Lição 1, Parábola: Uma Lição Para a Vida 4º Trimestre de 2018 - As Parábolas de JESUS: As Verdades e Princípios Divinos para uma Vida Abundante
Comentarista: Wagner Tadeu Gaby, pastor presidente da Assembleia de DEUS em Curitiba (PR) Complementos, Ilustrações e Vídeos: Pr. Luiz Henrique de Almeida Silva - 99-99152-0454.
“E sem parábolas nunca lhes falava, porém tudo declarava em particular aos seus discípulos.” (Mc 4.34) VERDADE PRÁTICA
As parábolas são uma forma instrutiva para se ensinar grandes lições, e delas podemos extrair as inspirações e os ensinamentos divinos para a vida cristã.
LEITURA DIÁRIA
Segunda – Mc 4.33 JESUS ensinava de forma clara
Terça – Mc 4.34 O Mestre ensinava por parábolas
Quarta – Mt 13.10-12 As parábolas e o Reino de DEUS
Quinta – Mt 13.13-15 Fácil para uns, difícil para outros
Sexta – Mt 15.15,16 Os discípulos não entendem
Sábado – Mc 4.1,2 JESUS ensina uma multidão LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Mateus 13.10-17
10 – E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? 11 – Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; 12 – porque àquele que tem se dará, e terá em abundância; mas aquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. 13 – Por isso, lhes falo por parábolas, porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem. 14 – E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis e, vendo, vereis, mas não percebereis. 15 – Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviu de mau grado com seus ouvidos e fechou os olhos, para que não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e compreenda com o coração, e se converta, e eu o cure. 16 – Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. 17 – Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não o viram, e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram. Resumo da Lição 1, Parábola: Uma Lição Para a Vida I – O QUE É PARÁBOLA
1. Conceito. 2. Distinção entre a parábola e outras figuras de linguagem. 3. Aplicação de uma parábola. II – CONTEXTO SOCIAL E LITERÁRIO
1. Galileia no tempo de JESUS. 2. Jerusalém no tempo de JESUS. 3. Contexto literário: os Evangelhos. III – COMO LER UMA PARÁBOLA
1. Entendendo a narrativa como a síntese das experiências cotidianas. 2. Procurar as declarações explícitas e implícitas do agir de DEUS no contexto literário. 3. Identificar a aplicação prática da parábola. Resumo Rápido do Pr. Henrique da Lição 1, Parábola: Uma Lição Para a Vida INTRODUÇÃO Nos relatos sobre o ministério de Jesus, não nos é possível demarcar uma separação nítida entre pregação e ensino, tão entrelaçados que um não pode ser totalmente separado do outro. Marcos, constantemente descreve Jesus ensinando: Mc.4:1-2; 6:2; 8:31; 9:31; 12:35. Para as multidões que se amontoavam ao redor de Jesus, Ele era mais um mestre do que um profeta. Ele era constantemente chamado "Mestre" ou "rabino" porque seu ensino tinha em si uma autoridade e um poder tal que o diferenciava claramente dos rabinos da época. Depois da ressurreição, os discípulos e apóstolos foram igualmente pregadores e mestres ( Mt. 28: 19-20; Mc.16:15; At. 5:42 ). Isto evidentemente significa que para os homens que conheciam Jesus pessoalmente, o ensinar e o pregar não eram idênticos, mas interdependentes, ao ponto de um não ser superior ao outro. Paulo, considerando Jesus a essência da mensagem, também utilizava todos os meios possíveis de comunicação para transmitir suas idéias. Ele pregava e ensinava em todas as igrejas por onde passava. Assim, constatamos que pregação e ensino fazem parte essencial do ministério de Jesus, da Igreja primitiva e da Igreja dos nossos dias. Jesus tem consciência de que sua prática é a culminância da história do povo de Israel. Essa consciência é precisamente sua consciência messiânica de ser o revelador pleno e último da vontade do Pai e a vitória definitiva de seu Reino. Esta perspectiva histórica permite que Jesus viva, na encruzilhada das contradições, o tempo do presente singular, tempo do companheirismo, da amizade e da solidariedade horizontal, onde se manifestam a fé, a esperança, o amor e a misericórdia. Jesus toma uma posição radical que lhe vale a morte de cruz, aceita com a coerência que sua prática determina. Vamos focalizar nosso olhar sobre o cotidiano de Jesus, seus gestos e sua prática pedagógica em seus contatos criadores da vida e da esperança, utilizando para isto seu ensino através de Parábolas. Vamos agora aprender na didática de JESUS, os mistérios de DEUS, revelados de maneira simples através das parábolas que o mestre dos mestres nos transmitiu. Nada de passar à frente de JESUS e nada de tentar colocar significado em tudo, entreguemos-nos inteiramente ao ESPÍRITO SANTO para que o mesmo nos auxilie na compreensão de tão maravilhosos ensinos. As Parábolas possuem relacões, conceitos e valores, indicando as inter-relações de suas unidades constitutivas. Exemplo de Parábolas
PARÁBOLAS | TÍTULOS | TEXTOS ÁUREOS | ENSINOS | SINOPSES | O QUE FAZER E SER |
1 | AS PARÁBOLAS NO ENSINO DE JESUS | (Mt 13.34,35) | Introdução e definição teológica das parábolas no ensino de JESUS | Não procurar em cada elemento da parábola em significado espiritual | Receptivo aos ensinos de JESUS contidos nas parábolas |
2 | COMPREENDENDO A MENSAGEM DO REINO DE DEUS | (Mt 13.11) | A parábola do SEMEADOR | É nosso dever prioritário, como seus servos, semear a Palavra de Deus utilizando todos os meios, “a tempo e fora de tempo”, como está dito em 2 Tm 4.2. | É urgente a evangelização mundial, por intermédio da pregação e do ensino da Palavra. |
3 | A DIFERENÇA ENTRE O JUSTO E O INJUSTO | (Mt 13.38) | A parábola do Trigo e do Joio | coexistência da igreja com o mal no tempo presente | “Vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente” |
4 | A EXPANSÃO DO REINO DOS CÉUS | (Mt 13.31) | A parábola da SEMENTE DE MOSTARDA | “Crescimento da igreja no mundo” | uma semente tão pequena é capaz de produzir um grande resultado |
5 | CRISTO, O TESOURO INCOMPARÁVEL | (Mt 6.21) | A Parábola do Tesouro Escondido | Ensinar sobre o supremo valor do Reino dos céus. | Viver realmente felizes aqui na terra, tendo dEle a certeza da vida eterna. |
6 | LANÇAI A REDE | (Mt 13.47) | A Parábola da Rede | Convivência temporária nesta vida entre os bons e os maus, e a separação final entre eles. | Período em que a humanidade é convocada à salvação. |
7 | FIDELIDADE E DILIGÊNCIA NA OBRA DE DEUS | (1 Co 4.2) | A Parábola dos Talentos | Recebemos algum dom de Deus a fim de usá-lo no progresso do Reino;existem servos infiéis e injustos | Multipliquemos os talentos que recebemos do Senhor Nosso Deus. |
8 | O GRACIOSO PERDÃO DE DEUS | (Mt 18.21,22) | A Parábola do Credor Incompassivo | A abundância da misericórdia é que deve formar a base da moral cristã | O perdão no âmbito humano é o ato de anularmos a dívida de cometimento de faltas, ofensas, erros e pecados que nosso irmão contraiu de nós, sem jamais lançar isso em rosto, ou ficar lembrando |
9 | CRISTO, A ROCHA INABALÁVEL | (Sl 127.1) | Na Parábola dos Dois Alicerces | Dois tipos de homens: o sensato e o insensato | Portanto, a obediência é um aspecto fundamental da nossa fé (Tg 1.22-25; 2.14-20). |
10 | A JUSTIÇA E A GRAÇA DE DEUS | (Mt 20.16) | A Parábola dos Trabalhadores na Vinha | Jesus ensina que a justiça divina não é conforme a capacidade e mérito pessoal (Mt 20.10), mas segundo a sua misericórdia e graça. | Não se trabalha na vinha de Deus visando recompensas ou vantagens. É direito de todos. Pequenos e grandes, pobres e ricos, todos são tratados de igual modo na vinha do Senhor. |
11 | REALIZANDO A VONTADE DO PAI | (2 Co 7.10) | A Parábola dos dois filhos | Todos foram convidados para trabalhar na vinha de Deus. 1filho- Publicanos, às meretrizes, aos gentios em geral 2filho- Às autoridades religiosas judaicas | Nossas intenções para com Deus serão reveladas principalmente por meio de nosso comportamento. |
12 | VIGIAI, POIS NÃO SABEIS QUANDO VIRÁ O SENHOR | (Mt 25.13) | A parábola das dez virgens | Vigilância quanto ao iminente retorno de Cristo | Devemos estar sempre preparados e atentos ao grande momento da vinda de Jesus para a Igreja. Você está preparado para este grande dia? |
13 | AS BODAS DO FILHO DE DEUS | (Mt 22.14) | A parábola das Bodas do Cordeiro | Só participarão das Bodas do Cordeiro, preparadas pelo Pai celestial, os que estiverem com suas vestes adequadas, isto é, trajados com a “justiça dos santos” (Ap 19.8).Rejeição de Israel à obra de Cristo | Não podemos desprezar o convite para as bodas do Cordeiro. Como, porém, aceitar este convite? Recebendo a Cristo como o nosso único e suficiente Salvador. |
1. Conceito. É uma narrativa, imaginada ou verdadeira, que se apresenta com o fim de ensinar uma verdade. Difere do provérbio neste ponto: não é a sua apresentação tão concentrada como a daquele, contém mais pormenores, exigindo menor esforço mental para se compreender. E difere da alegoria, porque esta personifica atributos e as próprias qualidades, ao passo que a parábola nos faz ver as pessoas na sua maneira de proceder e de viver. E também difere da fábula, visto como aquela se limita ao que é humano e possível. No A.T. a narração de Jotào (Jz 9.8 a 15) é mais uma fábula do que uma parábola, mas a de Natã (2 Sm 12.1 a 4), e a de Joabe (14.5 a 7) são verdadeiros exemplos. Em Is 5.1 a 6 temos a semi-parábola da vinha, e, em 28.24 a 28, a de várias operações da agricultura. o emprego contínuo que Jesus fez das parábolas está em perfeita concordância com o método de ensino ministrado ao povo no templo e na sinagoga. Os escribas e os doutores da Lei faziam grande uso das parábolas e da linguagem figurada, para ilustração das suas homílias. Tais eram os Hagadote dos livros rabínicos. A parábola tantas vezes aproveitada por Jesus, no Seu ministério (Mc 4.34), servia para esclarecer os Seus ensinamentos, referindo-se à vida comum e aos interesses humanos, para patentear a natureza do Seu reino, e para experimentar a disposição dos Seus ouvintes (Mt 21.45 - Lc 20.19). As parábolas do Salvador diferem muito umas das outras. Algumas são breves e mais difíceis de compreender. Algumas ensinam uma simples lição moral, outras uma profunda verdade espiritual. Neander classificou as parábolas do Evangelho, tendo em consideração as verdades nelas ensinadas e a sua conexão com o reino de Jesus Cristo. http://www.bibliaonline.net/scripts/dicionario.cgi “Parábola, do grego parabolé, significa “colocar ao lado de”, o sentido básico é o de colocar uma coisa ao lado de outra com o objetivo de comparar. A parábola envolve uma contradição aparente apresentada em forma de narração, relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de declarar ou ilustrar uma ou várias verdades importantes. A- Definição etimológica. As parábolas de Jesus: vislumbres do paraíso
"Parábola", a forma aportuguesada da palavra grega, parabole, vem de um verbo grego que significa "atirar para o lado". Uma parábola é uma história que coloca uma coisa ao lado de outra com o propósito de ensinar. É uma comparação, colocando o conhecido ao lado do desconhecido. Memoravelmente expressada, ela é "uma história terrestre com um significado celestial".
A palavra grega para parábola ocorre cerca de cinqüenta vezes no Novo Testamento, somente duas vezes fora dos evangelhos (Hebreus 9:9 e 11:19, onde é traduzida como "figuradamente"). Em Lucas 4:23 ela é traduzida "provérbio" (RA2,NVI). É conhecida característicamente como uma narrativa "um pouco longa ... tirada da natureza ou das circunstâncias humanas, o objeto da qual é dar uma lição espiritual" mas também é "usada como um breve ditado ou provérbio" (W. E. Vine, Expository Dictionary of NT Words, p. 158). B- Definição hermenêutica. Por causa da incerteza do que exatamente constitui uma parábola, as listas das parábolas de Jesus que têm sido compiladas variam em extensão de acordo com o julgamento do compilador. As listas mais longas incluem tais ilustrações como "o bom pastor" (João 10) e "os dois construtores" (Mateus 7:24-27). As listas mais curtas excluem-nas.
Se não podemos determinar com exata certeza se algumas ilustrações de Jesus merecem ser chamadas parábolas, há algumas coisas sobre parábolas que estão fora de dúvida.
Parábolas não são fábulas ou mitos. Não há elementos irreais ou situações impossíveis nelas. De fato, sua força está em serem absolutamente concebíveis e na plausibilidade das circunstâncias que elas descrevem. Elas falam de situações familiares, da vida real.
As parábolas são mais do que provérbios, ainda que às vezes semelhantes em propósito. Nos evangelhos, os provérbios são referidos às vezes como "parábolas": "Médico, cura-te a ti mesmo" (Lucas 4:23); "Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco" (Mateus 15:14-15); "Ninguém tira um pedaço de veste nova e o põe em veste velha;" "E ninguém põe vinho novo em odres velhos..." (Lucas 5:36-37). Mas um provérbio é caracteristicamente um ditado curto e direto, cujo significado é evidente. Uma parábola tende a ser mais longa, mais envolvida, e o significado não tão facilmente visto.
Jesus, até onde sabemos, não começou a ensinar por parábolas antes do fim do segundo ano de seu ministério público (há uma única exceção, Lucas 7:41-42). Foi na presença de uma imensa multidão próximo do Mar da Galiléia, e suas comparações ilustrativas vieram com um ímpeto que surpreendeu seus discípulos (Mateus 13). Em histórias maravilhosamente concretas e simples, Jesus revelou aos seus seguidores os mistérios do reino do céu. Era apenas o começo. Este é um convite para estudar aquelas narrativas maravilhosas que nos convidam a olhar para o próprio coração de Deus. (por Paul Earnhart). C- A bíblia é um livro rico em parábolas. Parábolas sempre foram utilizadas como meio de fixar idéias, não era diferente com o povo de Israel, desde os primeiros profetas este povo aprendeu, por meio de parábolas, as advertências de DEUS a respeito de seu comportamento em meio a outros povos. 2. Distinção entre a parábola e outras figuras de linguagem. Parábolas, Símiles, Enigmas e Alegorias. A parábola possui diferenças e semelhanças com outras figuras de linguagem. Essas semelhanças, todavia, não devem ser confundidas, pois pode ocorrer o erro de fundir duas figuras distintas. As diferenças notam-se sutilmente. Essencialmente, a parábola é um símile ampliado, ainda que o símile não seja uma parábola. Símile e Parábola O símile pode apropriar-se de uma comparação de qualquer gênero ou classes de objetos, uns reais e outros imaginários. A parábola está limitada em seu raio de ação e reduzida às coisas reais. Suas imagens sempre incorporam uma narração que responde com verdade aos atos e experiências da vida humana. Na parábola, também não se emprega artifício de prosopopéia como na fábula: aves e árvores falantes, feras e árvores reunidas em concílio etc. Como o enigma, a parábola pode servir para ocultar alguma verdade dos que não possuem introspecção espiritual. Para perceber sua forma figurada, porém, seu estilo narrativo e a comparação formal sempre anunciam a suposta lição moral, ética ou espiritual pretendida.” (BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e descomplicada. RJ: CPAD, 2003, p. 321.) Leia mais Revista Ensinador Cristão CPAD, nº 22, pág. 36. 3. Aplicação de uma parábola. A- Objetivo didático. As parábolas de Jesus, veículo fundamental para seu ensino, se inspiram nas mais variadas práticas da vida cotidiana: Mt. 13:4-8........A parábola do semeador. Mt. 13:24-30........ A parábola do joio e do trigo. Mt. 13:33........ A parábola do fermento. Mt. 13:44....... A parábola do tesouro escondido. Mt. 13:45........ A parábola da pérola. Mt.18:10-14.......A parábola da ovelha perdida, etc.... Na verdade, todo o discurso de Jesus é, antes de tudo a explicitação de sua prática. Ele é coerente porque sua prática é o ponto de partida de seu discurso. Esta é uma das razões pelas quais Ele foi rejeitado. A liderança dominadora não conhecia a pedagogia da misericórdia, aquela que, diante dos abandonados e sofridos, começa com atos libertadores. A prática pedagógica de Jesus exige que a sociedade humana seja colocado ao avesso. Ela só tem sentido na lógica do Reino. Não basta que uma pedagogia se concentre na prática para que venha a merecer o qualificativo de cristã. Para ser cristã é fundamental que esta pedagogia esteja comprometida com os valores do Reino. B- Objetivo teológico. Como formar em Teologia homens rudes e sem nenhum preparo teológico? Resposta simples: - Coloque-os na escola de JESUS, Ele dá ensino teórico e prático, Ele ensina o que vive e vive o que prega. As parábolas utilizadas por JESUS infundiu um precioso ensino na m,ente de seus, primeiro discípulos, e depois, e somente depois de serem discípulos, agora sim, apóstolos. ninguém pode ser primeiro apóstolo e depois discípulo, porém, só se alcança a posição honrada e humilde ao mesmo tempo, de apóstolo, aquele que passou pela escola teológica de JESUS. Por Que JESUS Ensinava Por Parábolas. Por que Jesus falou em parábolas? Resposta simples e automática: para explicar bem as coisas que ele queria dizer e para que o povo entendesse melhor. Certo? Lamento, mas segundo o que ele próprio disse, está errado. Leia você mesmo a explicação de Jesus para o seu gosto por parábolas: "É por isso que eu uso parábolas para falar com eles. Porque eles olham e não enxergam; escutam e não ouvem, nem entendem. E assim acontece com eles o que disse o profeta Isaías: "Vocês ouvirão, mas não entenderão; olharão, mas não enxergarão nada. Pois a mente deste povo está fechada: Eles taparam os ouvidos e fecharam os olhos. Se eles não tivessem feito isso, os seus olhos poderiam ver, e os seus ouvidos poderiam ouvir; a sua mente poderia entender, e eles voltariam para mim, e eu os curaria! - disse Deus." (Mt 13:13-15 BLH) A- Esclarecer os mistérios do reino de DEUS aos pequeninos. A exceção foi os discípulos. Quando ele "manifestou a sua glória, seus discípulos creram nele" (João 2:11). E então Marcos, o evangelista, nos revela que "usando muitas parábolas como estas, Jesus falava ao povo de um modo que eles podiam entender. E só falava com eles usando parábolas, mas explicava tudo em particular aos discípulos." (Mc 4:33-34 BLH) Quer dizer, aqueles que creram podiam compreender, porque ele interpretava-lhes o sentido do seu ensinamento. Assim, iniciamos com uma grande lição sobre essas preciosas parábolas: coisas espirituais são ao mesmo tempo tão simples que podem ser ilustrados com histórias quase infantis. Mas ao mesmo tempo, são tão profundas que só podem ser compreendidas pela fé sincera e pelo coração aberto a ouvir e praticar a voz de Deus. B- ocultar estes mesmos mistérios dos sábios e inteligentes. Parece estranho que seja justamente pela razão oposta do que parece que Jesus falou por parábolas. Ao invés de ser para que as pessoas entendessem, na verdade era para que NÃO entendessem. Não é intrigante? Não lhe soa estranho? Mas você notou a citação de Isaías que Jesus usou para corroborar sua atitude? Eles não queriam saber. Não tinham ouvidos dispostos a ouvir nem corações inclinados a aprender. Era um povo enfatuado e orgulhoso que, na sua esmagadora maioria não somente descreu dele como finalmente o rejeitou abertamente, a começar dos líderes religiosos. Para entender o ensino de Jesus, não são necessários anos de seminários ou de estudos acadêmicos. Os fariseus, escribas e sacerdotes eram versadíssimos nas Escrituras. Eram doutores em Bíblia. Podiam esfregar a Bíblia na sua cara e dizer orgulhosamente que conheciam de cor trechos inteiros dos quais talvez você nem tenha ouvido falar. Só que tudo isso não passava de conhecimento teórico. Quando Cristo chegou e revelou-se ao mundo, eles ficaram escandalizados. Todo o seu preparo acadêmico caiu por terra. Não raro é o que acontece com muitos que saem das escolas bíblicas e seminários hoje em dia. Sem generalizar, é claro. Mas tem mais descrente saindo dessas instituições do que entrando. Outra tremenda lição é que nem sempre a noção correta de quem é Jesus e a compreensão correta do que ele ensina e quer de nós pertence aos mais antigos, aos mais famosos e aos mais poderosos. Isto se mostrou verdadeiro na época de Jesus, na Idade Média, nos avivamentos mundiais e ainda se mostra verdadeiro nas igrejas de hoje em dia. Disse o poeta: "a sabedoria mora com gente humilde". Pessoas simples e iletradas, como os pescadores galileus Pedro, Tiago e João, poderiam calar todo um ilustre Sinédrio quando falassem em nome de Jesus. A eles foi dado conhecer os mistérios do reino. Qual é a sua atitude diante das Histórias Para a Vida que Jesus contou? Como você se aproxima delas? Isto equivale a perguntar: Por que você vai à igreja? Por que carrega uma Bíblia? Por que canta hinos de louvor a Deus? Por que se diz um cristão? É isto o resultado de uma fé sincera e fervente, de uma compreensão, ainda que turva e fraca, mas correta, de quem Jesus realmente é? Você pode ser líder, grande, poderoso, famoso, influente, dentro e fora de uma igreja. Se não compreender, através da fé, quem Jesus É, jamais compreenderá o que ele DIZ. Você será sempre daquele time que ouve e não entende, que olha e não enxerga. Será sempre (estou usando o termo bíblico) um tapado. Pode até pregar muito bem, como faziam os fariseus e escribas. Pode escrever coisas bonitas sobre Jesus. Os escribas e saduceus o faziam. Mas vai seguir sendo apenas, com todo o respeito, apenas mais um religioso. Creia. E permita que sua fé o leve a uma atitude correta em relação a Jesus e ao seu ensino. Isto tem o poder de transformar uma vida. As parábolas de Jesus podem ter e freqüentemente têm mesmo, a faculdade de endurecer o incrédulo. Pois a verdade é que as parábolas de Jesus não encontram paralelo. As parábolas de outros mestres e moralistas podem, até certo ponto, ser separadas de seus ensinadores. Porém, Jesus e suas parábolas são inseparáveis. Não compreendê-lo é não compreender as suas parábolas. Conseqüentemente, para aqueles que não entendem Quem é Ele realmente, ou que ignoram a natureza do dom que Ele veio trazer à humanidade, os mistérios do reino de Deus, por muitas parábolas que venham a ouvir, necessariamente permanece algo misterioso. II – CONTEXTO SOCIAL E LITERÁRIO
1. Galileia no tempo de JESUS. JESUS ENTRE SEU POVO E EM SEU TEMPO
A cidade que agrada a Deus — Sua posição e localização — Mil anos de história — "Vilarejo" ou metrópole? — "A Perfeição da formosura, a alegria de toda a terra" — A vida em Jerusalém
A CIDADE QUE AGRADA A DEUS
Jerusalém ... É impossível falar da estrutura social em que os judeus viviam sem fazer uma pausa para considerar esta cidade singular, à qual o destino de Israel estivera tão intima' mente ligado durante um milênio. Ela era a capital do país, a rainha incomparável, indiscutível, da Terra Santa. 0 coração vivo do Povo da Aliança: para os judeus, Jerusalém significava mais do que Paris para os franceses ou Londres para o povo da Grã-Bretanha. Os ecos ouvidos pelo católiço quando profere a palavra "Roma", as poderosas emoções por ela evocadas, tudo isso era sentido pelo judeu quando pronunciava as sílabas (tão frequentemente repetidas em suas orações diárias) do nome esplendoroso, "tão sonoro quanto o toque da trombeta, mas também tão suave como a gaita do pastor".
Jerusalém ... Os peregrinos que viajavam em direção aos seus átrios gloriosos exaltavam a sua glória naqueles "cânticos dos degraus", os salmos que cantavam em coro enquanto caminhavam. "Alegrei-me quando me disseram: Vamos â casa do Senhor. Pararam os nossos pés às tuas portas, ó Jerusalém I Jerusalém, que estás construída como cidade compacta, para onde sobem as tribos, as tribos do Senhor.. 0 sonho mais caro de todos os judeus espa
lhados pelos quatro cantos do mundo era vê-la, visitá-la pelo menos uma vez na vida. A famosa expressão: "No ano que vem em Jerusalém" surgiu nos séculos mais remotos. Os que não podiam realizar seu sonho pensavam na cidade santa como um lugar de felicidade e esplendor onde tudo era belo, rico e cercado de glória sobrenatural. E assim, "Às margens dos rios de Babilônia", nos dias sombrios do exílio, os judeus distantes de casa choravam ao lembrar-se de Sião e cantavam este hino que ainda hoje nos comove: "Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria I2
De fato, para os judeus, Jerusalém era muito mais do que uma simples cidade terrena, uma cidade entre todas as demais. Ela fazia parte integrante do plano de salvação: não podia ser separada das palavras reveladas de Deus. 0 profeta Isaías lhes dissera que o próprio Deus afirmara: "Eis que crio para Jerusalém alegria, e para o seu povo regozijo. E exultarei por causa de Jerusalém, e folgarei do meu povo .. ."3 Fora Deus que chamara a cidade pelo nome quan-
do disse acerca de Jerusalém: "Será edificada".4 Ele próprio escolhera a cidade, a fim de ser nela adorado.® E tinha sido dito em Esdras que o único e verdadeiro Deus era Aquele adorado em Jerusalém.® A cidade santa tinha estado ligada com todo e qualquer acontecimento na história bíblica; e o mesmo ocorreria de novo, no final dos tempos, quando todo o povo reunido veria a realização das profecias. Então "as portas de Jerusalém serão reconstruídas de safiras e de esmeraldas, e todo o seu recinto será de pedras preciosas. Suas praças serão calçadas de pedras brancas e puras, e em suas ruas cantar-se-á: Aleluia! Bendito seja o Senhor que lhe deu tal esplendor; que ele reine sobre ela eternamente".7
SUA POSIÇÃO E LOCALIZAÇÃO
Jerusalém, situada no coração das montanhas da Judéia, que são consideradas como o bastião moral e físico da Palestina, ali se achava em vista de certos fatores geográficos; e, até certo ponto, a geografia foi também a base de seu esplêndido destino. Todo o povo da região da planície entrava ali em contato com os nômades das estepes; todavia, o pequeno distrito em que a cidade se desenvolveu era ainda mais particularmente uma zona de contato e um lugar de passagem. A rota mais ao sul em que se pode cruzar o Ghor antes do caminho ser barrado pelo Mar Morto, leva aos seus portões, onde se une â estrada serrana que vai de Samaria à Galiléia, acompanhando o espinhaço montanhoso do país. E de Jerusalém as estradas de Gaza, Jafa, Jericó e Siquém se irradiam da mesma forma como os braços de uma estrela. Doze horas a pé levam ao Mediterrâneo, seis ao Jordão. 0 papel de Jerusalém como capital, fortificação e mercado é portanto bastante compreensível.
No ponto em que a cidade foi construída, a cadeia central das montanhas palestinas se dissolve numa espécie de planalto, a uma altura de cerca de 762 metros, cortado pela erosão de torrentes violentas em duas partes elevadas que vão do norte em direção sul-sudeste, sendo estas separadas por um vale raso chamado Vale dos Queijeiros, o Tiropeom. Foi na parte sul das mesmas que construíram Jerusalém, uma cidadela protegida pela ribanceira do Hinom ao ocidente e a do Quidrom ao oriente, ambos wadis ou ribeiros quase sempre secos, mas que se transformavam em torrentes furiosas nas enchentes invernais, tão furiosas que um deles foi chamado "ribeiro sombrio".® A colina ocidental, a mais alta das duas, que alcança 786 metros, é formada pelo Garebe, e o que os cristãos chamaram de distrito de Sião: este não é a Sião dos hebreus, mas a cidade alta, onde os ricos habitavam em seus palácios. A montanha oriental, mais estreita, é dividida em três planaltos menores; o mais alto (787 metros) recebera o nome de Moriá e sobre ele, cobrindo-o completamente, ficava o Templo. As duas planícies inferiores, uma ao norte e a outra ao sul, foram chamadas Bezeta (734 metros) e Ofel (649 metros). Os estudos bíblicos e a arqueologia situam a Jerusalém original, a Sião de Davi, sobre Ofel; e ainda mais precisamente, ao lado da Fonte da Virgem, Ain SittiMariam ou Giom, cujas águas foram interrompidas por Ezequias no século sete, e desviadas através de um túnel de quase dois mil pés de comprimento até o poço de Siloé, para servir de reservatório em caso da cidade ser sitiada.9 Do outro lado da ribanceira do Quidrom ergue-se uma colina alongada cujo nome fala ao coração de todo crente: o Monte das Oliveiras onde o Cristo ressurreto desapareceu da vista de seus discípulos.10 Sua continuação para o sul recebeu o nome de Monte do Escândalo, pois foi ali que Salomão, o próprio Salomão, o ungido do Senhor, permitiu que altares dedicados aos deuses de suas esposas pagãs fossem erigidos.11 No final dessa colina os três vales de Jerusalém se unem para formar o Wadi En-Nar, cujo leito corre na direção do Mar Morto.
Essa é a topografia de Jerusalém, tal como era ao tempo de Cristo. Ali plantada ela dá a curiosa impressão, quando alguém se aproxima pela estrada, de ser uma fortaleza, "uma cidade alta" como as Escrituras declaram repetidamente e, todavia, ao mesmo tempo, quando a vemos â distância ou quando é vista do alto, por exemplo de um avião atualmente, ela parece uma cidade rodeada de morros, edificada no fundo de um buraco. A única solução de continuidade no cinturão montanhoso, a beira buraco, é o Wadi En-Nar: por meio desta brecha Jerusalém entra em contato com o deserto e com a Ásia; sendo também através dela que o detestado khamsin sopra das areias escaldantes. A altitude de Jerusalém dá-lhe porém noites cor-de-pêssego e de uma frescura deliciosa. 0 vento também traz sobre a cidade as chuvas tão esperadas, vindas do oeste, que chegam precedidas de um grande exército de nuvens. Algumas vezes elas trazem a neve, pois o inverno em Jerusalém não fica só no nome.
MIL ANOS DE HISTÓRIA
0 local em que Jerusalém se encontra foi habitado pelo homem desde tempos remotos. Segundo o salmista, a cidade santa deve ter sido chamada no princípio de Salém, pois ele diz: "Em Salém está o seu tabernáculo, e em Sião a sua morada".12 Esse é em todo caso o nome pelo qual é chamada em Gênesis,13 naquela estranha passagem em que Melquisedeque "rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo" traz pão e vinho a Abraão e o abençoa. Mesmo antes da época do patriarca o Deus verdadeiro deveria ter sido conhecido ali. A explicação rabíni-ca da mudança do nome da cidade é esta:14 muito antes do nascimento de Abraão, Sem, filho de Noé, já lhe dera o nome de Salém, talvez pelo fato desta palavra significar segurança; mas o patriarca queria chamá-la Jeru ou Jireh, e Javé, para não desapontar nenhum deles, exclamou: "Dar-lhe-ei então ambos os nomes!"
A arqueologia informa porém melhor do que esta lenda ingênua.16 Ela mostra que o local foi habitado já no terceiro milênio por povos que viviam em cavernas próximas à Fonte de Maria. Cerca do segundo milênio a vila se transformara em um "oppidum" semelhante aos que os ligurianos estavam construindo no ocidente: fossos de defesa foram descobertos e também um santuário primitivo com uma rocha cavada em orifício na forma de taça. Cerca do século 15 A.C. ela já era era uma cidade formidável cercada por um muro imenso com inúmeras torres; e um túnel chamado sinnor dava acesso à fonte — um túnel portanto quase mil anos mais antigo que o canal subterrâneo cavado nos dias do rei EzeqUias. Esta poderosa cidade era conhecida em pontos remotos tais como a Mesopotâmia, em cujos documentos foi mencionada sob o nome de Urusalim, que tem semelhança curiosa com Ur, a cidade dos caldeus de onde Abraão partiu em sua viagem divinamente inspirada.16 Os habitantes da mesma eram cananeus, parte daquele povo que os exércitos judeus iriam enfrentar em tantas duras batalhas depois de Moisés tê-los tirado do Egito, a fim de conquistar a Terra Prometida. Esses cananeus eram peritos em fortificações: onde quer que traços de seu trabalho tenham sido encontrados, como em Je-ricó, por exemplo — sua eficiência técnica tem sido admirada pelos especialistas. Os israelitas levaram então perto de duzentos anos para vencer sua resistência apesar da proteção de Javé e dos milagres por Ele realizados. Urusalim foi um dos últimos lugares a oferecer resistência contra eles. Os cananeus que ali viviam, chamados de jebuseus, tinham tanta confiança na força de seus muros que possuíam até um ditado a respeito: "Cegos e aleijados bastarão para defender esta cidade".17
A glória da conquista da inexpugnável fortaleza foi dada ao rei Davi cerca do ano 1000. Ele dirigiu o cerco em pessoa e a princípio concentrou seu ataque sobre a fortaleza de Sião, em Ofel, que protegia a cidade construída sobre a monte Moriá, na parte sul. Davi prometeu que o primeiro homem que entrasse receberia o comando do seu exército e Joabe realizou essa façanha, arrastando-se ao longo da passagem que levava a água para dentro da cidade e tomando de surpresa a guarnição. 0 rei deixou Hebrom, a antiga capital de Israel, por ser muito distanciada do centro e imediatamente instalou-se na capital que acabara de tomar. A "cidade de Davi" se levantou sobre o monte Sião e, sob a orientação de arquitetos fenícios, foi levantado o primeiro palácio real. Quanto esplendor! Mas tudo se fazia segundo a vontade de Deus. Foi o seu poder que deu ao povo a vitória, conforme sua promessa. Davi não se esque-ceu disso e deu graças no mais fervoroso de seus salmos.18 Para mostrar sua imensa gratidão ele fez com que a arca da aliança, o tabernáculo que os israelitas tinham levado com eles no deserto, o santo receptáculo para as Tábuas da Lei, fosse levada a Jerusalém. Ali, sobre o monte Moriá, foi construído um lugar especial para guardá-la, feito de pedras e madeira de cedro, o primeiro Templo. No dia glorioso em que chegou a arca, Davi foi visto dançando "com todas as suas forças diante do Senhor; e estava cingido duma estola sacerdotal".
Nos dias de Cristo, então, Jerusalém vinha sendo o centro religioso do povo de Deus já há dez séculos. Os escritos sagrados registraram cuidadosa mente a expansão da cidade, deta-. lhe após detalhe. Eles registraram como o célebre Salomão, filho de Davi, havia ligado a fortaleza de seu pai com o monte Moriá., seu palácio e seu templo,18 por meio de uma grande plataforma de terra; como ele protegeu sua capital com um muro construído sobre a colina ocidental,20 o "primeiro muro" em cuja face norte se encontravam a Porta de Efraim e a Porta do Canto;21 e acima de tudo (um tema que foi bem explorado pelo autor inspirado) como com a ajuda de seu amigo o rei Hirão de Tiro, na Fenícia, ele tomara sob sua responsabilidade a construção do Templo, o maiqr, o mais belo, o mais esplendorosamente adornado templo de que se tem memória, obra das mãos de 153.000 homens.22
A partir de então a cidade do Todo-poderoso jamais cessou de crescer. Subúrbios se formaram do lado de fora dos muros, aquela nova cidade comercial que Sofonias atacou tão ferozmente;23 e no século oito, sob os reis Ozias e Ezequias, um segundo murofoi construído, que é lembrado pela sua Porta do Peixe.
0 sinnor nessa época já estava em desuso e foi então que se construiu o canal subterrâneo, a fim de levar a água ao tanque de Siloé; foi também nessa época que as fortificações de Ofel foram reforçadas com uma grande torre redonda, cuja base foi descoberta pelos arqueólogos; e que as tumbas reais foram construídas ao pé dos muros. Tudo isto compunha um belíssimo conjunto e o livro de Neemias dá uma idéia precisa da cena ao contar como tudo teve de ser reconstruído depois do desastre.24
Pois a cidade de Davi sofrera um desastre; e ainda após cinco séculos, a memória do mesmo era ainda dolorosa para os judeus. Javé se esquecera então da aliança e quebrara sua promessa? Não. Não fora Javé, mas o seu povo. Na época dos últimos reis de Judá tinham sido cometidas abominações na Jerusalém propriamente dita. Os profetas clamaram contra as mesmas, mas em vão.28 Surgiram altares para os falsos deuses, mesmo no Templo do Deus Único; a idolatria que os babilônios chamavam de prostituição-cultual florescera em todos os seus átrios; e o próprio rei Manassés, o ungido do Senhor, queimara crianças em honra do deus fenício Baal-Moloque no vale que desde então foi chamado de Vale da Matança.28
0 fato de Nabucodonosor e os caldeus terem cercado a cidade foi, portanto, um castigo divino. Depois de um terrível cerco, os defensores dizimados pela fome e pela praga, tiveram de render-se. "Forçaram as mulheres em Sião, as virgens nas cidades de Judá. Os príncipes foram por eles enforcados, as faces dos velhos não foram reverenciadas."27 A cidade inteira fora incendiada, inclusive o palácio e o Templo. À vista desse medonho espetáculo, os judeus tiveram de abandonar sua cidade santa, enquanto eram levados para o cativeiro na Babilônia.28
Depois do exílio, quando o bondoso Ciro, o persa Rei dos Reis, permitiu que voltassem à sua pátria em 538, o "remanescente" do Povo Escolhido julgou que nada era mais urgente nem mais sagrado do que a reconstrução de Jerusalém. Esse foi um empreendimento maravilhoso, repleto de fé e entusiasmo, e o livro de Neemias iria transcrevê-lo para a posteridade.28 No ponto exato em que se erguera a cidade de seus ancestrais eles construíram oütra nova; e ao mesmo tempo Esdras erigiu a cidade espiritual, a Lei de Deus. Os muros derrubados meio século antes foram de novo erguidos. Toda a nação foi chamada para ajudar. Guardados por sentinelas "cada um com uma das mãos fazia a obra, e com a outra segurava a arma"; milhares de homens realizaram então a tarefa sagrada em 42 dias. No início do quinto século Jerusalém voltara a ser uma bela e esplêndida cidade. Com certeza não se podia comparar à capital de Salomão,
mas mesmo assim era digna de Javé.
Ela continuou crescendo desde essa época. O governo dos seiêucidas, esses príncipes greco-sírios, trouxe grande prosperidade a Jerusalém. Ela tornou-se cada vez mais importante como mercado e centro das caravanas, e toda a mercadoria vinda do mundo helenista e do oriente ali entrava. Novos distritos foram construídos, particularmente no planalto de Bezeta, ao norte do Templo — o distrito que Herodes Agripa I encerraria com um muro, mas isso foi muito mais tarde, bem depois da morte de Jesus. O desenvolvimento naturalmente nâo ocorreu sem tropeços nem problemas. 0 extraordinário Antíoco Epifânio, comurhente chamado-Epimanes, ou o Louco, destruiu os muros de Neemias e construiu, provavelmente sobre um contraforte saliente na colina ocidental, a fortaleza de Acra, com o propósito de comandar dali a cidade.30 A perseguição que provocou a fúria dos macabeus iniciou-se justamente nessa época. Os rebeldes vitoriosos derrubaram o forte de Acra, reconstruíram os muros e fizeram outro ainda melhor para proteger a fortaleza do lado da cidade.31
O rei Herodes foi quem acrescentou os últimos toques a Jerusalém como ela se encontrava nos tempos de Cristo. Ele foi um grande construtor, e no momento em que se tornou rei empreendeu a proteção da cidade alta levantando um poderoso palácio-cidadela, coroado por três enormes torres, e também mandou reforçar o Templo junto à fortaleza Antonia. Acima de tudo ele decidiu, apesar de certa resistência por parte dos fariseus e sacerdotes, reconstruir o templo, dobrando a superfície útil do monte Moriá, através de prodigiosos muros e terraços de apoio. Colocou cerca de dez mil homens nesse trabalho e a seguir dezoito mil, dando ao edifício todo o esplendor que a arte helenista podia suprir. As ruínas impressionantes que podem ser ainda apreciadas na base da atual "torre de Davi", uma parte do palácio real, e nos alicerces do grande terraço do Templo — o atual Muro das Lamentações — dão uma excelente idéia da arquitetura de Herodes. Muitos palácios foram outrossim construídos na cidade alta; ruas e praças largas foram abertas; o centro do Tiropeom foi coberto; e novos distritos surgiram em Bezeta e Garebe e até mesmo no Monte das Oliveiras e no Monte do Escândalo. Era essa a Jerusalém que Jesus conhecia.32
VILAREJO OU METRÓPOLE?
Seria Jerusalém realmente uma grande cidade? É excessivamente difícil formar uma idéia exata de sua população. Os resultados dos censos romanos nâo chegaram até nós e mesmo que o fizessem, teriam de ser usados com cautela, pois como todos os povos orientais os judeus desconfiavam dessas contagens e não as apreciavam, sendo que muitos deles certamente fugiam das mesmas. A população das cidades orientais permaneceu conhecida apenas vagamente até um período bem recente; e mesmo no início deste século um guia turístico do Cairo continha uma nota dando a população como sendo de 200.000 habitantes, enquanto outro afirmava ser de 400.000.
Cícero fala de Jerusalém com desprezo, chamando-a de "vilarejo"33 mas Josefo em sua obra Contra Apionem3* cita uma passagem do Hecateus de Abdera na qual o geógrafo grego afirma que no tempo de Alexandre ela possuía 120.000 habitantes. Desde que Jerusalém se expandiu continuamente durante os períodos helenistas e romano, pode ser então suposto que na época de Cristo sua população teria alcançado um total de 150.000. Este seria um máximo. Em 1875, na área limitada pelo "segundo muro", não foram contados mais que 1 5.000 habitantes. Se levarmos em conta a expansão da cidade sob Herodes e os procuradores, este número deveria ser multiplicado por quatro, o que nos leva a 60.000. Isto concorda de certo modo com o cálculo de 50.000 feito por Renan. Pode-se então calcular que o verdadeiro total esteja entre 50 e 1 50.000 habitantes, isto é, nas proximidades de 100.000. Mas tudo isto não passa de conjetura, e é preciso também considerar a interessante capacidade oriental de amontoar um grande número de pessoas num pequeno espaço.
De qualquer modo, este número assegurava a Jerusalém um lugar honrado entre as cidades do império, embora não fosse naturalmente uma posição de primeira fila. Ela não podia comparar-se ás grandes metrópoles da época, Roma e Alexandria. Augusto afirma em seu Rex Gestae que quando se tornou cônsul pela décima segunda vez, no ano 5 A.C., ele deu sessenta denários a cada um dos 320.000 cidadãos de sua capital: contando as mulheres, as crianças, e o grande número de escravos, isto nos leva a concluir que Roma tinha mais de um milhão de habitantes;36 sendo este exatamente o mesmo número aceito para Alexandria, desde que Diodorus Siculus,36 que escreveu em meados do primeiro século A.C., afirma que a grande cidade egípcia possuía 300.000 libertos. Jerusalém não era nem mesmo a maior cidade judia do mundo, pois como já vimos as colônias judaicas em Alexandria e Roma a superavam consideravelmente em número de habitantes. A primeira delas tendo uma população talvez duas ou três vezes maior.
A posição paradoxal da Terra Santa e de seu povo, ambos tão pequenos segundo as contagens comuns e todavia tão grandes em história, posição e influência, não foi repetida na capital dessa terra e desse povo. Jerusalém não era com certeza um vilarejo mas uma cidade de porte médio, como muitas outras na Europa, sendo ao mesmo tempo uma grande metrópole espiritual.
"A PERFEIÇÃO DA FORMOSURA, A ALEGRIA DE TODA A TERRA”
Embora moderada no tamanho, os judeus mesmo assim a admiravam. "A perfeição da formosura, a alegria de toda a terra I” clamou o profeta Jeremias,38 e um aforismo rabínico afirmava: "Quem não viu Jerusalém jamais viu uma cidade realmente bela.”39
Tomada em conjunto e vista de certa distância, a aparência de Jerusalém era-realmente nobre. Os visitantes ainda hoje têm essa impressão: até tempos bem recentes, antes dos prédios modernos prejudicarem grande parte do cenário, a cidade possuía ainda muito da aparência que deveria ter tido há vinte séculos, pois os muros dos cruzados são sem dúvida bem semelhantes aos de Herodes e a mesquita de Ornar desempenha o papel de uma versão mais modesta da parte que o templo representou na composição da paisagem. Quando os peregrinos vindos do norte chegavam ao alto do Monte Scopus e paravam para apreciar a cidade, eles a viam como "um veado repousando entre as colinas”, fulvo e castanho — pois estas eram as cores da pedra calcária cozida ao sol — e salpicado de manchas brancas, representadas pelos palácios de mármore. A cidade ondulava suavemente, curvando-se de cima para baixo até o desfiladeiro central, e depois subindo de novo para alcançar os muros do santuário.
Mas a vista incomparável, a mais esplêndida de todas, era a apreciada do leste, quando, vindo de Betânia, o viajor parava no alto do Monte das Oliveiras, onde Jesus tinha olhado para Jerusalém e chorado pela cidade. A impressão era surpreendente e impressionante e continua sendo assim: Jerusalém se assemelhava a uma fortaleza inexpugnável, enquanto, ao mesmo tempo, parecia uma enorme jóia num engaste de bronze. Além da garganta do Quidrom erguia-se uma parede de mais de 76 metros, com torres no cimo. Uma destas, a torre do canto sudeste, o famoso pináculo para o qual o Tentador levou Jesus,40 ficava a uma altitude de pelo menos 64 metros acima das demais. Descansando sobre os seus fundamentos de alvenaria ciclópica, o Templo se erguia em todo o seu esplendor, estendendo suas espirais douradas em direção ao céu azul; e no flanco norte ficava o imenso cubo da torre Antonia. Por trás, na cidade velha, as casas se amontoavam num mosaico ocre, encerrado por linhas de sombra. Bem distante, na direção oeste, os palácios dos hasmoneus, de Herodes e dos sumos sacerdotes mostravam seus brancos telhados e suas colunatas, e além ainda podia ser vista a linha escura do muro da cidade subindo para o topo do Monte Garebe, ascendendo em grandes degraus e coroado de torres.
Para chegar â cidade, a não ser que se viesse do norte, de Cesaréia ou Samaria, era necessário cruzar uma ou outra das gargantas que a limitavam. Esses eram lugares feios e contrastavam grandemente com os subúrbios cheios de jardins que subiam, principalmente do lado leste, até as colinas com suas oliveiras e figueiras. Uma grande parte do vale do Quidrom era um cemitério, aquele célebre cemitério de Josafá onde todo judeu piedoso queria ser sepultado, porque o profeta dissera que nele seria reunida a humanidade no Dia do Juízo.41 Aii se achavam os túmulos de alguns dos grandes homens de Israel, tais como Absalão. Segundo uma tradição apócrifa, foi também ali, entre os túmulos, que alguns dos apóstolos se esconderam na noite da Sexta-Feira da Paixão. Quanto à outra garganta, o vale do Hinom, o Ge Hinnom, foi a famosíssima Gheenna, de péssima memória. Desde que o santo rei Josias se enfurecera com a visão de sacrifícios humanos a Moloque nesse lugar infame e ordenara que fosse transformado no monturo da cidade, detritos e animais mortos eram atirados ali e era mantida uma fogueira perpétua para queimar o lixo da cidade. Esse lugar horrível constituía uma imagem do próprio inferno e a partir dos tempos de Isaías suas chamas passaram a ser o símbolo do fogo eterno.44 Ninguém se aventurava naquele local depois do cair da noite.
Para entrar na cidade era preciso passar pelos famosos muros. Ela era cercada por eles sem solução de continuidade, estendendo-se por mais de duas milhas. A começar do Templo, onde se juntava ao muro de apoio do átrio, o muro cercava o monte Sião, desviava acima da junção do Hinom e do Quidrom, subia as colinas até o palácio-fortaleza de Herodes, fazia um ângulo reto, com a torre Hippicús num dos cantos, parecendo entrar na cidade por meio de dois ressaltos, o segundo dos quais bordejava o Gólgota, o "lugar da caveira", onde se realizavam as execuções, e depois corria em linha reta até alcançar de novo o Templo ou, mais precisamente, até a base sólida da fortaleza Antonia. Este muro foi parcialmente construído por Herodes sobre os alicerces do muro de Ezequias sendo, no mais exato sentido da palavra, uma obra realmente formidável. Ele era muito melhor do que o "terceiro muro" levantado às pressas por Herodes Agripa I em 44, e naturalmente mais ainda do que o "quarto muro" que foi descoberto bem ao norte da cidade em 1925 — um muro de que os legionários de Tito devem ter sem dúvida zombado. 0 muro de Herodes foi construído de enormes blocos colocados irregularmente, pesando o menor deles uma tonelada, "cheio de depressões e projeções arranjadas engenhosamente", diz Tácito,46 guarnecido de ameias, fortalecido por torres a cada 200 cúbitos, ou pouco menos de cem jardas, ou seja, a distância coberta por um arremesso de lança. Era tido como inexpugnável e de fato 15.000 soldados romanos tiveram de lutar durante trezentos dias para conquistá-lo.
Todas as portas eram fortificadas. O muro foi alargado até duas ou três vezes a sua largura comum e uma passagem em arco, fechada nas extremidades por pesadas portas, foi aberta através dele. Acima do arco ficava uma sala de guarda para abrigar os defensores. A Bíblia fala repetidamente da força e esplendor dessas portas: quantas havia, e onde ficavam? Havia muitas, provavelmente sete ou oito portas principais, sem contar as passagens subterrâneas. A leste, a Porta de Ouro, agora murada, levava diretamente ao Templo. Ao sul, a Porta da Fonte, também se abria para o vale do Quidrom; a Porta de Efraim e a Porta do Canto, também chamada de Porta dos Jardins, ficavam a oeste. Ao sul se achava a Porta do Monturo, dando para o Vale da Matança. Estradas saídas de Samaria, Jericó e da costa se encontravam na Porta do Peixe ao norte. Quanto â Porta das Ovelhas, à qual o Senhor se comparou,49 era sem dúvida aquela agora chamada de Santo Estêvão. Por ela entravam os animais para o sacrifício, e ficava ao norte da Porta do Ouro. Jesus deve ter muitas vezes entrado e saído da cidade durante a Semana da Paixão pela Porta das Ovelhas.
Uma vez atravessadas as portas, o visitante se via num labirinto de ruas estreitas que ziguezagueavam entre quarteirões de casas sem nenhum plano aparente,, como acontece em Veneza ou na cidade de Casbah, na Algéria. Muitas dessas ruas eram cortadas em degraus, o que facilitava o acesso das pessoas e animais. Foram encontradas algumas dessas ruas, espe-cialmente a que descia para o distrito de Siloé e, na terra pertencente aos Assuncionistas, aquela que Jesus sem dúvida percorreu na tarde da Sexta-Feira da Paixão para ir ao Monte das Oliveiras. Havia poucas avenidas largas ou grandes espaços abertos. O desfiladeiro central do Tiropeom era atravessado por uma estrada larga e uma ponte que ligava o Templo e a cidade alta; e abaixo desta estendia-se uma grande praça pavimentada, cercada por colunatas e limitada ao norte pelo antigo palácio dos hasmoneus. Herodes planejara e fizera construir esse local para servir de ágora ou foro ao estilo greco-romano, chamado Xystus, que significa lugar plano. Outras praças menores são citadas nos tratados talmúdicos, sendo-lhes dados nomes segundo certas profissões — Praça dos Açougueiros, dos Tecelões, dos Pisoeiros, dos Pescadores — ou simplesmente chamadas de Mercado de Cima e de Baixo. As ruas também recebiam os nomes das diferentes profissões, pelo menos aquelas que tinham nome, pois os diversos trabalhadores de uma determinada profissão se mantinham juntos num mesmo distrito, como fizeram na Europa na Idade Média. Isto explica a infinidade de sinagogas onde o povo se reunia para orar, ou algumas vezes para discutir; não havia menos do que 480 delas. Cada grupo, cada quarteirão de casas possuía a sua, assim como cada um dos grupos de estrangeiros que chegava a Jerusalém por ocasião das festividades.47
"Uma linda cidade”, afirmou Jeremias. Mas, seria realmente esse o caso? "Não se deve imaginar qualquer tipo de luxo nas construções: toda evidência obtida em relação a esse período nega tal coisa."48 Só as residências dos ricos eram cobertas de telhas, os pobres se contentavam com coberturas de palha e terra batida conforme mencionado por Marcos.48 Havia grandes diferenças entre os vários distritos. Sião, o mais velho deles, era uma casbah à moda antiga; a cidade alta abrigava os abastados e poderosos, e o subúrbio de Bezeta os mercadores. A pedra trabalhada não era comum e as paredes de rudes blocos de argamassa estavam longe de ser elegantes: os judeus, ao inverso dos romanos, não eram pedreiros natos.
Mesmo assim, completamente separados do Templo, cujo esplendor era incomparável, Jerusalém possuía palácios, grandes mansões e obras públicas de porte. Destas últimas, as mais apreciadas eram as que forneciam à cidade a água, esse precioso elemento. Havia umas poucas fontes, entre elas a Fonte dos Pisoeiros citada no Livro de Reis,60 mas muito mais importantes eram os grandes reservatórios e tanques para os quais a água tinha sido levada com imensa dificuldade. Na parte baixa da cidade havia um tanque suprido pelo famoso aqueduto de Ezequias que recebera o nome de Siloé, palavra que significa "enviado", nome esse cheio de sentido místico, que o evangelista João com certeza tinha em mente quando registrou a história do cego que Jesus curou, enviando-o para lavar-se nele.51 O tanque daquela época era uma depressão cercada por um pórtico herodiano. "No serviço da Festa dos Tabernáculos havia uma procissão que ia até ele a fim de tirar água para levá-la ao Templo". Nos dias de Cristo o outro tanque ficava ainda fora dos muros e talvez fosse essa a razão que induziu Herodes Agripa a construir o terceiro muro: tratava-se do famoso tanque com os cinco pavilhões onde, como diz o apóstolo João,62 uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos ia lavar-se, porque acreditavam que de tempos em tempos um anjo descia e agitava a água e o primeiro que entrasse no tanque depois disso ficava curado. Ele foi provavelmente confundido com o "tanque da prova" que em tempos anteriores tinha servido para lavar os animais a serem sacrificados. Em todo caso, tratava-se de um belo edifício — os arqueólogos voltaram a descobrí-lo — com cerca de 118 metros de comprimento e 59 de largura, cercado por arcadas; ele era dividido ao meio por uma separação sobre a qual ficava a quinta galeria com uma colunata. 0 tanque era um lugar de banhos públicos.
Vários palácios faziam o orgulho da cidade. 0 dos hasmoneus era o mais antigo, provavelmente datado da época de Jõao Hircano. Herodes Antipas teria se hospedado nele quando ia a Jerusalém para as festas, e foi sem dúvida também para lá que Jesus foi levado, a fim de apresentar-se diante do rei.64 O palácio esplêndido e fortificado que Herodes fez levantar no canto da cidade alta era a residência do procurador romano quando ia a Jerusalém. "Magnífi-co além de qualquer palavra," diz Josefo, que era dado a expressões um tanto fortes.“ Foi dito que ele se acha exatamente no local em que Davi cantava seus salmos, e fazia então parte do muro da cidade. Torres maciças, quadrangulares, o protegiam. Herodes o Grande dera a estas o nome de seus entes queridos: seu amigo Hippicus, seu infeliz irmão Fasael, a vítima dos partos, e aquela esposa muito amada, Marianne, a quem mandara matar. A última era a mais alta de todas, chegando a 28 metros. À noite, uma fogueira era acesa no alto da torre Fasael. Mas o interior do palácio nada tinha em comum com sua aparência guerreira. Era de mármore, com o chão pavimentado de pedras raras ou mosaicos. Possuía cem quartos a nos salões de banquete havia lugar suficiente para cem divãs destinados aos hóspedes. Seus pertences e decoração surpreendiam a todos, e mais ainda a beleza de seus jardins, onde piscinas esplêndidas eram supridas pelas águas de diversos aquedutos. O sumo sacerdote tinha um palácio mais modesto, embora bastante imponente, pois na noite trágica do julgamento de Cristo vemos um grupo de criados reunidos junto a uma fogueira em seu pátio; e parece não haver dúvida de que Anás, o sumo sacerdote deposto, tinha outro.“
A torre Antonia não era uma residência mas um alojamento. Nesse ponto onde a elevação de Bezeta torna o ataque comparativamente fácil, geração após geração construíram defesas sobre a plataforma de uma fortificação do tempo do rei Salomão; e depois da volta do exílio foi levantada a torre Hananeel, cujo apelido grego era Baris, a cidadela superior a todas as demais. Os hasmoneus ampliaram a mesma, transformando-a em castelo e Herodes lhe dera a forma final: um retângulo alongado, de cerca de 100 metros por 50, com uma torre imensa de quase 31 metros de altura em cada canto. Toda essa estrutura era a verdadeira chave da cidade santa e a guardiã do Templo.
A guarnição romana se alojava nela e à noite podia-se ouvir os gritos das sentinelas, respondendo umas âs outras, de tçrre em torre. Escadas levavam aos átrios sagrados. Sempre que necessário os soldados desciam correndo por essas escadas, fazendo enorme ruído com suas botas militares.87 Passagens secretas, sob o terraço do Templo faziam ligação com o centro da cidade. O meio do retângulo foi transformado num enorme pátio e dentro dele o trabalho meticuloso das Òames de Sion e dos Dominicanos da Escola de Estudos Bíblicos foi bem sucedido ao identificarem o espaço plano pavimentado, o famoso Lithostrotoos em que Pilatos ocupou a cadeira de juiz para condenar Jesus, como lemos em João.“ É comovente ver essas lajes enormes e gastas com suas várias inscrições, pedras sobre as quais Cristo indubitavelmente caminhou.“ Elas se acham na parte subterrânea do convento das Dames de Sion.
Pouco mais precisa ser dito sobre o Templo além de que ele superava todas as outras glórias da cidade e que os judeus piedosos que chegavam a Jerusalém não tinham olhos para mais nada. Era o Templo de Herodes o Grande, o edifício que esse magnífico tirano iniciara no ano 20 A.C., no mesmo local que o de Salomão, que Nabucodonosor derrubara, e aquele muito menor do tempo de Esdras e Neemias; cujo lugar é agora ocupado pela mesquita de Ornar, com seu domo azul, que fica sobre o Hassam esh Sherif. Embora o idumeu tivesse celebrado a festa de dedicação dez anos antes do início das obras, no aniversário de seu acesso ao trono, e apesar de mil sacerdotes e mais de dez mil operários terem trabalhado nele durante 46 anos (João dá o período no segundo capítulo do seu Evangelho) faltava ainda muito para ser acabado quando Jesus o conheceu. A obra não foi realmente terminada até entre 62 e 64, isto é, pouco tempo antes de ser destruído por Tito. Era pois completamente novo: a brancura do mármore se destacava e o ouro brilhava sobre a fachada. Como um diadema de pedras coroando a cidade de Jerusalém, construída e rodeada de pedras, a vasta massa do Templo se erguia lá bem no alto, com seus muros, seu átrios e santuários, um após outro, num arranjo cheio de significado simbólico.“ Era digno de ser chamado "casa de Deus", esse grande edifício para o qual nada era fino demais, nada demasiado esplêndido, esse "lugar santo" para o qual os peregrinos devotos subiam "entre gritos de alegria e louvor, multidão em festa .. "B1
A VIDA EM JERUSALÉM
Sem cair no pecado do anacronismo que Lucien Febvre afirmou ser o pior de todos para o historiador, é possível formar uma idéia de como era a vida há dois mil anos atrás naquela cidade cuja topografia conhecemos agora tão bem? Não erraremos muito se empregarmos a analogia das cidades orientais onde velhos quarteirões ainda estão de pé; as partes antigas de Jerusalém como as vemos agora, por exemplo, ou a velha Cairo ou a Damasco dos califas.
A impressão geral que teríamos seria a de uma massa compacta, com cada centímetro de espaço ocupado. As casas se agarravam umas às outras, sobrepondo-se e até mesmo inter-penetrando-se. Não havia jardins, exceto o de Herodes e aquele jardim de rosas murado, segundo o Talmude,62 datado da época dos profetas. Apenas aqui e ali se via uma figueira, plantada num pátio. Herodes Agripa I cercou o Garebe com seu muro a fim de que pudessem haver muitos lindos jardins. Não se viam estátuas nas esquinas, enquanto nas cidades pagãs era impossível andar sem ser-se obrigado a reconhecer um ou outro deus. Quase todas as ruas eram excessivamente estreitas, tão estreitas que dois jumentos, com seus cestos carregados, mal podiam passar. Até mesmo os transeuntes se chocavam uns com os outros, provocando gritos e contendas. As barracas dos mercadores, que se alinhavam pelas calçadas como uma feira ao ar livre, não ajudavam em nada a facilitar o trânsito. Havia também um labirinto de vielas e travessas, assim como pátios internos, onde apenas os que ali residiam circulavam sem perder-se. Os lugares mais animados eram as portas e os dois mercados, o da cidade alta recebia os que estavam em melhor posição social. Não se viam carros, apenas algumas liteiras pertencentes aos ricos. Encontravam-se porém muitos jumentos e o barulho de seus cascos era ouvido em toda parte, batendo nos degraus de pedra — degraus, desde que era impossível andar quinze minutos em Jerusalém sem ter de subir ou descer. Ovelhas e gado podiam ser encontrados em toda parte: tantos animais eram necessários para os sacrifícios. De tempos em tempos passavam pelas ruas as tropas zombeteiras dos auxiliares gauleses ou numídios, usando o elmo emplumado e a couraça, com uma capa vermelha sobre os ombros e montados sobre cavalos que subiam com dificuldade todos aqueles degraus.
Em quase toda a cidade fazia-se sentir um cheiro forte, uma mistura de substâncias variadas. O uso de "fogões ao ar livre, por causa da fumaça"63 e o emprego de esterco nas árvores e flores64 eram proibidos por regulamento policial. Mas, mesmo assim, o odor pungente da gordura aquecida se misturava ao cheiro acre do lixo que, segundo o Talmude,65 era varrido dos espaços abertos todos os dias, mas sem dúvida ficava esquecido nas vielas. Além disso, se o vento soprava um pouco do leste, a fumaça do altar dos sacrifícios se espalhava não só sobre os átrios mas sobre toda a cidade, trazendo um misto do cheiro medonho da carne queimada e do forte olor do incenso. O povo judeu tinha a reputação de cheirar mal, sendo esta certamente uma das pilhérias mais apreciadas pelos romanos. As mulheres porém se perfumavam bastante, e foi dito que chegavam ao extremo para cercar-se de uma atmosfera de aroma sensual quando achavam isso necessário. Os rabinos admoestavam inultimente: "O incenso do Templo deve bastar para vocês!" O mercado de cima, onde se vendia mirra, nardo, e o custoso bálsamo, estava sempre abarrotado de gente.
A cidade não era apenas rica em odores, mas também em ruído. Ela vibrava com um rumor constante e confuso, exceto à noite e durante as horas muito quentes da sesta, ou no inverno quando o vento oriental trazia suas rajadas cortantes de chuva. Tudo se misturava formando esse som generalizado, os pregões dos comerciantes tentando atrair a freguesia, os gritos dos carregadores de água que traziam ao ombro sua mercadoria e ofereciam seus serviços, os proclamadores públicos que exigiam silêncio a fim de fazer seus avisos oficiais, e algumas vezes o grito dos guardas abrindo caminho para algum condenado que seguia em direção ao "lugar da caveira", carregando a trave da cruz às costas. Os animais levados para o Templo baliam e mugiam; os jumentos às vezes zurravam, mas isso raramente, pois tinham aprendido o dom da paciência. Um grupo de peregrinos passava, cantando em coro um salmo, ao som da melodia A Corça da Manhã ou A Pomba dos Terebintos Distantes. No quarteirão dos pisoeiros podia-se ouvir o ruído surdo e monótono das máquinas; no dos caldeireiros o som ritmado dos martelos. Depois, quatro vezes por dia, na hora do sacrifício e nas três paradas rituais, o toque tríplice das sete trombetas de prata que se fazia ouvir na porta do átrio dos homens no Templo e que impunha um silêncio parcial, em cujo período os piedosos se prostravam.
Esta era a atividade dos dias comuns; mas em certas ocasiões do ano a animação da cidade crescia intensamente. Eram os períodos das grandes festas, a Páscoa, a Festa das Semanas, o Dia da Expiação e a mais alegre de todas, a Festa dos Tabernáculos. Quantos dias duravam essas festas? Nessas épocas multidões enormes de peregrinos enchiam a cidade; e mesmo se dividirmos por dez os milhões de Josefo continuamos imaginando como Jerusalém poderia receber toda essa gente. Do modo como eram as coisas, um grande número tinha de dormir fora da cidade, nos subúrbios, nas colinas, em tendas ou cabanas feitas de ramos, ou ao ar livre, como Jesus e seus discípulos fizeram no Jardim de Getsêmani. O ajuntamento era indescritível — grupos enormes de homens e animais, pois numa única Páscoa podia acontecer que 200.000 cordeiros entrassem na cidade. Essa era a ocasião em que os habitantes de Jerusalém tinham oportunidade de ver seus irmãos da Diáspora inteira. Judeus da Babilônia com suas vestes negras se arrastando, judeus da Fenícia com túnicas e calções listados, judeus do planalto de Anatólia com seus mantos de pele de cabra, judeus persas em sedas brilhantes bordadas de ouro e prata. Todas essas pessoas se amontoavam no pátio do Templo: os vendedores de animais para os sacrifícios e os cambistas faziam fortuna para indignação das mentes puras, como a de Cristo. Os homens se empurravam a fim de entrar nas filas dos que ofereciam um cordeiro aos sacerdotes. Era uma feira, mas piedosa, uma confusão de espantar: o espetáculo apreciado em Meca, no apogeu das grandes peregrinações do Islã, dá uma idéia de como deve ter sido.
Podemos imaginar um dos mais solenes desses dias, ao cair da tarde, antes da hora nona quando o shofar, a trompa feita de chifre de carneiro, fazia soar uma nota longa e tristonha seguida dos seis toques rituais de trombeta a fim de anunciar o dia mais santo de todos, o sábado da Páscoa: e a lua de Nisã deslizava então pelo céu grande e calmo de Jerusalém, que finalmente se aquietara.. MERCADORES A SALTEADORES
Uma literatura sem ",simples letras" — A arte da palavra escrita — "Non impedias musicam" — Uma nação sem arte? — Conhecimento, o segredo de Deus
UMA LITERATURA SEM "SIMPLES LETRAS"
"Os livros entre nós, contendo a história de todas as idades," diz Josefo,1 contrastando os judeus com os gregos, "não são nem infinitos nem repugnantes uns aos outros: pois toda a nossa crônica se acha contida em vinte e dois livros, aos quais é impiedade negar crédito".
Esta era uma das singularidades mais marcantes de Israel, essa nação especial: eram o Povo do Livro, mas livros, no plural, não eram produzidos por eles. Um povo cuja existência inteira era regulamentada por um Escrito, mas que desdenhosamente rejeitava tudo que (com Verlaine2) pudesse ser considerado "simples escrito". Não existe um único livro conhecido em Israel que trate de qualquer assunto profano, ou cujo objetivo seja apenas distrair. Impossível imaginar um Teócrito ou Catulo judeu, menos ainda um Ovídio, Apuleius ou Petrônio. Josefo não foi inteiramente exato ao decalrar que Israel não possuía outro livro senão a Bíblia, mas é perfeitamente verdadeiro que nada possuiam além de sua literatura sagrada.3
O que liam então os judeus? A resposta é simples: liam a Bíblia, isto é, o Velho Testamento e escritos ligados â Bíblia. Os primeiros cristãos fizeram o mesmo: eles jamais se cansavam de ler ou ouvir a maravilhosa história de Deus feito homem, o relato das Boas Novas e os comentários a seu respeito nas cartas dos que haviam conhecido Cristo. Essas idéias são tão distantes das nossas que é difícil compreendê-las. Entre os judeus praticantes, a rejeição de toda literatura profana era fortalecida pelo seu ódio pela idolatria — sendo as cartas greco-romanas uma fonte e um veículo tanto de idolatria como de imoralidade. A mesma hostilidade pode ser encontrada nos Pais da Igreja. Isto explica a ausência de peças judaicas, a total ausência de um teatro hebraico: os gregos da antiguidade conheciam a função sagrada da tragédia, mas os cristãos levariam cerca de mil anos para descobrí-la novamente.
É verdade que os judeus encontraram no Velho Testamento uma esplêndida diversificação de assuntos, pois ele trata de diferentes temas de formas diversas. A natureza da escrita varia de lugar para lugar; a importância desta variação de estilo, natureza e assunto é enfatizada na encíclica esclarecedora de Pio XII, Divino afflante spiritu, de 1943, e sem uma apreciação da mesma é impossível compreender o texto sagrado segundo o verdadeiro intento de seus autores.4 Ao ler a Bíblia, os judeus encontravam nela poesia e história, metafísica e ética, fascinantes relatos de exemplos e uma inesgotável coleção de máximas. Eles liam os gloriosos anais de seus antepassados com apaixonado orgulho, Juizes, Reis e Crônicas; sentindo-se profundamente comovidos pelos Salmos e as admiráveis harmonias dos Cantares de Salomão; adquiriam grande experiência da vida e da natureza humana em Jó, Provérbios e Eclesiastes; e poderiam os apreciadores das aventuras românticas exigir mais do que as histórias de Jonas, ou das heroínas de Israel, Rute e Ester, admiradas por todas as moças judias?
Na Bíblia, ou derivados diretamente do seu texto sagrado, existem escritos de natureza tal que são quase inacessíveis ao homem ocidental do século vinte, ou pelo menos excessivamente difíceis para que possa apreciá-los plenamente. As obras dos profetas, especialmente, tão importantes para os judeus (como a fórmula "a Lei e os profetas" torna clara), que eram classificadas como aquelas em que a vontade de Deus foi estabelecida. Esta vontade, afinal de contas não se expressou da mesma forma pelas vozes inspiradas daqueles grandes homens que, posicionados como se fora do tempo, onde o passado, presente e futuro se uniam, podiam mostrar ao povo de Israel o seu misterioso destino? É difícil imaginar uma nação inteira cuja vida literária fosse vivida ao nível espiritual de Isaías, Jeremias ou Ezequiel; todavia, só pelas contínuas alusões nos Evangelhos e nas Epístolas, fica evidente que todos esses livros grandiosos, esplêndidos e violentos eram conhecidos em seus menores detalhes — e não só os grandes profetas maiores, mas também os menores, aqueles a quem o cristão moderno mal conhece — Naum, Miquéias, Sofonias, Habacuque.6 Os primeiros cristãos, porém, eram grandes leitores da Bíblia; tinham sido educados nela; e nos eventos e ensinos das Sagradas Escrituras reconheciam as predições proféticas e simbólicas do mistério de Cristo, o cumprimento da Lei, como disse Paulo; e na velha aliança a promessa da nova.
Existia realmente uma literatura em separado da Bíblia, mas ligada de perto a ela. Eram os escritos que mais tarde foram colecionados pelos rabinos para formar o Talmude.8 Já mencionamos os Targuns cujo propósito era esclarecer o texto, traduzindo-o para o aramaico,7 como por exemplo aquele do qual Marcos certamente extraiu a citação do Salmo 21 que ele coloca na boca do Cristo agonizante,8 ou aquelas versões de Gênesis e Jó encontradas entre os rolos do Mar Morto, ou novamente aquelas coletadas pelos rabinos.9 Mas, acima de tudo, havia comentários sobre os textos, aqueles inúmeros comentários que a relação íntima dos israelitas com a Bíblia fez surgir. 0 midrasch, nome derivado da mesma raiz que as palavras "ensinar" e "investigar", era uma exposição e um comentário para explicar as soluções contidas na Torá de forma velada ou obscura; os tesouros vitais da palavra de Deus; tratava-se de um produto típico da mente judia, para a qual o significado moral e espiritual de um evento tinha mais importância do que o seu aspecto material. 0 midrasch não era uma obra só dos letrados; nas sinagogas os crentes comuns podiam fazer a sua exegese, e vemos nosso Senhor fazendo justamente isso. E todas elas, depois de escritas, eram acrescentadas âs demais nessa imensa literatura piedosa. Uma das formas mais apreciadas do midrasch era o pesher, cujo intento era mostrar o cumprimento dos textos pesquisados nas Escrituras: esta forma literária era tão comum que os evangelistas se voltam para ela muitas vezes para enfatizar que algum determinado fato da vida de Cristo ocorreu para "que as Escrituras pudessem ser cumpridas".10
Por fim vinha uma outra classe de livros: não derivavam diretamente da Bíblia, mas se associavam de perto a ela. Ela consistia em primeiro lugar daqueles livros não admitidos no cânon, a lista ofical de livros que as autoridades religiosas haviam declarado como sendo inspirados, ditados por Deus.11 Esses livros não-canônicos eram não obstante muito lidos; entre eles, por exemplo, achava-se o Livro de Tobias e aqueles magníficos salmos encontrados nos documentos do Mar Morto, que são tão semelhantes aos contidos na Bíblia.
A grande maioria porém desta classe de livros era composta de obras cujos autores se esforçavam para usar a autoridade das Escrituras, embora tomassem com elas as mais estranhas liberdades. Todos eles foram rotulados como literatura apócrifa, mas este é um termo ambíguo, não tendo o mesmo significado para os judeus e protestantes de um lado, e para os católicos do outro.13 Tratava-se de uma literatura distribuída como um ensino esotérico, "apenas para os sábios entre o povo", dizia um dos livros,14 e revelando as intenções secretas de Deus. Um deles alegava revelaros segredos de Enoque, pai de Matusalém, de quem Gênesis fala que "andava com Deus";18 outro era a Ascensão de Isaias, outro ainda a Assunção de Moisés; mais ambicioso do que os demais era A Vida de Adão e Eva. Vários outros acrescentavam capítulos aos livros de Esdras e Daniel ou atribuíam salmos anti-romanos a Salomão. Esses escritos apócrifos eram fabricados em todo lugar. Na colônia judaica de Alexandria alguém teve até mesmo a idéia de que seria interessante apropriar-se das famosas profecias pagãs das sibilas, e imprimir uma edição revisada e corrigida dos Livros Sibilinos que os fizesse dizer exatamente o que os judeus queriam que os pagãos ouvissem. Esta era então uma literatura que continha tudo, exceto equilíbrio e discrição: ficção histórica, ou história fictícia, lendas piedosas, vidas lendárias de homens santos, profecias e apocalipses. Estes últimos constituíam um grupo particularmente numeroso. Obras estranhas essas, em que algum conhecido personagem bíblico, através de visões, desenrolava a história do mundo, terminando com uma revelação dos últimos dias da humanidade.18 Como é natural, havia uma grande desproporção e até mesmo insensatez neste mundo curioso dos apócrifos — esses êxtases delirantes, como chamados por Jerônimo — mas não existe qualquer dúvida de que eram muito lidos pelos contemporâneos do Senhor. Sua violência apocalíptica correspondia perfeitamente aos profundos anseios daquela nação humilhada, para quem um cataclisma universal era agora a única vingança a esperar.17 É significativo que os Pais da Igreja tivessem feito citações extraídas de alguns dos apócrifos judeus, que várias das primeiras heresias fossem baseadas neles, e que até a mais autêntica tradição da Igreja Católica não deixou de ser influenciada por eles, como podemos ver naquela linha do Dios Irae, teste David cum Sibylla.'*
Em resumo, a literatura judaica nos dias de Cristo nos pareceria muito estranha: como se alguma nação cristã moderna se limitasse exclusiva mente aos livros sagrados e comentários teológicos, e como passatempo lesse ou a Lenda Dourada (Golden Legend) e outras obras desse tipo ou poemas como a Divina Comédia de Dante, o Paraíso Perdido de Milton ou as Núpcias do Céu e Inferno (Marriage of Heaven and Hell) de Blake. Muitâs das características fundamentais dos judeus são assim explicadas, assim como muitos dos acontecimentos que pouco antes da época de Cristo abriram caminho para o enorme levante no qual o Povo do Livro foi vencido — acontecimentos esses que sem dúvida deram lugar â rebelião.
A ARTE DA PALAVRA FALADA
Se tivermos em mente o papel desempenhado pela palavra falada na comunicação do pensamento, e o fato de que a própria Bíblia, por exemplo, existiu oralmente muito antes de ter sido escrita, fica fácil entender que havia uma ligação necessária e forte entre a literatura e a arte da oratória. Os homens a quem poderíamos dar o nome de "escritores" foram primeiro "oradores”, isto é, tinham o dom da palavra. Em Israel, como acontece nos países orientais hoje, havia homens que falavam nas ruas e nas praças ou nos pátios do Templo e a multidão se reunia ao redor deles. O que surpreende ainda mais é que os rabinos cujo dever era ensinar, mas que não tinham o dom da oratória, faziam-se acompanhar de arautos, transmissores, ou de pessoas bem falantes, que transmitiam o que o mestre tinha a dizer aos ouvintes. Talvez este costume esclareça as palavras de Cristo: "O que se vos diz ao ouvido, proclamai-o dos eirados".20 Não existe dúvida de que Jesus foi um grande mestre da arte da palavra falada, dominando todos os recursos, usando todas as formas de linguagem desde a mais absoluta violência até a maior persuasão, da extremada ternura ao mais alto nível de compaixão. João Batista também o era. As poucas palavras pronunciadas por ele que chegaram até nós são singularmente impressionantes. E os resultados da pregação de Paulo só podem ser explicados pela posse de um grande poder de oratória.
Mas a arte de falar dos israelitas nada tinha a ver com o que os gregos e romanos compreendiam como eloqüência. O próprio Paulo foi levado a compreender isso em Atenas, onde, como sabemos, não teve grande êxito.21 A organização ordeira das idéias, o desenvolvimento lógico e a prova, que constituíam a base da arte de falar segundo Cícero, eram coisas completamente estranhas à mente judia; como continua sendo, nesse respeito, para o maometano. Para os israelitas a oratória não consistia tanto na convicção pelo raciocínio como em estabelecer contato com as emoções dos ouvintes, com a sua sensibilidade. O orador excelente era aquele que possuía a técnica dos doutores da Lei e mesmo, como vimos, dos mestre-escola em sua mais elevada perfeição — aliteração, ecos e paralelos, ritmos. Pela sua natureza a eloqüência chegava às raias da poesia; e embora não houvessem regras fixas nem métrica rígida como na poesia grega e romana, acontecia com freqüência que as palavras dos melhores oradores se transformavam em versos, com uma cadência deliberadamente desigual e até em estrofes com refrões.
Com referência ao seu discurso, o mestre da palavra falada era reconhecido por certos sinais distintos: deveria ter capacidade para introduzir nele citações ou alusões bíblicas que pudessem ser instantaneamente reconhecidas pelos ouvintes — quando João disse: 'Sou a voz que clama, "No deserto, preparem-se para a vinda do Senhor" ’,(4) ele estava citando Isaías palavra por palavra, e sua audiência sabia disso.22 Toda declaração devia ser apoiada pela palavra de Deus. O grande orador precisava estar capacitado para produzir variações em qualquer tema dado, como o músico improvisa as variações sobre uma frase melódica: o sexto capítulo do tratado Shanhedrin afirma que o grande rabino Gamaliel, ao receber um tema, podia produzir cem exposições diferentes do mesmo. Mas, acima de tudo, o mestre da palavra falada tinha de ser um perito no mashal.
É essencial compreender o conceito do mashal a fim de poder entender a natureza da eloqüência judia: sua aplicação é encontrada em inúmeros pontos na literatura escrita, o Velho e o Novo Testamentos; mas o mashal constituía fundamentalmente uma função da palavra falada. 0 hebraico, embora conciso e cheio de colorido, mostra-se curiosamente inepto quando trata de abstrações e da realidade mais elevada: ele circunda esta dificuldade usando figuras, símbolos e comparações. Isto, além do mais, está em absoluta conformidade com o ponto de vista judeu, muito intuitivo, que instanteneamente se apega aos motivos imediatos, realistas e familiares, extraindo habilmente deles uma lição. Este modo de tomar um caso ou situação particular da vida real, a fim de que a mente e a imaginação venham a apossar-se dele e moldá-jo em um símbolo ou extrair uma pergunta geral do mesmo era de fato o mashal. Seria este processo decididamente oriental uma espécie de jogo? De modo algum, pois todo mashal precisava estar associado ao comportamento e pelo menos implicitamente à religião.
A tradução grega dos Setenta com freqüência interpreta mashal como parábola, mas seria um ero supor que todos os meshalim fossem parábolas no sentido que damos à palavra: uma prova convincente é que meshalin ê o nome hebreu para o Livro dos Provérbios. A raiz da palavra contém a idéia de "colecionar" ou "comparar", mas sua conotação comum era muito mais ampla. Um escritor francês contemporâneo23 classifica todas as suas obras sob o título de poesia: "poesia romântica", diz ele, "poesia crítica" ou "poesia cinematográfica"; e deduz-se perfeitamente que ele deseja definir uma atitude fundamental de seu pensamento criativo. 0 fato ajuda a explicar que na literatura e oratória de Israel haviam meshalim poéticos, oracula-res, satíricos e proverbiais, assim como aqueles em forma de fábulas morais.24
A parábola no sentido que damos à palavra, isto é, uma historieta como um apólogo que fornece uma lição moral ou espiritual de forma mais ou menos óbvia, era certamente um aspecto do mashal; constituindo um meio de fazer com que o fato concreto revelasse suas surpreendentes potencialidades, e sendo um dos tipos amplamente usados. Cem anos antes de
Cristo, o rabino Meir se tornara famoso por seus extraordinários poderes de produzir mesha/in desta espécie: todos eles tinham uma raposa como personagem principal, e foi dito que compôs três mil. Existem centenas desses apólogos no Talmude e alguns são muito pitorescos: Para explicar porque existe o bem e o mal no mundo, homens perfeitos e outros perversos, por exemplo, um comentarista de Gênesis compara Deus a um homem que mistura água fervendo com água fria em uma vasilha e depois enche seu jarro com ela, temendo que o barro possa rachar. Alguns são curiosamente semelhantes às fábulas de Esopo: por exemplo, um comentário talmúdico sobre Eclesiástico conta como uma raposa, querendo entrar numlugar através de um buraco pequeno demais para ela, jejuou durante vários dias a fim de emagrecer. Ao que parece, a parábola tinha sido tão usado na época de Cristo que estava começando a tornar-se algo estagnado e estilizado entre os rabinos, pois as mesmas comparações são geralmente encontradas nas obras de vários deles, e com frequência falta força e vida à composição.
Não existe dúvida alguma de que Cristo conhecia o mashal e fazia uso dele. Seria praticamente impossível que um judeu daqueles dias não tivesse ouvido uma dessas histórias engenhosas proferidas espontaneamente ou repetidas por alguém que a tivesse ouvido. De fato, o Talmude contém alguns mesha/in-parábola que são quase idênticos aos dele: existe um por exemplo, sobre os convidados do casamento e outro sobre as virgens néescias. Nosso Senhor empregou o mashal em todas as suas formas. 0 "Médico, cura-te a ti mesmo" do evangelho de Lucas26 é um mashal; o mesmo se dá com a máxima em Mateus26 a respeito do que contamina o homem: e entre as parábolas meshalim existem vários tipos diferentes, variando de comprimento e natureza.27
Quando porém comparamos as parábolas dos Evangelhos com aquelas dos tratados tal-múdicos, torna-se de imediato aparente que o seu caráter é novo. Não há nada de estereotipado ou convencional a respeito delas: sente-se que a comparação surgiu naturalmente na boca do orador; sendo simples e exata, e (trata-se de algo que não se encontra em Atos, e menos ainda nos evangelhos apócrifos) o tom é inteiramente pessoal, não podendo ser copiado, o verdadeiro estilo do Mestre. A parábola dos evangelhos "se inicia nas realidades mais humildes e reflete os conceitos mais elevados com a maior claridade; pode ser entendida pelos simples e ao mesmo tempo exige profunda reflexão por parte dos que têm conhecimento. Ela é ingênua de um ponto de vista literário; todavia, em seu poder emocional se agiganta ultrapassando de longe o mais elaborado artifício literário. Não só surpreende como persuade; ela não conquista apenas, mas convence. Do termo parabole temos parole (palavra): esta etimologia não poderá significar que a parabole de Cristo é a parole ou palavra do homem exaltada ao seu nível mais alto, e ao mesmo tempo a palavra de Deus que desceu bem junto a nós?"26
"NON IMPEDIAS MUSICAM"
A música, próxima deste conceito da arte da oratória e associada a ele, tinha um lugar de destaque em Israel. "Non impedias musicam, não interrompa quando a música estiver sendo tocada," disse Ben Sirach,29 dando a essas palavras um sentido mais literal que Claudel. 0 Velho Testamento fala muito de música, instrumentos musicais, canções e danças; e a maravilhosa história de Deus feito homem no evangelho tem início com o cântico alegre dos anjos no céu e o som das flautas dos pastores. Com todos os homens do mundo antigo, os hebreus atribuíam à música uma origem quase divina: foi bem no começo da humanidade, algumas gerações depois de Adão, que Jubal inventou a "flauta e o kinnor", tornando-se o pai de todos os músicos.30 A Bíblia reconheceu uma espécie de relação entre a música e a oração, adoração e êxtase. Algo parecido com uma dança ao ritmo de flautas e címbalos tinha sido algumas vezes necessário aos profetas a fim de que "a mão de Deus estivesse sobre eles", isto é, para que pudessem cumprir sua missão.31 Todos em Israel sabiam que o jovem Davi tocara o kinnor para aliviar a depressão de Saul,32 e que ao tornar-se ele mesmo rei dançara e cantara diante da Arca. A nação judaica era então um povo de músicos.
Todas as festas familiares se faziam acompanhar por música. "Hoje, na Palestina, as melodias penetrantes, o bater palmas e o ritmo ágil de pés em movimento de dança no terreiro ainda proporcionam às festas nupciais seu entusiasmo intoxicante."23 Banquetes e outras reuniões festivas, como vimos,34 ficavam incompletas sem música. Os resultados deste "entusiasmo embriagador" nem sempre se harmonizavam com os princípios morais: se dermos atenção a Isaías, as jovens que tocavam harpa não deliciavam apenas os ouvidos dos convidados.38
Se a música aumentava o prazer das horas alegres, ela também participava das tristezas. Uma procissão fúnebre tinha necessariamente as suas carpideiras, que cantavam as suas lamentações, e essas repetições, cantadas em terça menor pelo resto do povo, podiam alcançar um nível extraordináriamente frenético. Um funeral de respeito exigia mulheres flautistas, e já as vemos fazendo isso quando Cristo foi ressuscitar a filha de Jairo, no evangelho de Mateus.38 0 funeral mais pobre exigia pelo menos uma carpideira e duas tocadoras de flauta.
A música religiosa possuía tal importância que não havia uma única cerimônia ou rito em que ela não tomasse parte. 0 salmista afirmou que o Senhor subiu ao som de trombetas, e que Ele devia ser louvado "com saltério e com harpa, com instrumentos de cordas e com flautas, com címbalos sonoros, com címbalos retumbantes".37 Um cântico imenso se levanta das páginas da Bíblia, uma aclamação rítmica, modulada, do Todo-poderoso. O sábado e os grandes feriados eram anunciados ao som da trompa e as horas de oração com as trombetas. Na verdade, muitas partes do próprio Livro eram cantadas: por exemplo, os hinos nupciais nos Cantares de Salomão que o povo cantava enquanto caminhava com a noiva e o noivo, ou os cânticos dos degraus que as imensas caravanas de peregrinos cantavam incessantemente enquanto seguiam para Jerusalém. Muitos salmos têm como título o nome da música a qual devem acompanhar — "A pomba dos terebintos distantes" ou "0 lírio da Lei" — ou dos instrumentos, de corda ou de sopro que deveriam acompanhá-los. Os próprios serviços incluiam música. 0 Templo tinha os seus cantores levíticos; e tendo em mente a relação entre música e êxtase místico, é digno de nota o fato da Bíblia chamá-los algumas vezes de videntes e profetas.38 Desde que o rei da Pérsia passara um decreto nesse sentido, eles tinham ficado isentos do pagamento de impostos,39 e Josefo declara que reivindicavam o direito de usar trajes de linho como os dos sacerdotes — cujo privilégio lhes foi concedido por Herodes Agripa II. Cantava-se também nas sinagogas; os primeiros cristãos adotaram este costume, como ficamos sabendo pela Epístola de Paulo aos Colossenses: "Louvando a Deus com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações"40 diz ele.
Os cânticos tinham um lugar de destaque na música judia, e, ao que parece, na época de Cristo eles se haviam separado por completo da música instrumental, desde que esta ultrapassara os limites estabelecidos na antiguidade não constituindo mais um simples acompanhamento da voz humana: o Novo Testamento fala muito pouco de instrumentos musicais. Era muito comum cantar em coro sob a liderança do cantor-mor tão citado nos títulos dos salmos; os cânticos eram feitos provavelmente em uníssono, e fica bastante claro que alguns salmos deviam ser cantados em antífona (responso), como fazemos hoje. Os serviços das sinagogas tradicionais hoje em dia dão uma idéia de como era a música religiosa dos antigos; aquele fluxo contínuo de que fala Robert Aron, "subindo naqueles momentos em que a natureza do serviço se intensifica e aquietando-se quando ela diminui, um fluxo que aumenta com simplicidade e imperiosa mente como o ofegar da respiraÇao humana, alcançando seu ponto máximo quando os rolos da Lei são tirados do tabernáculo".
Israel compreendia perfeita mente o poder emocional da voz humana. Todavia, mesmo assim, os instrumentos tinham grande aplicação; a Bíblia menciona vários tipos, e não há dúvida de que todos se achavam em uso nos dias de Cristo. Como instrumentos de sopro eles tinham a flauta, a corneta e a trombeta; de cordas, o kinnor, isto é, a cítara ou lira, e o nebel, ou harpa; de percussão, o tamborim e os címbalos: o Salmo 1 50, o último, fala de todos. Mas pode ser que houvessem outros, como o saltério tocado por Davi, o sackbut mencionado por Daniel, e o sistrum proveniente do Egito. Os israelitas eram considerados harpistas e flautistas excelentes e a rainha Salomé Alexandra enviou a Cleópatra um harpista famoso a fim de obter seus favores. Gostavam tanto da flauta que inventaram vários tipos, desde a simples flauta pastoril até um instrumento semelhante à nossa gaita de foles, assim como a flauta transversal e uma flauta com palheta dupla como o nosso oboé. Eram feitas de junco, de madeira e até de bronze, e não havia casa judia que não possuísse a sua. Entre as trombetas e as cornetas, o tipo mais conhecido era o shofar, feito de chifre de carneiro: este instrumento litúrgico era o mais conceituado dentre todos, aquele que evocava a revelação do Sinai, pois quando Moisés subiu a montanha, ele foi acompanhado pelo toque de uma corneta de chifre de carneiro: cujo som, pouco musical, mas comovente, estimulava os homens ao arrependimento; por esta razão o shofar era usado para anunciar os grandes dias santos, especialmente o Rosh Hashanah, o primeiro dia do ano, quando "os livros da Vida e da Morte eram abertos diante do Senhor”.
Nada sabemos sobre a natureza real da música judaica. Na Grécia, a música para a kitha-ra podia ser escrita, mas isto não acontecia em Israel: havia sem dúvida grande liberdade de improvisação. As poucas insinuações que encontramos na Bíblia são imprecisas: lemos "acima da oitava", mas não há menção de chave ou escala. Alguns salmos parecem referir-se à sucessão de sons no seu primeiro verso, mas é impossível saber que sons são esses. O Talmude dá alguma informação sobre as notações musicais e sobre os "acentos musicais" mas isto foi trabalho dos massoretas, isto é, data de quatro séculos depois de Cristo, pelo menos.
A julgar pela música judia e árabe moderna podemos razoavelmente supor que se tratava de uma espécie de cântico recitado, usando uma escala de notas restrita, com meio-tons e um quarto de tons, trinados e uma espécie de vibrato produzido pela mão sobre a garganta, como se pode ver no baixo-relevo de um cantor da Mesopotâmia. Tudo deveria ser acompanhado pelo bater dos tamborins e das mãos e o bater ritmado dos címbalos: desta massa de som a nota aguda da flauta se faria ouvir de tempos a tempos, com o conjunto pontuado pelo som profundo da corneta. 0 ritmo era com certeza o principal elemento, superando de longe a melodia e a harmonia: ritmo, porque a música invariavelmente se fazia acompanhar pela dança, por marchas e contra-marchas, com farândolas, jigas e aqueles movimentos para diante e para trás de braço dado que ainda se usam na Palestina.41 Quanto à dança no sentido mais pleno da palavra, a dos profissionais, com certeza existia: uma prova disto pode ser vista no Evangelho, no relato da dança de Salomé diante de Herodes. Mas talvez fosse importada de Roma; em todo caso foi suficientemente comovedora para fazer com que o tetrarca perdesse de tal forma a cabeça que ordenou a execução de João Batista.42
UMA NAÇÃO ONDE NÃO HAVIA ARTE?
A música pode ter tido considerável importância na vida diária de Israel, mas pode ser dito o mesmo sobre as demais artes? De forma alguma. A história não reteve o nome de um único artista judeu, nem a arqueologia descobriu uma única obra-de-arte israelita. Isto significa que o Povo Escolhido fosse "uma nação bárbara sob o ponto de vista artístico”?43 Foi sustentado não ter sido "a falta de capacidade artística que impediu que os judeus criassem formas plásticas", e eles, como os semitas da Mesopotâmia, poderiam perfeitamente ter feito obras de arte. Longe de desprezar os artistas, davam-lhes uma posição de destaque, como pode servis-to perfeitamente em Êxodo,45 onde Moisés elogia Bezalel: "E o Espírito de Deus o encheu (a Bezalel) de habilidade, inteligência e conhecimento, em todo artifício, e para elaborar desenhos e trabalhar em ouro, em prata, em bronze, para lapidação de pedras de engaste, para entalhe de madeira, para toda a sorte de lavores".
0 desenvolvimento da arte em Israel ficava porém sempre paralisado pela famosa proibição em Êxodo, repetida em Deuteronômio:46 "Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra." 0 conceito rígido de um Deus invisível colocava todas as representações de homem ou animal sob o rótulo de idolatria: se esses dois temas fossem retirados da arte grega, o que restaria da sua escultura? E o que seria a arte ocidental nessas condições? Deve ser acrescentado a isto o fato que exceto na época de Salomão, e em menor escala na de Herodes o Grande, os governantes de Israel jamais foram ricos o suficiente para estabelecer-se como patronos das artes. E se juntamente com essas considerações admitirmos as várias e contraditórias influências das sucessivas ocupações, torna-se perfeitamente compreensível que Israel não tivesse uma arte surpreendentemente original. Os judeus achavam muito mais importante preservar sua vida espiritual do que seus potenciais de criação estética.
Nos dias de Jesus, a Palestina tinha sem dúvida a sua arte, embora esta fosse em sua maior parte estrangeira. Uma arte introduzida pelos ocupantes gregos e mais tarde pelos romanos. A arquitetura, quando genuinamente hebraica, mostrava-se despretensiosa,47 tornando-se esplêndida apenas quando adotava os estilos pagãos, como ficava perfeitamente óbvio nas construções de Herodes: seus palácios em Jerusalém e Jericó, o teatro e o hipódromo que ele ousara erigir na cidade santa e, pior ainda, os templos em honra de Augusto ou dos ídolos romanos que aquele homem praticamente incircunciso tinha levantado em Samaria e Cesaréia. 0 próprio templo no monte sagrado de Sião não copiava de certa forma os de Júpiter?
A escultura representava uma fonte de escândalo ainda maior. Ninguém indubitavelmente jamais tentou erigir a menor estátua na cidade de Deus, pois uma revolução seria de imediato deflagrada, como se pode ver pelo que aconteceu quando Herodes colocou a águia de ouro sobre as portas do Templo. Mas os judeus conservadores, quando visitavam as cidades gregas, ou Cesaréia, ou até mesmo quando passavam pelas terras dos heréticos samaritanos, não podiam impedir que seus olhos fossem contaminados pela visão dos ídolos, aquelas "abominações da desolação" de que falava a Bíblia. Não havia escultura judia de coisas vivas, e não é de modo algum certo que o Templo de Herodes contivesse sequer os querubins de madeira que se achavam no Templo de Salomão. Os únicos desenhos permitidos eram aqueles que representavam plantas, palmeiras ou cidras; alguns objetos litúrgicos, tais como o candelabro de sete braços; rolos e arabescos. Como vimos,48 as moedas também obedeciam a esta regra: nem Herodes nem seus descendentes tentaram infringí-la, pelo menos no que diz respeito às moedas cunhadas na Terra Santa e feitas para as transações com os judeus (eles tomaram maiores liberdades em outros lugares); e nunca se aventuraram além da representação de um elmo ou um escudo. De qualquer forma, esssas peças não eram bem cunhadas e os desenhos eram medíocres. '
Quanto â pintura a situação apresentava um quadro ainda mais pobre: nada foi encontrado datando do tempo de Cristo. Os despretensiosos desenhos geométricos e florais que podem talvez ter dado um pouco de cor às paredes caiadas das casas judias, desapareceram por completo. 0 mesmo aconteceu com as decorações pintadas e douradas sobre um fundo gravado, tal como a famosa vide de ouro, que um dia brilhou no Templo. Todavia, em Dura Europus, uma pequena cidade síria junto ao Eufrates, construída pelos selêucidas no quarto século A.C., alguns afrescos extraordinários foram encontrados na sinagoga local: eles mostram cenas bíblicas e especialmente a ressurreição dos mortos como descrita por Ezequiel. Mas esta obra pertence a um período muito posterior à época de Cristo, o que também se aplica às pinturas encontradas nos túmulos de Marissa e Iduméia. A influência grega se destaca claramente, e ninguém pôde ainda explicar como a proibição mosaica foi tão deliberadamente desobedecida. Os contemporâneos de Cristo teriam ficado horrorizados.
A única maneira de formar uma opinião do gosto artístico dos judeus é através da sua ce-râmica. Aqueles pequenos jarros de cerâmica decorados com círculos negros, e as tigelas de barro amarelo, com linhas vermelhas muito finas realçando suas bordas delicadas, encontrados nas várias escavações têm sua beleza; mas serão realmente de fabricação semita, ou foram importados de Alexandria ou Chipre? Os abastados daquela época compravam sua cerâmica fina fora do país, e os pobres não davam importância à decoração profana.49
0 CONHECIMENTO, SEGREDO DE DEUS
Em Israel, tanto a literatura como as artes, em grau variado, se achavam sujeitas às exigências da religião. Pode ser dito, porém, que as ciências, ou o que ocupava o seu lugar, se achavam inteiramente absorvidas por ela. Os gregos e romanos conheciam a pesquisa científica pura; compreendiam a busca do conhecimento pelo próprio conhecimento: esta atitude de mente, da qual surgiu toda a ciência moderna era completamente inadmissível para os judeus.
Para eles não podia haver ciência sem teologia. 0 termo hakhamim traduzido como "homens instruídos" significava acima de tudo "homens sábios", sendo aplicado aos que se destacavam como mestres do conhecimento religioso. A sabedoria, diziam os Provérbios,66 pertencia a Deus "no início da sua obra, desde o princípio, antes do começo da terra", e todo conhecimento humano só tinha significado se se relacionasse com esta sabedoria. Mas a sabedoria se "identificava naturalmente com a Torá": a obra científica, portanto, "não surgia de pesquisas racionais quanto aos fenômenos do universo, mas sim de tentativas de deduzir dos textos sagrados os ensinos sobre a origem e formação do mundo". Esta a razão para aquela desconfiança por toda a pesquisa inspirada por uma mente inquisitiva, a perturbadora libido scientiae que induzira o primeiro casal humano a pecar. "Não sondem o que está oculto", diziam os rabinos, "Não pesquisem as coisas difíceis demais".61 Para conhecer toda a ciência de Israel, basta então abrir a Bíblia. Ao que parece, nem sequer os judeus da Diáspora, que estavam em contato com a ciência pagã nem os judeus que viviam em Alexandria, por exemplo, esse grande centro de pesquisa científica, tinham abandonado este modo de pensar.
Algumas noções de astronomia podiam ser extraídas do Livro. Deus não criara as estrelas, como tinha criado o sol, a lua e a terra? "Ou poderás tu atar as cadeias do Sete-estrelo, ou soltar os laços do Órion? Ou fazer aparecer os signos do Zodíaco, ou guiar a Ursa com seus filhos?" 0 Criador fez essas perguntas a Jó, um homem santo.62 E acrescentou imediatamente: "Sabes tu as ordenanças dos céus?"63 Os judeus tinham portanto uma astornomia, pela qual podiam estabelecer o seu calendário.Tratava-se sem dúvida de uma astronomia, que não era derivada daquela dos babilônios, baseada em cálculos matemáticos, mas em observações simples e fáceis que qualquer um podia fazer. É surpreendente ver como Cristo fala tão simplesmente dos fenômenos astronômicos: o nascer e o pôr-do-sol; a presença das estrelas no céu — todas as coisas a que se refere estão naturalmente ao alcance do conhecimento de seus ouvintes, e todas elas são elementares. Todavia, os homens cultos daquela época estariam muito melhor informados? Caso positivo, não deixaram traços de seus trabalhos: o Pirke Aboth, Os Ditados dos Pais, nega cabalmente à astronomia a posição de ciência independente. Ela deve permanecer como uma "subordinada da Sabedoria",64 isto é, existe apenas para proclamar a glória de Deus.
Não faltava exatidão à cosmologia judaica. Para eles o universo era enorme: "Seria preciso viver quinhentos anos," diz o tratado Berakoth, "para cobrir a distância entre a terra e o céu que está imediatamente acima de nós; há uma diferença equivalente entre esse céu e o próximo, e as extremidades de cada céu, consideradas em sua largura, acham-se igualmente distantes."66 Pois havia sete céus. Por que? Porque a Bíblia usa sete palavras diferentes para céu. Desta noção surgiu a nossa expressão "no sétimo céu"; e Paulo parece referir-se justamente a isso, embora esteja falando de modo místico.66 Pela mesma razão a terra era também formada de sete camadas sucessivas — cuja idéia, do ponto de vista cientifico, não está muito longe da verdade.67 Afirmava-se tradicionalmente68 que ainda podia ser vista no Templo a pedra que o Todo-poderoso atirou no mar original para que a terra pudesse formar-se ao seu redor. Havia uma linha misteriosa que rodeava o universo, dividindo as trevas da luz: afirmava-se ser essa linha que Isaías mencionou no estranho verso: "Terra de piche ardente .. . estender-se-á sobre ela o cordel de destruição e o prumo de ruína".69 A origem dos "três primeiros elementos", céu, terra e água, foi também explicada pelas eruditas exposições do Livro de Gênesis.
0 conhecimento geográfico tinha a mesma base. Vários tratados talmúdicos se referem à geografia, e através deles podemos formar uma idéia da informação que um judeu culto do primeiro século possuía. A terra era redonda e achatada,60 cercada de água.61 Deus se achava sentado acima deste círculo por ele mesmo desenhado.62 A superfície da terra fora dividida em duas, Israel e o resto. Israel estava naturalmente no centro, imediatamente debaixo de Deus. Alguns rabinos chamavam os restantes de "países do mar”, embora fosse do conhecimento comum que Israel era lavada pelos sete mares: o Grande Mar (o Mediterrâneo), o Mar de Ge-nesaré, o Mar Samochonite (talvez o Lago Huleh, ou Merom), o Mar Salgado ou o Mar de So-doma, o Mar de Aco (o Golfo de Ácaba), e os Mares de Shelvath e de Apamea, estes dois últimos sendo talvez alguns pequenos lagos idumeus que Diodoro Siculus cita e que desde então desapareceram. A Terra Santa possuía quatro rios, o Jordão, o Jarmuque, o Quermiom e o Pi-ga. (Os dois últimos jamais foram identificados.) Fica aparente que os números místicos sete e quatro desempenharam importante papel neste conhecimento.
A história natural achava-se aparentemente bastante avançada. Os israelitas, uma nação pastoril, se interessavam por animais e conheciam os hábitos deles: nosso Senhor os menciona muitas vezes. A Bíblia também forneceu inúmeras informações. 0 Livro de Provérbios falava da formiga;63 Jó, particularmente interessado no assunto, mencionou a corça, o jumento selvagem, a avestruz, o cavalo, a águia, e até o hipopótamo e o crocodilo.64 Já no livro de Gênesis as baleias foram distingüidas dos outros habitantes do mar.66 As Escrituras continham até listas separando os animais selvagens dos que podiam ser domesticados, e fazendo diferença entre os que tinham e não tinham os cascos fendidos, entre plantas que davam semente e as que davam fruto.66 Isto tudo era naturalmente algo rudimentar: nenhum Plínio parece jamais ter-se levantado entre os judeus.
A matemática que forma agora a base de toda ciência, não existia. Pelo menos, não como ciência judaica, embora seja provável que o conhecimento grego e romano tenha-se introduzido até certo ponto. Tudo indica que não existia uma ciência abstrata dos números, os judeus não iam além do cálculo empírico. A geometria, por exemplo, ficava limitada à aplicação prática da agrimensura. Eles usavam o sistema de contagem decimal, juntamente com os remanescentes de um sistema sexagesimal que estava desaparecendo, sem dúvida por causa da influência estrangeira. Os números eram escritos pela combinação de letras, como faziam os romanos.
Como é lógico, a aritmética judia voltou-se primeiro para a Bíblia. Por exemplo, todas as letras de todos os livros canônicos foram contadas (esta a razão pela qual os doutores da Lei gostavam de ser chamados soferim, contadores), e foi descoberto que a palavra exatamente no centro do Velho Testamento é o verbo "buscar"; algo bastante significativo. Os judeus procuraram acima de tudo estabelecer a relação entre os números e as letras que os representavam: eles julgavam que somando os valores numéricos das letras que compunham uma palavra, era possível penetrar no segredo dessa palavra; sendo isto particularmente valioso quando se tratava de um nome próprio. Este tipo de cálculo teve origem na Babilônia, sendo também conhecido dos gregos e romanos; é a isto que o livro de Apocalipse se refere, especialmente naqueles estranhos versos que terminam o capítulo treze: "Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis". Este representava "Nero César”, o perseguidor dos cristãos na época em que João estava es-crevendô o seu livro, pois a soma dos valores numéricos desse nome é seiscentos e sessenta e seis.
Alguns rabinos esticavam demasiado esta artimética esotérica: para eles a Bíblia e especialmente o Pentateuco, era um documento em código, pelo qual, combinando os valores de todas as palavras, era possível armar equações cuja solução permitiria entrar nos segredos divinos, proféticos e metafísicos que uma simples leitura do texto não revelava. Este método que não era peculiar aos judeus — Platão parece falar dele nos seus trabalhos Republica e 77-maeus67 — deveria ser mais tarde grandemente desenvolvido pelos talmudistas; e deste desenvolvimento surgiu aquela extraordinária mistura de extravagância e profunda especulação conhecida pelo nome de Kabba/ah.ee Ao mesmo tempo, a idéia de um conhecimento esotérico reservado para os iniciados era com certeza amplamente mantida nos dias de Cristo: algumas pessoas seguiam dois ramos de estudo, um deles segundo a "ordem da criação" no primeiro capítulo de Gênesis, o outro segundo a "ordem do mistério", que era também chamado de "ordem do carro", com referência a Ezequiel e seu carro de fogo.69 Deve ser porém observado que nada era mais alheio a essas especulações, essas mensagens secretas reservadas aos iniciados, essas iluminações gnósticas, do que os ensinamentos de Cristo, em que tudo é claro e simples, podendo ser compreendido pelos pobres e os símplices. A PALAVRA FALADA E A ESCRITA
Que línguas Jesus falava? — Memorização, ritmo e antítese — Qual a escritura íida por Jesus? — Materiais de escrita — Como se espalhavam as notícias?
QUE LÍNGUAS JESUS FALAVA?
Quem quer que tenha visitado a moderna Israel, lido os jornais ali editados, visto os sinais nas encruzilhadas e ouvido os políticos e locutores radiofônicos, podería replicar que a língua comum dos judeus é o hebraico. Mas, seria este o caso há dois mil anos atrás? Absolutamente nâo. 0 hebraico de hoje é uma linguagem moderna, inventada através dos esforços extraordinários de Eliezer ben Yehuda e introduzida primeiramente nas colônias sionistas e depois no recém-estabelecido estado judeu, em vista de ter sido acertadamente considerado que uma linguagem comum seria o melhor elo para a unidade nacional. Mas isto não acontecia na época de Cristo. 0 hebraico tinha sido porém usado desde há muito pelo Povo Escolhido e continuava em vigor. Os filólogos classificam o hebraico entre as línguas semíticas,1 isto é, naquele grupo inteiro de línguas relacionadas em uso na imensa região que vai da Ásia Menor até o ponto mais ao sul da Arábia, e da costa do Mediterrâneo até a Mesopotâmia; e as dividem em três seções principais: a nordeste, com a acádia, assíria e babilónica; a noroeste, com a siríaca, fenícia e algumas outras; e as do sul, dentre as quais a da Arábia do norte, a língua de Maomé, viria a tornar-se a mais importante. 0 hebraico, como a língua de Canaã e o aramaico,pertencem ao grupo do noroeste. Mas todas essas línguas eram e continuam sendo bastante semelhantes, quase aquela semelhança que o francês tem com as outras línguas românicas, italiano, espanhol, rumeno, etc. A palavra "pai” por exemplo, é '§b em hebraico, 'ab em aramaico, abu em acádio e 'ab em árabe.
Quando os nômades da tribo de Abraão chegaram à Palestina, deviam falar um dialeto semita parecido com o babilónico da Baixa Mesopotâmia. Os cananeus falavam outros dialetos mais precisos e melhor construídos. Um desses dialetos cananeus foi adotado pelos hebreus na ocasião em que se estabeleceram na terra e ao mesmo tempo cristalizaram a sua linguagem — isto é, provavelmente depois do Êxodo, quando voltaram do Egito, que se transformou no hebraico. Ou seja, os vários tipos de hebraico; pois assim como na França medieval havia várias espécies de francês, a língua d'oc e a língua doit, o povo da Judéia também pronunciava por exemplo, o s dos efraimitas como sh,2 e no seu famoso cântico a profetisa Débora fez uso de um vocabulário altamente individual. Mas o hebraico da Judéia suplantou os demais, porque as Sagradas Escrituras foram preparadas quase inteiramente nesse dialeto.
Até o Exílio na Babilônia, a linguagem comum era então o hebraico. E Oavi e Salomão falavam a língua hebraica, assim como Atália e Jezabel. Mas após a volta da Babilônia a velha linguagem nacional caiu vagarosamente em desuso, sendo substituída no uso diário por outro dialeto. E desde que foi justamente nessa ocasião que os grupos eruditos dos dias de Es-dras começaram a escrever as Escrituras, o hebraico tornou-se a "linguagem da santidade", leshôn ha kodesh, ou leshôn shokamim, "a língua dos letrados", exatamente como o latim das escolas na idade média ou o latim litúrgico de nossos dias. A Lei era lida em hebraico nas sinagogas; as orações eram também nessa língua, tanto em particular como no Templo. Os doutores da Lei ensinavam em hebraico. Além das orações conhecidas de memória, como o Pai Nosso, as pessoas empregavam o hebraico para aquelas citações bíblicas estereotipadas que faziam parte da conversa comum, como nós usamos palavras latinas escolhidas no final do dicionário. Os manuscritos recentemente descobertos no deserto da Judéia mostram porém que pouco antes da era cristã houve uma restauração do hebraico: ele pode ter sido faiado na comunidade monástica dos essênios. Não existe qualquer dúvida de que Jesus conhecia perfeitamente essa língua: no evangelho de Lucas nós o vemos lendo na sinagoga: "Então lhe deram o Jivro do profeta Isaías, e, abrindo o livro" ele leu, aparentemente sem a menor dificuldade.
Mas na vida diária e ao ensinar Ele teria com certeza usado uma outra língua, o aramaico. Por mais que se tenha dito o contrário, esta não era de maneira alguma uma forma corrupta do hebraico, uma espécie de dialeto degenerado levado pelos judeus ao voltarem da Babilônia. O aramaico era uma língua tão pura quanto o hebraico, que fora usada por aquelas tribos ativas que se moviam pelo Crescente Fértil desde tempos remotos, fundando reinos relativamente efêmeros, sem jamais reunir-se num só agrupamento — as tribos das quais os israelitas alega-Vám descender.4 Por razões que não podemos agora descobrir, quando o levante dos arameus terminou e eles não tinham mais qualquer influência política, a sua língua não despareceu, mas, pelo contrário, espalhou-se extraordinariamente, suplantando todas as línguas nativas deste lado da Ásia, desde as cabeceiras do Eufrates até a sua desembocadura, do Mediterrâneo até a Pérsia. O rei dos reis, o monarca persa, adotou-a como linguagem administrativa, o que contribuiu muito para difundir o seu uso; e Israel não escapou a este domínio. Houve uma curiosa inversão de valores, pois apenas os homens de importância falavam o aramaico no século oito, enquanto o povo comum usava o hebraico,5 enquanto nos dias de Cristo acontecia justamente o oposto. 0 aramaico era uma língua bem mais desenvolvida que o hebraico, mais felxível e bastante mais adequada para a narrativa em suas diferentes formas e para a expressão do pensamento em seus vários aspectos e ligações. A maneira de falar a mesma também diferia, e é claro que os galileus não tinham o mesmo sotaque que o povo de Jerusalém, pois Pedro foi detectado como um dos companheiros de Cristo naquela trágica noite da quinta-feira santa,6 justamente pelo seu modo de falar.
À medida que lemos os evangelhos observamos claramente que o aramaico era a linguagem comum do povo. Eles contêm muitos termos aramaicos, sendo vários ditos pelo próprio Cristo: Abba, Aceldama, Gabata, Gólgota, Mamom;7 e até frases inteiras, como Talitha, cumi que disse para a filha de Jairo8 e a terrível Eloi, Éloi, lamma sabbachtani da suprema agonia,9 que é uma tradução das palavras do salmista para o aramaico. Além disso, algumas partes dos livros de Esdras e Jeremias foram escritas em aramaico, assim como de Daniel; e Mateus escreveu nessa língua o primeiro esboço do seu evangelho, antes de traduzir o aramaico para o grego.10 QsTarguns (targumim), que formam agora parte da literatura talmúdica, eram de fato traduções ou paráfrases do texto hebraico em aramaico, com ou sem comentários. Em cada sinagoga havia um Meturgeman, um intérprete, para explicar a Lei às pessoas simples que não sabiam bem hebraico. E cerca de quatrocentos anos antes de Cristo tornou-se hábito estabelecido, mesmo entre os rabinos, ensinar em aramaico e não mais em hebraico.11 O aramaico oriental, ou melhor, vários dialetos dele, perdura até hoje na Mesopotâmia: o caldeu litúrgico é uma de suas formas. Cerca de 64 quilômetros de Damasco existe um pequeno grupo de vilas ao redor de Malloula (ou Maamoula) onde o povo fala o aramalco ocidental que o Senhor teria usado. A Oração do Senhor em aramaico foi recentemente gravada ali.12
O hebraico e o aramaico não foram porém as únicas línguas faladas na Palestina há dois mil anos atrás. Isto se torna manifesto pelo relato do julgamento de Cristo: Pôncio Pilatos escreveu um aviso a ser pregado na cruz, Este é o Rei dos Judeus, em três línguas, hebreu, grego e latim.13 O latim foi incluido por razões oficiais, por ser a língua dos decretos imperiais; mas têm-se a impressão de que não era muito falada na Palestina. Josefo declara que as instruções enviadas de Roma eram de fato sempre acompanhadas por uma tradução grega.14 0 grego era sem dúvida amplamente difundido e falado em todo o Oriente Próximo, e na verdade através de todo o império. Os rabinos tentaram impedir a Invasão, considerando a língua como um precursor dos hábitos pagãos, mas sem êxito. "0 homem que ensina grego a seu filho”, diziam eles, "é tão amaldiçoado quanto o que come carne de porco."15 Isto porém não impediu que os grandes especialistas da Lei, até mesmo o próprio Gamaliel, o aprendessem. Quando Paulo falou à multidão em Jerusalém depois de ter sido preso, ficaram satisfeitos (como observado em Atos) porque ele se expressou em aramaico e não em grego.16 0 grego era a língua da classe alta, dos ricos e poderosos a língua dos Herodes; sendo também a do comércio internacional. Os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, quase todas as Epístolas e o Apocalipse foram todos escritos em grego ou imediatamente traduzidos para o mesmo. Não se sabe ao certo se Jesus sabia ou não falar grego: não existe uma única citação grega entre as suas declarações,nem sequer uma alusão; enquanto Paulo emprega grande número delas. Mas quando interrogado por Pôncio Pilatos, não parece que tenha sido chamado um intérprete; sendo também bastante improvável que o procurador romano tivesse se dado ao trabalho de aprender a língua do povo por ele governado.
O grego falado na Palestina assemelhava-se ao desenvolvido em Alexandria, uma variação deturpada, que se espalhara pelo mundo helenista, substituindo os dialetos ático, iônico, dórico, eólico e outros locais. Este grego koine ou internacional não passava de uma versão simplificada da linguagem clássica: não empregando mais palavras difíceis e abandonando algumas declinações e conjugações complexas; fazia uso das construções analíticas com preposições em lugar das formas sintéticas do grego clássico, adotando outrossim grande quantidade de palavras estrangeiras, particularmente do latim, assim como alguns sons das línguas orientais. Não se tratava do grego de Platão, nem o dos trágicos, mas era uma língua útil e bem adequada ao papel internacional que viria a desempenhar.
MEMORIZAÇÃO, RITMO E ANTÍTESE
Nenhuma discussão das línguas faladas na Palestina nos dias de Cristo pode deixar de destacar quanto o hebreu e o aramaico diferiam das línguas ocidentais em sua natureza ou como eram diversos os usos a que se prestavam. Quando se tratava de transmitir dados reais ou mesmo idéias, os israelitas naturalmente falavam como nós. 0 mesmo acontecia quando expressavam sentimentos ou se desejavam advertir, persuadir ou ameaçar. Mas a língua pode ter tido muitos outros propósitos: por exemplo, existe aquela função poética para a qual nossa civilização materialista não tem praticamente aplicação, mas que teve grande importância em Israel e em todas as outras nações do Oriente, particularmente os semitas; e também aquela transmissão de geração em geração — um papel ligado inseparavelmente à poesia, como vamos ver.
Para compreender perfeitamente este aspecto muito especial das palavras em Israel, devemos esquecer nossa civilização do papel e seus hábitos (e podemos agora acrescentar civilização do toca-discos e do toca-fitas): para nós escrever e ler, isto é, colocar os pensamentos de uma forma duradoura e material a fim de que permaneçam inalterados, são atos que nos parecem tão naturais que dificilmente poderemos imaginar sociedades que pudessem abster-se quase que totalmente deles. Nossa memória tornou-se anêmica e impotente; nossa capacidade de improvisação é muito mais didática que poética. Este não era absolutamente o caso em Israel nem nas outras nações orientais. As idéias eram transmitidas da maneira mais duradoura e permanente, na sua maior parte através da palavra falada; e isto, naturalmente, afetava necessariamente a palavra falada, dando-lhe características muito particulares.
Muito antes de ter sido registrado por escrito, a princípio de forma parcial sob Ezequias e Josias e a seguir de maneira mais completa no quinto século, quando é dito que o escriba Es-dras"ditou” noventa e quatro dos livros sagrados, o Velho Testamento só existia na forma falada. Declara-se formalmente que as profecias de Jeremias foram "ditas” durante vinte e dois anos antes de serem escritas; e está claro que os Salmos, Provérbios e os cânticos nupciais dos Cantares de Salomão surgiram primeiro como falas e canções e só passaram à forma escrita mais t£rde.17 Foi este também o caso dos poemas de Homero; Pisístrato ficou famoso em Atenas por ter dado ao texto sua forma final, por escrito,18 e o livro sagrado dos persas, o Zend Avesta, foi registrado da mesma forma por Zaratustra. O Corão também existia a princípio só na forma oral; e.na verdade o seu próprio nome dá a idéia de recitação.
Mesmo depois do texto sagrado ter sido registrado por escrito, o hábito da transmissão oral dos pensamentos não foi abandonado. São muitas as provas disto; os rabinos ensinavam oralmente e seus pareceres foram transmitidos da mesma forma; o tratado Gittin chegou a dizer que escrevê-los seria uma transgressão da lei.19 No ano mil da nossa era, Sheria Gaon afirmou que "os eruditos consideram seu dever recitar de memória". Além disso, o termo "Talmu-de" significa "aprendido de cor"20 Sabemos também que entre os primeiros cristãos era comum transmitir as "boas novas", isto é, o relato da vida do Senhor e seus ensinos, unicamente de forma oral. Os Atos dos Apóstolos, as Epístolas e o Apocalipse foram com toda certeza escritos desde o início, mas é também igualmente certo que os quatro Evangelhos foram falados antes de se transformarem em livros. Os homens que empreenderam a difusão do novo ensinamento fizeram sem dúvida uso de dispositivos mnemónicos para ajudá-los, os quais podem ser traçados nos evangelhos; mas o mais importante que tudo para eles era o que haviam aprendido, o que sabiam. Tornou-se necessário colocar as coisas por escrito somente quando o cristianismo alcançou aqueles círculos greco-romanos em que a leitura e a escrita constituíam prática comum; mas mesmo cerca do ano 130, quando os livros dos quatro evangelistas já circulavam há muito, Papias, bispo de Hierápolis na Frigia, afirmou que preferia acima de tudo, em matéria de tradição, a "palavra viva eterna". E pouco mais tarde, Irineu em Lions falou de certa ocasião em que ouvira Policarpo, o grande bispo de Esmirna, relatando o que ouvira diretamente do apóstolo João.21
A memória desempenhava um papel importante em tudo isso, e os rabinos davam grande consideração ao exercício da mesma. O rabino Dostai, filho de Jani, falando em nome do rabino Meir, declarou; "O homem que se esquece de algo que aprendeu provoca a sua própria ruína".22 E o maior elogio a um discípulo era dizer que se assemelhava a "uma cisterna bem cimentada, que não perde sequer uma gota de água".23 Existe também um ditado comum; "O homem que não recita é ímpio".24 A fim de treinar a memória os alunos eram obrigados a decorar passagens enormes, que precisavam repetir sem qualquer omissão, sem acréscimo ou modificação de uma só palavra. Quem visita uma escola maometana hoje em dia pode observar que o método continua sendo usado no Islã; um grupo de meninos, sentados no chão, repetem juntos, em voz alta e ritmada, verso após verso do Corão. O mesmo acontece nas escolas talmúdicas. Deve ser enfatizado que este método de treinamento sistemático da memória não se destinava apenas aos especialistas, teólogos ou historiadores profissionais; como vimos,28 as crianças já aprendiam a memorizar desde a mais tenra idade. E quando alguém pensa no extraordinário comprimento da oração do Shemoneh Esreh, as dezoito bênçãos, é preciso admitir que a memória do judeu era na verdade muito bem treinada.
Este uso deliberado da memorização deu à língua e suas formas de expressão algumas características altamente individuais. Em primeiro lugar, desde que todos os textos aprendidos de cor foram extraídos das Escrituras, a mente dos alunos ficava repleta de fatos, sentenças e personagens bíblicos, o que explica os inúmeros ecos bíblicos ouvidos da boca dos homens e mulheres judeus da época — nas palavras dos próprios Maria e José. Acima de tudo, porém, os eruditos de Israel, desejosos de ajudar a memória e gravar o mais profundamente possível os ensinamentos que ela deveria reter e transmitir, haviam inventado todo um sistema de ritmos, melodias, aliterações, repetições de palavras e antíteses que tornava mais fácil a memorização dos elementos verbais. Este sistema era tanto mais importante porque o aprendiz não tinha um caderno de apontamentos no bolso nem um dicionário sobre a mesa. Estudos recentes provaram a importância fisiológica e psicológica deste "estudo rítmico": A maior parte do Velho Testamento provavelmente foi composta nessa base, em ritmos duplos ou triplos. Quanto ao Evangelho, basta lê-lo com cuidado para sentir a batida rítmica e o jogo dos contrastes: a técnica característica continua perfeitamente visível, embora o livro tenha sido traduzido para o grego e desta língua para o português: isto é, duas línguas cujos ritmos e construções são radicalmente diferentes das semitas. 0 Sermão da Montanha é um exemplo típico, especialmente na versão de Lucas,26 com as bem-aventuranças e as maldições que se seguem. Também nas parábolas e até mesmo nos ditos mais comuns, sentimos o que o Padre Jousse chamou de re-citativos paralelos, que ou em hebraico ou aramaico devem ter sido surpreendentemente claros para todos.
Quando um judeu tinha, portanto, de falar com extrema formalidade, como por exemplo ao ensinar, ou orar, esta teria sido a base do seu estilo, sendo altamente provável que uma parcela do mesmo fosse incluída na linguagem diária. Uma jovem mulher do povo, como Maria, por exemplo, ao proferir espontaneamente seu agradecimento, o Magnificai, deu-lhe com naturalidade uma cadência poética que continua evidente na sua versão portuguesa: "A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus . . ,"27 Em nossa concepção moderna, baseada na palavra escrita, as palavras têm um lugar, as melodias outro e os ritmos um terceiro; na concepção israelita da linguagem, os três se interpenetravam; desempenhavam juntos o seu papel e a expressão do pensamento tendia naturalmente a tornar-se uma forma de arte.28
0 QUE JESUS LIA?
Por maior que fosse o papel da palavra falada em Israel, a escrita também tinha a sua importância; pois eles eram o Povo do Livro, e toda a sua vida era regulada por textos escritos. Já vimos que havia uma classe distinta, a dos escribas, cuja função era escrever e tornar conhecido o que estava escrito. Em termos gerais, têm-se a impressão de que a maioria dos judeus sabia ler e escrever. Encontramos muitas alusões a esta habilidade, mesmo sem ir além dos evangelhos: na parábola do administrador desonesto, o esperto indivíduo diz a um devedor: "Sente-se e escreva cinqüenta". Vemos também Zacarias, que não podendo falar escreve o nome de seu filho João, o futuro Batista. 0 próprio Cristo fala do iod, a menor letra do alfabeto; e quando a mulher foi apanhada em adultério ele é mostrado como "escrevendo no chão com o dedo", escrevendo, sem dúvida, sua resposta aos acusadores, "Quem estiver entre vós livre de pecado, seja o primeiro a atirar-lhe pedra".
As duas linguagens nacionais correntes em Israel na época de Cristo, o hebreu e o aramaico, tinham sido ambas escritas desde tempos bem mais remotos. Foi no século doze antes de nossa era que o alfabeto, essa invenção inspirada dos mercadores fenícios, se generalizou, substituindo a complexa escrita cuneiforme dos babilônios e os hieróglifos heteus ou egípcios por um sistema maravilhosamente simples que foi a base do alfabeto grego e latino, assim como o de todos os que agora usamos no ocidente. 0 século doze A.C. foi também de modo geral a data do Êxodo; foi sugerido que tenha sido Moisés quem introduziu o alfabeto na vida de Israel, sendo isto declarado como fato por Eupolemus, o historiador helenista. Em qualquer das hipóteses, temos as ordens frequentes de Javé a Moisés: "Escreva isto. Escreva.minhas palavras". Acontece que foi no próprio coração do Sinai, o ponto focal da revelação mosaica, que algumas das inscrições alfabéticas mais antigas do mundo foram descobertas.30
O alfabeto hebraico original tinha como base o alfabeto fenício. As letras deste hebreu arcaico possuíam então algumas formas notavelmente idênticas às do grego, cuja origem era a mesma. Havia entretanto uma diferença essencial: o hebraico se escrevia da direita para a esquerda, e não da esquerda para a direita. Algumas letras, como delta, gama e teta, eram quase exatamente as mesmas. Pouco antes da era cristã, depois de acaloradas discussões entre os rabinos, este alfabeto "fenício" (que pode ser ainda visto em alguns dos pergaminhos do Mar Morto) foi substituído por outro de origem aramaica, que são os caracteres do hebreu moderno, exceto entre os samaritanos.. Nos dias de Cristo, portanto, ambas as línguas eram escritas da mesma forma.
Qualquer que fosse a sua forma escrita, este alfabeto possuía uma grande vantagem e um grande defeito. A vantagem estava em ser claro e exato: cada letra (principalmente no estilo arcaico) era perfeitamente distinta, e cada som possuia sua própria letra — não existiam as absurdas complicações do gh em inglês, por exemplo. Mas esta simplicidade apresentava um outro aspecto que julgamos deveras surpreendente: as vinte e duas letras do alfabeto hebraico eram todas consoantes. Um leitor brasileiro poderia perfeitamente perguntar o que restaria se todas as vogais fosse eliminadas de uma frase como unidade européia, ou como Abedenego vê um ídolo podia ser distinguida de outra composta das mesmas consoantes. Os próprios israelitas compreendiam que esse sistema de escrever apenas as consoantes era incompleto. Haviam adotado, portanto, o costume de usar certas consoantes para representar os sons vocálicos principais; só existiam três delas, e embora não perdessem seu valor como consoantes, podiam em certos casos ser pronunciadas como vogais, da mesma forma que o y em inglês pode servir tanto como consoante em yellow, ou vogal em iymph. Trata-se do sistema conhecido como matres lectionis pelos linguistas. Os documentos do Mar Morto confirmam que este sistema vigorava quando eles foram compilados, isto é, mais ou menos na época de Cristo. Nós podemos achar difícil, mas para o leitor acostumado ele lembrava bastante bem a pronúncia corrente. Deve ter sido, em todo caso, muito prático, pois foi o método adotado pelo estado de Israel para escrever o hebraico oficial, recorrendo ao sistema massorético de pontos vocálicos (que foi elaborado muito mais tarde e que é sempre usado para o hebreu bíblico) apenas nas palavras extremamente difíceis. Defrontamo-nos então com o fato curioso de que o hebreu lido por Cristo teria sido praticamente o mesmo que os modernos habitantes de Telavive lêem em seus jornais.
MATERIAIS DE ESCRITA
Deve-se observar que esta escrita era mui raramente gravada em pedras. Só se conhece uma única inscrição monumental de uma época anterior à helenista, e essa (a inscrição do canal de Siloé) não foi feita para ser vista. "Isso se deveria," pergunta o Cardeal Tisserant, "ao fato de que os judeus evitavam imitar as tábuas da Lei, sobre as quais o dedo de Deus escrevera o decálogo?"32 Qualquer que seja o motivo, isso era estranho num mundo tão cheio de inscrições egípcias, babilônias, gregas e romanas. Nos dias de Cristo, porém, os judeus haviam adotado a prática. Paulo refere-se a ela na segunda epístola aos Coríntios,33 e a arqueologia descobriu várias inscrições nos cemitérios. Jó fala do modo como as letras eram cortadas com um buril e chumbo derretido despejado nas ranhuras.34
O santo homem se refere também a escritos sobre bronze,36 e na verdade entre os mais curiosos de todos os objetos encontrados nas cavernas próximas ao Mar Morto foram encontrados dois rolos de cobre, com certa de 0,90m de comprimento e 0,30m de largura, cobertos com um texto profundamente gravado. A princípio julgaram tratar-se de catálogos dos manuscritos ali depositados, mas depois de terem sido desenrolados com grande dificuldade (tinha aproximadamente 0,8cm de espessura) e decifrados, descobriu-se que se referiam a um tesouro oculto em algum lugar do deserto da Judéia.
Os israelitas, diferentemente dos mesopotâmios e heteus, nunca fizeram uso das chapas de argila, cozidas ao sol depois de gravadas com um instrumento pontiagudo que deixava marcas na forma de cunha: os alfabetos hebraicos não eram adequados à adaptação cuneiforme. Os arqueólogos não obstante encontraram alguns ostraka, aqueles fragmentos de louça de barro que se parecem vagamente com a concha da ostra, que o mundo antigo do Mediterrâneo usava com tanta freqüência para os escritos curtos. Muitos desses humildes documentos da vida cotidiana: notas, rascunhos, billets doux ou cédulas de votos, eram simplesmente escritos a tinta, da melhor forma que o autor conseguia, sobre a superfície áspera do pedaço de tigela ou jarro.
Os documentos escritos, fora esses já citados, são regularmente raros nas escavações feitas na Palestina: até a extraordinária descoberta dos pergaminhos do Mar Morto em 1947, só se conheciam pouco mais de algumas dúzias. Isto prova que os judeus geralmente escreviam sobre materiais perecíveis; e como não imitavam os rituais de sepultamento dos egípcios, eles não colocavam papiros em suas tumbas, os quais são encontrados em tão grande quantidade no Egito. Os materiais de escrita deles eram portanto os mesmos usados pelo resto do mundo Mediterrâneo e todo Império Romano.Em primeiro plano vinham as placas de madeira cobertas de cera, sobre as quais se escrevia com um estilete de osso, bronze ou prata. Uma das extremidades do estilete era pontuda e a outra lisa, achatada, a fim de poder limpar a inscrição passando a mesma sobre a cera em relevo, e usar novamente a placa. 0 autor de Apocalipse alude a esta prática comum na passagem onde a alma escolhida ouve do mestre dos sete espíritos de Deus e das sete estrelas: “de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da Vida".38
As placas de madeira cobertas de cera não eram usadas para textos longos. Desde o princípio peles de animais foram utilizadas com esse fim. Sefer, o termo hebraico para livro, vem da mesma raiz da palavra que significa "raspar": os livros mais antigos dos judeus devem portanto ter sido escritos em peles raspadas; e esta, como vemos em Heródoto e Diodoro, era a prática comum no Oriente.37 Eles se utilizavam da pele de cabrase ovelhas, especialmente preparadas. As melhores vinham do distrito de Pérgamo na Ásia Menor, sendo essa a origem do pergamena latino e parchment inglês. Paulo, escrevendo ao seu caro discípulo Teófilo, pede-lhe especialmente que leve com ele seus rolos de pergaminho.38 Como o pergaminho custava caro, algumas vezes o dividiam em folhas de metade da espessura original, constituindo o custoso e delgado duksystos (dischotos em grego), sendo a sua parte exterior melhor que a interior. Mas todos os rabinos insistiam que os textos sagrados fossem escritos em peles gewil, isto é, não divididas. 0 uso de peles como material de escrita era com certeza grandemente difundido nos dias de Cristo. A Epístola de Aristéias, uma peça da literatura judia alexandrina apócrifa, que data de poucas décadas antes do nascimento do Senhor e que dá um relato magnífico da tradução da Bíblia para o grego pelos Setenta, afirma que o texto enviado ao Faraó para ser traduzido foi escrito sobre rolos de peles inteiras.
Já nessa ocasião, porém, um material de escrita muito mais barato e de fácil obtenção estava competindo com o pergaminho: o papiro. Cerca de três mil anos antes, os egípcios haviam descoberto essa planta aquática e sua utilidade. A Palestina cultivava alguns espécimes, nos pântanos ao longo do Jordão e mesmo nalgumas das partes mais úmidas do Neguebe, mas o Egito era o grande fornecedor, e desde que Roma passou a comprar o material em grandes quantidades, o preço pedido pelos que tinham o monopólio do papiro subia continuamente. Os países menores como a Palestina eram obrigados a voltar ao uso do pergaminho ou utilizar-se dos suprimentos locais. A técnica de preparação do papiro era a mesma que fora aperfeiçoada nas ribanceiras do Nilo ainda antes da construção das pirâmides: as hastes, algumas vezes com três metros de comprimento eram descascadas e cortadas em tiras estreitas, as quais por sua vez eram coladas umas às outras em camadas, a grã dessas camadas ia para um lado e depois para outro; as folhas eram a seguir batidas com um martelo de madeira e finalmente alisadas com um raspador. Como o preço do papiro era comparativamente alto, usavam-no várias vezes, seja lavando ou raspando os dizeres nele contidos. Os papiros velhos, como nossos jornais mais velhos,eram também usados para embrulhos: o tratado Shabbath especifica até que no dia de descanso era proibido carregar mais papiros velhos do que o suficiente para embrulhar uma garrafa de óleo.39 É muito provável que as Epistolas tenham sido escritas em papiro, particularmehte as de Paulo. Da mesma forma que os judeus, os primeiros cristãos os empregavam para fazer mais cópias de seus livros sagrados; assim, nos famosos papiros Chester Beatty de Dublin e da Universidade de Michigan, os papiros Ryland de Manchester e alguns outros, podemos ler trechos do Velho Testamento e passagens do Novo, especialmente uma parte do capitulo 18 do Evangelho de João, que pode ser datado cerca do ano 140. Num clima seco o papiro se conserva perfeitamente.
Uma pena fendida era usada para escrever, quer sobre o pergaminho ou o papiro, como vemos no inicio do Salmo 44; e João, ao terminar a Epístola a seu amigo Gaio, diz-lhe que tem muito mais a contar, mas não quer transmitir a mensagem "com tinta e pena". Esta pena era o calamus, cortado em direção inclinada e depois fendido. Nossas penas de ponta de metal são um descendente direto do mesmo, e foram também encontrados alguns cálamos de bronze que se assemelham curiosamente às nossas canetas-tinteiro. A pena de ganso, por outro lado, era absolutamente desconhecida, tendo passado a ser usada entre os bizantinos no quarto século. A tinta da época não era liquida como a nossa, sendo uma mistura de negro de fumo e goma guardada seca e só umedecida para ser usada, exatamente do mesmo modo que a tinta chinesa: isto permitia que fosse lavada com facilidade, mas também dava lugar a toda sorte de fraudes — a parábola do administrador desonesto dá uma idéia delas. Já se empregava também a tinta vermelha, feita com sikra, um pó vermelho que as mulheres usavam para maquilar-se. Talvez pelo fato da tinta servir para fins tão profanos e por permitir tantas trapaças foi que Paulo lembrou os cristãos de Corinto de que as palavras de Cristo não deveriam ser escritas apenas com tinta, mas com o Espirito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas de carne, nos corações dos homens.40
Se alguém queria escrever um texto longo, em lugar de dobrar o material em que escrevia o mesmo (o que teria sido difícil no caso do pergaminho), ele colava ou costurava as folhas uma depois da outra, a fim de formar uma tira comprida que era enrolada em um ou dois cilindros de madeira. Alguns desses documentos tinham mais de 45m. Sua leitura era feita segurando-os com as duas mãos, a direita enrolando o que já fora lido e a esquerda desenrolando. Esta seria a atitude de nosso Senhor ao ler uma passagem da Lei na sinagoga. No livro de Apocalipse encontramos a terrivel imagem: "o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola".41 O costume de dobrar as folhas de papiro surgiu cerca de um século depois de Cristo, particularmente entre os primeiros cristãos; e destas dobras veio o códice ou livro encadernado, geralmente um quaternio de quatro folhas dobradas a fim de formar oito páginas costuradas, como são os nossos livros, em um volume.
No final, a fim de proteger os manuscritos mais valiosos, eles eram enrolados em tecido; quando sé tratava de manuscritos dos livros sagrados, em linho fino, decorados com enfeites em azul da cor do jacinto e com as extremidades franjadas. Colocavam-nos a seguir em jarros especiais; e uma biblioteca importante deveria ter-se assemelhado bastante a uma grande loja de vinhos. Como todos sabem, os rolos do Mar Morto foram encontrados em jarros, nos anos 1947 e seguintes. A hipótese geralmente aceita é que eles faziam parte da biblioteca de uma comunidade de essênios, cujo monastério foi descoberto nas proximidades das cavernas de Cunrã — Biblioteca essa que foi ocultada pelos monges na ocasião em que os legionários romanos de Tito estavam devastando o pais durante a grande rebelião de 66-70 A.D.42
Foram também encontrados nas ruínas de Cunrã três tinteiros de bronze e um de barro, contendo tinta seca. Um dos aposentos lembra o escritório de um monastério ocidental. Parece tratar-se de monges dedicados à cópia a mão dos textos sagrados, como faziam os beneditinos em tempos idos. Em todo caso, uma das principais funções dos escribas, cuja importância já mencionamos,43 era copiar a Bíblia. Os rabinos tinham estabelecido as regras mais extraordinárias e minuciosas para os que se dedicavam a esta tarefa: nada devia ser transcrito de memória, mas cada palavra tinha de ser verificada e mesmo que o original contivesse um erro evidente era preciso copiá-lo, avisando as autoridades sobre o mesmo, para que decidissem. O nome santo de Deus devia ficar em branco, para que pudesse ser escrito com outra tinta absolutamente pura, por um escriba que tivesse feito as abluções rituais com esse propósito. Além do mais, nem todos podiam possuir os livros sagrados e guardá-los em casa (embora houvesse uma exceção para o livro de Ester, que devia ser lido para a família na Festa do Purim), e alguns doutores da Lei, Gamaliel entre eles, ensinaram até que tocá-los tornava impuras as mãos. Nem mesmo os livros incorretos ou aqueles suspeitos de heresia ou simplesmente diferentes dos textos aceitos eram destruídos, mas colocados num dos chamados "cemitérios de livros" a que davam o nome de ghenizah.** A palavra "bibliomania" foi usada sendo porém talvez dura demais; mas em qualquer caso, os judeus tinham grande respeito pela palavra escrita.
COMO SE ESPALHAVAM AS NOTÍCIAS
Uma das principais funções da palavra escrita em nossa sociedade, tão importante que a invenção do telefone e do rádio não conseguiu fazê-la desaparecer, é a divulgação de notícias. Na antiga Israel e em todas as comunidades do mundo da antigüidade, no que diz respeito a esse assunto, isso só podia ser feito numa escala muito menor. A facilidade com que compramos o jornal, essa esplêndida ajuda ao pensamento,46 e o compramos tão barato, além de dois séculos de desenvolvimento postal, tornaram a nossa correspondência diária (o tirano do homem de negócios) uma das bases essenciais da comunicação. Há vinte séculos atrás, na Palestina e em Roma, isso não acontecia.
Os materiais de que acabamos de falar eram também usados para escrever cartas: pergaminhos, papiros, chapas de cera. Os romanos tinham generalizado o uso de chapas de duas folhas: as duas eram presas uma à outra por tiras de couro, colocadas cera contra cera, mas uma pequena sobreposição da madeira evitava que as superfícies escritas tocassem uma na outra. A pessoa que recebia a carta precisava apenas apagar as palavras e já tinha em mãos o material para a resposta. As cartas escritas em pergaminhos ou papiros eram enroladas e amarradas com um cordão. A fim de provar sua autenticidade, eram assinadas, como fazemos hoje, particularmente quando ditadas a um amanuense, o equivalente de nosso datilógrafo. Algumas vezes a pessoa que assinava acrescentava uma sentença mais pessoal: Paulo, por exemplo, termina sua carta aos Colossenses com uma saudação, e diz particularmente: "A saudação é de próprio punho: Paulo".48
Uma simples.assinatura não bastava porém: a carta ficava incompleta sem um selo. Todo homem importante tinha o seu, com o seu nome nele ou um desenho decorativo; a gravação desses selos exigia artesãos especializados — a Bíblia fala deles — e gravavam a inscrição com uma ponta de diamante47 em metal ou pedra dura, tal como a ágata. O selo podia ser de cera ou mais raramente de chumbo; sendo em qualquer caso essencial. Nenhuma carta importante podia deixar de tê-lo. O selo era altamente simbólico e as Escrituras Sagradas fazem menções freqüentes ao seu uso: segundo Jó, o próprio Deus colocara o seu selo sobre o homem;48 a circuncisão era o selo da fidelidade a Javé;49 para os discípulos, a mensagem de Cristo estava marcada com o selo da verdade de Deus;60 e o Juízo Final, disse Apocalipse, seria selado com sete selos.61
Depois de devidamente assinada, fechada e selada, a carta seria enviada a seu destino.
Isso não era fácil. O império romano possuía na verdade o seu serviço postal, copiado daquele aperfeiçoado do século cinco A.C. pelo rei Dario, o persa. Tratava-se de uma organização verdadeiramente considerável, um ministério positivo, com um exército de mensageiros, pessoas para cuidar das postas e supervisores; havia também um sistema de prioridades segundo a urgência da mensagem.62 Mas o número de pessoas que podiam utilizar-se do correio imperial era muito pequeno; e temos a impressão de que Herodes eseus descendentes jamais estabeleceram uma organização deste tipo.
Os indivíduos precisavam, portanto, usar mensageiros: seus próprios escravos, se fossem ricos, ou através dos que faziam da entrega postal uma profissão. Esses carteiros são mencionados no tratado Shabbath:63 colocam as mensagens no cinto ou em tubos de madeira pendurados no pescoço. Os muito pobres para alugar um mensageiro, aproveitavam-se da viagem de um amigo, um oficial ou um mercador ambulante para confiar-lhe a carta. Os mercadores importantes se reuniam para enviar um homem a Alexandria ou Babilônia, levando as cartas de todo o grupo. 0 Grande Sinédrio e o sumo sacerdote possuíam mensageiros especiais para comunicar-se com os sinédrios provinciais e as comunidades da Diáspora, como o último capítulo de Atos deixa claro.54 Como é natural, essas cartas não chegavam muito rapidamente aos seus destinos: uma carta particular enviada a Cícero levou cerca de cem dias para ir da Síria até Roma, e o correio imperial levou cinquenta e quatro dias de Roma a Cesaréia.
As notícias que deviam ser levadas ao conhecimento do público ou as que transmitiam ordens oficiais eram escritas nos muros. No próprio Templo existiam inscrições proibindo os pagãos de entrarem nos pátios reservados aos crentes. As autoridades romanas usavam essas notícias, e ao que parece as escreviam, como aquela que foi colocada sobre a Cruz, em três línguas, sendo uma delas ou hebreu ou aramaico. 0 populacho, como sempre faz em toda parte, tornava conhecidos seus sentimentos e opiniões escrevendo-os nos muros. Os arqueólogos encontraram diversos graffití, como os que podem ser vistos em Pompéia ou no Palatino. Um deles, na parede inferior do palácio asmoneano, declara que "Simão e toda sua casa podem ir para o inferno e arder ali": pelo menos esta era a opinião de Pampras, um pedreiro insatisfei-to.BB
Haveria algum método de divulgar as notícias mais amplamenteP Alguns autores afirmaram que "houve uma tentativa de circular uma espécie de jornal em Jerusalém" e que este fato é mencionado nos arquivos rabínicos"; embora seja "impossível descobrir se se tratava de um empreendimento privado ou se, por outro lado, foi realizado pelo governo romano ou pelos sumos sacerdotes".66 Se isto for verdade o "jornal" manuscrito deve ter sido bem pouco lido. É melhor supor que as notícias se espalhavam verbalmente. É notável com que rapidez qualquer acontecimento fica sendo conhecido tanto no Oriente como na África. Os ambulantes e muitos mendigos que vão de lugar em lugar teriam se encarregado de espalhar relatos mais ou menos verdadeiros de todas as ocorrências, importantes e triviais. 0 poço ou a fonte onde as mulheres iam buscar água era o centro de informações da cidade; e podemos estar certos de que as notícias de importância eram divulgadas através de toda a Palestina. Assim, no evangelho, vemos as "multidões" acorrendo para serem batizadas por João ou para ouvir a pregação do novo mestre, Jesus: não tiveram necessidade de qualquer jornal ou mensagem radiofônica para ficar sabendo dessas coisas. Este meio completamente simples de divulgação tinha um bonito nome, "as asas do pássaro". III – COMO LER UMA PARÁBOLA A- Buscar a verdade (ou verdades) que a parábola ilustra. Sempre devemos buscar a revelação do ESPÍRITO SANTO, nunca confiarmos em nossa própria sabedoria, pois a parábola está inserida em uma verdade profunda que não pode ser alterada. B- Ater-se à essência da parábola. Devemos, ao estudarmos parábolas, tomarmos sempre o cuidado para não nos desviarmos do verdadeiro ensino que nos está sendo proposto e cairmos em distração espiritual, porém, não direcionada pelo ESPÍRITO SANTO, pois podemos passar a desvirtuar o verdadeiro ensino a nós transmitido e passarmos a criar outro ensino, pois a parábola permite isto em sua interpretação. C- Jamais se esquecer de que as parábolas servem para ilustrar doutrinas e não para estabelecê-las. Ensinar uma doutrina através de uma parábola é válido e bastante aproveitável, porém nunca se deve passar às pessoas uma doutrina pessoal através de uma parábola, veja este exemplo: Parábola: Todo dia, ao meio dia, um pobre velho entrava na igreja e saía, poucos minutos depois. Um dia, o pastor perguntou-lhe o que fazia, pois havia objetos de valor na igreja. - Venho orar - respondeu o velho. - Mas é estranho - disse o pastor - que você consiga orar tão depressa. - Bem, - retrucou o velho - eu não sei recitar aquelas orações compridas, mas todo dia, ao meio dia, entro na igreja e só falo: "Oi Jesus, eu sou o Zé. Vim te visitar". Num minuto já estou de saída. É só uma oraçãozinha, mas tenho certeza de que ele me ouve. Alguns dias depois, o Zé sofreu um acidente e foi internado num hospital. Na enfermaria, passou a exercer uma boa influência sobre todos os que o rodeavam. Os doentes mais tristes se tornaram mais alegres, os familiares tornaram-se mais esperançosos, muitas risadas começaram a ser ouvidas. - Zé - falou-lhe um dia a Irmã - os outros doentes dizem que você está sempre tão alegre... - É verdade, Irmã, estou sempre muito alegre. É por causa daquela visita que recebo todos os dias, e que me deixa muito feliz. A Irmã ficou atônita. Já tinha notado que a cadeira encostada na cama do Zé estava sempre vazia. O Zé era um velho solitário, sem ninguém, e que por esse motivo não recebia visitas. Mesmo assim, levada pela curiosidade, perguntou-lhe - Que visita, Zé? A que horas? - Todos os dias - respondeu com um brilho nos olhos. - Todos os dias, ao meio-dia. Ele vem e fica sentado nesta cadeira, ao lado da cama. E quando eu o olho. Ele sorri e me diz: "Oi Zé, eu sou Jesus. Vim te visitar". (Autor desconhecido) ANÁLISE: Veja que estaríamos apoiando uma falsa doutrina se aceitássemos esta parábola como uma verdade a respeito da oração. DEUS não está em um prédio e nem a uma hora marcada por alguém. JESUS estaria disposto a curar o enfermo e não em visitá-lo e também não marcaria hora para visitar alguém. Não saber orar indica falta de amizade e intimidade com DEUS e a oração é feita com temor e adoração a DEUS. Uma alma cheia do ESPÍRITO SANTO transmite o evangelho e não apenas alegria passageira a seus colegas. Mas tudo isso descobrimos pela lógica humana que é diferente da lógica de DEUS. DEUS ouve as nossas orações mais simples. Ouve as orações de crianças que nem sequer teem noção do que seja a construção de uma oração. Podemos oarar no ESPÍRITO SANTO que é orar em línguas para edificação própria. Existem multiformas de oração. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.(Salmos 51:17). 1. Entendendo a narrativa como a síntese das experiências cotidianas. 2. Procurar as declarações explícitas e implícitas do agir de DEUS no contexto literário. 3. Identificar a aplicação prática da parábola. CONCLUSÃO As parábolas eram recursos didáticos usados pelos judeus desde os tempos do Antigo Testamento (Jó 27.1; Hb 2.6). O profeta Ezequiel está entre os inúmeros personagens bíblicos que fizeram uso dessas alegorias a fim de comunicar uma mensagem clara e acessível (Ez 17.2). As parábolas também eram usadas pelo povo e sábios de Israel em forma de provérbios parabólicos (Ez 18.1-3; Sl 78.2). O propósito da parábola está relacionado ao significado do próprio termo, ou seja, “colocar uma coisa ao lado de outra a fim de comparar”. Portanto, quando Jesus ensinava usando a parábola, pretendia comparar um episódio do cotidiano com uma realidade espiritual. Jesus usava essas ilustrações com dois objetivos: didático e teológico. Além de fazer cumprir a Palavra de DEUS dita pelos profetas era para JESUS a melhor maneira de fixar nas mentes de seus ouvintes seus ensinos de amor e humildade. As parábolas nos ensinam que os mistérios de DEUS são facilmente entendidos pelos simples e humildes de coração. Devemos aprender de JESUS. "Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas". Mt 11.28,29. LEIA A REVISTA DO 2º Trimestre 2005 - As Parábolas De Jesus - Tema Central: Adevertências Para Os Dias De Hoje. Comentarista: Pr. Elienai Cabral.
Lição 1- Parábolas De JESUS - As Parábolas No Ensino De JESUS Texto Áureo: Tudo isso disse Jesus por parábolas à multidão e nada lhes falava sem parábolas, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a boca; publicarei coisas ocultas desde a criação do mundo. (Mt 13.34,35). Verdade Prática: Através de suas parábolas, o Senhor JESUS continua a revelar-nos os grandes mistérios do reino de DEUS. Leitura Bíblica em Classe: Salmo 78.1-8 1 Escutai a minha lei, povo meu; inclinai os ouvidos às palavras da minha boca. 2 Abrirei a boca numa parábola; proporei enigmas da antiguidade, 3 os quais temos ouvido e sabido, e nossos pais no-los têm contado. 4 Não os encobriremos aos seus filhos, mostrando à geração futura os louvores do SENHOR, assim como a sua força e as maravilhas que fez. 5 Porque ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e pôs uma lei em Israel, ce ordenou aos nossos pais que a fizessem conhecer a seus filhos, 6 para que a geração vindoura a soubesse, e os filhos que nascessem se levantassem e a contassem a seus filhos; 7 para que pusessem em Deus a sua esperança e se não esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os seus mandamentos 8 e não fossem como seus pais, geração contumaz e rebelde, geração que não regeu o seu coração, e cujo espírito não foi fiel para com Deus. 78.1 ESCUTAI A MINHA LEI, POVO MEU. Este salmo foi escrito para relembrar aos israelitas por que lhes sobrevieram tantos julgamentos divinos devastadores durante sua história. (1) O cântico admoesta-os a aprenderem com as falhas espirituais dos seus antepassados e a se esforçarem com zelo para não se tornarem incrédulos e infiéis como eles. (2) O povo de Deus, de hoje, deve meditar neste salmo com toda atenção, porque muitas igrejas e denominações já perderam a presença e o poder de Deus por causa da sua incredulidade e desobediência à Palavra de Deus. Essas igrejas desviaram-se pouco a pouco, retornando para os seus próprios caminhos (cf. Is 53.6), porque deixaram de pôr em prática os padrões da Bíblia e seus exemplos.
78.5 QUE A FIZESSEM CONHECER A SEUS FILHOS. Ensinar aos nossos filhos os divinos princípios e preceitos da Palavra de Deus não é uma opção; é um mandamento que Ele entregou ao seu povo. Aquilo que Deus ordena, Ele dá graça para cumprirmos (ver Dt 6.7)
78.8 E NÃO FOSSEM COMO SEUS PAIS. Deus, aqui, exorta o seu povo (cf. v.1) a não seguir as pisadas infiéis dos seus antepassados espirituais. Aplicando essa verdade aos tempos do NT, as igrejas fiéis de hoje devem se acautelar para não seguirem os padrões de outras igrejas, denominações, ou comunidades eclesiásticas que esfriaram na fé e que se afastaram do cristianismo bíblico. Alguns dos erros que levam uma igreja à ruína espiritual são: (1) os líderes não discernirem e não advertirem os membros que começam a imitar costumes anti-bíblicos de igrejas que antes eram fiéis a Deus; (2) a igreja deixar de ter como sua fonte única de vida, verdade e orientação a revelação neo-testamentária de Cristo e seus apóstolos (ver Ef 2.20); (3) os dirigentes deixarem de ensinar na igreja
sobre a pureza da verdade, da doutrina e dos assuntos de moral; (4) não haver preocupação aflitiva na igreja, quando ela afasta-se cada vez mais do modelo do NT; (5) a igreja deixar de manter uma íntima devoção a Cristo e uma vida intensa de intercessão como centro do viver diário; (Ap 2.4); (6) tolerância do pecado, em líderes, mestres, ou membros comuns da igreja; pecados esses que, no passado, eram tratados com rigor (Ap 2.14,15,20); (7) substituição da real espiritualidade, i.e., pureza, retidão, sabedoria espiritual, amor e poder do Espírito, manifesto entre os membros da igreja, por falso progresso, estatísticas e riqueza.
Leitura Diária: Segunda: Ez 17.2 - A parábola é uma comparação *Filho do homem, propõe uma parábola e usa de uma comparação para com a casa de Israel. Terça: Mc 4.2 - A parábola é um recurso educacional *E ensinava-lhes muitas coisas por parábolas e lhes dizia na sua doutrina:
4.2 PARÁBOLAS. Jesus ensinava freqüentemente por parábolas. Parábola é uma ilustração da vida cotidiana, revelando verdades aos que estão com o coração disposto a ouvir, e, ao mesmo tempo, ocultando estas mesmas verdades àqueles cujo coração não está preparado (cf. Is 6.9,10; ver Mt 13.3).
Quarta: Mt 13.36,37 - A parábola pode ser interpretada *Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. E chegaram ao pé dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do campo. 37 E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem,
Quinta: Mt 24.32 - A parábola pode ser aprendida *Aprendei, pois, esta parábola da figueira: quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão.
A FIGUEIRA. O brotar das folhas da figueira (v. 32; cf. Lc 21.29-31) simboliza eventos que ocorrerão durante a tribulação (vv. 15-29). Por outro lado, alguns intérpretes crêem que a figueira também representa a restauração de Israel como um estado político (cf. Lc 13.6-9; Os 9.10). Em 21.29 a figueira aparece destacada das demais árvores, assim como Israel foi chamado para ser um povo separado (Dt 33.28).
Sexta: Mc 4.13 - É importante aprender todas as coisas *E disse-lhes: Não percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as parábolas?
Sábado: Mc 4.30 - A parábola é fonte de inesgotáveis recursos *E dizia: A que assemelharemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos? Ajuda www.cpad.com.br O USO DO MATERIAL ILUSTRATIVO NO SERMÃO 1. Definição de "material ilustrativo"
A palavra "ilustrar" vem do latim, ilustrare, e significa "lançar luz ou brilho, ou tornar algo mais evidente e claro".
Os educadores reconhecem que uma das principais leis de ensino, para alcançar a mente e o coração é a ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS.
O material ilustrativo tem sido comparado a janelas, que deixam a luz entrar e iluminar uma casa. A ilustração visa ajudar os ouvintes a "VER A VERDADE". 2. O uso de material ilustrativo na Bíblia
Natã: usou a ilustração de um homem pobre com uma cordeirinha para levar o Rei Davi a condenar-se a si mesmo (II Sm 12:1-14); Aías: rasgou a sua roupa nova em doze pedaços e deu dez para Jeroboão, representando o fato de que Deus havia determinado que dez das doze tribos de Israel seriam tiradas de Reoboão (I Rs 11:26-40); Isaías: enquanto pregava durante certa época de seu ministério, andou descalço e despido como sinal de como o povo de Deus seria levado preso pelos Assírios, Egípcios e Etíopes (Isaías 20:1-6); Jeremias: usou muitos sermões visuais, como a parábola do cinto de linho (13:1-11), o jarro quebrado (13:12-14), o vaso do oleiro (18:1-17), a botija quebrada (19:1-15), os canzis simbólicos (27:1-22), além da compra de um terreno que simbolizava a esperança na restauração de Israel depois do exílio (32:1-25); Ezequiel: usou tanto o método visual e ilustrativo que chegou a se queixar com Deus: "Ah Senhor Deus! eles dizem de mim: não é este um fazedor de alegorias?" (20:49) Jesus Cristo: quase sempre usava material ilustrativo para apresentar profundos conceitos de natureza espiritual. As parábolas (52% do Ev de Lc é composto de parábolas). O uso de uma moeda para ensinar o dever do bom cidadão (Mt 22:19). A pregação significativa através de uma bacia e de uma toalha (Jo 13:1-17). Jesus também falou das aves dos céus, dos lírios do campo, do pão, da água. Jesus, também usou uma criança para mostrar que é preciso se tornar como uma criança para entrar no Reino de Deus.
(vide o comentário de Mateus ao uso das parábolas por Jesus: Mt 13:34-35, 53-54) 3. Os propósitos para o emprego de material ilustrativo
a) despertar o interesse e prender a atenção dos ouvintes.
b) aclarar, iluminar e explicar as verdades apresentadas.
c) confirmar, fortalecer os argumentos apresentados e persuadir os ouvintes a aceitarem estas verdades.
d) ajudar os ouvintes a gravarem bem as idéias do sermão.
e) tocar nos sentimentos dos ouvintes.
f) dar mais vida ao sermão.
g) ornamentar e embelezar o sermão.
h) tornar o sermão mais agradável, proporcionando descanso mental aos ouvintes.
i) ajudar com a repetição da verdade. 4. Tipos de ilustrações e fontes de bom material ilustrativo
i. a própria Bíblia é um verdadeiro tesouro de ilustrações. Elas dão até mais autoridade ao sermão. São autênticas e atuais!
ii. o mundo da literatura:
a) biografias e autobiografias;
b) obras de ficção;
c) poesia;
d) dramas (como de Shakespeare), mitologia (egípcia, grega, romana), fábulas, lendas e folclore relacionadas à vida de países e regiões, etc.
iii. a história. Aquilo que aconteceu no passado e também aquilo que está acontecendo em nossos dias, como aparece nos jornais, revistas como Veja, etc.
iv. experiências pessoais.
v. a ciência e a medicina.
vi. obras de arte, como pinturas de quadros e obras de escultura servem como ilustração. Exemplo: Miguel Ângelo certa vez encontrou uma grande pedra que tinha sido jogada fora num terreno baldio. Ele inspecionou a pedra e depois mandou removê-la para o seu estúdio, onde fez daquela pedra suja de mármore uma famosa obra de escultura: a estátua de Davi! Deus muitas vezes vê em alguém uma obra de arte escondida em uma pedra suja como aquela, e a transforma em uma obra prima de Sua graça e misericórdia.
vii. citações que ouvimos ou lemos.
viii. artigos que lemos ou outros sermões que ouvimos.
ix. acontecimentos esportivos.
x. o trabalho secular do povo da igreja e da comunidade.
xi. a leitura em geral de jornais, revistas e livros.
xii. ilustrações criadas por nós mesmos. 5. Advertências quanto ao uso de ilustrações
a) não é necessário ilustrar as coisas óbvias.
b) ilustrações que tem pouco a ver com o ponto que está sendo focalizado no sermão ou cuja relação com ela é vaga, ou que esclarece pouco, não devem ser utilizadas.
c) evite ilustrações cujas bases não têm nenhuma relação com a vida dos ouvintes.
d) evite ilustrações que parecem exageradas ou improváveis, mesmo que tenham acontecido.
e) não faça o seu sermão somente de ilustrações.
f) evite ilustrações que exijam muitas explicações para entendê-las.
g) não use ilustrações somente para mostrar o seu grande conhecimento ou impressionar os ouvintes.
h) não é bom destacar uma só ilustração ao ponto de deixar o resto do sermão prejudicado.
i) não se deve usar uma ilustração somente para fazer o povo rir.
j) não utilize ilustrações que não entenda bem. Tenha certeza dos detalhes das suas ilustrações. (Dr. Key fez referência a um sermão que ouviu, onde o pregador contou de um soldado, do século 16, que saiu para uma batalha com a metralhadora na mão!)
l) nunca conte a experiência de outrem como se fosse sua.
m) tenha muito cuidado em elogiar pessoas não crentes em suas ilustrações.
n) evite o se desculpar pelo uso de qualquer ilustração pessoal.
o) varie o tipo de ilustração que você utiliza.
p) tenha cuidado com ilustrações "enlatadas". PARA REFLETIR - A respeito de “Parábola: Uma Lição Para a Vida”, responda:
O que significa “parábola”? Significa, literalmente, “comparação”, e como tal, comumente utilizada para indicar uma história breve, um exemplo esclarecedor para ilustrar uma verdade.
O que, na Galileia, determinava o estilo da vida das pessoas? O mar da Galileia, também chamado de mar de Tiberíades ou lago de Genezaré.
Qual o significado de “sinóticos”? Significa “ver junto”, “ver da mesma perspectiva”, “vistos de um ponto de vista comum”.
Cite uma das questões mais importantes a ser considerada quando se lê uma parábola.
Procurar entender os elementos culturais operados em cada uma delas, pois apesar de elas serem uma síntese das experiências humanas, são histórias contadas a partir de outra cultura e tempo.
Quais são as perguntas necessárias para se identificar uma aplicação prática de uma parábola? Para quem a parábola foi contada? Por que a parábola foi contada? Qual é a moral da parábola? Existe algum ponto culminante na parábola? Alguma interpretação é dada na passagem para a parábola? CONSULTE - Revista Ensinador Cristão - CPAD, nº 76, p. 36.
SUGESTÃO DE LEITURA - Guia Básico de Interpretação da Bíblia, Pequeno Atlas Bíblico e Hermenêutica Fácil e Descomplicada.
RESUMO DAS PARÁBOLAS DE JESUS (Dicionário Wycliffe - CPAD)
Para uma informação introdutória sobre as parábolas de JESUS. Fazemos aqui uma tentativa de relacionar, classificar e fornecer alguma orientação sobre a interpretação dessas parábolas. A maioria dos estudiosos tem discordado quanto ao número de parábolas que identificaram nos Evangelhos. Suas relações variam entre 30 a 80, dependendo de terem ou não incluído parábolas semelhantes que não foram descritas sob o termo “parábola” e de terem incluído parábolas mais curtas e exemplos extraídos delas. Aqui foram analisadas 52 parábolas. Elas foram distribuídas em nove categorias. Em alguns casos a classificação de uma parábola em determinada categoria foi um pouco arbitrária. Em cada caso, sua história não é contada, mas simplesmente sugerida em uma conjunção com sua interpretação. As referências das Escrituras são mencionadas em todos os exemplos para que o leitor possa acompanhá-las com a Bíblia aberta.
I. A Mensagem de DEUS ao Mundo
A. Natureza da mensagem. O pano remendado e os odres de vinho (Mt 9.16,17; Mc 2.21,22; Lc 5.36-38).O tecido novo ainda não encolheu e quando uma roupa velha é remendada com ele, seu encolhimento piora a rotura. O vinho novo colocado em velhos odres de vinho fará com que a pele de que o odre é feito se rompa, porque ela já foi esticada ao máximo possível no processo anterior de fermentação. O ponto importante é que o Senhor JESUS CRISTO veio com uma nova mensagem de graça em oposição à antiga ordem legal: essa mensagem exige uma nova abordagem e novas formas.
B. Proclamação da mensagem. O semeador (Mt 13.3-9,18-23; Mc 4.1-9; 13.20; Lc 8.4-15). De acordo com a parábola, a semente das boas novas do reino é plantada em vários solos com diferentes resultados: a maioria das pessoas, por uma ou outra razão, não recebe a verdade de DEUS para a salvação.
C. Crescimento da verdade (reino) no mundo.
1. A semente que cresce secretamente (Mc 4.2629־) descreve o imperceptível crescimento do reino de DEUS no mundo.
2. A semente de mostarda (Mt 13.31,32; Mc 4.3032־; Lc 13.18,19) retrata o rápido, e inesperado, crescimento do reino de DEUS. Embora a semente seja pequena (a mostarda da Palestina é preta e pequena como a semente da petúnia, ou ainda menor), ela cresce rapidamente, alcançando uma grande altura (na Palestina ela atinge de 4 a 5 metros, ou mais).
D. Corrupção da mensagem e da obra de DEUS.
1. O fermento (Mt 13.33; Lc 13.20,21). Como regra geral, nas Escrituras o fermento fala sobre o maligno, e provavelmente faça o mesmo nesta passagem; portanto, a referência seria dirigida à corrupção da doutrina do reino através de falsas doutrinas. Alguns preferem interpretá-la como significando que a verdade do evangelho infiltrar-se-á na sociedade do mal.
2. A parábola do joio e do trigo (Mt 13.24-
30,36-43) ensina que Satanás falsificou o evangelho com sua própria marca de religião, e que ambos cresceram juntos na cristandade - tanto aqueles que professam um falso evangelho, como os verdadeiros detentores da verdade; e eles serão separados por ocasião do juízo.
II. A Salvação e o Perdão dos Pecados
1, 2 e 3. As parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho pródigo (Lc 15) estavam dirigidas aos fariseus que criticavam JESUS por sua associação com publicanos e pecadores. Os fariseus procuravam justificar- se perante os homens. O Senhor JESUS, aparentemente, relacionou-os às 99 ovelhas, às nove moedas e ao irmão mais velho pelo fato de se considerarem espiritualmente salvos. Mas, ao contrário, dirigiu-se aos publicanos e pecadores (a centésima ovelha, a moeda perdida e o filho pródigo) que reconheceram a necessidade que tinham de um Salvador.
4. O fariseu e o publicano (Lc 21.28-32). Novamente, JESUS atinge os farisaicos interlocutores que se consideravam justos, através da justiça própria que demonstravam, O publicano foi justificado poique se apresentou com humildade, reconhecendo seus pecados e confiando na divina provisão.
5. Filhos convocados ao trabalho (Mt 21.28-32). O primeiro filho representa os publicanos e as prostitutas que a princípio não sentiam simpatia por João Batista, por seu ministério e mensagem, mas que depois se arrependeram e creram.
O segundo representa os principais sacerdotes e anciãos que, como homens religiosos, demonstraram um interesse inicial por João, mas depois não receberam a mensagem em seus corações.
6 e 7, O tesouro escondido e a pérola de grande valor (Mt 13.44-46) mostra o valor dos crentes por quem CRISTO fez o supremo sacrifício. O campo deve representar o mundo, assim como nas primeiras duas parábolas de Mateus 13. O homem que desistiu de tudo para comprar a pérola só pode ser o próprio CRISTO, que fez o supremo sacrifício para pagar a dívida do pecado de todo o mundo. Dentro do mundo dos pecadores existem aqueles que irâo acreditar nele - o tesouro e a pérola.
8. O casamento do filho do rei (Mt 22.1-14) fala primeiro sobre os líderes religiosos que recusaram o convite do rei. Como resultado, DEUS afastou-se dos judeus e procurou os gentios. Em segundo lugar, esta parábola fala sobre os gentios que ousaram apresentar-se perante o rei à sua própria maneira; eles não tinham as vestes para o casamento - o manto da justiça do Senhor.
9. A grande ceia (Lc 14.16-24), De natureza semelhante à anterior, essa parábola envolve três grupos; os que a princípio receberam o convite e recusaram, os pobres, aleijados, mancos e cegos, e aqueles que estão entre os caminhos e as sebes. Parece que o primeiro grupo representa os escribas e os fariseus, e o segundo e o terceiro (que respondem) representam os publicanos e pecadores, e os gentios, respectivamente.
10 e 11. A figueira estéril (Lc 13.6-9), a porta estreita e a porta fechada (Lc 13.23-30) falam sobre a salvação de DEUS e seu castigo, porque deixaram de receber sua graça. 12 el3. Aporta do curral das ovelhas (Jo 10.1- 10) e o bom Pastor (Jo 10.11-18,25-30). Estas parábolas declaram que JESUS é o caminho pelo qual alguém se torna membro dessa nova família espiritual (rebanho). Aqueles que se recusam a entrar pela porta (como os fariseus) e procuram a salvação através de sua própria virtude são classificados como ladrões e assaltantes e estão fora do curral. Como bom Pastor, JESUS oferece sua própria vida pelas suas ovelhas, e escolhe as ovelhas tanto entre os gentios, como entre os judeus, tornando-os um único rebanho (ou “aprisco”). 14 e 15. A contaminação que vem tanto do exterioT (Mt 12.43-45; Lc 11.24-26) como do interior.
Nessas parábolas, JESUS toma claro que não existe meio termo entre a aceitação e a rejeição do Salvador. Na última parábola, um certo espirito maligno deixou o homem e, mais tarde, encontrando esse homem sem suficiente defesa moral, penetrou em sua vida com mais sete outros espíritos malignos. Devemos estar cheios de bondade e possuir uma virtude positiva que só está disponível através de CRISTO. Na segunda parábola, a fonte da dificuldade está descrita não como vinda do exterior, mas do interior da pessoa. Além de ter de combater a obra dos espíritos malignos, o indivíduo tem dentro de si uma natureza pecadora. Seu coração é desesperadamente iníquo e a fonte de todas as formas de corrupção.
16. Luz interior (Mt 6,22,23; Lc 11,34-36). Assim como o corpo físico Tecebe a luz pelos olhos, a alma também tem um “olho”. Aqueles que têm visão espiritual e não estão sob as trevas da impenitência, compreendem o significado do desenvolvimento espiritual que ocorre em tomo de si, porque pertencem ao Salvador.
17. Sob a figura de duas estradas (Mt 7.13,14), JESUS retrata a alternativa dos caminhos abertos ao homem nessa vida.
18. Os construtores (Mt 7.2427־; Lc 6.46-49). Existem duas classes de homens como construtores. Aquele que prudentemente constrói sua vida e caráter com a fé arraigada em CRISTO, e o outro que tenta construir, de forma tola, a vida e o caráter sem estar definitivamente estabelecido em CRISTO.
III. O Tratamento de CRISTO
Pelo menos duas parábolas tratam desse tema: a dos lavradores maus (Mt 21.33-41; Mc 12.1-9; Lc 20.9-16) e a da pedra rejeitada (Mt 21.42-46; Mc 12.10,11; Lc 20.17-19). Na primeira parábola, os inimigos de CRISTO são comparados aos vinhateiros que deixaram de cumprir sua responsabilidade de cuidar da vinha (Israel) para seu senhor ( DEUS). Na verdade, eles maltrataram os servos (profetas) do seu senhor quando trouxeram as mensagens de seu mestre. Finalmente, eles até mataram o filho (JESUS CRISTO) do seu senhor; por isso DEUS os destruirá. Na segunda parábola, os fariseus aparecem como aqueles construtores que jogaram uma certa pedra fora (CRISTO) por ser inadequada à estrutura que estavam construindo. Mas essa pedra tomou-se a pedra angular e também uma poderosa arma nas mãos de DEUS para destruir os oponentes do Messias.
IV. A Comunhão com DEUS
Aqueles que têm fé e apropriam-se da obra de CRISTO, e experimentam o novo nascimento, têm o privilégio de desfrutar a comunhão com o Pai e com o Filho. JESUS expressou essa verdade em diversas parábolas.
A. Oração. Duas parábolas sobre a oração estão intimamente relacionadas: a do amigo importuno (Lc 11.5-8) e a do injusto juiz (Lc 18.1-8). Ambas demonstram que DEUS certamente ouvirá seus filhos, mas que a oração deverá ser importuna e perseverante. Entretanto, essas parábolas diferem um pouco no sentido de que a primeira demonstra que a oração nunca é de fato importuna, e a última de que é certo que ela trará bênçãos, e não uma maldição.
B. Gratidão. A parábola dos dois credores (Lc 7.41-43) parece ensinar que a gratidão dos pecadores depende do quanto lhes foi perdoado.
C. O relacionamento de CRISTO com seus discípulos. A parábola da noiva e do noivo (Mc 2.19,20; Lc 5.34,35) descreve o feliz relacionamento do Senhor JESUS CRISTO com seus discípulos, e sua partida que ocorrería em breve.
D. Comunhão e alimento espiritual. A parábola da vinha e dos ramos (Jo 15.1-11) está relacionada com o ministério de CRISTO para e através de seus discípulos, e as condições para a frutificação.
E. O suprimento das necessidades temporais. A história do rico insensato (Lc 12.16-21) ensina que uma vida abundante paia o crente não depende da riqueza, e que nem mesmo a própria vida pode ser assegurada pelo dinheiro. A exortação que a acompanha no v. 31 é especialmente importante: “Buscai antes o reino de DEUS e todas essas coisas vos serão acrescentadas”.
V. Testemunho ou Discipulado
1 e 2. Assim como o homem que se prepara para construir uma torre em primeiro lugar avalia os custos para determinar se pode terminá-la (Lc 14.28-30), e um rei calcula seus recursos militares antes de iniciar uma batalha (Lc 14.31,32), também o discípulo de CRISTO deve avaliar o custo do discipulado e se preparar para viver uma vida de completa renúncia.
3 e 4. Um discípulo sem o espírito de auto- abnegaçâo é como o sal que perdeu seu poder de temperar (Mt 5.13; Mc 9.50; Lc 14.3335־). Sob essa condição, ele absolutamente não serve para nada. Assim como o bom sal, os cristãos eficientes sâo capazes de exercer um efeito de preservação e de purificação, e dão um excelente tempero à sociedade. A parábola do cristão como uma lâmpada acesa (Mt 5.15; Mc 4.21; Lc 8.16,17; 11.33) enfoca a difusão de seu testemunho.
5. Se um discípulo deseja dar testemunho mais efetivo, deve eonstantemente preocupar-se com a autocrítica. Essa é a mensagem da parábola sobre os membros que escandalizam (Mt 5.29,30; Mc 9.43,45,47), Na verdade, nenhum sacrifício é demasiada- mente grande se for capaz de promover uma correta condição espiritual e servir como um bom testemunho por parte do crente.
VI. O Relacionamento com Outros
A. ESPIRITO generoso: o servo implacável (Mt 18.23-35). Aqui JESUS está lidando com o ódio de um espírito rancoroso, e transmitiu a idéia de que DEUS nos perdoa tanto, que deveriamos estar dispostos a perdoar todos aqueles que pecam contra nós.
B. Sociabüidade: o bom samaritano (Lc 10.30- 37). Ter um espírito de altruísmo e divina consideração; ser um bom próximo para aquele com quem não se tem nenhum relacionamento de parentesco ou sequer de amizade.
VII. As Recompenas
A parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20.1-16) ensina que DEUS irá recompensar todo trabalho bem feito, e que Ele o fará de acordo com sua soberana vontade.
Ninguém tem o direito de exigir recompensas pelo serviço prestado ao Senhor. Uma parábola semelhante está em Lucas 17.7-10, cuja principal mensagem é que o servo não pode fazer uma queixa justa por ter feito além daquilo que deveria.
VIII. A Volta de CRISTO
Seis parábolas tratam do tema da volta de CRISTO. Outras que serão analisadas na próxima seção tratam do juízo em conexão com sua volta. Em Lucas 12.35-38, o Senhor JESUS ensina sobre o dever da leal vigilância em relação à sua volta. Como os servos devem estar preparados para encontrar seu mestre a qualquer hora, para o casamento que ocorrerá assim que ele voltar, da mesma forma os crentes devem estar prontos para a volta de CRISTO, que pode se dar a qualquer momento.
Sob outra figura de linguagem - a invasão de um ladrão - o Senhor apresenta uma mensagem semelhante (Lc 12.39,40; Mt 24.43,44). O dono da casa é exortado a manter uma constante vigilância para que, caso ele durma, o SenhoT não venha como um ladrão durante a noite. No esforço para realçar ainda mais o assunto da vigilância, o Senhor JESUS novamente muda de exemplo - dessa vez é um servo da casa esperando a volta de seu senhor (Mt 24.45-51; Lc 12.42- 46). Embora possa existir alguma incerteza sobre se um ladrão irá ou não entrar, existe uma certeza absoluta de que o mestre irá retornar. A parábola do dono da casa e do porteiro (Mc 13.34-37) exorta à vigilância em vista da volta de CRISTO, e é auto- explicativa.
Nosso Senhor também enfatiza a importância da preparação para sua vinda, e para a próxima vida, na parábola do mordomo infiel (Lc 16.1-13). Muitas têm sido as dificuldades para interpretar essa parábola: a maior parte delas vem da tentativa de forçar a interpretação de detalhes sem importância. O ponto principal é que o Senhor JESUS está simplesmente tentando ensinar a seus discípulos que mesmo os homens iníquos de sua geração usaram as oportunidades da época para se prepararem para o futuro. Os crentes podem aprender com os infiéis a esse respeito e, como mordomos fiéis, eles podem agora se preparar para no final prestar contas - de uma forma positiva - de seu serviço.
Embora nas parábolas anteriores o Senhor JESUS CRISTO tenha feito exortações à vigilância em vista de sua volta, cuja data não é divulgada, Ele realmente fez uma pausa para indicar a proximidade desse evento. Na parábola da figueira (Mt 24.32-35; Mc 13.28- 31; Lc 21.29-33) o Senhor ensina que como os brotos indicam a chegada do verão, da mesma forma a existência de certas condições será um sinal seguro de sua volta.
IX. O Juízo
O Senhor JESUS julgará a todos após o final da Grande Tribulação. A parábola da rede de pesca (Mt 13.47-50) fala sobre esse julgamento em termos gerais.
Três outras parábolas estão relacionadas ao julgamento de CRISTO, depois da Grande Tribulação. Duas são semelhantes, mas aparentemente não são idênticas: a das dez minas (Lc 19.11-27) e a dos dez talentos (Mt 25.14-30).
Um estudo cuidadoso irá revelar que existe uma lista completa de diferenças entre elas. Na primeira, o nobre que viajou para um país distante à procura do reino não pode ser outro a não ser o próprio Senhor. Seus servos, então, seriam os discípulos ou outros crentes. Aqueles que odiavam e rejeitavam a CRISTO seriam os cidadãos iníquos. Estes últimos deverão ser mortos (lançados no local de condenação) por ocasião da vinda do Senhor. Os discípulos deverão ser recompensados de acordo com seus serviços, durante a ausência do Senhor. Da mesma forma, a parábola dos talentos demonstra a importância da fidelidade à luz da volta de CRISTO. Talvez exista uma intimação no verso 30, de que a infidelidade indique a falta de uma experiência regeneradora. Portanto, os infiéis serão lançados à perdição.
Outra parábola sobre o juízo, e uma das aue tem sido objeto de muita discussão, é a aas dez virgens (Mt 25.1-13).
Naturalmente, é superficialmente óbvio que nessa passagem JESUS procurou ensinar a importância da vigilância à luz de sua volta. O que se segue é oferecido como uma tentativa de interpretação. A parábola descreve o julgamento de Israel. As dez virgens são os remanescentes que professam ao Senhor em Israel depois da Igreja ter sido arrebatada. Cinco virgens prudentes representam um remanescente que crê em DEUS; as virgens loucas representam os infiéis que professam estar esperando que o Messias venha com poder. O casamento do noivo com a noiva (Igreja) já se realizou no céu, e a parábola faz alusão à festa de casamento que acontece na terra. A chegada do noivo é o retorno do Senhor em glória, no final da Grande Tribulação. A entrada na festa do casamento corresponde à entrada no reino do céu sobre a terra (o Milênio). A presente obra não tem como escopo uma defesa mais detalhada ou uma discussão sobre as facetas dessa interpretação.
Uma última parábola sobre o juízo está muito relacionada ao julgamento individual que ocorre sempre que uma pessoa deixa a vida terrena: o homem rico e Lázaro (Lc 16.19-31). Alguns poderiam preferir dar a este relato o nome de incidente histórico e não de parábola; em todo caso, a mensagem não seria modificada. Quanto ao seu significado, precisamos nos lembrar do seu contexto. Antes dela, encontramos a parábola do mordomo infiel que procura mostrar os benefícios da utilização prudente das vantagens e recursos do presente. O homem rico, ao invés de aproveitar suas oportunidades e recursos para fazer o bem na terra, fez da própria riqueza seu maior bem. Deste modo, a riqueza tornou-se o empecilho para uma fé viva em DEUS, e uma vida que seria uma bênção para os outros. Ele perdeu a chance de acumular tesouros no céu. Lázaro, entretanto, manteve a fé em DEUS durante seus anos na terra, e por isso foi recompensado na vida seguinte.
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Levítico - introdução e comentário - R.K.Harrinson - Série Cultura Bíblica - Sociedade Religiosa Edições Vida Nova - São Paulo - SP