Autor: João B. Cruzué
Depois de 14 anos na blogosfera, estou de volta ao velho tema - Política x Igreja. Assunto pisado e repisado por tantos blogueiros evangélicos a cada novo pleito majoritário. De um lado, está a corrente ortodoxa de pensamento que entende que não se deve misturar as duas coisas. De outro, a corrente de pensamento liberal - excessivamente político - cujo maior expoente, talvez, seja o Pastor Silas Malafaia.
Biblicamente, há dois tipos de autoridade na organização humana. A autoridade secular e a autoridade religiosa. A primeira, posso dizer de uma maneira simplista, que se trata de uma organização aceita por Deus para que o mundo não se torne um caos ou uma anarquia. A segunda, no tocante ao mundo cristão, foi planejada por Deus para tratar no ensino das coisas espirituais. O corpo humano tem vida curta, mas o espírito que nele habita é imortal.
A Bíblia é muito transparente quando mostra no Pentateuco a criação e organização da nação de Israel. Houve uma clara separação dos filhos de Levi para o ministério do sagrado.
Também é possível observar que as autoridades do sagrado se corrompiam com o passar do tempo. Não sendo especialista no assunto, deixo para estes a sugestão de analisar se as prioridades do ministério eram trocadas por outros assuntos mais palpitantes.
A esta altura, é possível perceber na história da nação de Israel que o abandono do temor de Deus levava, primeiro, ao desastre religioso e depois ao político. O aparecimento dos profetas era a prova de que o ministério levítico já estava corrompido.
Na época de Jesus, Marcos registrou a célebre frase de Jesus Cristo: "Dai, a César o que é de César, e a Deus, o que é de Deus" (Mc. 12.17). Será que o assunto tratado ali era apenas tributário? Se fosse apenas o tributário, como fica a questão da adoração - o dobrar os joelhos diante de alguém?
Há ministérios e Ministérios; igrejas e Igrejas e pastores e Pastores. Um líder religioso pode começar bem e se corromper depois, ao longo da vida. Em nossos dias, também há líderes que foram separados por conveniência ou tradição sem possuir chamada alguma. Tenho visto os dois tipos de liderança abandonar o arado para servir à política secular.
Deus pode ordenar que algum pastor deixa o rebanho para trabalhar na seara política? Pode, mas imagino que deva se tratar e épocas excepcionais. A chamada para o ministério é planejada por Deus antes da existência física do ser. Isto pode mostrar que ela é irrevogável (Ef. 4.11).
Causa-me estranheza, hoje, a existência da mesma loucura que levou ao desastre, por várias vezes a nação de Israel - a troca da missão do ministério sagrado pela intromissão na seara da representação política.
Em suma, existe na Bíblia um exemplo digno de ser lido e entendido sobre as consequências de mudar os planos de Deus pelo engano da voz do diabo: 1º Livro de Reis, capítulo 13. A missão da Igreja é levar a mensagem do Reino de Deus. Seus sacerdotes devem cuidar com zelo do combate ao pecado. A troca do púlpito por Brasília é virar as costas para Deus.
Vejo com muita preocupação o crescente interesse da Igreja Evangélica brasileira pela representação política, sob vários pretextos que não vou tratar nesta análise. Em lugar de salvar a pátria, pode ser que, à semelhança da nação de Israel, o que pode acontecer seja exatamente o contrário. É preciso ter muito juízo.
SP - 02/01/2019.
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