Casal de pastores do Guarujá morre de Covid-19 em dois dias e deixa dois filhos com deficiência: 'Solidão'
Manuel Reginaldo Gonçalves de Oliveira, de 66 anos, e Ednalva Gonçalves de Oliveira, de 63, eram moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo.
Casados há 43 anos, os pastores Manuel Reginaldo Gonçalves de Oliveira, de 66 anos, e Ednalva Gonçalves de Oliveira, de 63, morreram de Covid-19 em um intervalo de dois dias, em Guarujá, no litoral de São Paulo. O casal cuidava de dois filhos com deficiência e atuava em uma igreja conhecida no município. Em entrevista ao G1 nesta quinta-feira (10), a filha mais velha dos religiosos contou que tudo aconteceu muito rápido, apesar dos cuidados.
"A preocupação da minha mãe, antes de entubar, era com os filhos, medo de nos deixar sozinhos. O pior de tudo é a solidão, não poder dar um abraço", diz a operadora de caixa Vanessa Gonçalves de Oliveira, de 42 anos.
Vanessa conta que o casal passou a apresentar os primeiros sintomas no fim de novembro, mas, a princípio, imaginava que poderia ser apenas uma gripe. Com a persistência dos sintomas, eles procuraram unidades de saúde do município e descobriram que se tratava de Covid-19.
Os pastores se isolaram e passaram a fazer tratamento imediatamente. No entanto, apesar dos cuidados, o casal apresentou piora e precisou ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
"Tudo aconteceu nesse curto período, do dia 20 de novembro até 4 de dezembro, foi muito rápido", relembra Vanessa. Ela diz que o pai tinha diabetes e pressão alta, mesmas doenças que acometiam a mãe, que ainda sofria com asma. Os cuidados e medicamentos foram precisos e rápidos, reitera a filha do casal, mas, mesmo com a rapidez, o vírus foi fatal.
Ela revela que, pouco tempo depois de descobrir a doença, 80% do pulmão do pai já estavam comprometidos, enquanto a mãe tinha 70%. Após pouco mais de uma semana, ambos precisaram ser entubados, em datas diferentes, apresentando piora no quadro. No dia 2 de dezembro, o pastor Manoel Reginaldo morreu, em decorrência de complicações da Covid-19.
"Passamos por isso, e depois de dois dias, o hospital ligou para mim. Eu já sabia, era o mesmo telefonema que havia recebido, mas agora era da minha mãe", relembra emocionada Vanessa.
"Minha filha só os chamava de mamãe e papai, está muito chateada por não ter se despedido, quer levar flores, pede para vê-los. Meu irmão passa o dia vendo foto deles. Eu não tive outra opção, a não ser ser forte", comenta Vanessa.
"As pessoas não estão tendo consciência de nada. Eu cuidava muito dos meus pais, com todos os cuidados, mas, de alguma forma, eles tiveram contato com o vírus. As pessoas não têm responsabilidade afetiva, moral, querem viver a vida como se não houvesse amanhã. É uma geração egoísta. Peço mais empatia, porque, fazendo isso, a gente vai conseguir vencer a Covid", finaliza Vanessa.
Fonte: G1 http://www.pointrhema.com.br/