTO já foi ressaltada (cf. 3.6: “somos a su casa”). Além disto, o uso de metochoi com o genitivo (como aqui) tem o significado de “confederado com” no uso lingüístico da
Septuaginta e do koinê (cf. MM). Tem o mesmo sentido em Lucas 5.7. É geralmente concordado que “participantes com CRISTO” não é o equivalente da frase mais expressiva “em CRISTO” nas Epístolas de Paulo. Apesar disto, embora seja diferente sua maneira de expressar a união com CRISTO, a idéia básica é a mesma. Pode ser preferível pensar na participação como sendo uma participação do reino celestial.
Note-se que nenhuma indicação é dada quanto à maneira de participarmos em ou com CRISTO, porque o escritor está mais interessado nas condições da nossa participação. Expressa-as como se fosse uma cláusula com “se” : se de fato guardarmos firme até ao fim a confiança que desde o principio tivemos. A conjunção grega eanper que introduz esta cláusula ocorre apenas duas vezes no Novo Testamento (aqui e em 6.3). Significa “se pelo menos” ou “se de fato.” È uma partícula intensiva (MM), que chama atenção especial à condição. Embora se fale da participação como se fosse um ato completado, não deixa de tomar por certo que as respectivas pessoas continuariam na comunhão com CRISTO. Esta condição é compreensível, tendo em vista a lembrança vívida que o escritor tinha da herança perdida dos israelitas, que comenta na passagem seguinte. A palavra traduzida confiança (hypostasis) ocorre em 1.3 e 11.1. Parece que, no presente contexto, tem ligação com a certeza que o dono de um imóvel pode ter porque possui o documento de propriedade, sentido este queé possível em 11.1 (q.v.). Mas 1.3 tem um sentido diferente (i.é, “natureza”). Podemos seguir ainda mais longe esta linguagem figurada ao sugerir que a idéia é assegurar-nos que as escrituras do imóvel não escapem do nosso domínio. O escritor usa três vezes nesta Epístola a mesma expressão “guardar fiime” (katechõ, cf. 3.6 e 10.23). É reforçada, outrossim, pela palavra firme (bebaiosj,outra palavra predileta em Hebreus 2.2; 3.6; 6.19; 9.17 (“é confirmado”). Não é sem relevância que seu significado usual refere-se a um penhor legalmente garantido (MM). Logo, neste contexto ressalta a necessidade de segurarmos com firmeza a nossa “participação” em CRISTO. Enquanto exercermos a fé temos a certeza de que nossa participação não nos pode ser tirada, assim como outra pessoa não pode alegar ter a posse do nosso imóvel se ela não possuir os documentos de propriedade.
 
HEBREUS 15-17
15-17. O versículo anterior realmente era um parêntese de qualificação, porque o pensamento agora volta à citação do Salmo 95. Até mesmo as palavras cruciais são repetidas de uma parte anterior do capítulo
(w. 7b, 8). Este fato não somente serve para enfatizar sua importância, como também fornece ao escritor uma oportunidade para acrescer seus comentários sobre elas. Faz uma série de cinco perguntas, das quais a segunda e a quarta virtualmente respondem à primeira e à terceira, ao passo que a quinta contém sua própria resposta. Este método oferece um exemplo fascinante de exegese do Novo Testamento. O escritor claramente toma por certo que seus leitores não precisarão de uma explicação da situação histórica geral à qual o Salmo se refere, mas sua primei Héring, pág. 28, considera que o genitivo hypostaseòs pode significar o “começo da fé,” ou o “princípio da fé,” ou como uma explicação, i.é, “a base, que é a fé.” ra pergunta: Quais os que, tendo ouvido, se rebelaram?, diz respeito à identidade (ou melhor, à extensão) dos ouvintes rebeldes. A segunda pergunta, retórica no seu caráter: Não foram, de fato, todos os que saíram do Egito por intermédio de Moisés?, meramente indica aquilo que os leitores já devem ter sabido: i.é, que a revolta foi total. Não pode deixar de refletir na liderança de Moisés em comparação com a superioridade de JESUS. Moisés era honrado por ser o libertador do seu povo do Egito, mas o próprio povo que ele libertou virou-se em rebelião contra DEUS. A palavra todos não é afetada pelo fato de que dois, Josué e Calebe, realmente entraram na terra prometida. Foi a massa total da rebelião que impressionou o escritor.
As duas perguntas seguintes ensinam a mesma lição. Baseadas na próxima seção do Salmo, fixam-se nos quarenta anos para chamar a atenção à extensa duração da provocação. A rebelião contra DEUS foi tão
persistente que perdurou pelo período inteiro das peregrinações dos israelitas no deserto. Não foi contra os que pecaram? é uma pergunta que define firmemente a atitude dos israelitas como sendo “pecado” (o verbo ocorre outra vez nesta Epístola somente em 10.26). O pecado é a causa radical, da qual a rebelião e a provocação eram manifestações específicas. O resultado para os pecadores é vividamente resumido: cujos cadáveres caíram no deserto, evidência decisiva da indignação de DEUS contra eles. O escritor ressalta, desta maneira, que não foi somente a descrença, mas também a realidade mais profunda da rebelião ativa a responsável pelo fracasso dos israelitas.
 
HEBREUS 3:18-19
18.. A quinta pergunta: E contra quem jurou que não entrariam no seu descanso?, é respondida pelo acréscimo qualificante: senão contra os que foram desobedientes? Os provocadores, tendo sido identificados com aqueles que pecaram, agora são descritos como desobedientes. Este último conceito subentende um padrão de lei do qual deliberadamente se desviaram. O escritor está preenchendo um quadro vívido do triste estado daqueles que agem contra a provisão que DEUS fez por eles. Está ilustrando por meio do passado de Israel a impossibilidade de vencer através de quaisquer outros meios senão a fé e a obediência — um comentário notável sobre 2.3. Deve ser notado que a idéia de um juramento de DEUS, colhida aqui do Salmo 95, ocorre em 6.13, 16-17 e 7.21 (uma citação do Salmo 110.4, cf. também 4-3). Claramente, a idéia tinha considerável importância para o escritor e falava da absoluta veracidade da palavra de DEUS. O “descanso” (i.é, a herança) mencionado aqui é considerado de importância suficiente para sua perda ser grave. É exposto e aplicado na passagem seguinte.
 
19. A última parte da citação do Salmo, acerca de entrar no descanso de DEUS, é expandida mais plenamente no capítulo seguinte, mas uma declaração resumida é feita para focalizar a verdadeira razão para o debate. A incapacidade deles de entrarem remontava à incredulidade. Isto relembra o v. 12 onde os leitores são advertidos contra terem “coração de incredulidade.” É instrutivo notar que no argumento desta Epístola a exegese é tomada relevante aos leitores e constantemente ecoa seu estado imediato. Ao dizer: Vemos, pois, que... o escritor toma por certo que seu raciocínio será evidente em si mesmo. Seus leitores dificilmente poderiam questionar a realidade da descrença dos israelitas, e obviamente o autor espera que verão com igual clareza as conseqüências perigosas de semelhante descrença da parte deles mesmos.
 
 
Hebreus - SÉRIE Comentário Bíblico - SEVERINO PEDRO DA SILVA - CPAD
 
3.1 Pelo que, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a JESUS CRISTO, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão,
 
A palavra “confissão”, usada no texto em foco, exprime duas idéias importantes para o cristianismo.
A— Ela traz o sentido da formalidade de um voto, de um acordo legal, indicando, no vocabulário cristão, a solene lealdade que os homens devem a CRISTO como seu Senhor e Salvador. Doravante, sempre envolverá mais do que mera aceitação de um credo, de uma confissão de determinadas doutrinas ou decretos preestabelecidos. Em sentido elementar, mas espiritual, é a entrega da alma a CRISTO, naquela atitude dominada pela fé: “A saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor JESUS e, em teu coração, creres que DEUS o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10.9 ).
B— Em sentido litúrgico, isso traz em si a idéia de um confessionário, onde o pecador arrependido busca perdão para seus pecados. No caso dos santos, esse confessionário são os pés de nosso Senhor JESUS CRISTO. JESUS foi constituído por DEUS como “... apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão”. Diante dEle: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (I Jo 1.9 ).
 
2. sendo fiel ao que o constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa.
O próprio Deus falou isso a respeito de Moisés quando argumentava com Arão e Miriã, dizendo: “Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa” (Nm 12.7 ). Alguns personagens são tomados como figuras nesta epístola para exemplificar aquilo que fizeram de bem ou mal. Veja a lista que se segue, onde são mencionados na primeira citação:
 
Do lado espiritual:
Deus (Hb 1.1), Os anjos (Hb 1.4), O Espírito Santo (Hb 2.4 ), Jesus (Hb 2.9 ), O Diabo (Hb 2.14 ).
 
Do lado humano:
Abraão (Hb 2.16 ), Moisés (Hb 3.2 ), Davi (Hb 4.7 ), Josué (Hb 4.8 ), Arão, Melquisedeque (Hb 5.6 ), Levi (Hb 7.5 ), Judá (Hb 7.14 ), Abel, Caim (Hb 11.4 ), Enoque (11.5), Noé (11.7), Isaque (11.9), Jacó (11.9), Sara (11.11), Esaú (11.20), José (11.21), Faraó (11.24), Raabe (11.31), Gideão (11.32), Baraque (11.32), Sansão (11.32), Jefté (11.32), Samuel (11.32), Timóteo (13.23).
Outros foram citados através de seus atos, mas são omitidos seus nomes.
 
3. Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou.
O escritor sagrado retoma aqui nesta passagem o mesmo sentimento que já expressara antes no versículo 9 do capítulo anterior, quando afirma: “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte...” Deus exaltou seu Filho acima de qualquer poder ou autoridade, porquanto sua glorificação foi suprema. “O qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências” (I Pe 3.22 ). Qualquer tributo feito a uma casa é uma honra concedida a seu edificador. Aqui, a casa é claramente “a família de Deus” (Ef 3.14,15 ). Por inferência, Moisés fazia parte dessa família. Mas o construtor (cf. Hb 1.2 ) é Deus, que opera por
meio do Filho. Cristo é o Senhor da Igreja, que é a sua casa, mas é também seu “fundador e edificador”. Esta casa é chamada de “casa de Deus”, porque do ponto de vista divino, ela é a Igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade, de acordo com aquilo que declara Paulo e também outras declarações similares do Novo Testamento (cf. I Tm 3.15 ).
 
4. Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus.
Deus é declarado nas Escrituras como sendo o grande e admirável construtor do universo. Este conceito se aplica tanto ao universo físico como ao universo espiritual. Contudo, o argumento aqui em foco diz respeito à edificação de um edifício espiritual. Como casa de Deus, a Igreja também é a habitação do Espírito Santo de Deus, coletivamente falando. Tal como nos tempos da Antiga Aliança, o templo era considerado o lugar onde Ele manifestava a sua presença. Portanto, é evidente que a Igreja é sua própria casa: “A qual casa somos nós” (Hb 3.6I Pe 2.5 ). Assim, cada ser humano que tem um encontro com Jesus torna-se uma casa “varrida e adornada”, edificada “... para morada de Deus no Espírito” (Lc 11.24,25Ef 2.22 ), cumprindo-se assim as palavras de Jesus, quando disse: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (Jo 14.23 ).
 
5. E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar;
De acordo com o conceito esboçado no presente versículo, Moisés foi tomado por Deus para representar como um servo pode ser fiel na casa de Deus. Já no versículo seguinte, esta responsabilidade é transferida para o Filho de Deus, que é o Senhor de todos. Isto significa que, “... requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel”, seja ele um servo ou um senhor. Moisés (representante da Lei) e Cristo (representante da graça) foram em tudo fiéis a Deus naquilo para que foram designados. Para ser um verdadeiro servo, é necessário ao homem ser também participante da natureza divina, para que haja nele “... o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8 ).
 
6. mas Cristo, como Filho, sohre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão-somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim.
A missão do Filho de Deus foi servir à vontade divina, cumprindo assim o plano de Redenção para a humanidade. Para edificar este grande edifício que é a sua Igreja, Ele precisou passar pelo “vale da humilhação”, quando cruzou o caminho da morte e foi atingido por seu aguilhão. Porém, usando uma espécie de material mui frágil (barro), nosso Senhor erigiu uma grande e admirável construção, denominada “casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (I Tm 3.15 ). Assim, cada crente deve ser transformado
numa coluna, servindo de sustentáculo na casa de Deus. Esta foi, portanto, a promessa de nosso Senhor àquele que por meio dEle se torna um vencedor. Então Ele diz: “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá...” (Ap 3.12 ). Somente nosso Deus eterno, por meio de Cristo, possui tal capacidade para este processo de transformação: fazer do fraco um forte! E, acima de tudo, fazer “firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” de cada remido!
 
7. Portanto, como diz o Espírito Santo, se ouvirdes hoje a sua voz
O Espírito Santo falou isso pela boca de Davi cerca de 1000 anos a.C., quando lembrava ao povo de Israel seu endurecimento contra Deus no deserto. Porém, ainda hoje, a exemplo do passado, Ele continua falando as mesmas palavras a cada um de nós, dizendo: “Se hoje ouvirdes a sua voz [a minha — quando o Espírito Santo fala], não endureçais o coração, como em Meribá e como no dia da tentação no deserto” (Salmos 95.7-8). Cada mensagem das sete cartas do Apocalipse contém uma advertência do Senhor Jesus, dizendo às igrejas ali mencionadas: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7,11,17,293.6,13,22 ). Isto significa que, em qualquer tempo ou lugar, o Espírito Santo não cessa de falar e de advertir às igrejas. Devemos, portanto, ser sensíveis à sua voz, e Ele nos guiará com o seu sábio conselho pelo caminho eterno (cf. Salmos 73.24139.23-24 ).
 
8. não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto,
A palavra “coração”, nas Escrituras, muitas vezes é usada para representar o homem interior, essencial, e com freqüência eqüivale ao vocábulo “alma” e em casos especiais, “espírito”. Quando não se refere ao órgão físico do corpo humano, pode indicar a porção “emocional” ou mesmo “intelectual” do indivíduo. “A imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” e se ele se revolta contra Deus, abre caminho direto para seu endurecimento. Nesse caso, a operação divina, em forma de correção, pode não realizar nele o efeito desejado; porque ao invés de se quebrantar, ele se endurece. Em Salmos 95.10, que focaliza esta passagem, Deus fala àqueles que têm corações endurecidos: “Quarenta anos estive desgostoso com esta geração...” Mas aqui, logo no versículo 15 do capítulo em foco, vem a recomendação para aqueles que estão sendo advertidos, que diz: “Não endureçais o vosso coração”.
 
9. onde vossos pais me tentaram, me provocaram e viram, por quarenta anos, as minhas ohras.
Os termos “Massá” e “Meribá” surgiram diante da rocha em Horebe, quando Israel se encontrava acampado em Refidim, “... e não havia ali água para o povo beber. Então, contendeu o povo com Moisés e disse: Dá-nos água para beber”. Em resposta a esta necessidade, seguida por provocação do povo contra Moisés e contra Deus, o Senhor disse a Moisés: “Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a
rocha, e dela sairão águas, e o povo beberá. E Moisés assim o fez, diante dos olhos dos anciãos de Israel. E chamou o nome daquele lugar Massá e Miribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não?” (Êx 17.1,6,7, ênfase do autor) Os nomes próprios empregados naquela passagem — “Massá” e “Meribá” — levam alguns estudiosos a essa interpretação. “Massá” significa “tentação”, ao passo que “Meribá” significa “provocação”.Tais atos abusivos à santidade divina levaram ao juramento pronunciado por Deus contra o povo: “... não entrarão no meu repouso” (Sl 95.11).
10. Por isso, me indignei contra esta geração e disse: Estes sempre erram em seu coração e não conheceram os meus caminhos.
Nesta argumentação, o escritor sagrado relembra aos crentes hebreus o perigo em que caíram aqueles que provocaram a Deus, ao invés de tê-lo reverenciado. A desobediência de Israel no deserto trouxe a Deus um enorme desgosto — retardando assim a entrada do povo na Terra Prometida. Após este incidente, a marcha do povo parou e se inicia o período chamado de “vagueações”. Desse ponto, voltaram de Cades para o deserto, vaguearam ali por 38 anos, fora do círculo da vontade divina. Ora, é vital distinguir entre as duas viagens: uma dentro da vontade divina e outra fora dela. Em face a tudo isso, vem aqui também a advertência divina: “... ninguém [nenhum de nós] caia no mesmo exemplo de desobediência” (Hb 4.11, porque a Palavra de Deus nos adverte que: “... a espada tanto consome este como aquele” (cf. 2 Sm 11.25Lc 13.5 ).
 
11. Assim, jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso.
Ao bradar dos céus, impedindo que Abraão sacrificasse seu filho Isaque, Deus fez-lhe um juramento de que o abençoaria, como também a sua semente. E o texto nos diz que Ele jurou por si mesmo “... Por mim mesmo, jurei, diz o Senhor, porquanto fizeste esta ação e não me negaste o teu filho, o teu único” (Gn 22.16 ). Mas o juramento divino, na passagem em foco, foi efetuado contra o povo, devido à sua rebeldia. Em sua ira, Deus jurou dizendo: “... não entrarão no meu repouso”. Em sentido espiritual, isso também aponta para os dias atuais, quando o descuido tem trazido drásticas conseqüências às vidas de alguns cristãos. Ao invés de desfrutarem do “descanso” prometido por Jesus para suas almas, cumprem-se as palavras de Paulo, quando escreve aos romanos: “Tri- bulação e angústia sobre toda alma do homem que faz o mal, primeiramente do judeu e também do grego; glória, porém, e honra e paz a qualquer que faz o bem, primeiramente ao judeu e também ao grego” (Rm 2.9,10 ).
 
12. Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo.
Por diversas vezes ao longo das Escrituras o coração é mencionado representando o centro da vida da pessoa humana. Assim, ele tanto pode ser BOM como pode ser MAU, dependendo apenas do contexto do viver de cada um.
Quando o coração é BOM (daquele que se aproxima de Deus), ele é:
Entendido (I Rs 3.9 )
Sábio (I Rs 3.12 )
Perfeito (I Rs 8.61 )
Reto (I Rs 15.14
Preparado (SI 57.7 )
Firme (Sl 2.7 )
Alegre (Pv 15.13 )
Novo (Ez 18.31 )
Puro (Sl 51.10)
Limpo (Mt 5.8 )
BOM (Lc 6.45 )
 
Quando o coração é MAU (daquele que se afasta de Deus), ele é:
Perverso (Sl 101.4 )
Soberbo (Sl 101.5 )
Orgulhoso (Pv 21.4 )
Maligno (Pv 26.23 )
De pedra (Ez 11.19 )
Incircunciso (Ez 44.7 )
MAU (Hb 3.12 )
 
13. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado.
Nossas vidas espirituais devem ser renovadas diariamente. Por esta razão são “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida e possam entrar na cidade pelas portas” (Ap 22.14, ênfase do autor). O apóstolo João, aqui, mostra que somente entrarão na cidade celestial “aqueles que lavam”, e não os que “lavaram” e não lavam mais, as suas vestiduras no sangue do Cordeiro. Ainda que o “Hoje” aqui em foco seja tomado por extensão para indicar todo o período da dispensação da graça, contudo é necessário que a cada dia renovemos nossas vidas espirituais para com Deus e com os irmãos — ouvindo e pondo em prática as exortações que por eles são proferidas e lavando nossas vestes no sangue de Jesus. Algumas vezes (não são todas), essas exortações vêm do próprio Deus. Portanto, devemos guardá-las em nossos corações e não desprezá-las sem nenhuma consideração.
 
14. Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.
Esta passagem fala de nossa filiação com Cristo, o que requer nossa fidelidade a Ele até o fim. Através deste processo de filiação fomos enxertados na verdadeira Oliveira. Paulo descreve como isso aconteceu: “E se alguns dos ramos foram quebrados [Israel], e tu, sendo zambujeiro [gentios], foste en- xertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti” (Rm 11.17-18). A participação em tudo quanto Cristo é e tem é condicionada, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até o fim. Isto requer um firme propósito de perseverança, conforme foi recomendado por Jesus quando dava instruções a seus discípulos no monte das Oliveiras, com respeito ao fim do mundo presente, dizendo. “... aquele que per- severar até ao fim será salvo” (Mt 24.13).
 
15. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação.
Este “hoje”, aqui em foco, tanto marca o “hoje” da extensão do tempo, como marca o “hoje” do calendário sucessivo, composto de 24 horas. O importante é que ele atualiza a nossa obediência a Deus e à sua Palavra. Este é o conceito que é depreendido do que foi dito no versículo 8 deste capítulo e é repetido aqui. Encontramos em ambos uma recomendação do Espírito Santo para que nem Israel e nem os cristãos, em qualquer época, permitam que seus corações sejam endurecidos contra Deus e contra seus ensinos. A perdição de Faraó foi endurecer seu coração contra Deus, para não ouvir a sua voz. Dez vezes isso é atribuído ao próprio Faraó (Ex 7.13,14,228.15,19,32;9.7,34,3513.15 ) e dez vezes lemos que Deus o endureceu (Ex 4.227.39.1210.1,2711.1014.4,8,17 ). Mas somos aqui advertidos para não cairmos no mesmo abismo da desobediência, como Faraó e aqueles que não deram ouvidos à voz divina.
 
16. Porque, havendo - a alguns ouvido, o provocaram; mas não todos os que saíram do Egito por meio de Moisés.
Nem todos foram desobedientes às orientações divinas, lembra aqui o escritor sagrado. Sempre existiu e existirá as exceções de Deus em todas as épocas da história humana. No episódio em que Israel foi envolvido com o bezerro de ouro, a tribo de Levi marcou sua fidelidade ao lado de Deus, não se contaminando com a idolatria. Por isso, recebeu de Deus a missão especial de exercer o sacerdócio entre seus irmãos. Eles foram descritos assim: “Pôs-se em pé Moisés na porta do arraial e disse: Quem é do Senhor, venha a mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi” (Ex 32.26 ). Assim cremos, e as informações apontam para isso, pois quando esta epístola estava sendo escrita, muitos companheiros de Paulo o tinham abandonado. Entre outros, Himeneu, Fileto, Demas, etc. Algumas mulheres também haviam se desviado, "... indo após Satanás” (I Tm 5.152Tm 2.174.10 ). Mas Deus jamais será vencido pelas forças do mal, e aqui, no texto em foco, é apresentado também em contraposto àqueles um tipo de remanescente que foi preservado por Deus como exemplo de fidelidade.
 
17. Mas com quem se indignou por quarenta anos? Não foi, porventura, com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto?
Paulo, ainda que de maneira sucinta, mostra-nos um quadro bem vivido destes acontecimentos que levaram a perecer no deserto grande parte do povo eleito. Como solene aviso, ele começa dizendo: “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem; e todos passaram pelo mar, e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de um mesmo manjar espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. Mas Deus não se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto. E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se para folgar. E não nos prostituamos, como alguns deles fizeram e caíram num dia vinte e três mil. E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram e pereceram pelas serpentes. E não murmureis, como também alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor” (I Co 10.1-10 ). Em seguida, o apóstolo conclui, dizendo: “Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (I Co 10.11). Vigiemos, pois, e sejamos sábios e santos; porque somente assim Deus se agradará de nosso trabalho e de nosso viver. Do contrário, cairemos também no mesmo exemplo de desobediência daqueles que pereceram no deserto.
 
18. E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes?
Os teólogos medievais procuraram classificar os pecados em formais (toda a transgressão deliberada), e em materiais (transgressão sem consentimento ou sem conhecimento).
Os pecados capitais são divididos em sete principais fontes de atos pecaminosos, que são:
Orgulho
Avareza
Luxúria
Ira
Gula
Inveja
Preguiça
 
Eles foram chamados de capitais, segundo este conceito, porque estes atos têm geralmente sua raiz no orgulho.
pecado venial é o que não é considerado mortal e é praticado, segundo os teólogos da Idade Média, por desobediência em questões de menor gravidade ou pela falta de conhecimento. Segundo se opina, o pecado venial, embora prepare o caminho para o pecado mortal e seja o maior mal depois do pecado mortal, ainda não destrói completamente a amizade do homem com Deus. É uma enfermidade da alma, e não a morte. No conceito de Paulo, o pecado que abriu caminho para que todos pecassem foi o da “desobediência”, dizendo: "... pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores...” (Rm 5.19a, ênfase do autor).
 
19. E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade.
Os especialistas apresentam vários tipos de incredulidade, como por exemplo:
A incredulidade simples. Simplesmente não crer em alguma coisa, de natureza religiosa ou secular;
A incredulidade por negligência. Pode haver uma negligência proposital da verdade, como no caso dos pagãos que apostatam da fé, em sua rebeldia e insensibilidade;
A incredulidade da ignorância. Consiste simplesmente em procurar ignorar alguma verdade revelada;
A incredulidade da resistência. O sistema gnóstico exemplifica este tipo de incredulidade, que procura afrontar diretamente a verdade divina;
A incredulidade duvidosa. Esta incredulidade vem ao coração humano por meio da dúvida. A dúvida é o estado de espírito entre a negação e a afirmação. Assim, a pessoa não nega — mas também não afirma, por falta de exame dos prós e contras. Dessa forma, o que o homem realiza neste estado pode se tornar em pecado; porque a dúvida afasta a fé. “E tudo que não é de fé é pecado” (Rm 14.23 ); A incredulidade por falta de fé. Esta deve ser confrontada com a natureza da incredulidade que é apresentada neste versículo. Ela consiste na falta de fé para crer na realização das promessas de Deus na vida de seu povo. Ela torna-se a maior opositora da fé e expressa-se mediante a desobediência, o que ficou caracterizado no versículo anterior.
 
 
A Excelencia da Nova Aliança em CRISTO - Orton H Wiley - Comentário Exaustivo da carta aos Hebreus - Editora Central Gospel - Estrada do Guerenguê . 1851 - Taquara I 11111 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22713-001 PEDIDOS: (21) 2187-7090 .
 
O APOSTOLADO E O SUMO SACERDÓCIO DE CRISTO
Vamos agora ultrapassar a Porta Formosa do templo em Jerusalém e entrar no templo espiritual. No capítulo 1, analisamos esta porta, que simboliza aspectos divinos e humanos de Cristo, citada pelo autor da Epístola aos Hebreus, extraindo valiosas lições para a experiência cristã. Também vimos as sérias advertências que ele fez aos seus leitores, a fim de não negligenciarem a grande salvação pelo desprezo à divindade de Cristo, e o que disse sobre evitarem o endurecimento do coração, fazendo referência à humilhação de Cristo. Agora [dando prosseguimento ao nosso estudo de Hebreus], à medida que deixarmos a Porta para entrar no templo, verificaremos que é apenas a expansão da vida de Cristo, novamente considerada [pelo autor da Epístola] sob o duplo aspecto das naturezas divina e humana do Senhor. Contudo, [em Hebreus 3, veremos que] Jesus é analisado mais à luz do que fez por nós do que com base naquilo que • é em si mesmo, embora este último fato seja sempre o fundamento do primeiro.
 
O TEMPLO ESPIRITUAL
Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus. Hebreus 3.1 ARA
A natureza divino-humana de Cristo é a "porta do templo" da comunhão com Deus, que manifesta Sua graça em Cristo, a qual está sempre em expansão. Ao entrarmos neste templo de graça e verdade, o autor da Epístola aos H e breus deseja que consideremos a natureza e obra de Jesus em relação a Moisés, o apóstolo do Antigo Testamento, e a Aráo, o sumo sacerdote veterotestamentário. O assunto, portanto, há de apresentar-se sob o simbolismo do antigo tabernáculo e seu serviço, e o estudo pode ser considerado como um comentário inspirado do autor da Epístola sobre o Antigo Testamento, sua história e seu ritual, suas leis e seus precedentes legais. Sob o aspecto do escritor da Epístola, existe a ideia de transcendência, que se resolve na graça reveladora e assinala mudança de relação. Sob o aspecto do Sumo Sacerdote, temos a ideia de imanência, que se manifesta na graça que dá poder e assinala mudança de condição. Estes dois aspectos se combinam na encarnação de Jesus e unem-se outra vez nos desígnios finais de Deus. No templo da comunhão espiritual em que entraremos, haverá, portanto, um crescimento constante de luz e de verdade, por um lado; e, comparável a ele, um crescimento constante de amor e poder, ambos revelados pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo. A expressão por isso - em por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus(Hb 3.1 ARA) - marca a transição dos capítulos precedentes (1 e 2) para os outros dois que imediatamente os seguem  (3 e 4). Essa transição deixa subentendido tudo o que foi dito nos capítulos anteriores acerca da superioridade de Cristo sobre os anjos, mesmo no Seu estado encarnado, e lança também o alicerce da superioridade de Cristo sobre Moisés, o mediador da antiga dispensação e "fundador" da teocracia terrena.
 
1. Santos irmãos (Hb 3.1 ARA)
Esta forma de saudação evidentemente é decorrente de uma declaração feita no capítulo anterior, onde lemos: Porque, assim o que santifica como os que são santificados, são todos de .um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos (Hb 2.11). As duas afirmativas [sobre a santificação e a irmandade], portanto, estão combinadas na expressão santos irmãos, que forma uma caracterização apropriada  daqueles que passarão pela porta de acesso ao templo espiritual. É Jesus quem nos santifica e, portanto, torna-nos santos; somos Seus irmãos por criação e redenção. O que, então, poderia ser mais natural do que estes dois grandes pensamentos [santos irmãos] ficarem juntos? A santidade é comum a Cristo e ao Seu povo e marca a união e a base da comunhão entre ambos. A ideia fundamental da santidade é aquilo que Deus separa para si mesmo, sendo, às vezes, usada em um sentido exterior e coletivo, como no caso da Igreja. Disto, porém, não devemos inferir que todos os membros de uma comunidade cristã estejam na posse da santidade interior [que deveriam ter]. Mesmo entre os frequentadores da igreja, existem pessoas que não experimentaram a pureza de coração ou o amor perfeito. A santidade interior depende da pureza interior. O que Deus separou para si mesmo, a fim de ser santificado na verdade Qo 17.17), deve também ser interiormente purificado do pecado, para que se harmonize com a imagem do Filho, que é santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores (Hb 7.26b).
 
2. Que participais da vocação celestial (Hb 3.1 ARA)
A vocação do cristão é celestial, não apenas porque do céu procede sua origem, nem ainda porque é um chamado para o céu, como alvo supremo, mas porque é uma qualidade espiritual de vida que encontra sua realização plena no céu. Andrew Murray descreveu esta vocação como o poder de urna vida espiritual que opera em nós, para tornar nossa vida celestial. Em sua plena concepção, portanto, é o poder do Espírito  Santo, primeiro derramado no Pentecostes, pelo qual os homens foram libertos de todo pecado e transformados à semelhança espiritual de Cristo. A palavra metochoi, participantes, literalmente significa partícipes,isto é, os que tomam parte nas mesmas coisas. Os cristãos são os ungidos e, portanto, em certo sentido, os "cristificados" que participam com Jesus do poder de uma vida eterna. A voz do céu dirigida a Moisés foi uma vocação, o chamado para a expansão de uma teocracia na terra. Os cristãos são chamados para participarem do estabelecimento de um Reino espiritual, cujo estágio inicial é uma condição interior de justiça, paz e gozo no Espírito Santo.
 
3. Considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão (Hb 3.1 ARA)
Eis como essas palavras podem ser expressas de maneira mais enfática: "Portanto, porque Jesus é o Apóstolo e Sumo Sacerdote de nossa confissão, consideremo-lo bem" (Lowrie). Considerar é um termo usado na astronomia derivado da raiz latina sidus, que significa estrela ou constelação, e dela temos sideral, o que pertence aos astros ou ao céu. Considerai contém a ideia de que, como os astrônomos fitam longa e atentamente os céus, a fim de obter informações sobre o sistema solar, assim também, como cristãos, devemos continuamente fitar Jesus Cristo com admiração e adoração. A palavra grega correspondente aconsiderar vem do verbo katanoeo,  que não significa principalmente levar a sério e em consideração, mas também trazê-lo diante do espírito, no sentido de dedicar atenção a Jesus ou refletir sobre Ele  integralmente. Westcott disse que o verbo considerai remete à atenção e à observação, bem como ao re~peito contínuô dirigido a Jesus como nosso Apóstolo e Sumo Sacerdote e, mais remotamente, à Sua fidelidade, quando comparada com a de Moisés. Estas coisas é que, agora, sáo objeto de análise. O verbo katanoesate está no imperativo, mas é, em geral, considerado não tanto uma exortação, como proposição destinada a exibir os assuntos que o escritor da Epístola aos Hebreus mais tarde tenciona discutir. Na verdade, a Epístola inteira, deste ponto em diante, forma um tratado lógico e conciso sobre os vários assuntos para os quais o autor chama a atenção no primeiro versículo do capítulo 3. É para esta discussão que ele pede atenção, por julgá-la digna de minuciosa e prolongada consideração.
4. Cristo, nosso Apóstolo (Hb 3.1 ARA)
A obra apostólica de Cristo se refere principalmente ao Seu aspecto objetivo como Revelador e Líder, este último já mencionado como o Capitão da nossa salvação (Hb 2.10 KJ). Como Moisés tirou Israel do Egito e conduziu-o pelo deserto às fronteiras de seu alvo material, o descanso em Canaã, assim Cristo, como nosso Apóstolo, não apenas nos traz até as fronteiras do descanso em Deus, mas, como Josué, nosso grande Salvador realmente nos introduz naquele descanso que aguarda o povo de Deus. Canaã, portanto, simboliza o descanso da fé, que Deus preparou para o Seu povo, no qual, porém, o antigo Israel deixou de entrar por causa da incredulidade e da dureza de coração. São apresentados quatro aspectos da obra apostólica neste capítulo e no seguinte, sob o simbolismo de (1) a casa, (2) a voz na casa, (3) a terra e (4) o trono na terra. Também o Sábado é mencionado como símbolo do descanso espiritual que Deus, desde o princípio, preparou para o Seu povo. Observaremos que estes símbolos representam uma concepção cada
vez mais profunda e mais ampla da obra apostólica de Cristo. Disse o bispo Chadwick: Não poderemos bem considerá-lo como Apóstolo sem antes nos lembrarmos da fidelidade, do patos [sentimento], da simplicidade do Seu ensino, das bênçãos que espalhou com ambas as mãos, da Sua longanimidade para com os pecadores e Seus inimigos; sem antes refletirmos sobre a amável majestade com que Ele revelou o Pai e nos lembrarmos de que todo o Seu ministério foi, para nós, no século 20, tão verdadeiro como o foi para a Galiléia e a Judéia no século i. Jesus é o único que pode sondar e transformar o nosso coração,
levando-nos à paz que resulta da rendição total a Ele. Só o Senhor pode redimir-nos com o sangue expiatório de Seu sacrifício sacerdotal  e, pelo Seu Espírito, fazer morada em nosso interior. Sua obra profética  
sempre há de preceder Sua expiação sacerdotal. Ao receber Cristo e Sua salvação, devemos aceitá-lo em todos os Seus oficios, como Profeta,  Sacerdote e Rei.
 
5. Cristo, nosso Sumo Sacerdote (Hb 3.1 ARA)
Os dois títulos aplicados a Jesus em Hebreus 3.1, Apóstolo e Sumo Sacerdote, vêm acompanhados de apenas um artigo, assim indicando que a Ele pertencem os dois ofícios, sendo Ele o grande objeto de nossa confissão. Como Apóstolo, Cristo tem acesso ao Pai e revela-o a nós; como Sumo Sacerdote, Ele pleiteia a nossa causa junto ao Pai e leva-nos à presença de Deus. Em ambos os cargos, Ele é misericordioso e fiel (Hb 2.17). Misericordioso para com os homens, porque, tendo encarnado, compreendeu as nossas fraquezas e tentações; fiel a nós e a Deus, posto que só falou as palavras que ouviu do Pai durante o tempo em que esteve na terra (e cumpriu tudo o que prometeu e não se desviou de Seu propósito e missão]. É esta fidelidade que o torna digno de confiança. Repousando nele, encontramos a confiança interior e a alegre certeza de que Ele cumprirá todas as promessas que Deus nos fez. Nos capítulos 3 e 4 de Hebreus, a obra apostólica de Cristo será apresentada sob quatro útulos principais: a casa, a voz na casa, a terra e o trono na terra, como já indicamos. Nos capítulos 7 a 10, a Sua obra sacerdotal será igualmente apresentada em quatro divisões: 0 sacerdócio, as promessas, o santuário e a herança. Estes símbolos do Antigo Testamento recebem interpretações espirituais à luz da nova aliança e, associadas a eles, encontramos quatro ad~.ertências: contra a indiferença, a indolência, o pecado voluntário e a apostasia.
 
CASA DE DEUS
O autor da Epístola aos Hebreus descreveu Jesus como misericordioso e fiel sumo sacerdote (Hb 2.17), e, tendo mencionado sucintamente a Sua misericórdia, da qual falará mais à frente de forma detalhada, passa a considerar a Sua fidelidade. Cristo foi fiel ao que o constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa (Hb 3.2). A palavra oikos (oiKoç), traduzida como casa, não se aplica meramente a uma construção e à sua mobília, mas também à família que nela reside, incluindo os empregados. O texto que é a base desse argumento se encontra em Números 12.7, onde lemos: O meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Casa, conforme se usa no Antigo Testamento, refere-se ao povo de Israel. No Novo Testamento, é a Igreja, a qual, no sentido amplo, inclui todos os cristãos, tendo-se derrubado a parede que separava o povo de Israel dos gentios, conforme consta em Efésios 2.14: o qual Uesus] de ambos os povos [Israel e os gentios] .foz um; e, derribando a parede de separação que estava no meio. Com relação a Deus, a casa é essencialmente uma só, mas, considerada com referência à sua administração, são duas: a dispensação do Antigo Testamento, por meio de Moisés, e a neotestamentária, mediante Cristo.
 
CRISTO É SUPERIOR A MOISÉS
O objetivo do escritor de Hebreus é mostrar a superioridade de Cristo por meio de três argumentos: {1) o Construtor é maior do que a casa; (2) o Senhor é maior do que o servo; e (3) a Realização é maior do que o símbolo dela.
1-O primeiro argumento se fundamenta na superioridade do Construtor sobre a casa, sendo assim expresso: Jesus, todavia, tem sido considerado digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a estabeleceu (Hb 3.3 ARA). A glória da qual Cristo foi digno é uma referência à Sua filiação, ao passo que a palavra doxes. traduzida como  glória na primeira parte do versículo, torna-setimen ('tLJ-l"JÍV) na  segunda parte, por ser mais aplicável a uma casa. Moisés foi, na  verdade, fiel, mas ele era parte da casa, não o fundador dela, daí termos uma significativa mudança de preposições: de em (ev) para sobre (em).  Moisés foi fiel na casa; Cristo foi fiel sobre a casa. As palavras  maior honra do que a casa tem são kath hoson (Ka8' b' aov), que significam quanto maior. Trata-se, contudo, de uma  afirmação geral, sem o objetivo de comparar as honras concedidas.
O escritor da Epístola aos Hebreus reforça o argumento no versículo seguinte, dizendo: Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus (Hb 3.4). Existe aqui uma profunda visão espiritual do Cristo encarnado como o Logos, ou Verbo eterno, pelo qual todas as coisas foram feitas. Portanto, Cristo, como o Filho divino, não é apenas o Soberano, mas o Fundador da casa, logo superior a Moisés, que era parte da dispensação sobre a qual presidia.
2-O segundo argumento, de que o Senhor é maior do que o servo, é extraído do contra.:;te entre Moisés como servo e Cristo como Filho: E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo (Hb 3.5a).
tarefa de exaltar Cristo acima de Moisés era delicada, pois este era alvo de veneração por parte dos judeus. vida religiosa de Israel, a Lei com suas várias observâncias, o conhecimento de Jeová e a esperança que os judeus tinham na vida futura estavam todos ligados a Moisés, o servo de Deus. Além disso, o próprio J eová testificara: Moisés é fiel em toda a minha casa boca a boca falo com ele (Nm 12.7,8a).
Contudo, a habilidade do escritor de Hebreus, inspirada pelo Espírito Santo, nunca falha. Ele toma as palavras casa, servo e Filho e desenvolve-as de maneira magistral. Moisés é um therephonservo livre, aquele que serve voluntariamente e executa os desejos do seu senhor na administração da casa; não é um doutos (bovAoç), escravo sem vontade própria. Moisés, portanto, é caracterizado por toda a dignidade que se ligava ao seu ofício. E ainda, Moisés era um servo fiel em toda a casa de Deus. Os outros servos eram usados em várias partes da casa. Profetas, sacerdotes e reis tratavam de aspectos diferentes e limitados da verdade e da vida; a Moisés, contudo, fora confiada toda a dispensação, o regime e o cuidado de toda a família de Israel. O alvo do argumento, pois, é este: Moisés foi servo em casa de servos, tendo sido ele próprio parte da casa; Cristo, todavia, é Filho sobre uma casa de filhos, sendo Ele mesmo o Autor e Fundador da dispensação sobre a qual é Soberano.
 
3-O terceiro argumento, de que a Realização é maior do que o símbolo dela, baseia-se na seguinte afirmação: o ministério de Moisés foi para testemunho das coisas que se haviam de anunciar (Hb 3.5b).
Moisés, portanto, não apenas deu testemunho quanto à verdade contida na Lei, mas prescreveu o culto simbólico em sua própria casa sob um feitio que, depois, testificaria aquele que seria mais plenamente exibido em Cristo. Por isso, nosso Senhor disse: Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim, porque de mim escreveu ele 5.46); e, em relação aos discípulos no caminho de Emaús, agiu da seguinte forma: E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras (Lc 24.27). A dispensação mosaica, portanto, era simbólica e dava testemunho tanto da pessoa como da obra de Jesus Cristo.
 
CASA SOMOS NÓS
Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós. Hebreus 3.6a ARA
No sentido coletivo e no individual, somos a casa de Cristo, edificados para morada de Deus no Espírito (Ef2.22b). Visto que, nas coisas espirituais, cada parte é igualmente um todo, cada indivíduo, como pedra viva na casa espiritual, é habitado pelo Espírito e manifesta a santidade de Deus. Em um sentido coletivo, estas pedras vivas entram juntas na edificação da casa de Deus e, por meio de suas relações pessoais umas com as outras, manifestam a glória do Senhor. Se, portanto, quisermos a fidelidade de Cristo e a alegria de Sua comunhão, devemos render-lhe o controle de nossa vida. Ele tem de ser a presença permanente em nosso coração; não como Hóspede, mas como Hospedeiro [como o dono da hospedagem que somos nós]. Somos Sua casa, e Ele [como nosso Senhor] deve ter acesso a todos os aposentos; a administração e o controle de tudo têm de estar em Suas mãos. O teste da consagração genuína ao Senhor é estarem as chaves da casa nas Suas mãos, não apenas durante os ,períodos de êxito, mas carnbém nos tempos de dor e adversidade. Somos Sua casa, da qual Ele cuida de maneira peculiar. Que honra grandiosa é esta! Desfrutamos da paz do Espírito e da libertação de todas as preocupações quando entregamos nossa vida nas mãos de Cristo! Ele não é apenas a Cabeça da Igreja, mas de rodas as coisas sobre a Igreja, e administra o universo para o progresso e cuidado dela. Confiemos, portanto, nele inteiramente e esperemos dele tudo o que realizou por nós. A verdadeira consagração passa por uma entrega total a Deus de tudo o que temos, somos e esperamos ser; de nosso passado, presente e futuro (dizemos passado, porque há muitos que, secretamente, desejam uma volta às rendições passadas). Tal entrega resolve todas as questões em favor do pleno controle de Deus em todos os interesses da nossa vida e em favor de Sua administração quanto ao tempo, lugar e à maneira das circunstâncias a eles ligadas [::.] O leitor verificará imediatamente a diferença entre estar tudo ao dispor de Deus e apenas acharmos que depositamos tudo aos pés dele. O Pai é o Soberano e faz o que quer com os Seus, mas os homens nem sempre o reconhecem como tal [ ... ] Ele precisa ter tudo em Suas mãos, porque dificultamos o Seu agir enquanto desejamos reter parte de nós mesmos ou de nossos bens. Isso porque tudo aquilo em que colocamos o nosso co;ação é um ídolo e nos faz cultivar a cobiça, que é idolatria, mantendo-nos, realmente, em uma condição em que Ele não pode realizar obra poderosa dentro de nós. Esta exigência de consagração completa não é uma regra arbitrária ou tirânica, mas o resultado necessário do amor puro. Deus deseja abençoar-nos, e só poderemos desfrutar do prazer real de Sua presença quando soubermos que Ele é o supremo Bem. (SEE, The resto  foith, p. 17, 18).
 
PRIMEIRA ADVERTÊNCIA: NÃO NEGLIGENCIAR A GRANDE SALVAÇÃO
Se guardarmos firme, até ao .fim, a ousadia e a exultação da esperança.
Hebreus 3.6b ARA
Quando o escritor da Epístola diz a qual casa somos nós (Hb 3.6a ARA), acrescenta a significativa condição: se guardarmos .firme, até ao .fim, a ousadia e a exultaçáo da esperança (Hb 3.6b ARA). Eis como se tem traduzido esta porção do versículo: "Se guardarmos a ousadia e gloriarmo-nos da esperança firmes até o fim" (Moulton). O bispo Chadwick afirmou: Nos nossos dias, não há questão que aflija, como nos tempos antigos, o ministro fiel do Evangelho mais profundamente do que aquilo que possa ser a razão por que tantos convertidos esfriam na fé e caem e o que poderá ser feito para que tenhamos cristãos que permaneçam firmes e vençam. [Em Hebreus 3.6b] Talvez um estudo crítico das palavras parresiantraduzida como ousadia (ARA) ou confiança (ARe), kauchemacomo exultação (ARA) ou glória (ARe), dê-nos uma compreensão da natureza e da necessidade da firmeza na vida cristã. O primeiro vocábulo (parresian) denota o falar aberta e intrepidamente, sem temor das consequências, daí ter vindo a significar confiançaou ousadia. Não está ausente no vocábulo a ideia de liberdade de expressão, porém, na acepção de que tratamos, é liberdade sincera e reverente, que provém de um coração purificado, dilatado e posto em liberdade (Sl119.32). Para destacar com mais clareza o significado desse vocábulo, temos outra palavra grega, hedone (ijbovrí), que denota experiência alegre, despertada por circunstâncias favorávei~, ao passo que parresian (rraQQT)aí.av) é exatamente o oposto, significàndo aquela ousadia que vem de dentro e triunfa sobre todas as circunstâncias desfavoráveis. São essas qualidades -liberdade e ousadia- que vêm da unção do Espírito Santo, que habilitou de tal modo os discípulos no Pentecostes que eles anunciavam com ousadia a palavra de Deus (At 4.31c). Já a palavra kauchematraduzida como exultação (ARA), e todas as palavras da mesma família trazem em si a ideia de jactarse ou gloriar-se. O fato de a palavra ser traduzida como regozijar-se na Authorized Version talvez se deva a que, na Septuaginta, as palavras hebraicas que denotam gozo e alegria são geralmente traduzidas pelos mesmos termos. A palavra kauchemacomo é usada em Hebreus 3.6b, refere-se mais especialmente ao sujeito, enquanto kauchesis remete-se ao ato. Nossa esperança, pois, não é em nossos sentimentos, mas naquele que os inspira, e o objetivo do escritor da Epístola aos Hebreus é mostrar que alicerce abundante temos para ousadia exultação na
pessoa e obra de Jesus Cristo. Esta esperança está firme em si mesma e entesourada em Deus, mas o regozijarmo-nos nela com ousadia é nosso privilégio e dever. Westcott observou que "a esperança está relacionada com a fé, assim como a atividade energética da vida está relacionada com a própria vida". A esperança só pode chegar à sua realização perfeita quando inspira ousadia naqueles que a possuem. E esta esperança abundante é o centro da intervenção ativa, o segredo da firmeza e a fonte de exultação corajosa. É esta esperança que devemos manter firme se quisermos viver cheios do Espírito. A palavrakataschomen (Ka'IáXO!l.EV), guardar, traduzida como se guardarmos .firme (Hb 3.6b), é um subjuntivo aoristo\ o qual Westcott traduziu como "se guardarmos firme", e Vaughan, "se (quando o grande Dia vier) formos achados firmes". O caminho para a firmeza, então, é o da fé singela. Este caminho obtém de Deus, que é a nossa Vida, a alegria pela Sua presença, e encontra o motivo de sua ousadia naquele que é a base infalível de toda esperança. O Senhor nos dá mel tirado da rocha (Dt 32.13), saúde no meio da enfermidade, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado (Is 61.3 ARA).
Neste trecho do versículo, se guardarmos firme, até ao fim,  ousadia e a exultação da esperança (Hb 3.6b ARA), existe uma lição importante para todos os que querem ter sucesso na vida cristã. A firmeza e a perseverança são traços marcantes e essenciais do caráter cristão, e encontram sua única raiz na ousadia da esperança.  Pedro nos apresentou o fundamento desta esperança quando disse que Deus nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (1 Pe 1.3c). Tanto Paulo quanto João associaram esta esperança ao amor  Paulo afirmou claramente que todos os que são justificados pela fé têm em Cristo também uma graça mais profunda e abundante,  na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E  não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência (Rm 5.2,3). Acerca da ousadia ligada à experiência do perfeito amor, disse João: Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do juízo, mantenhamos confiança [ ... ] No amor não existe medo; antes, o petftito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é apetftiçoado no amor (1 Jo 4.17,18 ARA). Aqui se torna claro que o medo pode estar confundido com o amor na experiência dos cristãos. Existe, porém, uma experiência mais profunda em que o medo, que vem da dúvida e da desconfiança, é lançado fora, e o amor, aperfeiçoado. Não permitiremos, então, como casa de Deus, que Ele purifique o nosso coração, lance fora o medo e aperfeiçoe o nosso amor? Não nos é ordenado que amemos o Senhor nosso Deus com todo o coração, toda a alma, e todo o entendimento (Mt 22.37 ARA)? Odenou Ele alguma coisa impossível de ser realizada? Não. Então, guardemos, pois, firmes a ousadia e a exultação da nossa esperança até ao fim!
 
SEGUNDA ADVERTÊNCIA: NÃO ENDURECER O CORAÇÃO
Portanto, como diz o Espírito Santo, se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto. Hebreus 3.7,8
A rebeldia dos israelitas no deserto sob a liderança de Moisés se tornOU o motivo dessa advertência feita pelo escritor de Hebreus aos cristãos judeus, os quais ele evidentemente considerou como em iminenteperigo de cair também por causa da incredulidade. O episódio no deserto era muito apropriado para preveni-los contra a incredulidade que destruiu os seus pais. Esta segunda advertência está no polo oposto ao da primeira, e é dirigida contra uma condição mais sutil e perigosa. A primeira foi feita contra o ato de negligenciar a grande salvação, vista à luz da majestade do Filho de Deus; a segunda denuncia o endurecimento do coração como consequência da subestimação da pessoa e obra do Filho, vistas em Sua humilhação. O Filho de Deus é o mesmo, quer como Rei em Sua majestade, quer como Servo em Sua humilhação; seja na força de um Leão, seja na mansidão de um Cordeiro; como o Ancião de dias ou como a Criança de Belém; como o Portador do cetro do céu ou como Carregador do fardo do mundo. Por esta razão, o escritor da Epístola se remete diretamente à história de Israel como base de sua advertência. Esta se estende de Hebreus 3.7 a 4.13, com várias aplicações de uma só verdade aos cristãos. Visto que esta seção envolve outras verdades importantes, deve ser analisada e considerada em suas diversas divisões.
 
A VOZ DA CASA
Portanto, como diz o Espírito Santo Hebreus 3.7a
O escritor da Epístola aos Hebreus, de acordo com seu costume, alude diretamente ao Autor das Escrituras, em vez de ao instrumento humano, expressando, assim, sua crença irrestrita na  inspiração do Antigo Testamento. Ele parece aproximar-se desta advertência com cena hesitação e, considerando as Sagradas Escrituras como a voz de Deus a comunicar-se em cada passagem, introduz assunto com esta expressão profundamente significativa: Como diz Espírito Santo (Hb 3.7a).  O Espírito Santo, que inspirou a Bíblia, é o Seu intérprete autorizado. O que é pronunciado por Ele só pode ser entendido quando  Ele habita em um coração integralmente rendido e obediente. Observamos, em nossa discussão sobre os primeiros versículos  da Epístola aos Hebreus, que antigamente Deus falava pelos profetas, e a revelação que provinha deles era, portanto, externa, cerimonial e preparatória. Nestes últimos dias, Deus nos falou por intermédio de Seu Filho,  e esta revelação foi interna, espiritual e perfeita. Cristo, agora, habita no  coração do Seu povo, mediante a presença do Espírito Santo, e, assim, fala não somente nós, mas em nós. O Espírito Santo revela Cristo em nós e só Ele torna a Verdade vital e real em nossa experiência. Somente por intermédio dele é possível ter comunhão com o Pai e o Filho. O escritor de Hebreus quer deixar bem vivo em nós que o Espírito  fala tão-somente àqueles que, com o coração submisso e obediente, dão ouvidos à Sua voz.
 
1. Se ouvirdes hoje a Sua voz (Hb 3.7b)
Há uma palavra e uma expressão importantes que o Espírito usa livremente: hoje não endureçais o vosso coração. Satanás nos aconselha a postergar para amanhã [o que é para hoje], e a demora faz endurecer
2. Não endureçais o vosso coração (Hb 3.7c)
O escritor da Epístola não expressa essa advertência com suas próprias palavras. Ao contrário, usa o Salmo 95.7, apresentando-a com base na Palavra inspirada. A citação é retirada da Septuaginta, geralmente considerada como os próprios comentários do escritor ao aplicar esta passagem aos cristãos judeus. As palavras me sklerunte, em não endureçais, estão no subjuntivo aoristo e expressam, do modo mais enérgico, um único ato de endurecimento. O uso do subjuntivo aoristo com a negativa significa coibir a manifestação do que quer que seja. Na verdade, esta expressão significa nem mesmo o comeceis ou não façais uma vez que seja. Em certo sentido, esta combinação é ainda mais forte do que o imperativo simples. A imagem se prende à ressecação ou ao enrijecimento por doença, ou à rigidez fria daquilo que deveria ser maleável e macio. Nas Escrituras Sagradas, aplica-se ( 1) à própria ação do homem de recusar a graça e (2) à sentença judicial, que finalmente a confirma (Vaughan). A raiz dessa palavra, sklerunthei, como é usada em Hebreus 5.13, expressa o estado de incredulidade empedernida ou oposição obstinada à Palavra de Deus. A palavra coração, kardias, no Antigo Testamento, não se limita às afeições, mas é usada a respeito da pessoa na plenitude de seu intelecto, seus sentimentos e sua vontade (cf. Ef 4.18). Visto que o uso do aoristo com o subjuntivo denota exigências meramente negativas, estas palavras podem ser interpretadas não como as exigências peremptórias do imperativo, mas em um sentido de anseio ou desejo: "Oh, que hoje não endureçais os vossos corações!" Ellicott observa que o grego não admite o sentido em que as palavras são naturalmente tomadas, por exemplo, pelo leitor de língua inglesa: "Se estais dispostos a ouvir". O significado do hebraico é: "Hoje, oh, que deis ouvidos (isto é, obedeçais) à Sua voz!" ou "hoje, se derdes ouvidos à sua voz". As palavras tornam-se, assim, mais brandas como ordem ou exortação.
 
SITUAÇÃO NO DESERTO
Já foi chamada a atenção para o fato de que não se menciona a Páscoa na Epístola aos Hebreus, pois Israel já havia sido liberto da morte no Egito, por causa do sangue do cordeiro, aplicado nas portas das casas, e deixado a servidão pela mão poderosa e o braço estendido do Senhor (Dt 5.15). Os israelitas eram um povo redimido, peregrinando pelo deserto em direção à sua herança prometida, a terra de Canaã.
Jamais Israel estivera em situação mais favorável do que naquela manhã, quando, pelo poder de Deus, permanecera vitorioso sobre os inimigos na outra margem do mar Vermelho. O Egito e a servidão tinham passado para sempre. Adiante dos israelitas, estavam a nuvem e a coluna de fogo que os guiavam de dia e iluminavam-nos de noite. A glória da presença divina pairava sobre éles, e a terra da promessa estava diante dos seus olhos; a terra de vinhedos e bosques de oliveiras, de onde manava leite e mel (Dt 26.9). Mas os israelitas falharam e, daqueles 600 mil homens, entusiasmados com a primeira vitória, a apenas dois Uosué e Calebe] foi permitido entrar na Terra Prometida. Quanto ao restante de toda aquela geração, o que sabemos é que seus cadáveres permaneceram no deserto. Existem duas épocas distintas nesta história primitiva de Israel como nação. primeira foi o livramento da servidão no Egito; a segunda, o estabelecimento do povo em Canaã. Assim, também existem dois tipos de vida iniciados por estas crises: a vida temporária no deserto e a permanente em Canaã; ambas são necessárias ao crescimento e à glória do reino de Davi. E as Escrituras nos lembram que tudo isso lhes sobreveio [aos judeus] como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos (1 Co 10.1-4,11). Esses eventos históricos simbolizam duas crises na experiência cristã e dois tipos de vida ~ristá. À primeira das crises, Paulo chamou justificação, isto é, a libertação da culpa e do poder de nossos próprios pecados reais; a segunda é chamada o descanso da fé, sendo uma libertação do conflito interior entre a nova vida em Cristo, comunicada na regeneração, e a antiga, de acorco com a nossa natureza carnal. O faro de que o pecado, a tendência para o erro herdada [de Adão], permanecer no coração do regenerado é admitido por todos os
grandes credos da Igreja, e é claramente apresentado nas Escrituras.Por esta razão, lemos que o Senhor nos tirou [ ... ]para nos introduzir (Dt 26.8,9), ou, como disse Wesley: "somos justificados a fim de que
sejamos santificados". Cristo nos redime de toda iniquidade, para que possa purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras (Tt 2.14). Se o pecador pode sentir-se cônscio da paz que se segue à justificação (Rm 5.1), assim também o cristão pode ter consciência de um estado interior de pureza quando santificado inteiramente (At 15.8,9). Além disso, deve-se observar que os dois processos na consecução destes dois estágios da salvação são distintos e diferentes, passando do estado de rebelião para o de filiação, e do de imundície para o de pureza. Jamais se confundem os dois nas Escrituras; eles são indicados claramente por uma terminologia distinta.
 
PROVAÇÃO NO DESERTO
Não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto, onde vossos pais me tentaram, me provaram e viram, por quarenta anos, as minhas obras. Hebreus 3.8,9
O texto hebraico tem as palavras Meribá Massá (SI 95.8}, porém em Hebreus 3.8,9 são substituídas respectivamente por parapikrasmoiprovação, e peirasmou, tentação, seguindo os significados para aquelas naSeptuaginta.
Houve três eventos significativos na jornada desde o Egito até Cades-Barnéia, dos quais Deus se desagradou.
O primeiro foi a revolta do povo contra Moisés e Arão no deserto de Sim, pois não havia pão.
O segundo, a revolta em Refidim, pois não havia água para o povo beber.
O terceiro evento, o mais sério, foi em Cades-Barnéia, a partir de onde os israelitas entrariam no descanso prometido. Foi neste lugar que aquela geração de israelitas, recém saída do Egito, deu ouvidos à voz da incredulidade e do desânimo e, durante toda a noite, chorou e murmurou contra Moisés e Arão alegando que eles incentivaram o povo a sair do Egito, a fim de vê-lo morrer no deserto.
Não obstante, em cada uma dessas crises, o povo de Deus testemunhou as maravilhosas obras do Senhor. Os israelitas não tinham pão, mas Deus os alimentou com maná, o pão do céu. Não tinham água, mas da rocha ferida o Senhor lhes deu fontes no deserto. Além disso, Deus lhes deu inúmeras provas de que superariam todos os obstáculos e seriam introduzidos em segurança na Terra Prometida.
O caráter da incredulidade aparece, nas palavras epeirasantentaram-me, edokimasanpuseram-me à prova. primeira vem do verbo que significa julgar, quer sem antecipação do resultado [julgamento que o povo fez de Deus], quer com a presunção de achar o Senhor mau. segunda palavra é provar (na expectativa de encontrar o bem). Mas, na sua acepção aqui significa os homens experimentando [duvidando da bondade dele e pondo à prova] Deus, o Seu poder e a Sua paciência, o que revela o orgulho e a autossuficiência que alimentavam no coração. Esta atitude do espírito está longe da reverência, humildade e confiança. Assim, o escritor de Hebreus, ao descrever Israel, usa o vocábulo planontai (n:Aavwvrat), errar, em estes sempre erram [ou são desviados] em seu coração e não conheceram os meus caminhos (Hb 3.10bc}.
 
DEUS SE INDIGNOU CONTRA AQUELA GERAÇÃO INCRÉDUlA
Por isso, me indignei contra esta geração e disse: Estes sempre erram em seu coração e não conheceram os meus caminhos. Hebreus 3.10
O verbo indignar-se, na acepção aqui usada, traduz-se, às vezes, como ser provocado ou agravar-se. Visto que a palavra grega é enérgica, alguns acham que deveria ser traduzida como ficar desgostoso ouaborrecer-se. O vocábulo é prosochthisa (nQoawx8taa), composto de pros ochtecuja tradução literal seria banco de areia. No grego pós-homérico, o termo era aplicado aos navios que encalhavam. Em relação ao espírito, denota aversão ou hostilidade que uma pessoa nutre por outra, embora este significado só se encontre na Septuaginta. [Sendo assim, quando diz me indignei contra esta geração] Deus estava, pois, aborrecido, indignado, com aquela geração, com todos os que saíram do Egito com mais de 20 anos de idade. O Espírito Santo indica que a sede dos erros deles e das peregrinações estava no perverso coração de incredulidade (Hb 3.12 ARA), que não podia ver, compreender nem conhecer Deus. Por isso, sempre erravam no coração (Hb 3.1 O ARA). A expressão erram no coração significa que, em todas as experiências
e ocasiões, aquela geração de israelitas persistentemente se desviava de Deus, seduzida por vontades corruptas e afetos corrompidos. Em seu relacionamento com Deus, aqueles israelitas jamais se alçaram a uma concepção de fé na providência divina; tal é o poder do perverso coração de incredulidade.
 
1. Assim, jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso (Hb 3.11 ARA)
Urna vez que no versículo 10 é descrito o sentimento de Deus para com a geração incrédula do êxodo egípcio, em conformidade com este fato, no versículo 11 é anunciada a decisão que Deus pronunciou contra ela e que tal decisão era inapelável. Isto é justificado pelo emprego da palavra jurei, em grego omosafazer um voto ou juramento, rogar urna maldição. A partícula condicional ei d), se, na expressão se eles entrarem,era parte da fórmula hebraica de maldição, e pode ser interpretada da seguinte maneira: "Se eles entrarem, não sou Jeová". Deus tem prazer em Seus filhos, mas desgosta-se com os que preferem os maus caminhos. Por isso, recompensa os que o servem e pune os incorrigíveis, sendo tudo feito de acordo com os princípios de justiça e santidade. O vocábulo descanso vem da palavra composta katapausinque deriva do verbo pauo (naúw), deter-se, cessar, dar descanso. Esse vocábulo com a preposição kata contém a ideia de permanência ou radicação na herança prometida. É o oposto de anapausisque significa descanso por cessação de trabalho, e pode ser apenas temporário. O descanso que Deus tinha para os israelitas era em Canaã; o descanso de um tempo da servidão do Egito e das exaustivas peregrinações no deserto. O Senhor chama meu descanso porque prometera ao Seu povo, livrando-o da servidão no Egito para o introduzir em Canaã, como lugar de habitação permanente [não mais de peregrinação].
Proibido de entrar em Canaã por causa da incredulidade, Israel foi condenado a peregrinar pelo deserto por um período de 40 anos. Essas jornadas pelo deserto se caracterizaram pela falta de objetivo, inquietude e insatisfação. Falta de objetivo porque os israelitas não o tinham nessas viagens inquietude porque se mudavam de um lugar para outro sem nada possuir; e insatisfação que vinha de profundos anseios por coisas melhores. Tudo isto é igualmente característico daqueles que, tendo-se iniciado no caminho cristão e tendo mesmo feito certo progresso nele, voltam as costas, pelo medo e pela incredulidade, para o descanso da fé a eles prometido, dirigindo-se de novo ao deserto da desesperança.
 
UMA EXORTAÇÃO E UMA ADVERTÊNCIA
Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo. Hebreus 3.12 ARA
Neste versículo a advertência continua, dando ênfase à incredulidade como causa do endurecimento do coração .. A advertência contra a incredulidade se completa no capítulo seguinte. A palavra irmãos indica o término da citação anterior do Salmo 95 e deixa claro que o autor de Hebreus está falando, do seu próprio coração, acerca da preocupação de que os cristãos judeus não sigam o mesmo exemplo de incredulidade.
A palavra blepete (~AÉm:n:), traduzida como tende cuidado, está no imperativo presente, tempo verbal do grego que expressa duração linear, contínua- tende [sempre] cuidado. O caráter abrupto da introdução não está em harmonia com o interesse do escritor da Epístola pela suavidade de estilo, mas pode ter sido sua intenção despertar os leitores para a seriedade da advertência. A expressão en tivi humonem qualquer de vós, poderia ser traduzida igualmente como em algum de vós, e mostra profundo zelo por todos a quem escreve individualmente. Esta individualização do texto é um apelo do coração fraternal e amante que não deseja que um sequer se perca. Existe, porém, ainda outro significado. O autor da Epístola teme que algum dos cristãos comece a desviar-se e passe a influenciar os outros. É o mesmo pensamento que ele expressa depois, como temor de que haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados (Hb 12.15 ARA). 1. Perverso coração de incredulidade (Hb 3.12 ARA)
O escritor da Epístola aos Hebreus atribui o fracasso dos israelitas quanto à entrada em Canaã a um perverso coração de incredulidade, por isso adverte os cristãos quanto à origem real do fracasso: o coração impuro, não-purificado [por Cristo]. O vocábulo perverso, neste caso, não é kakos, termo aplicado ao mal segundo a sua natureza, mas ponera, isto é, o mal segundo os seus efeitos. Os sinônimos para perversosão depravado, maligno ímpio. A palavra original que significa perverso denota aquele que planeja a maldade, daí Satanás ser chamado ho ponerosO maligno. A palavra traduzida como incredulidade é apistías(àmmíaç), e está em oposição direta a pistis,Jé, exibindo-se o contraste mais claramente no grego do que em nossa língua. Pistis traz em si mais a ideia de descrença, ou de recusa em crer, do que a mera noção de incredulidade. O coração perverso, kardia ponera, é manifesto pela incredulidade, ou desconfiança de Deus, pelo erro persistente e pela perversidade na vontade e no inte~ecto obscurecido, fazendo  corn que a pessoa não compreenda os caminhos de Deus. Assim, pois, a perversidade não reside apenas na vontade, nas afeições ou no entendimento, mas na corrupção de todo o coração ou ser, segundo a acepção usada pelos judeus. O perverso coração de incredulidade é, portanto, apenas outro norne para aquela coisa odiosa que Paulo chamou de o velho homem, corpo do pecado (Rm 6.6); a outra Lei nos seus membros (Rm7.23) e a inclinação da carne, que é inimizade contfa Deus (Rm 8.7). Nas palavras de Wesley, é a "tendência para pecar", pois tende a resultar em pecados reais, que trazem culpa e condenação. Nosso Senhor tornou clara esta inclinação quando disse: Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus (Mt 7.17). O caráter da árvore determina a qualidade dos frutos que ela produz. Ensinou que existe uma natureza que é a origem do ato, e ambos necessitam do sangue que Ele verteu na cruz para fazer expiação por nossos pecados; o ato, para ser perdoado, e a natureza pecaminosa, para ser  purificada. O perverso coração, ou pecaminoso, manifesta-se, como observou o escritor de Hebreus, afastando-nos do Deus vivo (Hb 3.12 ARA). O verbo afastar-se é apostenai (àTIOO"'L~vm), que, às vezes, é traduzido como desviar-se. Daí a nossa palavra apostasia, que sugere o fim terrível a que a descrença ou desconfiança de Deus naturalmente conduzem. A forma verbal [ajàste] é uma palavra composta, apistemi
(àTIÍ.U'LEflL), que, no infinito aoristo2, expressa um caráter definitivo ou real. Assim, a palavra incredulidade [nessa advertência em Hebreus 3.12] é compreendida [por influência do verbo afaste que a segue] comotendo crido e se desviado ou afastado do Deus vivo. A expressão Deus vivo é anarthous, não havendo artigo no grego. É um hebraísmo, comum no Antigo Testamento, por meio do qual Jeová era contrastado com os ídolos inanimados dos pagãos. Literalmente significa Deus cheio de vida; um Ser benévolo, que ama e deve ser amado; cheio de bondade e verdade, benignidade e misericórdia, socorro bem presente na hora da angústia (SI 46.1). Essa expressão "Deus vivo" - ocorre quatro vezes nesta Epístola.
Alguns escritores modernos, seguindo uma psicologia superficial, têm asseverado que é impossível saber se o coração foi purificado do pecado, pois, dizem eles, o pecado pode estar oculto no subconsciente e, portanto, fora do alcance da consciência. É uma tese falsa, porém antiga. O Dr. ]. A. Wood, em Purity and maturity, publicado antes de 1876, afirma que o Dr. Curry, em uma conferência à Convenção de Pregadores de Nova Iorque, expressou dúvida quanto ao estado purificado ser consciente. Disse ele: "A consciência toma conhecimento dos processos da alma, mas o raio de sua observação não se estende aos
estados latentes ou quiescentes". Ao que o Dr. Wood replicou: Que são descanso, liberdade da condenação, paz e repouso, senão estados quiescentes da alma, dos quais podemos estar tão clara e positivamente
conscientes como de qualquer outro dos processos da alma [ ... ] Os santificados podem ficar tão positiva e plenamente conscientes de pureza, como os não-santificados, da impureza. (Woon, Purity and maturity,p. 1 09)
2. Exortai-vos mutuamente cada dia durante o tempo que se chama Hoje (Hb 3.13a ARA)
Os cristãos viviam sob o perigo iminente de apostatar, pelo que o autor da Epístola aos Hebreus sugere um meio a ser empregado para prestar assistência a todos os indivíduos, a fim de que perseverem na fé. A base é a afeição fraternal que leva à admoestação mútua; assim é que se mantém a integridade de todo o Corpo. Logo, os cristãos deviam estimular-se reciprocamente. A palavra estimular ou encorajar [em Hebreus 3.13, traduzida como ex-ortar] é parakaleite (7taQaKai\c'lu:), derivada do substantivo Paracletos, Consolador, na acepção usada por nosso Senhor quanto ao Espírito Santo. O pronome vos [em exortai-vos,é reflexivo; significa a vós mesmos] é heautõs (cau;rouç), e é usádo em lugar de allellousconforme se encontra em Efésios 4.32. Praticamente, náo existe diferença entre os dois, acreditava Vaughan, pois o primeiro é uma alusão ao conjunto unificado dos cristãos, e, quando cada um estimula a si próprio, está encorajando todo o Corpo do qual é membro. A expressão cada dia é hekasten hemeran - literalmente todos os dias- e sugere que essas admoestações mútuas sejam frequentes e contínuas. Na expressão durante o tempo que se chama Hoje, em grego usase o artigo definido, o Hoje. Evidentemente o autor se referia à citação anterior do Salmo 95.7, se hoje ouvirdes a sua voz. A expressão inteira significa enquanto se chamar o Hoje. Lindsay observou que o tempo a que essa expressão alude é a vida presente, a qual, por causa da sua brevidade e incerteza, pode bem ser apelidada de um dia. D~sse ele: "O momento presente é nosso: não
sabemos o que haverá amanhã; e, se desperdiçarmos o nosso dia de misericordiosa visitação, não teremos nova oportunidade de voltarmo-nos para o Senhor e alçarmo-nos à glória".
 
3. A fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado (Hb 3.13b ARA)
A ênfase aqui não é sobre a qualidade moral do engano, mas sobre o engano como meio pelo qual o coração se ilude. A palavra apatetraduzida como engano, está no caso instrumental e significa fraude ou engano da mentira, pelo qual alguém é levado ao erro e ao pecado. Este engano, contudo, não é puramente passivo, no sentido de uma pessoa inocente ser enganada por outrem, pois está associado com tes hamartiaso pecado; logo, significa engano próprio. A pessoa torna-se, a um tempo, a enganadora e a enganada, por isso esse engano acarreta culpa. Alguns dizem que o pecado aqui mencionado deve ser identificado ou com a incredulidade, ou com a apostasia mencionada no contexto. Isto não é possível, uma vez que as palavras apostenai  sklerunthei descrevem um estado de coração  empedernido e, portanto,hamartia (áfla.Qrría) não pode significar a mesma coisa, a menos que se suponha que o escritor de Hebreus confunda a causa com o efeito. Mas ele é específico; chama-o tes hamartiaso pecado, e assim o identifica como a causa. É ao perverso coração, que se manifesta pela incredulidade, que ele se refere; é ao pecado inato ou à degeneração herdada, que permanece mesmo no regenerado até que o coração seja purificado pelo sangue de Jesus Cristo (1 Jo 1.7,9). É ao pecado de que Paulo falou quando escreveu: Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? (Rm 6.1). O próprio apóstolo apresentou a lacônica resposta:  De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? (Rm 6.2). Aqui temos outra vez o artigo usado com a palavra pecado, tei hamartiaipecado mencionado neste trecho, diz-nos depois o escritor da Epístola aos Hebreus, é removido pela santificação.
 
PARTICIPANTES DE CRISTO
Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. Hebreus 3.14
A palavra metochoi (fltrroxm), traduzida como participantes, também pode ser traduzida como sócios, parceiros ou companheiros. A expressão companheiros de Cristo [como vemos na NTLH] talvez pudesse referir-se ao fato de que, como Israel antigo, na jornada para a Terra Prometida, foi companheiro de Moisés, assim, na jornada espiritual da vida, deveremos ser companheiros de Cristo. Todavia, parece haver base mais sólida para a tradução participantes, porque, como Cristo, ao participar de nossa carne e de nosso sangue (Hb 2.14), tornouse um de nós, somos espiritu.almente participantes dele. Este é um pensamento precioso, que a nossa salvação consiste na posse da natureza de Cristo. Ele é o nosso caminho, a nossa verdade e a nossa vida Oo 14.6). Não somos meros companheiros em um sentido exterior, mas participantes de uma vida comum. Cristo habita em nós mediante o Espírito, em uma comunhão mais rica e mais profunda; e esta comunhão interior, espiritual, é uma experiência contínua com as novas manifestações de Sua presença diarian'iente. Existe um erro mais ou menos predominante de que a salvação operada por Cristo é algo a ser mantido independente de uma comunhão  com Ele e dos méritos da expiação por meio do Seu sangue. Éum erro perigoso que, por força, conduz às trevas e à confusão. A experiência cristã genuína é uma comunhão consciente com Cristo, e é tão-somente pelo reconhecimento dela que o sangue de Jesus vertido na cruz purifica o coração de todo pecador e mantém este inculpável diante do trono de Deus (1 Jo 1.7). Existe uma semelhança entre as expressões se guardarmos firme,
até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança (Hb 3.6b ARA) e se, de foto, guardarmos firme, até ao fim, a confiança (Hb 3.14b ARA). Em cada um dos casos, a referência é a indivíduos que receberam a salvação por Cristo, embora haja alguma variação na linguagem. A palavra kataschomen (KarráoXWflEV), guardarmos, é a mesma em ambos os versículos, como também bebaian (~E~aíav), traduzida no primeiro como firme, referindo-se à casa de Deus, e no segundo igualmente, sendo aqui um termo náutico que significa manter um curso firme (Ar 27.40).
A palavra tornado, em porque nos temos tornado (Hb 3.14a ARA), referindo-se a participantes de Cristo, é gegonamen (yEyóva.flEV), e não é o equivalente de esmen ( EO"flÉV ). Provém do verbo ginomai, e, estando no perfeito, denota ação passada, cujos efeitos continuam até o momento presente. Em uma tradução literal, teríamos: temo-nos tornado e continuamos a ser participantes de Cristo. A palavra confiança,usada no sentido anterior (Hb 3.6b ARA.), é parresian e significa ousadia no falar; aqui- em se, de foto, guardarmos firme, até ao fim, a confiança (Hb 3.14b ARA)-, a palavra é hypostaseossegurança. O princípio da nossa confiança foi pela fé em Cristo, sendo que o espírito de adoção nos habilitou a clamar do fundo do nosso ser: Aba, Pai (Rm 8.15). A isto se acrescentou outro testemunho, o do Espírito, que testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.16). Mas o perdão dos pecados e o recebimento de uma nova vida são apenas o princípio da comunhão com Cristo. Outro vocábulo igualmente significativo, associado a este progresso na comunhão com o Senhor, é purifica, que nunca é usado indiferentemente com um e outro dos vocábulos precedentes. Referese, de maneira específica, ao ato completo de purificação, à remoção do pecado ou à purificação do perverso coração de incredulidade, que é a base de uma comunhão mais profunda e constante. Esse vocábulo encontra-se na seguinte passagem: Se, porém,
andarmos na luz, como ele está na luz [só os cristãos têm a luz, e só os espiritualmente vivos podem andar nela], mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado (1 Jo 1.7 ARA). Mas a conjunção condicional se envolve todo o pensamento de progresso espiritual: se, de fato, guardarmos firme a confiança até ao fim; se andarmos na luz, então, esta comunhão com Deus será mantida, e o sangue precioso de Jesus será válido para limpar-nos de todos os pecados passados, cometidos por ignorância ou deliberação; de todas as impurezas passadas, contraídas ou herdadas; e de todas as fraquezas e enfermidades que o homem decaído herdou. Qual é o alvo que desejamos atingir? Na verdade, são dois: o imediato é o descanso da fé, para o qual o escritor de Hebreus agora dirigirá a nossa atenção, e o final é o descanso celestial em uma pátria melhor. O estudo técnico destes dois versículos - Cristo, porém, como ·. Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim,
a ousadia e a exultação da esperança (Hb 3.6 ARA) e Porque nos temos tornado participantes de Cristo,, se, de foto, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos (Hb 3.14 ARA) - serve para corrigir dois erros comuns e perigosos, segundo os quais:
1. É pela nossa perseverança que nos tornamos participantes de Cristo - uma salvação procurada pelas obras, e não pela fé; e 
2. Os que deixam de perseverar até ao fim..jamais principiaram verdadeiramente. Isto nega o testemunho do Espírito dado a todos os que nascem na família de Deus e, ainda mais, torna sem fundamento a necessidade destas advertências.
 
PARALELO E AS EXORTAÇÕES FINAIS
Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação. Porque, havendo-a alguns ouvido, o provocaram; mas não todos os que saíram do Egito por meio de Moisés. Mas com quem se indfgnou por quarenta anos? Não foi, porventura, com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto? E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes? E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade. Hebreus 3.15-19
Como nos versículos precedentes, o escritor da Epístola aos Hebreus dirige novamente a sua exortação e a sua advertência aos cristãos judeus, mencionando mais uma vez o Salmo 95. Agora, contudo, a advertência é apresentada em forma interrogativa. Antes de Bengel\ mal ocorreu a alguém que a palavra tines, no início do versículo, tinha forma interrogativa tínes (·dw:ç), e não tinés (nvtç), o pronome indefinidoalguns, sendo a única diferença o acento. A série de perguntas dramáticas e retóricas é como segue: 1-Quem, tendo ouvido a voz de Deus, prevaricou? Não foi mesmo povo libertado do Egito? (Exceto Calebe e Josué.)
2-Contra quem o Senhor se indignou durante 40 anos? Não foporventura, com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto? (v. 17b).
3-E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes? (v. 18).
A esse respeito, Lowrie afirmou: Temos de admirar a sua habilidade. Ele [o autor da Epístola aos Hebreus] faz a aplicação com vigor lacônico e energético, de sorte que deve ter caído no coração dos seus leitores com imperuosidade desarmante, que nada poderia desviar, o que deve ter sido da maior eficácia junto aos que ainda não se tinham endurecido. (LowruE, An explanation o the Epistle to the Hebrews, p. 1 09)
 
 
AJUDA BIBLIOGRÁFICA
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O Novo Dicionário da Bíblia - J.D.DOUGLAS.
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Comentário Bíblico Beacon, v.5 - CPAD.
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CHAMPLIN, R.N. O Novo e o Antigo Testamento Interpretado versículo por Versículo. 
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
AS GRANDES DEFESAS DO CRISTIANISMO - CPAD - Jéfferson Magno Costa
O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edições Vida Nova – J. D. Douglas
Comentário Bíblico Expositivo - Novo Testamento - Volume I - Warren W. Wiersbe
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www.ebdweb.com.br
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Comentário Bíblico TT W. W. Wiersbe
Teologia Sistemática Pentecostal - A Doutrina da Salvação - Antonio Gilberto - CPAD
Bíblia The Word.
Teologia Sistemática - Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - A Salvação - Myer Pearman - Editora Vida
CRISTOLOGIA - A doutrina de JESUS CRISTO - Esequias Soares - CPAD
Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - Myer Pearman - Editora Vida
Dicionário Bíblico Wycliffe - CPAD
Teologia Sistemática de Charles Finney
A CARTA AOS HEBREUS - Introdução e Comentário por DONALD GUTHRIE - SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA E ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTÃO
SÉRIE Comentário Bíblico - HEBREUS - As coisas novas e grandes que DEUS preparou para vocè - SEVERINO PEDRO DA SILVA
A Excelencia da Nova Aliança em CRISTO - Orton H Wiley - Comentário Exaustivo da carta aos Hebreus - Editora Central Gospel - Estrada do Guerenguê . 1851 - Taquara I 11111 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22713-001 PEDIDOS: (21) 2187-7090 .

http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao3-asc-1tr18-a-superioridade-de-jesus-em-relacao-a-moises.htm