Bolsonaro disse que apresentaria um Brasil diferente do que é mostrado pela mídia. “Aqui mostrarei o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões. O Brasil mudou e muito, depois que assumimos o governo em janeiro de 2019”.
O presidente iniciou sua fala destacando que “estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção”. Em seguida, disse que o Brasil tem um “presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição, valoriza a família e deve lealdade ao seu povo”.
Bolsonaro falou “que estávamos à beira do socialismo” e que “nossas estatais que davam prejuízos de bilhões de dólares no passado, hoje são lucrativas”.
A Amazônia também foi citada, assim como os desafios do Brasil por suas dimensões continentais. Bolsonaro disse que possuímos uma “legislação ambiental tão completa quanto o nosso código florestal que deve servir de exemplo para outros países”.
Bolsonaro disse que o Brasil ratifica a convenção interamericana contra o racismo e formas correlatas de intolerância. “Temos a família tradicional como fundamento da civilização e a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto e expressão”
Indignação e chacotas
Delegações estrangeiras receberam o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na abertura da Assembleia Geral da ONU como uma mistura de indignação, decepção e ironias.
Representantes de seis países diferentes consultados pelo UOL foram unânimes em alertar que, diante do descrédito completo do brasileiro no cenário internacional, o presidente “afundou” o país num isolamento ainda maior.
Existia uma esperança por parte de algumas delegações de que houvesse uma mudança de tom adotada pelo Brasil, diante da fragilidade internacional de Bolsonaro.
Mas, para a surpresa de muitos, o que se viu foi um discurso ainda mais radical e repleto de desinformação. “Fakenews speech (discurso)”, escreveu um negociador alemão, assim que terminou sua fala. “Vergonhoso”, disse outro representante europeu. Jornais como o Washington Post descreveram a fala como “embaraçosa”, enquanto o Guardian destacou como o brasileiro atacou a exigência de um passe sanitário, uma realidade nos EUA e na Europa.
Já o New York Times apontou como Bolsonaro defendeu remédios sem comprovação científica, enquanto dezenas de comentaristas americanos ironizaram quando o serviço de conferências da ONU entrou em cena para desinfectar o pódio após sua fala. Joe Biden seria o próximo. Os dois líderes não se cruzaram nos bastidores.
“O Brasil transformou a tribuna mais sagrada da diplomacia em um disseminador de mentiras e vergonhas”, acusou outro delegado.
Indignados ainda ficaram representantes da OMS, quando Bolsonaro falou sobre tratamento precoce contra a covid-19 sem qualquer tipo de comprovação científica. “O negacionismo na abertura de uma Assembleia Geral é um dos pontos inesquecíveis dessa pandemia”, ironizou um dos funcionários da agência.
Mesmo dentro do Itamaraty, à medida que o discurso era lido, embaixadores experientes e diplomatas não conseguiam esconder a revolta. “Vergonha alheia”, escreveu por mensagem um deles.
Para delegações estrangeiras, a desconfiança internacional será ainda maior em relação ao Brasil depois da fala. “Como é que o governo quer que os demais parceiros o levem à sério”, questionou um governo europeu. Na avaliação de membros do bloco, as mentiras contadas pelos governos ao longo de mais de dois anos de governo Bolsonaro pareciam que não conseguiriam mais ser superadas. Até que chegou a vez do presidente subir ao púlpito da ONU nesta terça-feira.
Para um delegado de um país vizinho do Brasil na região, o tom do presidente foi revelador de um líder que está isolado no mundo e opta por ampliar essa marginalização.
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