Conversão - o que a Bíblia nos ensina sobre o tema?

 


Conversão é o milagre operado por Deus no coração dos pecadores, fazendo com que deixem seus pecados e creiam em Jesus Cristo como Salvador.

 Porque eles mesmos anunciam de que maneira fomos recebidos entre vós, de que forma vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro. (1 Tessalonicenses 1.9)

Em 1686, com apenas 19 anos, o jovem Elias Keach mudou-se da Inglaterra para os Estados Unidos. Um filho rebelde, Elias estava frustrado com seus pais religiosos e quis tentar a sorte na América.

Assim que desceu do navio, teve uma ideia: já que seu pai, Benjamin Keach, era um famoso pregador Batista, porque não fingir que ele também era um pregador da Palavra? Vestiu a túnica de um ministro, e rapidamente ganhou aceitação e respeito na colônia. No mesmo dia, recebeu um convite para pregar no culto de domingo, tendo direito a casa pastoral de um pequeno rebanho que estava a procura de um pastor. Seu plano estava dando muito certo. 

No domingo de manhã, a igreja estava cheia, todos ansiosos para ouvir o filho do “famoso Pr. Keach”! Elias se dirigiu até o púlpito e começou a citar um dos sermões preferidos pelo seu pai. Sua imitação foi praticamente perfeita — até chegar à metade do sermão. De repente, enquanto falava do Evangelho, ele parou, como que assustado. Seus ouvintes temiam que ele estivesse sofrendo uma convulsão. Sentindo o peso da sua culpa, Elias caiu de joelhos, e tremendo e chorando, confessou seu pecado e rogou por perdão.

O historiador Morgan Edwards comenta, “Mesmo sendo um momento de grande desespero, houve um final feliz: foi naquela ocasião que Elias se converteu!” (Morgan Edwards, Materials Towards a History of the Baptists in Pennsylvania Both British and German, vol. 1 (Philadelpha: Joseph Cruckshank and Isaac Collins, 1770), 9-11.)

Perdoado por Deus e os homens, o impostor foi acolhido pelos fazendeiros daquela região, aonde foi grandemente usado por Deus como evangelista e plantador de igrejas.

Conversão é o milagre operado por Deus no coração dos pecadores, fazendo com que deixem seus pecados e creiam em Jesus Cristo como Salvador.


1 - O que é conversão?

Mas o que aconteceu de fato naquele domingo durante o sermão? Como é que a Bíblia explica esse fenômeno chamado “conversão”? Essas perguntas são importantes por, pelo menos, dois motivos:

Jesus Cristo colocou muita importância na conversão, também chamado de “nascer de novo”.

Em João 3 encontramos o relato de Nicodemus, um líder entre os judeus e um homem profundamente religioso, que conversava com Jesus Cristo sobre como entrar no reino de Deus. E Jesus Cristo vai direto ao assunto: ” Em verdade, em verdade te digo que ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo. ” (Almeida Século 21, Editora Vida Nova). O nascer de novo é necessário para sermos aceitos na presença de Deus.

O Evangelho genuíno produz a conversão.

O apostolo Paulo escreve uma carta aos cristãos em Tessalônica, uma cidade permeada pelo paganismo e idolatria. Paulo lembra os cristãos qual foi é o efeito do Evangelho: pessoas deixaram seus ídolos e começaram a servir ao único Deus verdadeiro. Essa mudança radical é a conversão, e sempre acontece no inicio da vida cristã.

Em primeiro lugar, podemos considerar o que conversão não é:

I - Não é uma mera mudança de vida.

Todo mês de janeiro, temos o costume de fazer resoluções do ano novo. Queremos mudar nossos hábitos: ir a academia, estar mais presente com a família, poupar mais dinheiro, ou perder peso. São mudanças boas e saudáveis. A conversão pode levar homens a mudarem seus maus hábitos, mas a mera mudança em si não é conversão. É possível mudar nossos hábitos sem sermos convertidos. É possível, por exemplo, alguém adotar um estilo de vida mais generoso, mais humilde, ou mais paciente, sem ter nascido de novo.

O Pastor Mark Dever explica assim:

“Muitos dizem que a conversão é apenas um assentimento mental. Precisamos somente fazer uma decisão, ir á frente após o apelo, preencher um cartão, fazer uma oração. A mudança, conforme muitos imaginam, pode ser bem superficial. Pode envolver começar a nutrir alguns sentimentos morais, unir-se a uma igreja, participar de programas e atividades, oferecer-se como voluntário para ajudar os necessitados. Isto é um tipo de versão ampliada das resoluções de Ano Novo.” (DEVER, Mark. Nove Marcas de uma Igreja Saudável, Editora Fiel, pg 111)

 

II - Não é adotar costumes religiosos.

Nosso amigo Nicodemus, mencionado em João 3, havia gasto décadas da sua vida estudando a Lei de Deus. Ele concordava com as palavras de sabedoria ditas pelos profetas do Antigo Testamento. Ele entendia que o homem deve adorar somente a Deus. Ele buscava obedecer aos 10 mandamentos. E era um professor de teologia muito respeitado na comunidade. Ou seja: ele tinha o hábito de praticar religião, e tentava se conformar as exigências de Deus.

Por isso, muitas pessoas pensariam que Nicodemus era um convertido. Mas apesar da sua religiosidade, Nicodemus ainda não cria que sua vida precisava ser salva, e nem que Jesus Cristo é o único Salvador. Ainda que a conversão produzisse frutos de boas obras, não são as boas obras em si que definem a conversão. Uma pessoa pode adotar um estilo de vida mais religioso e mesmo assim não ser convertido.

2 -  Então, o que é conversão?

 I - Conversão é ter um novo coração para com Deus.

 A Bíblia descreve o homem natural como sendo morto nas suas transgressões e pecados (Efésios 2.1). Isso significa que éramos mortos para com a voz e vontade de Deus. Não podíamos conhece-lo ou adora-lo como Deus. Nosso único desejo era de buscar a nossa própria satisfação em qualquer coisa exceto Deus. Uma pessoa morta em seus pecados está disposto a adorar a si mesmo, ou as ideias promovidas pela sua cultura, ou as celebridades de TV e craques do futebol. Mas ela não adora ao Deus único e verdadeiro. Toda sua adoração é direcionada aos homens. É uma disposição de dar ouvidos aos desejos do próprio coração ao invés de se submeter a Palavra de Deus. Isso se chama “idolatria”.

Um homem morto em seus pecados não pode se regozijar na presença gloriosa de Deus. Mas na regeneração, Deus quebranta o coração de pedra e produz um coração vivo em nós. É um coração que ouve a voz de Deus, que entende a condenação do pecado, e que deseja confiar no Evangelho. É um coração que confessa seus pecados e confia em Jesus Cristo como Salvador. Isso chamamos de ‘conversão’ e de ‘nascer de novo’.

 3 - A conversão é um verdadeiro milagre, ela não ocorre sem o poder de Deus. 

Na sua carta aos Tessalonicenses, Paulo descreve esse milagre: “vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro.” Suas vidas giravam em torno dos seus ídolos. Mas o Evangelho foi pregado. Foram chamados para se arrepender e confiar em Jesus Cristo como Salvador. E isso fizeram. E houve uma mudança radical — uma mudança de coração. Agora adoram ao Deus vivo. Agora se alegram com a Palavra do Deus verdadeiro. Agora obedeçam a voz de Deus. Pois nasceram de novo!

Quais as evidências bíblicas da conversão?

Podemos perceber dois momentos distintos na conversão dos Tessalonicenses: o momento de deixar os ídolos, e o momento de servir a Deus. Esse dois momentos são chamados de arrependimento, e fé.

 1. ARREPENDIMENTO – Pessoas podem deixar de praticar certos pecados por diferentes motivos. Talvez por terem sido descobertos. Talvez por cansarem do pecado em si. Talvez por perceberem que algum pecado especifico estava causando desgaste financeiro ou emocional. Mas o arrependimento bíblico é deixar o pecado por ele ser uma ofensa contra Deus. O arrependimento genuíno é abominar a idolatria porque ela é uma transgressão da lei de Deus. É uma afronta contra a santidade de Deus.

 2. CRER NO EVANGELHO – As boas novas do Evangelho são que Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3.16). Isso quer dizer que a culpa e condenação dos nossos pecados foram colocados sobre Jesus Cristo. Ele pagou o preço dos nossos pecados. Na cruz, Ele sofreu a nossa morte. Mas Ele ressuscitou vitorioso! Ele derrotou a morte! E por isso devemos crer na sua obra. Somente Jesus Cristo mereçe nossa confiança porque só Ele foi vitorioso.

Durante seu ministério na terra, Jesus Cristo chamava seus ouvintes a se arrependerem. “Jesus foi para a Galileia, pregando o evangelho de Deus e dizendo: Completou-se o tempo, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.” (Marcos 1.14,15) A mesma mensagem foi proclamada pelos discípulos de Cristo, anunciando “tanto a judeus como a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus.” (Atos 20.21) E por isso nossas igrejas devem anunciar o mesmo Evangelho.

4 - Como a compreensão de conversão influencia na igreja?

A igreja é chamada para pregar o Evangelho em todas as nações. Mas nossa Evangelização será direcionada pelo nosso entendimento da conversão. Se entendemos que conversão é um ato superficial no qual as pessoas simplesmente adotam hábitos diferentes, nossa evangelização falará menos de Jesus Cristo, e mais do moralismo e boas obras. Se entendemos que conversão é adotar uma vida religiosa, não daremos valor quando o Evangelho chama os homens para arrepender-se dos seus pecados.

Antes, um entendimento bíblico e saudável de conversão ajudará a igreja a:

Descansar no Senhor.

Embora somos chamados a trabalhar na obra e semear o Evangelho, é Deus que dá crescimento (1Cor 3.6). Uma igreja saudável tem a expectativa saudável de que Deus chamará homens para si. Ele transformará os corações. Basta sermos fieis na pregação da Palavra.

Destacar a obra de Jesus Cristo.

Uma igreja que entende a conversão bíblica terá a alegria de apontar a morte e ressureição de Jesus Cristo em cada mensagem, cada cântico e cada culto. Assim como a igreja dos Tessalonicenses, as igrejas saudáveis entenderão que Deus nos chama para arrepender-nos da idolatria e confiar somente em Jesus Cristo como nosso Salvador e Reino.

Como a visão bíblica de conversão muda minha vida?

É possível que este estudo alcance três tipos de pessoas:

Talvez você cresceu na igreja. Ou talvez você gaste a maioria do seu tempo em contextos cristãos. Talvez você esteja acostumado com os cultos, projetos e programas da sua igreja. Talvez você já memorizou cânticos e passagens da Bíblia. Pode ser que você seja tentado a imaginar que esses (bons!) hábitos e costumes resumam a vida cristã, e esquecer que o arrependimento e fé caracterizam a vida cristã.

Ou, talvez você seja recém-convertido. Talvez você esteja aprendendo a alegria do tempo devocional os cultos e comunhão com a família de Deus. Pode ser que você seja tentado a imaginar que a vida cristã se resume em uma lista de deveres, e que, daqui pra frente, o arrependimento e fé não serão tão necessários na vida cristã.

Ou talvez você ainda não experimentou a conversão. Talvez você ainda não deseje se submeter a Palavra de Deus, e obedecê-lo como único Deus. Talvez você seja tentando a procurar esperança e salvação em coisas deste mundo, ou até em si mesmo, e não no Evangelho. Talvez você não acredite que seja um pecador, ou que seus pecados são uma afronta a glória de Deus.

Em todos os casos, o Evangelho de Jesus Cristo anuncia: a conversão é uma obra poderosa de Deus. É uma maravilhosa demonstração da misericórdia e graça de Deus. E Ele nos chama para nos arrepender dos nossos pecados e confiar na obra de Jesus Cristo sempre. 

Devemos, portanto, nos submeter a sua Palavra e obedecer a sua Voz. Hoje somos chamados ao arrependimento e fé em Jesus Cristo. Não só no início da nossa vida cristã. Mas durante toda a nossa vida. Hoje e continuamente. Em Jesus Cristo encontramos perdão, esperança e um coração transformado.

Crês nisso? (João 11.25,26)

Fonte:
Palavra Prudente - Daniel Gardner   via  https://www.pcamaral.com.br/