Este artigo faz parte da série Por que somos reformados.
Quando nós começamos a entender teologia reformada, não é apenas o nosso entendimento sobre a salvação que muda, mas nosso entendimento sobre todas as coisas. É por esta razão que quando as pessoas têm dificuldades com as doutrinas rudimentares da teologia reformada e começam a compreendê-las, elas costumam sentir como se tivessem se convertido uma segunda vez. Na verdade, como muitos admitiram para mim, a realidade é que alguns foram convertidos pela primeira vez. Foi através de sua examinação da teologia reformada que eles se encontraram face a face com a dura realidade da sua corrupção radical e morte em pecado, a eleição incondicional de Deus dos seus e condenação dos outros, a realização real da redenção do seu povo por Cristo, a graça eficaz do Espírito Santo, a razão de eles perseverarem pela graça preservadora de Deus, e a maneira pactual de Deus operar no decorrer de toda história para sua glória. Quando as pessoas entendem que, no fim das contas, elas não escolheram a Deus, mas que ele as escolheu, elas naturalmente chegam a um ponto de admissão humilde da maravilhosa graça de Deus para com elas. É só então, quando nós reconhecemos os miseráveis que realmente somos, que nós podemos verdadeiramente cantar “Amazing Grace.” [1] E isso é precisamente o que a teologia reformada faz: ela nos transforma de dentro para fora e nos leva a cantarmos—nos leva a adorarmos nosso soberano e triuno, gracioso, e amoroso Deus em toda a vida, não apenas aos domingos, mas todos os dias em toda a vida. Teologia reformada não é apenas um broche que usamos quando ser reformado é popular e descolado, é uma teologia que nós vivemos e respiramos, confessamos e defendemos até quando está sob ataque.
Os reformadores protestantes do século XVI, juntos com seus precursores do século XV e seus descendentes do século XVII, não ensinaram e defenderam sua doutrina porque ela era descolada ou popular, mas porque era bíblica, e eles colocaram suas vidas em risco por isso. Eles não estavam dispostos apenas a morrer pela teologia da Escritura, mas estavam dispostos a viver por ela, a sofrer por ela, e a serem considerados tolos por causa dela. Não se engane: os reformadores eram ousados e corajosos não por conta de sua autoconfiança ou auto-suficiência, mas por conta do fato de que eles tinham sido humilhados pelo evangelho. Eles eram corajosos porque eles haviam sido habitados pelo Espírito Santo e equipados para proclamar a luz da verdade em uma época escura de mentiras. A verdade que eles pregavam não era nova; era antiga. Era a doutrina dos mártires, dos pais, dos apóstolos, e dos patriarcas—era a doutrina de Deus apresentada na Escritura sagrada.
Os reformadores não inventaram sua teologia; antes, sua teologia que fez deles o que eles eram. A teologia da Escritura os fez reformadores. Porque eles não pretendiam ser reformadores, por si só—eles pretendiam ser fiéis a Deus e fiéis à Escritura. Nem as solas da reforma, nem as doutrinas da graça (os cinco pontos do Calvinismo) foram inventadas pelos reformadores, nem foram esses de forma alguma o resultado total das doutrinas da reforma. Antes, elas se tornaram premissas doutrinárias fundamentais que serviram para ajudar a igreja de épocas subsequentes a confessar e defender o que ela acredita. Mesmo hoje há muitos que pensam que abraçaram a teologia reformada, mas a sua teologia reformada é tão profunda quanto as solas da reforma e as doutrinas da graça. Além do mais, há muitos que dizem aderir a teologia reformada, mas fazem isso sem que ninguém saiba que são reformados. Tais “calvinistas de armário” nem confessam nenhuma das confissões reformadas históricas dos séculos XVI e XVII, nem fazem uso de uma linguagem teológica distintivamente reformada.
Contudo, se nós verdadeiramente aderirmos a teologia reformada de acordo com as confissões reformadas históricas, nós não conseguiremos evitar de sermos identificados como reformados. Em verdade, é impossível permanecer como “calvinista no armário” e é impossível permanecer reformado sem que ninguém saiba—isso inevitavelmente irá transparecer. Para ser historicamente reformado, é preciso aderir a uma confissão reformada, e não apenas aderir a ela, mas confessá-la, proclamá-la, e defendê-la. Teologia reformada é fundamentalmente uma teologia confessional.
Teologia reformada é também uma teologia abrangente. Ela muda não somente o que sabemos, ela muda como sabemos o que sabemos. Não muda apenas nosso entendimento sobre Deus, muda nosso entendimento sobre nós mesmos. De fato, ela não muda apenas nossa visão da salvação, ela muda como nós adoramos, como evangelizamos, como criamos nossos filhos, como tratamos a igreja, como oramos, como estudamos a Escritura—muda como vivemos, movemos e existimos. Teologia reformada não é uma teologia que conseguimos esconder, e não é uma teologia a qual nós podemos apenas aderir da boca pra fora. Porque esse tem sido o hábito dos hereges e progressistas teológicos através da história. Eles alegam aderir a suas confissões reformadas, mas nunca verdadeiramente as confessam. Eles alegam ser reformados apenas quando estão na defensiva—quando sua teologia progressista (embora popular) é questionada, e, se eles são pastores, apenas quando seus empregos estão em risco. Embora liberais teológicos possam estar em igrejas e denominações que se identifiquem como “reformadas,” eles tem vergonha de tal identidade e passaram a crer que ser conhecido como “reformado” é uma pedra de tropeço para alguns e uma ofensa para outros. Além disso, de acordo com as marcas históricas e ordinárias da igreja—a pregação pura da Palavra de Deus, a oração de acordo com a Palavra de Deus, o uso correto dos sacramentos de batismo e Ceia do Senhor, e a prática consistente de disciplina eclesiástica — tais igrejas “reformadas” muitas vezes nem são igrejas verdadeiras. Hoje, há muitos membros e pastores que estão em igrejas tradicionais reformadas e protestantes que, junto com suas igrejas e denominações, deixaram suas amarras reformadas e rejeitaram suas confissões há muito tempo.
Contrária a essa tendência, o que nós mais precisamos são homens no púlpito que tenham a coragem de serem reformados —homens que não tem vergonha da fé que uma vez por todas foi entregue aos santos, mas que estão preparados para lutar por ela, não da boca pra fora, mas com toda sua vida e toda sua força. Precisamos de homens no púlpito que são tão ousados e firmes na proclamação da verdade e que são ao mesmo tempo graciosos e compassivos. Precisamos de homens que irão pregar a verdade sem verniz da teologia reformada quer seja oportuno, quer não, não com um dedo apontado na cara, mas com um um braço sobre o ombro. Precisamos de homens que amam as confissões reformadas precisamente porque amam o Senhor nosso Deus e sua imutável, inspirada, e autoritativa Palavra. É apenas quando tivermos homens no púlpito que tenham a coragem de serem reformados que teremos pessoas nos bancos que entendem a teologia reformada e seus efeitos em toda a vida, para que possamos amar mais a Deus de todo coração, alma, entendimento e forças, e amar nosso próximo como a nós mesmos. Essa é a teologia que reformou a igreja no século XVI, e essa é a única teologia que trará reforma e avivamento no século XXI. Porque no nosso tempo de liberalismo teológico progressista radical, a coisa mais radical que podemos ser é ortodoxos de acordo com nossas confissões reformadas, contudo não com arrogância, mas com coragem e compaixão pela igreja e pelos perdidos, tudo para a glória de Deus, e a glória dele somente.
Por: Burk Parsons. © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org. Traduzido com permissão. Fonte: We Are Reformed.
Original: A coragem para ser reformado. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Alex Motta. Revisão: Natã Abner Marcelino.