Há uma piada que diz que se você não souber a resposta de uma pergunta na escola dominical, então, basta responder: “Jesus”. Nove em cada dez vezes, você estará certa. Uma vez, enquanto estávamos na fila em uma loja, perguntei à minha filha se ela poderia me ajudar a passar algo para o caixa. Ela deveria estar sonhando acordada, porque quando ela percebeu que eu havia lhe feito uma pergunta, ela deixou escapar sua resposta coringa: “Jeeesus”!
A ideia de priorizar o seu relacionamento com Deus é como a resposta da escola dominical. O nosso coração se pergunta: “Qual é a minha principal prioridade?” “Ame a Deus em primeiro lugar”, a resposta da escola dominical irrompe. Nós sabemos isso. Não é uma pergunta difícil de se responder. Quando algo profundo se torna comum como essa resposta, isso pode parecer banal. Mas, na verdade, amar a Deus em primeiro lugar e acima de tudo é a coisa mais cheia de temor e misteriosa pela qual poderíamos nos esforçar. Neste capítulo conclusivo sobre amar o Supremo Pastor, espero lembrá-la da magnitude insondável dessa simples resposta de escola bíblica dominical.
Ele tem a mim e a você em suas mãos
Seu relacionamento com Deus não acontece por causa de suas obras. Você era a ovelha perdida, e ele, o pastor que lhe buscava. Espalhado por todo o mundo, ao longo dos séculos da história humana, está o rebanho de Deus, que ele de antemão conheceu e predestinou para ser conforme à imagem de seu Filho. Mas vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei (Gl 4.4). Esse Filho seria o Bom Pastor das ovelhas. O Bom Pastor não é um mercenário desinteressado que não se importa com as ovelhas, mas apenas com sua própria pele. Ele é o pastor predito em Ezequiel: “Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que encontra ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; livrá-las-ei de todos os lugares para onde foram espalhadas no dia de nuvens e de escuridão” (Ez 34.12; veja também vv. 23–24). Isaías falou de sua bondade: “Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente” (Is 40.11).
Jesus jamais perderá qualquer uma de suas ovelhas; ninguém as arrebatará de sua mão (Jo 10.28-29). Ele nos concedeu essa graça antes de nascermos, antes de criar o mundo, na verdade, antes dos tempos eternos (2Tm 1.8-10). Você acha que amar a Deus foi sua própria ideia, com base na sua própria iniciativa? O seu relacionamento contínuo com o Senhor é sustentado pelo seu interesse em sua Palavra, ou por sua paixão pela oração, ou por sua inclinação para a santidade? Nenhuma dessas coisas são nossas obras — elas são presentes. Se Deus sempre faz o primeiro movimento e termina o que começou, será que ele, então, deixa o meio por nossa conta? A graça nos carrega por todo o caminho. Os pastos verdejantes, as águas tranquilas, a vara e o cajado, o óleo — todas essas coisas são fornecidas pelo nosso Pastor. Deixe que a verdade de sua graça deliberada a console.
Irmã, se o Senhor é o seu pastor, ele não a deixará desprovida. Ele provê em abundância para as suas necessidades e cuida de você nas épocas assustadoras. Todas as coisas de que precisamos nesta terra, ele as fornece todas e restaura a nossa alma. Não há sombra em nenhum vale tão escuro que a sua Palavra não ilumine. Irmã, você está sendo seguida. “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre” (Sl 23.6). Mantidas nas firmes mãos de nosso Pastor, somos seguramente dele em todos os momentos e em todas as circunstâncias. Sua constância é Cristo. E no final de todas as coisas criadas, no mais belo paradoxo das eras, o Cordeiro é revelado como o pastor, e ele “os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap 7.17).
Você não ama a maneira como ele a ama?
Uma amiga minha tem uma irmã que sofre de demência. À medida que seu corpo luta contra o envelhecimento e a doença, suas faculdades mentais vão diminuindo num ritmo acelerado. Por causa da doença, ela quase não reconhece mais seus entes queridos e não sabe quem ela é. Há sofrimento e dor indescritíveis nessas circunstâncias, no entanto há esperança e paz em todo esse sofrimento. Embora ela não saiba quem ela é, Deus a conhece. Ela é uma crente — uma pessoa que foi enxertada em Cristo pela fé, por meio da graça. Na ausência de seu autoconhecimento e consciência em relação aos outros, Deus está sempre ciente dela. Feita à imagem de Deus, o seu batimento cardíaco, respiração e ondas cerebrais testemunham a misericórdia de Deus. Ele de antemão a conheceu e a predestinou para ser conforme a imagem de seu Filho, ele a fez à sua imagem, chamou-a para si mesmo, levou-a ao arrependimento e fé, justificou-a pelo sangue de Jesus e a glorificou para sempre, como sua filha adotiva.
A falta de faculdades mentais e diminuição das habilidades físicas — também não podem nos separar do amor de Deus que está em Jesus Cristo. Mesmo quando ela não faz ideia do que está acontecendo, Deus ainda mantém o seu amor por ela a cada segundo de cada dia, agora e para sempre. Ela é completamente amada. E seu Salvador é capaz de salvá-la totalmente, pois ele vive sempre para interceder por ela (Hb 7.25). Isso é chocante, porque significa que o amor constante de Deus para com seus filhos não é absolutamente dependente deles. Ele não perde o interesse naqueles que não podem mais manifestar interesse nele. Sua misericórdia não é diminuída devido ao fato de que ela não pode servir, ensinar ou liderar. A fidelidade de Deus é intrinsecamente quem ele é. Ele é fiel. Faríamos bem em considerar o que isso significa para a nossa vida e em nos esforçar para lembrarmos disso todos os dias. Precisamos lembrar que a grande visão de Deus para a nossa vida começa com ele e é para a glória dele. Faz sentido que, se quisermos que o nosso objetivo principal seja “amar o Supremo Pastor”, então, temos que começar com quem ele é e o que ele tem feito em nosso favor. Quando começamos conosco, ficamos presas em nós mesmas, em nossas peculiaridades, em nossos pressentimentos e nas formas pelas quais preferiríamos que Deus nos amasse.
Comparado ao nosso sombrio amor próprio, o amor de Deus é permanentemente resoluto. Toda a chamada autorrealização que procuramos parece insignificante quando comparada ao fato de sermos conhecidas por Deus. A autossuficiência se desfaz na presença do Santo, em quem todas as coisas subsistem, e a nossa justiça própria fede como uma fruta podre. Quando a luz é lançada sobre a sólida fortaleza da segurança eterna que temos em Cristo, nossa autoconfiança sai de fininho para as sombras. Nossa autodefesa insegura não tem nada de novo a dizer, porque o nosso Pai celestial está encarregado do nosso departamento de relações públicas. Pelo poder do Espírito Santo, toda a energia absorvida pelo nosso autoconhecimento torna-se prontamente disponível ao amor sacrificial, como o de Cristo. Estar ciente dessas realidades espirituais que acontecem em nossa vida é uma fonte de doce alegria.
Nossos corações são fortalecidos pela alegria, Deus é glorificado na nossa dependência dele, e o mundo que nos observa fica curioso acerca da razão da nossa esperança.
O fato de sermos conhecidas e amadas por Deus — sendo achadas em Cristo — tem profundas implicações para a nossa vida. Por meio de sua morte e ressurreição, Jesus removeu todos os obstáculos que nos impediam de apreciar Deus para sempre. A eternidade dura eternamente porque precisamos do para sempre para experimentarmos e desfrutarmos o amor de Deus. Paulo orou para que Deus nos desse “forças para compreender” o amor de Cristo em toda a sua largura, comprimento, altura e profundidade (Ef 3.18-19). Oh, como ele nos ama!
Artigo adaptado do livro A Esposa do Pastor, de Gloria Furman, publicado pela Editora Fiel.