Na medida em que minhas filhas vão crescendo, começo a me interessar por assuntos pertinentes ao universo do adolescente, afinal, duas já estão com um pezinho lá. Começamos a conversar esses dias sobre drogas e, para a minha admiração, elas já tinham muita informação a respeito. Relataram casos na escola, de amigos (11 e 12 anos) que já faziam uso de drogas lícitas e de irmãos mais velhos de amigos que já tinham experiência com entorpecentes.
Meu primeiro sentimento foi de vergonha: “Estou atrasado” – lamentei. Quando penso que minhas “pequenas” ainda são “tábula rasa”, na verdade já estão cheias de conteúdo; e nem sempre da melhor espécie.
Tive que vencer, entretanto, uma forte tentação, a da negação do problema. Sabe aquele tipo de pensamento de que “isso jamais acontecerá em minha casa” e “meus filhos? Nunca!”?. Confesso que esse tipo de ingenuidade parental é tão conveniente! Se me deixasse levar por ele, me pouparia um trabalhão (como o de escrever esse texto) e conversas que nem sempre são das mais agradáveis. Sinceramente, eu preferia sentar com elas para jogar videogame.
Dois pensamentos me retiraram da letargia: me considero filho de uma família bem estruturada e, mesmo assim, isso não foi blindagem suficiente para evitar que eu mesmo experimentasse drogas em minha adolescência. O segundo pensamento foi teológico. Minhas filhas (assim como qualquer ser humano) tem a tendência de desejar o mal e não o bem. Eu realmente precisava fazer algo a respeito!
Enquanto elaborava uma estratégia de abordagem em relação a elas, Tedd Tripp não me saia da cabeça. Em seu livro “Pastoreando o coração da Criança”, ele enfatiza a necessidade de que a intervenção paterna não pode se resumir à mudança de uma ação errada. Nós, que somos pais cristãos, precisamos entender qual é a mola mestra do pecado; necessitamos chegar até o coração da criança, pois é lá que o pecado começa a ser gerado. Uma vez que “as fontes da vida” (Pv 4.23) fossem purificadas com a Palavra de Deus, a mudança do comportamento seria uma consequência natural.
Negar o problema não iria ajudar. Ser simplista também não. Dizer somente que “drogas fazem mal” ou que “é pecado” poderia não surtir o efeito desejado. Necessitava entender o que se passa no coração de uma criança ou adolescente e que os torna vulneráveis ao convite das drogas. Lendo bastante e consultando minha própria memória (infelizmente), agrupei 6 causas principais. (Com certeza deve haver outras, e por isso você leitor, poderá ajudar a tornar esse texto mais completo!) Meu desafio como pai era, portanto, trabalhar cada uma delas no coração de minhas filhas. Deveria identificar o que já estava construído em seus corações a respeito de cada causa geradora e confrontar com os padrões bíblicos. Mãos à obra:
1. A Curiosidade
É praticamente unânime a opinião de que o primeiro
fator que leva nossos filhos a experimentarem drogas pela primeira vez é a curiosidade. Então, como bons pais, tudo o que temos a fazer é acabar com a curiosidade de nossos filhos, certo? Claro que não. Ser curioso é sempre bom, o problema é como satisfazer esse instinto. Foi justamente contando com a curiosidade humana que Deus colocou o primeiro casal em um jardim e não em uma cidade feita. Eles deveriam entender o funcionamento da criação para transformá-la, gerando graça e beleza, à semelhança do que o próprio Deus fez ao criar tudo em 6 dias. A diferença é que Deus conhecia tudo a priori, não necessitando que ninguém lhe explicasse nada. Nosso conhecimento, por ser finito e limitado, necessita de experimentação. É claro que há limites para experimentar aquilo que não conhecemos, e foi justamente esse o erro de Adão e Eva. Não deveriam ter experimentado da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois Deus havia dito que o resultado disso seria a morte.
Eles não confiaram na fonte de autoridade que dispunham. Nossos filhos precisam entender que nem sempre precisam experimentar para satisfazer a curiosidade, pois o conhecimento alheio muitas vezes compõe informação suficiente para que eles próprios não precisem se meter em encrencas. Minhas filhas sempre me perguntam sobre minhas aventuras de quando era adolescente; e foram muitas. Minha mãe costumava dizer que meus anjos da guarda estavam todos despenados de tanto trabalho que eu dei a eles! Brincadeiras à parte, minhas filhas sabem como é ser mordido por tubarão, ficar à deriva por horas no mar, fugir de dobermanns em praia de uso militar, ficar perdido na mata... Todo esse conhecimento sem sair da sala de casa.
Se os filhos não confiarem nos pais como fonte de conhecimento, vão tentar por eles mesmos o caminho da experimentação. Uma das observações que Deus fez a Adão e Eva foi que eles “deram ouvidos à voz da serpente”, ou seja, rejeitaram a instrução vinda de Deus e preferiram confiar em uma fonte nada confiável. No caso deles, o problema foi somente rebeldia. Já em relação aos nossos filhos, além da rebeldia, há também a nossa omissão como pais, pois nunca nos ouvirão se não houver boa comunicação.
Se o contato com as drogas se dá por causa da curiosidade, com certeza um lar onde impera um diálogo saudável entre pais e filhos estará mais blindado quando essa tentação bater na porta. Muitos pais não estão atentos à mudança que a adolescência traz no que tange a isso. Na infância, nossos filhos nos têm por únicos referenciais e, por isso, sempre nos procuram para tudo. Me lembro da infinidade de vezes que minhas filhas me puxavam pela mão para o quarto delas dizendo “brinca comigo, papai”. Vocês não têm ideia de quantos desenhos da Barbie eu já assisti e ai de mim se ameaçasse dormir no meio! Agora elas estão maiores e isso ocorre com menos frequência. Se você não estava à disposição de suas crianças, não houve a construção de um relacionamento de dependência e confiança entre seus filhos e você. De repente, você se dá conta de que seus filhos, agora mais crescidinhos, não te chamam mais para brincar, muito menos para conversar.
Antes do povo de Israel entrar na Terra prometida, Deus deu ordem para que os pais ensinassem a Lei do Senhor aos seus filhos em toda e qualquer situação, e não somente em sermões com hora marcada: “tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (Dt 6.7). Como então poderei ser reconhecido por meu filho como fonte confiável de autoridade, se nunca estou com ele quando se deita ou levanta; se eu não ando com ele pelo caminho; se nunca me sento com ele para conversar? Nossos filhos estão observando o mundo em todo o tempo e é claro que terão curiosidade em relação a muito do que veem a sua volta. Minha tarefa como pai é estar ao lado deles a maior quantidade de tempo possível, para lhes emprestar os óculos da Palavra que eu estou usando, a fim de que o mundo seja visto, analisado, julgado e peneirado.
Sem sua presença, sem dispender tempo e interesse, o lugar de autoridade que deveria ser ocupado por você vai sendo ocupado por outros, com o passar do tempo. Em contrapartida, se desde a infância há um relacionamento bem estruturado dentro de casa, a influência externa será minorada. Os filhos levarão em conta sua opinião, afinal... sempre levaram!
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