Lição 09 - 4º trimestre 2021 - Os dons de Cristo para a unidade do corpo
Lição 09 – 28 de novembro de 2021 – Editora BETEL
Os dons de Cristo para a unidade do corpo
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Sobre os dons de Cristo para a edificação do Seu Corpo
Os vários dons ministeriais existem para fortalecer a unidade do "corpo de Cristo". Eles são elementos vitais ao desenvolvimento sadio da Igreja através dos membros que compõem o corpo de Cristo. Esses elementos reforçam a unidade da Igreja. Cada membro é útil e importante no corpo. Um membro doente ou atrofiado no corpo perturba a unidade dos outros membros. Quando temos fome, não é suficiente o trabalho da boca; precisa-se do auxílio espontâneo das mãos e da mente para que a fome seja saciada. Espiritualmente, o verso 7 mostra a importância e a necessidade de que cada crente trabalhe para e pela unidade do Espírito.
"Mas a graça foi concedida a cada um de nós". As várias manifestações da graça de Deus alcançam particularmente "a cada um". Cada crente recebe de Deus a graça espiritual para manter o ritmo normal que o corpo vivo (a Igreja) necessita, através dos elementos que ajudam a unidade da Igreja. A "cada um" Deus tem dado uma função para compor a unidade do corpo com os demais membros e para a edificação do corpo de Cristo.
"Mas a graça foi concedida a cada um". Esta graça representa a capacitação espiritual dada por Deus a cada crente no sentido de contribuir para a unidade da Igreja. Não se trata de um único dom, mas de vários, a fim de que todos trabalhem obedecendo à cabeça. Os olhos só podem ver, porém jamais poderão apalpar ou tocar coisa alguma, o que é trabalho das mãos. As mãos, por sua vez, jamais farão o trabalho dos pés, e assim cada membro do corpo é importante naquilo que lhe foi destinado fazer. Na Igreja, nem todos podem ser pastores, ou profetas, ou ensinadores. Mas Deus deu a cada um, em particular, uma função específica no corpo de Cristo, a qual deve ser exercida para não prejudicar a unidade espiritual da Igreja.
"Segundo a medida do dom de Cristo". Isso significa que "cada um" recebe a "graça" segundo a sua capacitação para trabalhar com aquele dom. Essa capacitação é, antes de tudo, trabalho do Espírito Santo. Se "cada crente" procurasse fazer o melhor na sua própria função, não haveria tantas facções, nem invejas, nem ciúmes no seio da igreja. Esses males prejudicam a unidade da Igreja.
"Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens". Inicialmente, esse versículo proclama a vitória de Cristo no Calvário, dando-lhe o direito de ser Senhor pleno e capaz de dar dons àqueles que o recebem por Salvador e Senhor.
"Pelo que diz" são palavras que identificam o cumprimento de uma profecia citada pelo apóstolo das gentes (SI 68.18,119; 2Co 6.16). O Salmo 68 fala do triunfo de Deus, representado pela volta da arca da aliança ao seu santuário original após a derrota dos inimigos de Israel. Do mesmo modo, Jesus triunfou na batalha contra o reino do mal e, em virtude dessa vitória, recebeu dons para dar aos seus aliados. Por isso, esse salmo se aplica à vitória de Cristo no Calvário. Cristo, conquistando o seu lugar no Céu, deu dons à Igreja.
"Subindo ao alto" fala de sua subida e volta ao seio do Pai. A palavra "alto" indica a sua morada original — o Céu. "... levou cativo o cativeiro". Alguns autores, apreciando essa parte do texto, dizem que o termo "cativeiro" é um hebraísmo que significa "os cativeiros", e esses cativeiros são os inimigos de Cristo, vencidos por sua ressurreição e sua ascensão ao Pai. Outros interpretam "cativeiros" como os homens vencidos pelo poder de Cristo e que agora o servem voluntariamente. Ainda alguns outros interpretam "o cativeiro cativo" como sendo os "poderes do mal" que antes escravizavam, mas que agora se tornaram escravos do Senhor Jesus pelo seu triunfo redentor.
Entretanto, sem desmerecer os demais exegetas, podemos entender os versos 8 a 10 da seguinte maneira: esses versículos formam um todo. No verso 8, Cristo, "subindo ao alto" com os lauréis de sua vitória, é capacitado, pelo seu triunfo, a dar dons à Igreja. Mas no versículo 9, diz que Ele (Cristo) "antes havia descido às partes mais baixas da terra", indicando o seu triunfo na terra, debaixo da terra e em cima, no Céu. Três domínios e conquistas totais, ou seja: o mundo dos homens (a Terra); o mundo dos espíritos dos homens mortos (Hades ou Sheol) debaixo da terra, que não é sepultura, e o mundo da habitação de Deus (o Céu).
Voltando ao verso 8, o texto diz: "subindo ao alto" (depois de ter descido) "levou cativo o cativeiro". Que cativeiro é esse, realmente? Entendemos que esse cativeiro representa os poderes que estavam sob o domínio de Satanás, como seja: o pecado, a morte e o inferno. O pecado está sob o domínio de Cristo porque Ele o quitou, livrando o homem da condenação (Rm 3.23; 6.23). Pela aceitação da obra da cruz, o pecado não tem mais domínio sobre o crente fiel (Rm 6.14). Jesus se fez pecado por nós (Hb 9.15) e cravou o pecado na cruz. A morte perdeu o domínio da sepultura porque Cristo ressuscitou poderosamente dentre os mortos. A ação da morte no crente está contida: ela só pode alcançar seu corpo material, nunca sua alma e espírito. O inferno perdeu seu domínio sobre o crente. O Hades ou Sheol é a habitação de espíritos e almas das pessoas que morrem. Antes da vitória no Calvário, o Hades (inferno no grego neotestamentário) recebia bons e maus, justos e injustos, mas separados por um abismo. Os justos ficavam no paraíso (descanso), e os ímpios, num lugar de tormento. Mas Jesus, pela sua vitória na cruz, trasladou o paraíso para o Alto (a presença de Deus), e hoje o Hades/Sheol só recebe os ímpios, enquanto aguardam a ressurreição e julgamento final no julgamento do Grande Trono Branco, porque não há mais um paraíso "nas partes mais baixas da terra". A João, na ilha de Patmos, Jesus confirmou sua vitória, proclamando: "Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto; mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno" (Ap 1.17,18).
Ter domínio sobre a morte e o inferno significa que a morte tem poderes limitados e pode apenas tocar no corpo do crente, pois sua alma e espírito são conduzidos à presença de Deus. O poder da morte eterna não atingirá o crente, mas apenas o ímpio. O inferno jamais terá poder sobre o crente em Cristo, porque quando o crente morre fisicamente, seu corpo desce à sepultura, mas sua alma e seu espírito sobem à presença de Deus. A morte do crente, depois da obra expiatória de Cristo, representa a vitória sobre o pecado, sobre a morte eterna (que é um estado consciente) e sobre o inferno. Na realidade, a morte física, para o crente, representa a sua conquista maior, isto é, o clímax da redenção! Pela vitória de Cristo, Ele recebeu o poder de conceder dons à sua Igreja, como veremos a seguir.
A palavra "dom" significa dádiva, e quando se trata de "dons de Cristo" refere-se às dádivas concedidas à Igreja, as quais a enriquecem e fortalecem a sua unidade através dos crentes. Esse direito divino de conceder "dons" representa os lauréis da vitória de Cristo e o direito pleno de Ele conceder dons à sua Igreja.
"E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores". Na mente de Deus não há uma hierarquia ministerial seguindo uma ordem de valor, pois não teria sentido então a unidade do corpo. O destaque de uma função não representa uma posição mais importante que outra. Paulo fez questão de ensinar isso à igreja de Corinto com essas palavras: "Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo?" (1Co 12.14,15). Os versos 17 e 18 aclaram ainda mais o texto de Coríntios: "Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis".
A lição prática da "unidade do Espírito" quanto aos ministérios distribuídos, é que "cada um" deve assumir seu trabalho na Igreja, porque assim Deus o quer. Assim sendo, cada qual poderá dar o melhor de si para a unidade da obra do Senhor.
Esses dons são enumerados pelo apóstolo Paulo sem a preocupação de ordem ou grau. São dons concedidos àqueles que são nomeados ou ordenados para o ministério do seu corpo, a Igreja, no mesmo nível de valor e propósito.
"E ele mesmo deu uns para apóstolos". Uma função no corpo de Cristo que não ficou restrita apenas aos discípulos de Jesus. Há uma forte corrente de interpretação que restringe esse ministério aos dias apostólicos, isto é, aos introdutores da Igreja Primitiva. Essa teoria assegura que "apóstolos" foram somente aqueles enviados imediatos de Jesus, isto é, os discípulos que estiveram com Ele fisicamente, presenciaram sua morte e foram testemunhas oculares de sua ressurreição (1Co 15.4-8). Entretanto, o mesmo Jesus que enviou aqueles seus primeiros discípulos e enviou outros nos dias primitivos da Igreja, continua ainda hoje enviando, de forma especial, homens com uma missão delegada onde quer que se faça algum trabalho particular em favor de seu reino na face da Terra.
No grego, "apóstolo" significa mensageiro; enviado; delegado. O Novo Testamento apresenta outros apóstolos além dos 12 discípulos de Jesus. No lugar de Judas Iscariotes entrou Matias (At 1.25,26). Depois, Paulo é reconhecido como apóstolo, e também Barnabé (At 14.14).
"... e outros para profetas". O ministério profético tinha um destaque notável na Igreja Primitiva. Cabia-lhe a função especial, através do Espírito Santo, de edificar, exortar e consolar (1Co 14.3). Não significa apenas pregar ou ensinar a Palavra de Deus, mas a missão de receber diretamente do Espírito Santo, pelo dom da profecia, a habilidade de transmitir a Palavra do Senhor.
O próprio significado da palavra "profeta" quer dizer "aquele que fala por outro". No sentido popular, a ideia que se tem do profeta é a daquele que revela ou prediz o futuro. Nos dias primitivos da igreja, vemos esse ministério bastante ativo, em que a vontade e a mente do Senhor eram expostas através dos profetas. Em Atos 13.1,2, lemos sobre alguns profetas da igreja de Antioquia, na qual se destacaram alguns nomes como Barnabé, Simeão, Lúcio Cireneu, Manaem e Saulo. Atos 15.32 diz que "Judas e Silas eram também profetas e consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram". Ainda em Atos 11.27,28, fala-se de alguns profetas de Jerusalém que foram a Antioquia, destacando-se Ágabo, que profetizou sobre uma fome que haveria de vir a todo o mundo e foi cumprida no tempo de Cláudio César. Em Atos 21.8,9, as filhas do evangelista Filipe eram profetisas.
"... e outros para evangelistas". Este é outro ministério, cuja função é a de levar as Boas Novas de Cristo, o Salvador. Seu trabalho não é num lugar fixo, mas itinerante. É o que sai em busca dos perdidos e os traz à casa do Pai celestial.
É um ministério de suma importância dado à igreja, ou, mais especificamente, a homens escolhidos para fazerem esse trabalho. Lamentavelmente, existe em alguns lugares uma ideia errada dessa missão. É um ministério tão importante quanto os demais, sem nada diminuir ou aumentar aquele que o exerce. E uma posição específica no corpo de Cristo, não obedece a uma ordem hierárquica, nem tampouco é uma posição inferior à de pastor. E uma função pouco reconhecida como ministério específico, semelhante ao de Filipe, Timóteo e outros (At 21.8; 2Tm 4.11).
É uma ordenação ministerial bem caracterizada e distinta dos demais ministérios, conforme Efésios 4.11.
O evangelista é aquela pessoa habilitada pelo Espírito para falar da salvação em Cristo. Os demais ministérios, como pastores e mestres, deixarão de ser sem o ministério do evangelista. É o evangelista quem leva os pecadores ao conhecimento de Jesus Cristo como Salvador, para, posteriormente, os pastores e mestres desenvolverem seus ministérios.
As marcas de um verdadeiro evangelista aparecem no poder sobrenatural da Palavra de Deus e nos sinais e maravilhas operados por sua fé, levando as pessoas a Cristo.
O evangelista tem um ministério distinto entre os demais, mas não isolado, porque o evangelista é enviado pela igreja. É um ministério difícil e custoso, porque é ele quem vai na "frente da batalha" contra os poderes do mal. No entanto, são os demais ministérios que mantêm a conquista das almas.
"... e outros para pastores". O ministério pastoral inclui outros títulos que representam a mesma função de pastor, tais como ancião, presbítero e bispo. Todos esses nomes têm o mesmo significado em relação ao ministério pastoral.
É o ministério mais desejado na atualidade, e isto se dá mais pela função atual de um pastor na igreja, que é o de exercer liderança sobre um povo em local fixo. Entretanto, o real significado de pastor, no grego, é "guardador de ovelhas". O exemplo mais claro desse significado está na identificação que Jesus fez acerca de si mesmo como "o bom Pastor que dá a sua vida pelas ovelhas" (Jo 1.11). Em outros textos do Novo Testamento, como Hebreus 13.20 e 1 Pedro 2.25; 5.4, os escritores identificam Cristo como o exemplo do verdadeiro pastor.
No princípio do Evangelho, com a formação de várias igrejas, houve a necessidade de homens piedosos e respeitados nas congregações para as dirigirem. As primeiras igrejas eram entregues aos "anciãos" locais (At 11.30; 14.25; 20.17; 28). Por serem homens idosos e de larga experiência na vida, eram colocados na direção das igrejas. A palavra "ancião" referia-se mais à idade e posição deles, mas o título mais oficial era bispos ou presbíteros. Esse título indicava a ideia de uma posição de liderança na igreja local. Em outras palavras, eram pastores locais, cujo trabalho era o de alimentar o rebanho, protegê-lo dos falsos ensinos, conservar a sã doutrina, orientar os crentes na vida diária, conduzir as reuniões com "ordem e decência" (At 20.28; 1Co 14.40; Tt 1.9,11; Tg 5.14; 1Pe 5.2; 2Pe 2.11).
“...e doutores (mestres)”. Até certo ponto, o pastor tem um ministério acompanhado do ensino. Ele pode exercer as duas funções. Entretanto, a função de "mestre" é específica no ministério cristão, que é ensinar a Palavra de Deus de forma lógica. Pelo fato de ser um ministério dado por Jesus, o Espírito Santo atua de maneira poderosa no sentido de aclarar as verdades divinas ensinadas aos crentes. O mestre podia ser ministro itinerante pelas igrejas. Seu trabalho era junto às almas ganhas pelos evangelistas e apóstolos. O Novo Testamento destaca Apolo como exímio ensinador; ele andava pelas igrejas ministrando a Palavra de Deus (At 18.27; 1Co 16.12; Tt 3.13).
É um ministério de extremo valor, mas pouco reconhecido, ou, então, prejudicado pelo sistema de governo de nossas igrejas, que, por não reconhecerem a importância de tal ministério, obrigam o "mestre" a pastorear. É como obrigar um lavrador a fazer o trabalho do alfaiate.
Igrejas sem mestres são igrejas fracas espiritualmente. Por isso, deve-se reconhecer a importância e a necessidade do ministério do ensino. É através do ensino sadio e racional, inspirado pelo Espírito Santo, que a igreja se justifica contra as falsas doutrinas e se fortifica contra os ataques espirituais de Satanás.
Quando os evangelistas realizam cruzadas, os ensinadores devem ser acionados para fortalecer a fé dos novos convertidos. Uma igreja não vive só de pregações; precisa também de ensino constante e firme.
Os dons ministeriais foram dados à igreja com objetivos específicos. Ainda que sejam manifestos em indivíduos, eles existem através de funções na igreja.
Há um tríplice propósito no uso dos dons ministeriais:
• O aperfeiçoamento dos santos.
• A obra do ministério.
• A edificação do corpo de Cristo.
Considerando cada um desses objetivos, podemos compreender a razão deles. O termo "santo" designa todos os crentes vivos. Cada crente, em particular, necessita ser "separado do mundo", ou "não contaminado com as coisas do mundo", pois ser santo implica na busca da santidade. E uma condição e um processo em evolução, isto é, somos "santos" porque participamos da santidade do corpo de Cristo. Indica uma posição em Cristo e fora d’Ele; se não tivéssemos essa santidade em Cristo, jamais seríamos aceitos perante o Pai doutra forma (Hb 12.14).
A palavra "aperfeiçoamento" deve ser entendida no contexto da frase e em todo o texto de Paulo. Várias interpretações têm sido dadas à expressão "aperfeiçoamento dos santos". Pelo menos cinco ideias são sugeridas para a interpretação do texto que diz "... querendo o aperfeiçoamento dos santos". A primeira sugere que a expressão significa a complementação do número de santos no corpo de Cristo; a segunda afirma que a palavra "aperfeiçoar" significa a renovação e a restrição do número dos santos; a terceira ideia é de que o sentido da palavra seria "limpeza que reduz e ordena a unidade perfeita no corpo de Cristo"; a quarta vê na palavra "aperfeiçoar" um estado de dinamismo, que reporta ao trabalho; a quinta e última preocupa-se com o sentido literal da palavra, isto é, "completar o que estava incompleto" ou "acabar com perfeição".
Portanto, "os santos" não são os crentes que já morreram, mas aqueles que procuram viver de acordo com os ensinos da Palavra de Deus. É o Espírito Santo quem aperfeiçoa os crentes, os santos no corpo de Cristo. O verbo "aperfeiçoar" indica um processo relativo aos crentes fiéis. Deus não precisa ser santo pois Ele já o é, mas nós precisamos sê-lo.
O significado da frase está relacionado com o verso 11, pois entendemos que o "aperfeiçoamento dos santos" está implícito na obra dos que foram constituídos ministros.
Os dons são dados para "aperfeiçoar os santos". Indica a importância dos ministérios dentro da igreja. Esses ministérios são completos e satisfazem plenamente, à medida que eles funcionam objetivando a unidade dos crentes em Cristo.
Esses ministérios são espirituais, pois são dados pelo Senhor. Nada têm a ver com funções eclesiásticas profissionais. São ministérios dados por Deus, e os que os receberem devem desenvolvê-los na igreja. Esses ministérios são funções naturais. Eles não visam "posições" nem "senhorios", mas existem da mesma forma que outras atividades espirituais na igreja, ou seja, para o aperfeiçoamento do corpo de Cristo.
O bom desempenho da obra ministerial tem o propósito de preparar ou habilitar crentes para o serviço de Cristo. O trabalho do ministério restringe-se aqui, no contexto do verso 12, ao serviço em favor da igreja através dos "dons ministeriais".
A palavra "edificar" surge aqui como uma metáfora, pois indica uma edificação contínua e espiritual (At 9.31; 20.32; 1Co 8.1; 14.3,4,17; 2Co 10.8,23; 1Tm 1.4). É uma edificação de ordem espiritual feita sob a orientação do Espírito Santo. A Igreja é um edifício em construção, assim como o corpo místico de Cristo. Tanto a construção de um edifício quanto o desenvolvimento de um corpo vivo indicam trabalho, o que na igreja é feito pelo ministério.
Os dons foram dados à Igreja para que ela, através dos seus membros ativos, use esses dons espirituais e ministeriais na edificação e no desenvolvimento de si mesma, pois ela é o corpo de Cristo, sendo Cristo a cabeça. As figuras "edifício" e "templo" têm uma finalidade específica, que é falar do crescimento e da unidade da igreja.
O versículo 13 — "até que todos cheguemos" — indica um caminhar objetivo, vendo o alvo a ser alcançado. A palavra "até" indica um processo em realização, ou seja, alguma coisa que já começou e não pode parar. Os processos de edificação e aperfeiçoamento do versículo 12, através dos dons ministeriais, visam à culminação desse processo, que é a "unidade da fé" e o pleno conhecimento do Filho de Deus. O "conhecimento pleno do Filho de Deus" é a participação ilimitada na plenitude de Cristo, isto é, participar em tudo quanto Ele é e possui.
A palavra "todos" inclui todos os remidos em todos os tempos. "Todos" tem um sentido universal e coletivo. Não se trata aqui de indivíduos, mas de uma unidade de crentes remidos por Cristo.
"Até que todos cheguemos" aponta um alvo e aciona a gloriosa esperança de se alcançar esse alvo. Através da edificação e do desenvolvimento mútuo, o clímax espiritual desejado é possível. O aperfeiçoamento total é coletivo, não uma questão individual. Cada crente, individualmente, deve procurar o seu aperfeiçoamento espiritual, mas nenhuma pessoa, por si só, alcançará esse "aperfeiçoamento". O meu aperfeiçoamento espiritual no corpo de Cristo se dará à medida que "todos" são aperfeiçoados coletivamente. A igreja é um todo, e os crentes participam desse "todo".
Que entendemos por "unidade da fé"? Observe que a unidade do Espírito fala de uma posição presente, mas a "unidade da fé" indica um futuro. Não se trata aqui da fé como um corpo de doutrinas, porém como "fé salvadora". Fé que conduza o crente fiel ao seu destino eterno. Essa "unidade da fé" diz respeito ao "todo" da Igreja. É uma fé coletiva que leva a Igreja ao seu clímax. E uma fé coletiva porque só a fé pode produzir a unidade desejada durante o arrebatamento da Igreja, quando o "corpo", através de seus membros em toda a Terra, estará unido em tudo quanto é e possui.
"... e ao conhecimento do Filho de Deus". A palavra "conhecimento" aparece antecipada por outra no original grego, que é a palavra "pleno". Portanto, o "pleno conhecimento" abrange três esferas da vida do crente, isto é, alcança as áreas intelectual, experimental e espiritual. Na esfera intelectual, obtemos esse conhecimento através do estudo e da meditação. Na experimental, esse conhecimento diz respeito à comunhão com o Filho de Deus: só Ele pode conceder ao homem essa experiência. Na espiritual, esse conhecimento tem a ação do Espírito Santo no trabalho de iluminar o nosso entendimento (Ef 1.18,19).
Conhecer o Filho de Deus implica uma relação autêntica, pessoal, espiritual e real com aquele a quem o centurião, ao pé da cruz, reconhecendo, disse: "Verdadeiramente este é o Filho de Deus". Não se trata de uma ideia ou coisa imaginária, mas de um fato baseado numa experiência com o Filho de Deus, que é pessoa (Rm 1.4; Gl 2.20; 1Ts 1.10).
"Para que não sejamos mais meninos inconstantes" (v. 14). No original grego, a palavra "meninos" aparece como nepioi, que significa infantes ou criancinhas que ainda não falam. Dá a ideia de crentes-meninos, isto é, imaturos e inseguros. A expressão "meninos inconstantes" contrasta com esta outra — "varão perfeito" (v. 13).
Que tipos são esses "meninos inconstantes"? São aqueles crentes facilmente agitados por circunstâncias, sujeitos a mudanças provocadas por "ventos" de doutrinas falsas. São aqueles que naufragam nas dúvidas espirituais e se deixam levar pelo desânimo, que lhes causa o abandono da fé recebida. Paulo usa expressões náuticas para ilustrar aqueles que se "agitam" e são "levados" por heresias e crenças absurdas. São os que facilmente vacilam na fé quando surge qualquer "vento" de doutrina. A continuação do versículo mostra a causa que leva esses "meninos inconstantes" na fé a vacilarem. Os que trazem esses "ventos" são homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente. A expressão "engano dos homens" tem um sentido mais claro para entendermos o ensino de Paulo. A palavra "engano" pode ser trocada por "estratagema", que significa originalmente "jogo de dados". Entende-se, então, a mesma palavra "estratagema" por truque. Assim como os jogadores usam de truques (engano) no jogo de dados, assim, também, homens perniciosos a serviço de Satanás usam de formas maliciosas para enganar os mais fracos na fé, com ensinos errados que ferem frontalmente a Palavra de Deus. Para que o crente cresça na fé, até a perfeita varonilidade de Cristo, é preciso conhecer a Cristo através do ensino correto da Palavra de Deus.
Uma semana abençoada para todos os irmãos na Graça e na Paz do Senhor Jesus Cristo!
Márcio Celso
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Editora Betel 4º Trimestre de 2021, ano 31 nº 121 – Revista da Escola Bíblica Dominical - Adultos – Professor – Efésios – Uma exposição sobre as riquezas da graça, misericórdia e glória de Deus – Bispo Abner Ferreira.
Sociedade Bíblica do Brasil – 2009 – Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida.
Sociedade Bíblica do Brasil – 2007 – Bíblia do Obreiro – João Ferreira de Almeida – Revista e Atualizada.
Editora Vida – 2014 - Bíblia Judaica Completa – David H. Stern, Rogério Portella, Celso Eronildes Fernandes.
Editora Vida – 2014 – Bíblia de Estudo Arqueológica – Nova Versão Internacional.
Editora Central Gospel – 2010 - O Novo Comentário Bíblico – Antigo Testamento – Earl D. Radmarcher, Ronald B. Allen e H. Wayne House – Rio de Janeiro.
Editora Central Gospel – 2010 - O Novo Comentário Bíblico – Novo Testamento – Earl D. Radmarcher, Ronald B. Allen e H. Wayne House – Rio de Janeiro.
Editora Vida – 2004 – Comentário Bíblico do Professor – Lawrence Richards.
Editora Central Gospel – 2005 – Manual Bíblico Ryken – Um guia para o entendimento da Bíblia – Leland Ryken, Philip Ryken e James Wilhoit.
Editora CPAD – 2017 – História dos Hebreus – Flávio Josefo.
Editora CPAD – 2005 – Comentário Bíblico Beacon.
Editora Vida – 2014 – Manual Bíblico de Halley – Edição revista e ampliada – Nova versão internacional – Henry Hampton Halley – tradução: Gordon Chown.
Editora Mundo Cristão – 2010 – Comentário Bíblico Africano - editor geral Tokunboh Adeyemo.
Editora CPAD – 2010 – Comentário Bíblico Mathew Henry – Tradução: Degmar Ribas Júnior, Marcelo Siqueira Gonçalves, Maria Helena Penteado Aranha, Paulo José Benício.
Editora Mundo Cristão – 2011 - Comentário Bíblico Popular — Antigo e Novo Testamento - William MacDonald - editada com introduções de Art Farstad.
Editora Geográfica – 2007 – Comentário Bíblico Expositivo Wiersbe – Antigo Testamento – Volume 2 – Tradução: Susana E. Klassen.
Editora Geográfica – 2007 – Comentário Bíblico Expositivo Wiersbe – Novo Testamento – Volume 1 – Tradução: Susana E. Klassen. fonte https://www.revistaebd.com