Lição 11 - A Mulher Samaritana: A Diferença que a Água da Vida Faz

 

4º Trimestre de 2020 – 13/11/2020

INTRODUÇÃO 

Deus, na sua soberania, apresenta situações em que pessoas mais improváveis aproximam-se dEle e buscam-no de uma forma excepcional. Na hora em que o evangelho é proclamado, o seu poder é tão impactante que pode mudar não apenas a vida de uma pessoa, como também a de várias em uma localidade. O poder de Deus vai além de fronteiras e costumes delimitados pelos homens. O próprio Paulo, enviado pelo Senhor, evangelizou diversas culturas no seu tempo, ganhando pessoas para o Reino de Deus. E o que dizer do próprio Jesus Cristo? Este capítulo mostra-nos a história da mulher samaritana e o seu encontro com Jesus. Pouco tempo depois da sua conversa com o mestre da Lei Nicodemos, Jesus passa por Samaria e tem uma conversa com uma mulher que, dentro da própria localidade onde vivia, provavelmente não era bem aceita. A conversa entre o Messias e a samaritana trouxe diversas interpretações ao longo dos séculos e, acima de tudo, a grandiosa lição de que o Senhor Deus ama a todos e deseja que todos possam ser alcançados pelo poder da salvação. 

 

I – NO CAMINHO PARA A GALILEIA

Ao tratar da mulher samaritana, João descreve que o encontro dela com Jesus ocorreu no próprio território samaritano. Jesus retirou-se da Judeia em direção à região dos galileus e precisava passar por Samaria. O povoado por onde Jesus passou, Sicar, era o local em que Jacó tinha um poço, e este servia de abastecimento de água para pessoas e animais naquela região.   Jesus, conforme narra João, deixou a Judeia e dirigiu-se para a região da Galileia, um ambiente repleto de influência gentia, e, nesse caminho, passou por Samaria. É possível que houvesse outras rotas para que o Senhor fosse para a Galileia, mas João registra que “era-lhe necessário passar por Samaria” (Jo 4.4). Havia uma grande obra aguardando Jesus na região dos gentios, mas, antes de chegar lá, Samaria precisava ser visitada. Uma cidade dentro do território dos desprezados samaritanos receberia a visita do Eterno. Se Jesus seria objeto de curiosidade na Judeia, em Samaria a sua chegada traria alegria não apenas para uma mulher, como também para muitos samaritanos.

A samaritana não era uma pessoa preguiçosa. O apóstolo João comenta que o encontro de Jesus com ela ocorreu quase à hora sexta, perto do meio-dia (Jo 4.6). Esse não é necessariamente o melhor horário para buscar água. Experimente andar nesse horário com um cântaro de barro vazio sobre os seus ombros e voltar para casa com esse cântaro cheio, e você verá o nível de trabalho árduo que envolvia a existência da mulher samaritana. Não havia ninguém para tirar água para ela; logo, ela mesma deveria buscar a água que lhe era necessária para a sobrevivência. Ela deveria carregar o cântaro até o poço, pegar a água, encher o cântaro dela e depois retornar à sua casa com o cântaro cheio. Era um trabalho pesado, mas que garantia a ela ter água na sua casa. Enquanto há pessoas que não desejam ter uma vida produtiva, que reclamam por ter pouco e do trabalho em que desenvolvem as suas habilidades, a samaritana, com todas as suas limitações, dá o exemplo de uma vida produtiva. Ela não foi ao poço saber da vida das pessoas da sua aldeia ou passar o tempo olhando o horizonte.

II – A ÁGUA PARA A VIDA ETERNA

A segunda pergunta da samaritana é uma resposta à declaração de Jesus: “Se tu conheceras o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (Jo 4.10). Jesus desenvolve o evangelho com a samaritana à medida que ela vai fazendo as perguntas. Pacientemente, Jesus responde os questionamentos diversos que ela faz. A pergunta fazia sentido. Jesus estava ao lado de um poço, mas não é dito que ele tinha em mãos qualquer instrumento que possibilitasse tirar água para beber. Ele, então, pede água à mulher. É certo que, ao confrontar Jesus com o fato de Ele não pegar água do poço, ela está julgando-o dentro da sua ótica natural. O que ela não sabia é que Deus estava ali em pessoa, oferecendo a possibilidade de ela receber uma água que mudaria a sua vida para sempre. 2. “És tu Maior do que Jacó, o nosso Pai?” A pergunta da mulher mostra que ela tinha uma referência histórica: Jacó era considerado o ascendente dos que moravam naquela região. Ele tinha recebido a primogenitura enganando o pai, Isaque, que estava velho e cego, e ainda colocou Deus na história. Quando questionado por que havia retornado tão rápido da caça, fazendo-se passar por Esaú, disse: “[...] o Senhor, teu Deus, a mandou ao meu encontro (Gn 27.20). Jacó passou os seus dias enganando e sendo enganado. Foi trapaceado pelo sogro na hora de casar-se com uma das suas filhas. Foi enganado na hora de receber o seu salário. Teve que trabalhar bastante para poder casar-se com a mulher que amava e, já com os seus 12 filhos, passou por maus bocados, chegando a chorar a morte de um filho que estava vivo. 

No decurso da conversa, Jesus mostra que o amor de Deus pretende trazer plenitude a todas as esferas da vida de uma pessoa. Como um judeu, que era estranho naquela aldeia, poderia saber que a mulher passara por cinco casamentos e que o relacionamento que tinha naquele momento não se enquadrava na orientação de Deus? Essa parte da história mostra-nos que a samaritana buscou várias vezes ser aceita e amada, mas que houve rupturas em todas essas buscas. Ela seria uma mulher completa somente em Deus. O evangelho de Cristo não se propõe apenas a salvar a pessoa dos seus pecados, mas também completar o que está faltando. Jesus não condenou aquela mulher na sua busca pelo amor conjugal, mas deixou claro que aquele relacionamento não trazia a ela o reconhecimento devido e esperado. O Senhor realmente se importa com nossas relações pessoais e com as alianças que fazemos? Sem dúvida; do contrário, Jesus não teria tocado nesse assunto durante aquela conversa evangelística. O certo é que a cada pergunta e resposta, a samaritana mais vislumbrava como Deus tinha interesse pleno por ela.

III – ESTE É VERDADEIRAMENTE O CRISTO

Jesus recebe da mulher uma declaração impressionante: a de que Ele era um profeta. Em Israel, várias foram as declarações dadas sobre Jesus, como, por exemplo, a de que Ele era samaritano e tinha demônio  que Ele expulsava demônios por Belzebu (Mt 12.24) e que era comilão e beberrão e amigo de pecadores (Mt 11.19). Essas foram declarações vindas de pessoas que estavam vendo ensinamentos e milagres, mas que, ainda assim, rejeitavam o Filho de Deus. A samaritana, por sua vez, foi reconhecendo que aquele jovem judeu tinha o que os profetas do Antigo Testamento tinham: a capacidade de saber de certas informações pelo Espírito de Deus. Jesus não se utilizou das suas prerrogativas para qualquer aproveitamento pessoal, ainda mais quando foi dito que Ele era profeta. Ele não ficou orgulhoso com o elogio. O seu objetivo de agradar ao Pai fez com que Ele mantivesse o foco na sua missão. Após essa declaração, a mulher pergunta sobre um local de adoração. Note que a samaritana tinha interesse nas coisas espirituais. Por mais que a sua vida conjugal não fosse o melhor exemplo de adequação social, ela demonstra, na sua pergunta, que a adoração era uma parte integrante da sua vida e que precisava de uma orientação quanto ao local onde deveria adorar.  

Uma das palavras manifestas por Jesus que causam mais impacto é a sua referência à adoração ao Deus Eterno. A samaritana, segundo o pensamento da sua época, havia vinculado a sua adoração a um local de culto. Não raro, preocupamo-nos bastante com a forma de culto, e isso não é errado. É correto pensarmos em ter um lugar de adoração organizado, limpo, com uma acústica agradável e onde podemos estar unidos e reunidos para um momento de adoração, contribuição e aprendizado da Palavra. Jesus não disse que a adoração não poderia ter uma ordem, nem que um local de culto era dispensável à comunhão. A liturgia faz parte de nosso culto, onde ordenamos os momentos de nossas atitudes de louvor, do ato de ofertar, do momento de ouvir a Palavra, e isso é correto. O que Jesus deixou patente é que nosso culto a Deus deve ser entregue por inteiro, em espírito, numa adoração feita com sinceridade e em verdade, sem máscaras. Deus valoriza a adoração, mas está realmente mais atento aos adoradores.  

A Palavra de Deus não nos mostra todo o discurso de Jesus com a samaritana. A narrativa daquele encontro termina, em relação às palavras de Jesus com aquela mulher, com a declaração dEle de que Ele era o Messias. A conversa que aquela mulher teve com Jesus impulsionou-a a levar as Boas Novas aos demais samaritanos daquela localidade. Nenhum momento que passamos com Jesus é sem importância. Os samaritanos de Sicar foram falar com Ele por causa do testemunho da Samaritana e, ao fim do encontro, pediram a Jesus que ficasse em Samaria. O Mestre ficou ali dois dias e foi reconhecido como “[...] verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo” (Jo 4.42). Nos demais evangelhos, vemos diversas vezes Jesus sendo chamado de nomes que demonstram o desprezo dos judeus pelo Senhor e pela sua mensagem, enquanto numa aldeia de samaritanos o Senhor foi recebido e convidado a ficar mais dias, podendo trazer ali a mensagem do evangelho graças ao testemunho daquela mulher. Os samaritanos viram e creram no que Jesus disse. João não registra milagres ocorridos entre aqueles samaritanos, nem qualquer outro sinal que não fosse as palavras de Cristo. Eles creram no que ouviram, ao passo que, dentro de Israel, locais como Betsaida, Corazim e Cafarnaum, que presenciaram sinais feitos por Jesus, permaneceram incrédulos. Quanta diferença faz a incredulidade, como também faz diferença o estar aberto a ouvir a Palavra de Deus! 

CONCLUSÃO 

O encontro de Jesus com a mulher samaritana mostra-nos o quanto Deus proporciona bênçãos aos que o temem, a oportunidade de testemunhar sobre o evangelho e alcançar pessoas, mudando-lhes as vidas;  que é possível trazer para Deus uma adoração sincera e verdadeiramente espiritual; que, para Deus, não importa o sexo da pessoa, nem mesmo a sua condição social ou o seu estado civil, pois Deus ama a todos e deseja que sejam alcançados pelo evangelho; que o testemunho de uma pessoa pode transformar uma localidade inteira e que a fé naquilo que Jesus diz é suficiente para que pessoas sejam alcançadas e transformadas pelo poder de Deus. Por fim, esse encontro ímpar de Cristo e a mulher samaritana mostra-nos que Deus é procurado em lugares onde acreditamos que Ele não é lembrado. Sempre haverá pessoas que buscam ao Senhor, ainda que de forma equivocada, e que precisam conhecê-lo mediante o Senhor Jesus Cristo.  http://www.escoladominical.com.br/