Lição 13 - Barnabé: Quando a Graça de Deus Faz a Diferença

 

4º Trimestre de 2020

Por Alexandre Coelho

INTRODUÇÃO 

Neste capítulo, trataremos um pouco sobre Barnabé. A Bíblia apresenta-o como um homem de Deus, cheio de fé, compassivo e que dava oportunidades para outras pessoas servirem ao Senhor com os seus talentos. O seu ministério envolvia a receptividade, a fé e a certeza de que pessoas precisavam ser orientadas e receber oportunidades para manifestarem a graça de Deus nas suas vidas. Não é exagero dizer que precisamos de homens e mulheres que tenham o mesmo estilo desse santo homem de Deus. Em dias como os nossos — onde disputas são feitas muitas vezes nas igrejas e em locais de exposição plena, como redes sociais, onde os likes movem os corações de seguidores e de produtores de conteúdo, criando ídolos e envergonhando o evangelho —, temos na história de Barnabé um homem que soube como procurar o melhor de Deus em cada pessoa que o cercava.  

I – BARNABÉ, UM HOMEM DE DEUS 

Barnabé era descendente da tribo de Levi. Os levitas eram homens que descendiam dessa tribo, que leva o nome do terceiro filho de Jacó e Leia. Inicialmente, Levi é apresentado em Gênesis como tendo um comportamento bem violento, por ocasião das mortes que promoveu com Simeão, vingando a virgindade de Diná. Pelo texto sagrado, Levi e Simeão aproveitaram que os homens de Siquém haviam feito a circuncisão; e, no terceiro dia, no ápice da dor, os dois irmãos entraram na cidade e mataram todos os homens. O seu pai, Jacó, chegou a dizer: “Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; eu os dividirei em Jacó e os espalharei em Israel” (Gn 49.7). Posteriormente, séculos depois, com o comportamento dos seus descendentes já mudado e pelo fato de eles terem se dedicado às coisas de Deus, a tribo de Levi ouve de Moisés, quando este abençoou as tribos: “Abençoa o seu poder, ó Senhor, e a obra das suas mãos te agrade” (Dt 33.11). Com o passar do tempo, a tribo de Levi solidificou-se nos trabalhos do culto ao Senhor, chegando a ter pessoas separadas no culto para os cânticos, e não apenas para a manutenção e guarda do ambiente do santuário.

Um novo convertido de Tarso chamado Saulo teve uma experiência com Deus. Ele estava indo para uma cidade chamada Damasco com o objetivo de perseguir cristãos, até que teve um encontro pessoal com o Jesus ressuscitado. Após essa experiência, ele ficou tão empolgado que passou a tentar convencer as pessoas de que Jesus era o Cristo (ver At 9.19-23). Esse relato mostra basicamente duas coisas: a primeira é que que as pessoas ficaram surpresas com o fato de que o encrenqueiro perseguidor, Saulo, tinha passado para o lado dos seguidores de Cristo. E a segunda é que os judeus tomaram conselho, reuniram-se, para tramar a morte de Saulo. Uma vontade assassina havia-se formado no coração dos filhos de Abraão para dar cabo de Saulo, outro filho de Abraão. E o motivo? Saulo havia mudado de lado. Ele conseguiu sair de Damasco e foi para Jerusalém (At 9.26-30).

Em Jerusalém, as coisas não foram tão diferentes se comparadas às que havia acontecido em Damasco. Era surpreendente a todos ver Saulo falando bem de Jesus, dizendo que Ele era o Cristo, e a ousadia do novo convertido chamou a atenção dos gregos, que decidiram que matar o novo seguidor de Jesus daria fim às discussões. Era uma situação nova para a Igreja em Jerusalém. Saulo falava em nome de Jesus, mas o seu passado como perseguidor ainda causava um afastamento natural dos irmãos. Ele estava em uma situação muito desconfortável, até que Barnabé, “tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos e lhes contou como no caminho ele vira o Senhor, e este lhe falara” (At 9.27). Foi preciso fé por parte de Barnabé para trazer Saulo ao convívio dos apóstolos, mas também a certeza de que Deus havia feito uma obra no coração do perseguidor. A oportunidade que Barnabé deu a Saulo foi surpreendente, e a igreja precisa de pessoas como ele, que, com coragem, tragam ao convívio dos santos aqueles que foram alcançados por Jesus. Saulo tinha uma história antes de Jesus, mas o Eterno decidiu mudar o presente e o futuro de Saulo. O discípulo de Tarso atraiu a atenção dos gregos, que propuseram matá-lo. O ímpeto de Saulo poderia comprometer o andamento dos trabalhos em Jerusalém, e, por isso, a Igreja em Jerusalém enviou-o de volta para Tarso numa passagem só de ida para casa.   

II – BARNABÉ, UM HOMEM USADO POR DEUS 

É inegável que Barnabé destaca-se por ser um homem misericordioso, generoso e acolhedor, mas o que o distingue também é que ele tinha a capacidade de ver a graça de Deus, e ver a graça de Deus em certos ambientes não é uma tarefa fácil. A Igreja em Antioquia havia nascido e crescido dado à perseguição. Os dispersos anunciavam o evangelho “somente aos judeus” (At 11.19), mas pessoas de Chipre e de Cirene, entrando em Antioquia, “falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus” (At 11.20). Como os hebreus ainda estavam tentando entender a conversão de Cornélio e o seu batismo, não falavam com os gentios sobre a salvação. Deus, todavia, usou outras pessoas para falarem aos gregos. Estes aceitaram a Jesus, e ambos os grupos, judeus e gentios, passaram a congregar juntos em Antioquia, a primeira igreja mista da história, fora das terras de Israel, com pessoas que professavam o nome de Jesus. Além disso, era uma igreja em franco crescimento, pois “a mão do Senhor era com eles” (At 11.21).

Como um homem como Barnabé, levita e ligado à tradição judaica de culto, poderia ver algo bom numa igreja mista? Os levitas eram treinados desde a época do deserto para frequentar o santuário-templo e cuidar do culto judaico com afinco. E um levita é mandado para Antioquia a fim de ver como a igreja de lá estava crescendo. A questão é: o que vemos nos outros pode refletir o que está dentro de nós mesmos. Lucas descreve Barnabé como “homem de bem, cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11.24). Barnabé enxergou a graça de Deus naquele lugar porque ele era um homem de Deus. É preciso lembrar que a graça de Deus é atuante não apenas no que concerne à salvação do pecador, mas também na forma como Deus age na sua Igreja, trazendo pessoas improváveis, tornando-as filhas de Deus e introduzindo-as no seu Reino. Barnabé destacou-se em Atos por ter visto a graça de Deus naquela composição diferente de igreja. 

Como vimos anteriormente, os irmãos de Jerusalém viajaram com Saulo para Cesareia, lugar onde havia um porto, e mandaram-no de volta para a sua cidade natal (At 9.31). Nada mais é mencionado sobre ele, nem ao menos por quanto tempo durou esse afastamento, até que Lucas menciona que Barnabé foi a Tarso procurar Saulo, trazendo-o para que servissem juntos ao Senhor na nova igreja. O trabalho conjunto desses dois homens em Antioquia foi bem-sucedido a ponto de aqueles que seguiam a Cristo serem chamados pela primeira vez de “cristãos” (At 11.26).

III – UM HOMEM USADO POR DEUS 

Antioquia era uma igreja que também tinha por disciplinas o serviço e o jejum (At 13.2). O jejum, visto por alguns pregadores de nossos dias como algo antiquado e restrito à Lei de Moisés, era praticado na Igreja em Antioquia, uma comunidade composta de judeus e gentios. Lucas faz uma dupla menção ao serviço e ao jejum (At 13.2,3), o que é uma clara demonstração de que atitudes espirituais como o serviço e o jejum trazem orientações do Eterno à congregação. Deus tinha uma obra a fazer por meio de Barnabé e Saulo, e essa informação veio àqueles irmãos. Foi nesse ambiente que o Espírito de Deus disse para que separassem os dois apóstolos para uma obra específica. 

A passagem de Atos 13 e 14 mostra que, “enviados pelo Espírito Santo” (At 13.4), os irmãos em Cristo Barnabé e Saulo, acompanhados do cooperador Marcos, foram a Salamina, onde Elimas, um encantador, ficou cego, como juízo do Senhor por ter atrapalhado a pregação dos homens. Na Pisídia, os gentios “alegraram-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram [...]” (At 13.48). Em Listra, Eneias, um homem coxo desde o nascimento, teve fé e foi curado. Barnabé foi guiado pelo Espírito Santo em cada uma dessas situações. Por ocasião da cura de Eneias, ele foi comparado ao deus Júpiter, porém, obviamente, rejeitou ser adorado. Ele também escolheu com Paulo anciãos para ficarem nas igrejas por onde passaram, trazendo para a igreja que os enviou relatos sobre como o Senhor havia aberto a porta do evangelho aos gentios (At 14.17). Saulo não trabalhou sozinho. Barnabé participou de todos os eventos da primeira viagem missionária.

Preparando-se para a segunda viagem missionária, Barnabé e Paulo destoaram sobre levar João Marcos nessa nova empreitada. Não era razoável para Paulo levar Marcos, pois este havia abandonado o grupo na primeira viagem. Barnabé, por sua vez, queria dar a Marcos a mesma oportunidade que deu a Saulo, tanto no momento em que a Igreja em Jerusalém não acreditava na conversão quanto na época em que Barnabé foi a Tarso buscar o esquecido Paulo e trouxe-o para trabalhar em Antioquia. Por fim, ambos foram separados pelas suas respectivas opiniões. Não se tornaram inimigos. Apenas decidiram seguir caminhos diferentes, porém focados na transmissão do evangelho. É preciso notar que essa separação entre os dois obreiros não atrapalhou a obra de Deus. Enquanto Paulo foi para a Síria e Cilícia, Barnabé e João Marcos foram para Chipre. A obra de Deus não se dividiu; ela foi duplicada por meio dessa separação. Notemos também que Barnabé exerceu com Marcos um ministério de restauração. Da mesma forma que trouxe Saulo à comunhão da Igreja em Jerusalém, deu suporte ao processo de restauração de João Marcos. O moço já tinha conhecimento da Palavra. A sua casa era um ambiente de oração onde se reunia a igreja. Ele interessou-se por atender ao chamado de Deus e arriscou-se na primeira viagem missionária.

CONCLUSÃO

Barnabé foi um homem que ainda nos traz o exemplo de alguém dedicado a Deus, à sua obra e ao próximo. Saulo não seria trazido à comunhão dos santos sem a atuação de Barnabé, sem falar que não teríamos o evangelho de Marcos como referência para os demais escritos nesse gênero literário. Também não teríamos o relato de uma igreja mista sendo alcançada pelo homem de Deus, bem como o registro de que a graça de Deus estava naquele lugar. Barnabé deixou a sua história marcada como um desbravador do evangelho e como um homem de fé que vivenciou a graça de Deus numa igreja diferente dos padrões da época.    http://www.escoladominical.com.br/