Os banhos públicos na Roma Antiga

 

Desenho de uma insula (insulae), os apartamentos da Roma Antiga. Tais apartamentos eram a moradia da plebe, pois os patrícios viviam em suas requintadas casas. Em geral, os apartamentos não eram próprios, mas alugados.
Quando hoje falamos em tomar banho remetemos a algo particular de nossa vida, contudo na Roma Antiga tomar banho publicamente não era um escândalo ou uma indecência, mas era algo comum da cultura daquele povo. Embora os romanos não tenham inventado os banhos públicos, pois os caldeus e os gregos já faziam usos dessa prática, mas foram os romanos que popularizaram os banhos públicos. Durante o império (27 a.C - 476 d.C) os banhos públicos se tornaram algo comum do cotidiano do povo romano, havendo banhos públicos em todas as províncias e na maioria das cidades, levando ricos e pobres, homens e mulheres a irem a tais locais não apenas para se lavar, mas para participar da vida social da cidade. 

Os banhos públicos romanos chegaram a um nível de ser comparados ao ato de ir a praia nos dias de hoje, não no sentido de se lavar, mas como um local para se encontrar amigos, conhecer gente, se divertir, passar o tempo, conversar, relaxar, praticar esportes, em geral se socializar. 

Nesse texto procurei mostrar principalmente o papel dos banhos públicos como um espaço social, e não apenas falar da importância do banho para a higiene pessoal. Aqui veremos as principais estruturas destes locais, como o ato de tomar banho se tornou público, como a nudez era encarada nestes locais, como as pessoas deveriam se comportar, como era a vida pública nestes espaços.

Introdução: vida urbana

"A vida na cidade era movimentada, o burburinho das ruas era sentido por todos. Os romanos adotaram o sistema de cidades planejadas em tabuleiro tanto por influência grega como, principalmente, por direta transposição dos esquemas dos acampamentos militares. [...]. A cidade planejada contava com duas avenidas principais, que se cruzavam de norte a sul (cardo) e de leste a oeste (decumanus). A partir delas, seguiam-se ruas paralelas que formavam um traçado regular e ortogonal da cidade, como se fosse um tabuleiro de xadrez. No centro, havia os principais edifícios públicos, que organizavam o espaço urbano: fórum (mercado), basílica (edifício administrativo), um ou mais templos, termas (banhos públicos), latrinas, teatros. As aulas eram, muitas vezes, dadas aos alunos em um dos cômodos do fórum. Por toda a cidade, espalhavam-se lojas, como padarias e bares. Na periferia, localizavam-se o anfiteatro, para as diversões, locais de treinamento físico, hortas e, às vezes, depósitos de lixo. A cidade era cercada por uma muralha e a entrada restringia-se a grandes portas, muitas delas ainda em uso hoje em dia". (FUNARI, 2002, p. 110).

"Os romanos da cidade viviam em casas ou em prédios de apartamentos. Isso mesmo, havia prédios de apartamentos, chamados de insulae, "ilhas", onde viviam as pessoas de menos posses nas cidades grandes. Como não havia elevadores, quanto mais alto o apartamento, menores eram as unidades e mais gente vivia em condições próximas às de nossas favelas. Os prédios podiam ter até seis andares. As casas eram usadas pelas pessoas de posses, embora no campo houvesse também casebres muito humildes". (FUNARI, 2002, p. 110). 

A zona rural era considerada como uma extensão das cidades, as quais eram vistas como o centro político, financeiro, social e cultural da urbes. De fato, embora grande parte da população morasse no campo, o que ocorria de importante nas cidades chegavam até os moradores do campo. Mesmo que a zona rural foi considerada uma extensão da vida citadina, os hábitos eram diferentes para ambos os locais.

“A maioria da população, entretanto, vivia no campo, em fazendas ou em aldeias. Os camponeses que viviam em aldeias trabalhavam a terra e sustentavam-se com a venda ou troca da sua produção agrícola por produtos que necessitavam, como ferramentas.  As casas de fazenda dos grandes proprietários eram suntuosas e algumas eram verdadeiros palácios. No campo, muitas vezes o proprietário deixava a administração da fazenda nas mãos de um escravo-capataz”. (FUNARI, 2002, p. 113).

"Os romanos costumavam; acordar com o raiar do dia. As lojas em Roma abriam cedo e as crianças costumavam comprar pães ou bolinhos na ida para a escola. Às oito horas, abriam-se os bancos e as repartições públicas. Na praça central, ou fórum, localizavam-se as lojas, repartições e outros negócios, o que dava um aspecto movimentado e barulhento ao lugar. O trabalho ia até o meio-dia, quando tudo fechava para o almoço e, no verão, dormia-se um pouco, fazendo-se uma sesta. O almoço era uma refeição leve: pão, azeitonas, queijo, nozes, figos secos e algo para beber. Havia quem levasse uma marmita e comesse seu almoço na rua, ou assistindo a uma luta de gladiadores no anfiteatro". (FUNARI, 2002, p. 108). 


Mosaico romano da cidade de Pompeia, retratando um casal.
É importante apresentar alguns aspectos do cotidiano dos romanos nas cidades, para podermos ver como a introdução aos banhos públicos mudou esse cotidiano, levando as pessoas a modificarem seus horários e hábitos para ir frequentar tais locais.  

A higiene pessoal: 

O ato de banhar-se é bastante antigo, e engana-se aquele em pensar que a preocupação com a higiene seja algo dos tempos modernos. Desde a Antiguidade encontramos em distintos povos, suas maneiras de se entender a preocupação em manter o corpo limpo e até mesmo o lar. No Egito Antigo, em certos períodos, as pessoas tinham o hábito de tomar banho diariamente e três vezes ao dia. Grande parte dos homens mantinham as cabeças raspadas e a barba sempre feita, para se evitar piolhos, além de ser uma questão estética; até mesmo as mulheres chegavam a raspar a cabeça ou manter os cabelos bem curtos, daí o uso de perucas pelos ricos. O banho era visto como algo sagrado, chegando haver até mesmo ritos para se banhar, pois o banho era visto como uma forma de purificar o corpo. De fato, ainda hoje algumas religiões e crenças preservam essa ideia de banhos purificadores. 

Os gregos antigos também já mostravam preocupação em manter os corpos limpos. Eles também tomavam banho diariamente, usavam óleos para passar no corpo a fim de prender a sujeira, e depois usavam um instrumento para raspar o óleo. Usavam também óleos perfumados após o banho. Os homens não tinham o hábito de fazer a barba ou raspar a cabeça, pois era algo estético da cultura deles: a barba era um sinal de masculinidade, virilidade e respeito. No caso das mulheres, elas naquele tempo já esboçavam a preocupação de depilar o corpo. 

Os romanos antes de serem influenciados pela cultura grega já demonstravam o hábito de banhar-se e a preocupação com a higiene. Eles usavam o estrígil ou estrigilo (strigilis), um pequeno raspador de cobre ou bronze em formato curvo ou de foice, usado para raspar a sujeira do corpo. Os gregos já usavam tal instrumento, assim como os etruscos. Normalmente passava-se azeite, para fixar a sujeira do corpo junto com o suor, e na hora do banho isso facilitava a camada de sujeira ser removida, pois estes povos não conheciam o sabão. 

Pintura grega retratando um homem usando o estrígil para se lavar. 
Além do estrígil, havia lâminas usadas para fazer a barba e para a depilação; pinças para arrancar os pelos, lixas para as unhas, um instrumento para limpar as unhas, um instrumento para limpar os ouvidos; cera ou óleo para a depilação, óleos perfumados (o perfume é uma invenção tardia) usados após o banho; sais de banho, etc. 

Além da limpeza corporal, os romanos como outros povos antigos também demonstravam preocupação em se limpar os dentes. A escova de dentes não existia propriamente, mas havia alternativas, como um tubo de madeira usado para ser mastigado, além de pastas que serviam como creme dental, onde a pessoa a esfregava nos dentes, depois fazia bochecho e cuspia. Geralmente os patrícios era que davam mais atenção aos dentes, pois os pobres não tinham esse hábito ou dinheiro para comprar tais produtos de higiene bucal.

Os ricos possuíam em suas casas (domus), banheiras, que eram a peça central de seus balneum ou balineum, ou seja, seus banheiros, embora houvesse outros nomes para designar o banheiro na história romana. A palavra balneum derivada do grego balaneion, deu origem as palavras balneário e banho. Enquanto os ricos tomavam banho em banheiras, sendo lavados pelos seus escravos (algo comum entre outros povos), os pobres quando tomavam banho, usavam baldes para isso, pois banhar-se nas fontes públicas era proibido. 

E outro detalhe a mencionar é que nas insulas não havia abastecimento de água, e quando havia, era restrito apenas ao térreo, obrigando as pessoas desceram para ir buscar água no térreo ou ter que ir até uma fonte pública para pegar água. Já na casa dos ricos poderia ter um poço, mas em geral tinham um reservatório (impluvium) que coletava água da chuva, além de possuir em alguns casos, abastecimento de água e esgoto, pois dependia da localidade da casa.  
Representação genérica de uma domus romana. 
Além do hábito de ter banheiros em casa, e de tomar banho com frequência, o governo romano preocupado com a limpeza da cidade começou a criar banheiros públicos não para tomar banho, mas para poder urinar e defecar. Foi no período republicano (509-27 a.C) que surgiram os banheiros públicos ou latrinae. A latrina pública era um local onde se encontrava uma bancada de pedra com vários buracos, onde as pessoas usavam para urinar ou defecar. Sob essas bancadas corria água que levava os dejetos para o sistema de esgoto. 

Uma latrina pública em uma cidade romana. 
Os banheiros já eram separados naquela época, havendo banheiros para os homens e banheiros para as mulheres. Contudo, não existia privacidade como se pode ver bem na imagem acima. Os homens e as mulheres faziam suas necessidades na frente de outras pessoas e até aproveitavam para ficar conversando. Nestes banheiros havia escravos ou escravas para cuidar da limpeza (embora fossem locais fedorentos e sujos), como também o escravo fornecia aos usuários uma esponja (era uma esponja marinha) em um cabo, a qual era usada para se limpar após ter defecado. O problema é que essa esponja não era descartável; após o seu uso, o escravo a limpava em uma bacia ou pia, e entregava para o próximo usuário. Quando a esponja estivesse desgastada ela era descartada. 

Em alguns bairros pobres onde não havia banheiros públicos, as pessoas ou urinavam e defecavam no mato, ou em terrenos baldios, becos, ou faziam em baldes e jogavam os dejetos na rua, pois as casas não tinham esgoto. Embora os banheiros públicos não fossem tão limpos, foram uma grande inovação para se manter a cidade limpa, pelo menos neste quesito. Nas insula, em geral só havia banheiros no térreo, sendo um banheiro coletivo para todo o prédio, pois nos apartamentos não havia banheiros.

Mas foi apenas na época imperial que os banhos públicos começaram a ser construídos, antes disso, os romanos tomavam banho em casa, ou nos rios e lagos, em alguns casos, o banho era simples. Embora os banhos públicos tenham atraído um número grande de pessoas para seus recintos, isso não significa que as pessoas deixaram de tomar banho em casa, contudo, tornou o banho algo regular e até diário, pois entre alguns não havia o hábito de banhar-se diariamente.

Nudez e sexualidade:


Antes de iniciar a explanação acerca das casas de banho públicas, é preciso falar brevemente sobre como a nudez e a sexualidade eram vistos pelos romanos antigos, lembrando que nas casas de banho, as pessoas ficavam nuas diante de conhecidos e estranhos, no entanto, neste contexto não era algo visto como vergonhoso ou um atentado ao pudor. 


As vezes pensamos que a sociedade romana era libertina, pois ouvimos falar das libertinagens feitas pelos imperadores NeroCalígulaHeliogábaloDomiciano, etc; ouvimos falar das orgias e dos bacanais, porém, o povo romano não era tão lascivo assim. Ao longo da história romana o posicionamento acerca da sexualidade e da nudez variou, mas em geral havia posturas a serem seguidas. 



"Se há uma parte da vida greco-romana falseada pela lenda, é essa; acreditamos erroneamente que a Antiguidade foi o paraíso da não-repressão, não tendo ainda o cristianismo colocado o verme do pecado no fruto proibido. Na verdade o paganismo foi paralisado por interdições. A lenda da sensualidade pagã tem como origem contrassensos tradicionais: o famoso relato da devassidão do imperador Heliogábalo não passa de um embuste de letrados, autores de um falso tardio, a Historia Augusta; é uma página cujo humor se situa entre Bouvard e Pécuchet e Alfred Jarry". (VEYNE, 2009, p. 184). 


Estátua romana provavelmente uma cópia de alguma estátua grega, onde se ver retratado as Três Graças (Cárites para os gregos), Tália, Eufrosina e Aglaia. Embora estejam nuas, nota-se que seus órgãos sexuais não estão a mostra, o que revela certa preocupação do escultor com o pudor. 
Em Roma havia uma forte divisão social entre os patrícios (ricos) e os plebeus (pobres), a forma de ambos se comportarem publicamente era algo bem distinto, embora que na vida privada seu comportamento poderiam ser similares, mas além dessa diferença entre um rico se portar diante de um pobre, havia uma terceira categoria: o escravo (servii). Embora houvesse alguns escravos de respeito, exercendo algumas atividades como de tutores, músicos, mestres-artesãos, etc., em geral o trato dado aos escravos era pior do que dado aos plebeus. Porém, havia alguns escravos que gozavam de melhores condições de vida do que pessoas livres. 

No quesito da nudez, essa era tolerada entre a sociedade romana de algumas formas: uma pessoa livre se aparecesse nua nas ruas ou e um lugar público não apropriado, passaria por vexame, seria um atentado ao pudor. Por outro lado, escravos eram vendidos nus em mercados, feiras e em algumas ruas. Ver aqueles homens e mulheres nus não era algo tão ultrajante como ver uma pessoa livre, pois o escravo era uma mercadoria. 


Se por um lado ver um escravo nu não seria algo tão ultrajante publicamente, desde que esse estivesse sendo vendido, pois o escravo que já era propriedade de alguém deveria andar trajado; o escravo pessoal poderia ver seus donos nus. Em geral os patrícios ao tomar banho ou se vestirem usavam escravos para lhes vestir ou lhes dar banho. Para um senhor ou senhora ficar nu diante de seus escravos pessoais (entenda-se pessoal aqui no sentido dos escravos que cuidavam de afazeres íntimos ou eram mais próximos de seus donos) não seria algo vergonhoso. Nesse ponto tanto senhor quanto escravo se veriam nus. Isso acabava levando também ao assédio dos patrões e patroas sobre as escravas e dos escravos, pois a homossexualidade e a pederastia não eram proibidos na Roma Antiga, embora existissem condutas a ser seguidas. 



"Na elite romana, aceitava-se como natural que um homem mantivesse relações com mulheres e com homens, em especial, o patrão com seus escravos e escravas. Por muito tempo, considerou-se que as relações entre pessoas do mesmo sexo em Roma fosse um costume aprendido com os gregos, mas as diferenças entre as práticas gregas e romanas parecem indicar que não é este o caso. Entre os romanos, não havia separação tão radical entre homens e mulheres e a relação entre homens não era "pedagógica" como entre os gregos". (FUNARI, 2002, p. 106). 


Afresco romano de Pompeia, retratando a deusa Vênus saindo do mar. Vênus era a deusa romana do amor, da beleza, da sensualidade e da sexualidade. Segundo o mito, ela nasceu no mar. 
A homossexualidade não era algo explícito publicamente, ou seja, os parceiros não andavam de mãos dadas, se abraçavam, beijavam ou trocavam carícias publicamente; tais gestos eram feitos em particular. Além disso não havia casamentos homossexuais, daí dizer-se que as pessoas fossem mais bissexuais do que homossexuais, pois poderiam ter maridos ou esposas, mas manter homens ou mulheres como amantes.

Já a pederastia era diferente da dos gregos, pois enquanto na Grécia era uma forma de iniciação a vida sexual dos adolescentes através de uma relação homoafetiva (pois a pederastia era mais comum entre os homens do que as mulheres), que ligava o tutor ao discípulo, os romanos não viam esse lado "pedagógico", mas mantinham tais relações assim mesmo. A pederastia era uma relação homossexual mantida entre um homem mais velho com um adolescente. Relações homoafetivas entre dois homens maduros não era bem visto em ambas as sociedades gregas e romanas. 

A sensualidade era algo bastante próximo da cultura romana como na grega. Os gladiadores e gladiadoras lutavam seminus; no teatro, em algumas peças, as atrizes usavam pouca roupa ou se vestiam de forma sedutora; a prostituição era tolerada, e havia em alguns prostíbulos (lupanares) mosaicos mostrando posições sexuais que as prostitutas sabiam fazer; escrever sobre o erotismo era algo comum entre alguns poetas e dramaturgos; esculpir estátuas nuas ou pintar pessoas nuas era algo normal; realizar orgias ou exibir escravos e escravas nuas em sua casa não era proibido, mas não significa que toda sociedade compartilhasse desses gostos luxuriosos. 


Afresco do "Casal do Centenário", encontrado em Pompeia em 1979. Na pintura ver-se um casal numa cena sexual pouco explicita. Detalhe para o fato da mulher usar uma forma de sutiã, pois para os romanos daquela época, as mulheres corretas não deveriam ficar totalmente nuas durante o sexo, diferente das prostitutas que ficavam totalmente desnudas. 
"Para os romanos, ricos ou pobres, a sexualidade também era intimamente ligada à religiosidade e, em particular, ao culto à fertilidade. Em toda a parte, encontravam-se objetos fálicos, nas paredes das casas, nos cruzamentos, como pingentes em colares, em anéis. As casas tinham, no telhado, falos nas extremidades, vestígio dos quais se pode ver nas casas atuais, agora já sem a forma de pênis, mas como uma telha que se alça de forma aparentemente inexplicável. Até mesmo as campainhas das casas romanas podiam ser em forma de um ou mais falos, que o visitante tinha de tocar para fazer o ruído e fazer-se notar. Essa presença generalizada de membros eretos causa, nos modernos, uma certa surpresa, um estranhamento de que os romanos não tivessem vergonha de tão explícita referência sexual. Para os romanos, contudo, o falo era associado à magia da reprodução e, por isso, era considerado um potente amuleto contra o mau-olhado e o azar. Sua presença nos limites, como no telhado, nas soleiras e nas campainhas, tinha essa função protetora contra as más intenções. As próprias relações sexuais, pelo mesmo motivo, eram consideradas abençoadas e propiciatórias e até mesmo a referência verbal ao ato sexual tinha essas conotações". (FUNARI, 2002, p. 107). 

Logo, vendo por essa óptica, de fato havia uma liberdade sexual entre os romanos antigos, mas curiosamente a paixão e o amor apresentados de forma exaltada não eram bem vistos socialmente. Se um homem ou uma mulher estivessem "loucamente" apaixonados ou pretendessem exaltar sua paixão diante de outros, isso era vergonhoso

"Quando um romano se apaixonava loucamente, seus amigos e ele mesmo consideravam ou que perdera a cabeça por uma mulherzinha devido a um excesso de sensualidade, ou que moralmente caíra em escravidão; e, dócil como bom escravo, nosso enamorado oferecia-se a sua senhora para morrer, se ela assim lhe ordenasse. Tais excessos tinham a negra magnificência da vergonha, e nem os poetas eróticos ousavam enaltecê-los abertamente; levavam o leitor a desejá-los cantando-os com uma engraçada inversão da normalidade, um paradoxo humorístico". (VEYNE, 2009, p. 186).


Mosaico romano em Pompeia, retratando um homem apalpando um dos seios de uma mulher. No padrão de beleza daquela época, mulheres com seios grandes não eram belas, mas estavam fora do comum, era anormal, era motivo de deboche. A mulher teria que ter seios pequenos ou medianos. Nas comédias, os homens quando se vestiam de mulheres usavam enchimento para dar volume, para representar a mulher "peituda", e em alguns casos representar a mulher velha com seios caídos, que também era motivo para chacota. Assim como o pênis estava associado a religião romana, os seios também estavam associados a preceitos religiosos. 
Após conhecer um pouco da visão da nudez e da sexualidade que os romanos antigos possuíam, fica mais claro porque os banhos públicos se tornaram algo comum naquela sociedade, e hoje em dia seria algo bastante polêmico; por exemplo, as praias de nudismo, causam polêmica para alguns que enxergam isso como um absurdo: pessoas nuas diante de estranhos e conhecidos. As mulheres fazerem topless na praia também é mal visto pela maioria da população, por considerarem algo vulgar, uma afronta. 

Um banheiro público sem as cabines é algo imoral para nós hoje em dia, pois fere o direito a privacidade, mas para os romanos era algo comum, embora houvesse gente que se sentisse constrangida em ir nestes locais. Os próprios banhos públicos embora bastante frequentados, não significa que todo mundo se sentia bem em frequentá-los, especialmente os ricos, pois como dito, sua postura diante da plebe e dos escravos era bem estratificada. 

O fato dos banheiros públicos e das casas de banho públicas terem sido o que foram na Roma Antiga consiste no reflexo cultural daquela sociedade, da forma de como eles enxergavam a nudez e a sexualidade, como sendo ambas as coisas possuindo um lado particular, mas também um lado público. Mas, como veremos a seguir, nas casas de banho havia certas regras para o seu uso: homens e mulheres não se misturavam, além disso, relações sexuais nas termas não era algo proibido, mas também não era totalmente permitido, havia termas que existia serviço de prostitutas, embora não fosse algo comum.

Os banhos públicos:

Embora que a relação entre os romanos e gregos tenha se estreitado a partir de meados do século II a.C, quando os romanos conquistaram a Macedônia e a Grécia, aumentando assim o contato com a cultura helênica, mesmo assim, o hábito dos banhos públicos ainda demoraria pelo menos dois séculos para se tornar algo comum em Roma e posteriormente nas demais cidades do império. Por exemplo, o teatro só se popularizou no período imperial, embora já existisse em Roma desde o século I a.C, mas não era um espetáculo popular. 

Os banhos públicos eram chamados pelos romanos de termas (thermae) palavra de origem grega, que referia-se a banhos em águas quentes, contudo, os romanos passaram a usar a palavra terma para designar não apenas estes banhos, mas para referir-se aos complexos de banhos públicos. Sendo assim, daqui pela frente usarei a palavra terma. Em locais onde havia fontes de águas termas, foram construídos pequenas termas, inicialmente exclusiva para os patrícios, porém quando os romanos passaram a dominar o aquecimento da água e melhorar o abastecimento nas cidades, começaram a surgir os banhos públicos. 



Marco Vipsanio Agripa
A primeira grande terma mais antiga em Roma conhecida, foi fundada pelo general e político Marco Vipsanio Agripa (63-12 a.C). Agripa além de ter sido um bom estrategista foi um homem preocupado com o desenvolvimento de Roma. Nos mandatos que exerceu propôs reformas de ruas, criação de jardins, construção de pórticos, a limpeza da Cloaca Máxima (complexo de esgotos da cidade), a construção do famoso Panteão; a conclusão do aqueduto Aqua Virgo, o qual possibilitou abastecimento contínuo para que ele criasse a Termas de Agripa (Thermae Agrippa), a primeira grande terma regular da cidade, pois antes disso, não havia termas propriamente, mas pequenos estabelecimentos que ofereciam água quente ou sauna. As Termas de Agripa foram o estopim para os complexos de banho que se multiplicariam na era imperial. Agripa era amigo de Otaviano (63 a.C - 14 d. C) o qual tornou-se o primeiro imperador de Roma, assumindo o nome de César Augusto. Agripa acabou se casando com uma das filhas de Augusto e além de se tornar seu genro se tornou um de seus principais conselheiros. 

O imperador Nero (37-68) construiu uma terma (Termas de Nero) inaugurada nos anos 60. Após Nero, o imperador Tito (39-81) durante seu breve governo de 79 e 81, inaugurou as Termas de Tito. Tito também é lembrado por ter sido em seu governo que o Coliseu foi inaugurado (tendo delegado cem dias de celebração). O imperador Domiciano (51-96), ordenou a construção de sua própria terma, mas com a morte deste o projeto ficou suspenso, sendo concluído no governo do imperador Trajano (53-117) o qual começou a governar a partir do ano 98. As obras da terma foram retornadas no ano 104. Depois de Trajano outros imperadores ordenaram a construção de termas em Roma, sendo as termas mais famosas a do imperador Caracala (188-217) no século III e a do imperador Diocleciano (244-311) no século IV, sendo as Termas de Diocleciano as maiores construídas em Roma. 


Maquete das Termas de Trajano.
No século II as termas já haviam se tornado algo comum da sociedade romana, havendo termas não apenas em Roma mas em todas as grandes e médias cidades do império. A terma se tornou algo tão importante quanto outros prédios públicos como o fórum, a basílica, o anfiteatro, o circo máximo, o teatro, etc. Tais construções representavam a ideia de civilidade concebida pelos romanos. 


“Os homens só são plenamente eles mesmos na cidade, e uma cidade não se compõe de ruas familiares e multidões calorosas ou anônimas, e sim de comodidades materiais (commoda)como os banhos públicos, e edifícios que a enalteçam no espírito de seus moradores e dos viajantes e a tornem bem mais que um vulgar conjunto de habitações. "Pode-se chamar de cidade", pergunta Pausânias, "um lugar que não tem edifícios públicos, nem ginásio, nem teatro, nem praça, nem adução de água a nenhuma fonte e onde as pessoas vivem em cabanas iguais às choças (kalybai) penduradas na borda de um barranco?"”. (VEYNE, 2009, p. 170).

Como visto, as termas inicialmente eram o local de prazer para os patrícios, onde podiam tomar banho em fontes termais, isso levou alguns políticos a pensarem em construir locais destinados para isso, para agradar uma tendência que eles gostavam, ou seja, banhos quentes. Muitas domus passaram a ter seus próprios complexos de aquecimento para este fim. Mas, além do papel das termas inicialmente fosse agradar o gosto da elite, posteriormente passou a ser visto como um local proporcionado para que os plebeus pudessem se higienizar e se divertir. 


Liberati e Bourbon [2005] contam que nas cidades o comércio fechava lá para as três e quatro horas da tarde, assim como, os funcionários públicos também começavam a sair por esse horário, além disso, a questão de se trabalhar oito horas diárias ou mais é algo recente. Naquela época dependendo do seu emprego, você apenas trabalhava a manhã inteira e meio-turno pela tarde, logo, como os plebeus ficavam ociosos ao sair do trabalho e querendo fazer algo antes de retornarem para seus lares, ir as termas era uma forma de ocupar esse tempo livre diário, e ao mesmo tempo manter as massas ocupadas para evitar se irritassem por algo. De certa forma, ir as termas era quase como ir a um happy hour hoje em dia após acabar o expediente de trabalho e antes de retornar para casa; ir passear com os amigos ou conhecer gente, mas de uma forma bem diferente. 



Foto de uma das piscinas da terma em Bath, Inglaterra. Originalmente este local era coberto mais o teto desabou. 
Em tempos de inverno, não havia sistema de aquecimento nas insula, além disso, tais apartamentos incendiavam-se facilmente: há relatos de incêndios recorrentes em insulas em Roma. Isso acabava levando as pessoas a evitarem de acender fogo dentro de seus apartamentos. Assim no inverno as habitações ficavam frias, e nas termas havia banhos quentes, o que levava os plebeus irem buscar o calor destes banhos. 

No cenário contrário, em tempos de muito calor, ir se refrescar nas termas era como hoje em dia, ir nas piscinas de clubes, na praia, rios ou lagos. Em geral os rios e os lagos ficavam longe das cidades, daí os aquedutos terem quilômetros de extensão para conduzir água para as cidades. No caso da praia, naquela época e por longo tempo não era comum tomar banho de mar, as pessoas evitavam o mar, tinham medo ou não gostavam de banhar-se na água salgada. Diferente dos patrícios que possuíam suas banheiras e até piscinas em alguns casos, a solução para os plebeus, libertos e escravos era ir as termas. 

Diferente do que pensamos, não era apenas os homens e mulheres, jovens e adultos que frequentavam as termas, crianças também iam a esses locais. Além da população livre local, escravos e estrangeiros também frequentavam as termas, contudo é preciso fazer algumas ressalvas sobre o uso desse espaço público.


Em geral, havia uma divisão de classe e de sexo nos banhos públicos, homens e mulheres ficavam em locais diferentes nas termas, havendo espaços para cada um. No caso da terma não ser muito grande para haver essa divisão de espaço, a divisão era feita pelo horário, as mulheres usariam o espaço em determinadas horas e depois seria a vez dos homens, mas em geral, era mais os homens que frequentavam esses locais, pois as mulheres ficavam em casa cuidando do lar, da família e dos afazeres domésticos. No entanto, as mulheres patrícias que possuíam escravas para cuidar do lar e dos filhos, possuíam mais tempo para ir as termas. 



A Favorita Custom. Sir Lawrence Alma-Tadema, 1909. Nessa pintura vemos patrícias em uma terma.  
Contudo, houve épocas em que a divisão pelo sexo foi suspensa, isso ocorreu no primeiro século da era cristã, onde nas termas homens e mulheres poderiam tomar banhos juntos, eventualmente respeitando uns aos outros, contudo, alguns imperadores não gostaram dessa mistura e voltaram a proibir a mistura entre os sexos nas termas. Isso também levou alguns cristãos a considerarem as termas locais de luxúria e promiscuidade. 

No caso da divisão social, havia termas exclusivas para os patrícios, algo que Veyne [2009] chamara a atenção que no século IV em algumas cidades romanas na Europa e África aumentou o número de termas menores destinadas apenas aos patrícios. Por outro lado, havia pequenas termas destinadas apenas aos plebeus, e obviamente havia os grandes complexos abertos para todo mundo. Tais locais poderiam ser gratuitos ou pagos, assim como eram alguns espetáculos.  



“Por alguns cêntimos, os pobres passavam horas num ambiente luxuoso que constituía uma homenagem das autoridades — imperador ou notáveis. Além das complicadas instalações de banhos frios e quentes, os pobres encontravam passeios e campos de esporte ou de jogo”. (VEYNE, 2009, p. 179). 


Ilustração hipotética de como seria o natatio (grande piscina ao ar livre) das Termas de Caracala. Na imagem nota-se que apenas homens estão usufruindo do local. 
Nas termas destinadas para toda a população havia uma restrição de horário, pois como visto os patrícios não gostavam de se misturar com os plebeus e os escravos que não fossem os deles. 

"Em geral, primeiro banhavam-se as pessoas de posses, entre as duas e as quatro da tarde. Após o expediente, vinham banhar-se os mais humildes. Esses banhos, não esqueça, não eram como as nossas duchas, eram banhos em água fria e quente, em banheiras coletivas". (FUNARI, 2002, p. 109). 

As termas normalmente abriam de tarde após o almoço. Em algumas cidades os romanos que trabalhavam no comércio, fechavam seus estabelecimentos para a hora do almoço e depois faziam a cesta. Após dormirem um pouco, voltavam a abrir suas lojas (tabernae) e lá para as quatro horas da tarde fechavam a loja e se dirigiam as termas. Algumas vezes as termas abriam de manhã, mas voltado para as mulheres, pois a amanhã era período de estudos e de trabalho para todos os homens em fase de estudar e trabalhar, além de ser o período reservado para a manutenção e limpeza do espaço. 

Sabe-se que em alguns destes banhos públicos quando eles abriam, tocava-se gongos (discus) anunciando que o local estava aberto. Além dos gongos usava-se também outras formas de anunciar a população que havia termas nas proximidades, como o uso de imagens nas paredes ou no chão. As termas só funcionavam de dia para aproveitar a iluminação natural, e além do mais, de noite em geral a população se recolhei-a para suas casas para jantar e depois irem dormir. Naquela época não havia uma vida social noturna propriamente, a noite era o período para ficar em casa com a família e ir dormir. Sair à noite poderia ser perigoso ou suspeito.



Mosaico de uma terma em Sabratha, Líbia. Podemos ver na imagem um par de sandálias, três estígil e as palavras SALVOM LAVISSE, que significa "Um banho é bom para você". 
Partamos para conhecer melhor a estrutura destes locais públicos a fim de ficar mais ciente de como era a organização destas casas de banho e os serviços prestados ali. Lembrando que não havia uma homogeneidade nas plantas das termas, dependendo do local e da época tais estruturas variavam de tamanho e de forma, contudo certos locais eram básicos para tais complexos balneários. 

Apodyterium: Consistia no vestuário, sendo geralmente uma sala longa onde ficava estantes ou nichos nas paredes, onde roupas, calçados e outros pertences dos usuários eram deixados enquanto estes desfrutavam dos banhos. No apodyterium havia os capsarius funcionários que cuidavam do local, mas era também comum os patrícios designarem escravos próprios para vigiar seus pertences, pois há relatos de roubos nestes locais. O apodyterium era dividido, ou seja, havia um para os homens e outro para as mulheres.


Fotografia do apodyterium feminino em uma terma de Pompeia. Neste caso não havia estantes, mas havia nichos na parede, onde se guardavam as roupas e demais pertences.


Quando os patrícios chegavam nas termas eles não levavam apenas um escravo, mas vários escravos, as vezes levavam muitos, apenas para se exibir, mostrando ter bastante dinheiro para comprar tais pessoas. Os escravos seguiam com seu dono, levando objetos que seriam usados nos banhos, por exemplo, eles levavam toalhas, instrumentos de higiene, o traje para os exercícios, roupas extras, etc. Também era responsáveis por vigiar os pertences do dono ou dona, e se fosse o caso até em auxiliar em outras atividades na terma, como fazer massagem, lavar seu dono, ir pegar algo, levar uma mensagem, comprar alguma coisa, etc. 



Palestra: As termas de porte médio e grande possuíam um pátio longo chamado de palestra (na Grécia usavam mais o termo ginásio), o qual poderia ser ao ar livre ou coberto, onde neste lugar as pessoas se exercitavam. O chão da palestra geralmente era de areia ou terra, mas também poderia ser de pedra. Alguns romanos antes de tomarem banho gostavam de se exercitar primeiro, isso valia para homens e mulheres, logo, nas termas havia uma palestra para os homens e outra para as mulheres, lembrando que havia uma divisão entre os sexos, e no caso da ausência de mais de uma palestra, a divisão ocorria pelo horário, ou seja, em determinada hora, apenas mulheres frequentavam o recinto, e depois os homens. 


"As palestras, grandes espaços destinados à atividade física que existiam em quase todos os centros termais, desempenhavam um papel fundamental. Entre as competições mais comuns estavam o jogo de bola. Dependendo da especialidade escolhida, praticada ao ar livre ou em espaços cobertos chamados de sphaeristeria, a bola podia ser recheada de plumas, areia ou inflada com ar. O jogo mais popular era o trigon, praticado por três pessoas; também era conhecido o harpastum, parecido com o rúgbi atual, no qual o jogador tinha de tomar a bola e mantê-la em seu poder suportando os choques e os empurrões de um grupo de adversários". (LIBERATI; BOURBON, 2005, p. 67).


Afresco retratando mulheres praticando esportes. Nota-se na primeira imagem de cima uma das mulheres usa dois halteres, a outra segura um disco, as duas do lado estão correndo, e abaixo no canto direito, há duas jogando bola com as mãos. Outro fato a se destacar é o traje que elas estão usando, o qual lembra o biquíni sem alças. 
Na palestra geralmente os homens realizavam competições de luta, mas poderiam praticar exercícios sozinhos ou participar de jogos coletivos. As mulheres não chegavam a lutar, mas praticavam exercícios e também jogavam. Após se exercitar eles raspavam o suor com o estrígil e seguiam para o banho. 

Caldarium: caldarium era o local onde se iniciava os banhos, pois nas termas os romanos tinham o hábito de banhar-se passando por três etapas. A primeira referia-se ao banho quente. O caldarium era o local mais quente da terma, sendo abastecido diretamente pelas fornalhas subterrâneas que aqueciam a água e também enviavam vapor para o local ou para a sauna. Escravos localizados no hypocaustum local onde ficava as fornalhas, alimentavam o fogo com lenha para aquecer a água que era canalizada até o caldarium. O vapor produzido também aquecia o piso e a parede do recinto. No recinto do caldarium havia janelas ou aberturas no teto para deixar o vapor sair e iluminar o interior, mesmo assim o local se mantinha quente. 



Desenho retratando o caldarium e o hypocaustum
Em algumas termas aproveitava-se o calor do caldarium para se fazer uma sauna seca (laconicum), um recinto menor, geralmente circular, onde havia bancos de alvenaria, nos quais as pessoas sentavam e aproveitavam o calor que emanava pelas paredes e o piso aquecido. Em outras termas havia o recinto do sudatorium um local vaporizado onde a pessoas ficavam para suar após o banho, similar as saunas a vapor de hoje em dia. A diferença para o laconicum do sudatorium, e que o segundo possuía inserção de vapor no recinto para acelerar a transpiração.   


Foto de um laconicum de uma terma. 
Ao longo das etapas dos banhos, as pessoas iam se limpando: usavam o estrígil, limpavam as orelhas e ouvidos, limpavam as unhas, as vezes os homens faziam a barba e cortavam os cabelos, no caso das mulheres havia a depilação.

Tepidarium: A próxima etapa do banho era o recinto do tepidarium. Neste local não havia piscinas propriamente, mas ele era levemente aquecido. As vezes poderia ter uma banheira com água tépida (água morna). A última etapa era ir tomar banho com água fria, mas para evitar um choque térmico ao sair da água quente e entrar na fria, havia uma etapa do meio, banhar-se em água morna ou permanecer num ambiente relativamente aquecido. 



O Tepidarium. Escola de Fontainbleu, c. 1909. 
No tepidarium as pessoas relaxavam um pouco mais após o banho quente, preparando-se para o banho frio. Lá elas poderiam ficar dentro da água quando havia, ou ficavam conversando ou descansando em alguma espreguiçadeira ou nos bancos. Nas termas mais luxuosas havia serviço de massagem, as vezes os patrícios designavam seus próprios escravos para fazer a massagem. 


tepidarium das Termas Estabianas em Pompeia. 
Frigidarium: Como mencionado, o frigidarium consistia na última etapa do banho, onde após se lavar e tomar banho de água quente, depois passar pela sauna quando havia, depois de relaxar no trepidarium, vinha-se tomar banho de água fria para concluir o processo, e sair renovado depois de mais um dia de trabalho. No frigidarium havia uma piscina circular ou retangular com água fria até a altura dos ombros. No banho quente os poros da pele se abriam, facilitando a remoção da sujeira, mas agora era necessário fazer os poros se fecharem, e isso é feito com um banho frio. 


Pompeianas no Frigidarium. Pedro Weingarner, 1897. 
A medida que as termas se popularizavam os donos dos locais começaram a oferecer outros atrativos para atrair a população. Belos jardins para passeios, saunas, serviço de massagem, salas de leitura ou bibliotecas, lojas (tabernaes) que vendiam bebidas, comida, roupas, acessórios, etc.; o solário (solarium) local para tomar banho de sol; natatio o qual era uma piscina grande ao ar livre e com temperatura ambiente; salas particulares que poderiam ser alugadas para reuniões e eventos; serviço de prostitutas (houve um caso em Constantinopla que no século V o bispo da cidade proibiu o acesso de prostitutas nas termas), etc. 
Desenho ilustrando os ambientes de uma terma. Em cima pode-se ver a palestra, abaixo no lado esquerdo o apodytarium (vestuário), o caldarium; abaixo deste o hypocaustum; o tepidarium no centro, o frigidarium a direita, e a direita deste uma sala de leitura. 
"As termas eram frequentadas por todas as classes sociais e era o núcleo da vida mundana da cidade. Não apenas tinham as instalações necessárias para a higiene pessoal como também serviam como ponto de encontro, sala de leitura ou conferência ou centro de competições esportivas". (LIBERATI; BOURBON, 2005, p. 66). 

Além desses atrativos de lazer, algumas das termas eram verdadeiras obras de arte da arquitetura. As grandiosas termas de Trajano, Caracala e Diocleciano possuíam riquíssimas estátuas, mosaicos nas paredes e chãos, pisos de granito ou mármore, madeira de lei, tecidos luxuosos. Eram construções imponentes, erguidas para impressionar a todos que ali a vissem de fora e ainda mais por dentro. De fato, a estrutura era um espetáculo aos olhos. Os mais pobres ao visitarem tais locais passavam a ter ideia de como era o luxo.



Maquete das Termas de Caracala. O recinto circular consistia no caldarium com 35 metros de diâmetro; na parte de trás o enorme natatio; as palestras nos lados esquerdo e direito, e o suntuoso jardim. 
Assim, podemos concluir que os banhos públicos romanos que se difundiram por toda a era imperial, vindo a entrar em declínio com o fim do império em 476, pois os povos que passaram a governar os antigos domínios romanos não deram continuidade a essa prática, além disso, a medida que o Cristianismo se espalhava pela Europa, os banhos públicos foram vistos como locais de luxúria como já mencionado, daí passarem a serem evitados. Embora o Cristianismo tenha se tornado a religião oficial do império em 393 por decreto do imperador Teodósio, o Grande, ainda no século V os banhos eram frequentados, embora começaram a entrar em declínio. O próprio Império Bizantino herdeiro dos romanos, devido a sua forte cristianização não mantiveram o legado dos banhos por mais tempo. 


Vista aérea das Termas de Diocleciano. Grande parte da estrutura ainda está de pé, após esses séculos. Hoje parte das termas abriga o Museu Nacional Romano. 
Por mais que os romanos não tenham inventado as termas, sem sombra de dúvida eles foram os responsáveis por popularizar na História os banhos públicos, construindo tais locais em três continentes, unindo beleza arquitetônica com os ideiais de "civilidade" propostos por sua cultura e sociedade.


NOTA: Pelo fato de Roma ter sido uma das maiores cidades da Antiguidade, tendo chegado a pelo menos 1 milhão de habitantes, a cidade era dentre todas a do império, a que possuía a maior quantidade de termas, contando mais de uma dezena de diferentes tamanhos.
NOTA 2: tepidarium das Termas de Diocleciano foi convertido no século XVI em uma igreja, a Basílica de Santa Maria dos Anjos e dos Mártires, projetada por Michelangelo em 1562. Além da basílica em um dos prédios circulares da terma, foi fundada a Igreja de São Bernardo da Terma

Referências Bibliográficas:
LIBERATI, Anna Maria; BOURBON, Fabio. A Roma Antiga. Barcelona, Ediciones Folio, S.A, 2005. (Coleção Grandes Civilizações do passado). 
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 2a ed, São Paulo, Contexto, 2002. (Coleção Repensando a História). 

VEYNE, Paul (organizador). História da Vida Privada: Do Império Romano ao ano mil - 1. São Paulo, Companhia das Letras, 2009. (Capítulo 1).  fonte 
https://seguindopassoshistoria.blogspot.com