Afinal, Quem de Fato Eu Sou?
AFINAL, QUEM DE FATO EU SOU?
Colossenses 1.1-2
1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, 2aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos: […]
Afinal, quem de fato eu sou? Você se faz esta pergunta? Talvez não de forma tão clara e objetiva, mas todos nós, de um jeito ou de outro, encontramos maneiras de nos definirmos ou de nos enxergarmos. Deixe-me apresentar o que julgo ser os três jeitos mais comuns de as pessoas se definirem ou se enxergarem:
- Conversando com alguém, você diz: “Eu sou médico” ou “Eu sou comerciante” “Eu sou dona de casa” ou “Eu sou professora” ou “Eu sou estudante” ou “Eu sou aposentado”… Só que isso é o seu trabalho, mas não quem você de fato é.
- Uma pessoa, recém-divorciada, poderá desabafar: “Eu sou um fracasso”. Porém, embora ela tenha fracassado no casamento, o fracasso não define essa pessoa nem ninguém que, de alguma forma, tenha fracassado na vida.
- Estamos em época de campanha eleitoral. Candidatos, ávidos para serem eleitos, declaram para todos os cantos aonde vão a resposta padrão à pergunta: “Quem é o senhor, candidato?”. A resposta quase sempre é a mesma: “Sou de origem pobre, de família humilde, de um bairro pobre e carente da minha cidade… sou alguém que lutou e venceu”. Realmente, é uma bela história de superação, mas não define quem de fato a pessoa é.
Esses exemplos ilustram nossa tendência natural de usar experiências subjetivas, conquistas ou derrotas pessoais, cargos ou posições profissionais como forma de definir quem somos. Impressionante como as pessoas, quando precisam dizer quem são, acabam dizendo o que fazem, o que sofreram ou passaram, e o que ganharam ou perderam.
Afinal, quem de fato eu sou? Quem você de fato é? Por quais lentes você se enxerga? Como nós devemos nos enxergar ou nos definir? Será mesmo que devemos viver nos definindo pelo que fazemos, pelo que ganhamos ou perdemos, pelo que construímos ou destruímos, pelo que passamos ou estamos vivendo? Parece que não.
A identidade bíblica
Quando olhamos para a Bíblia, especialmente para o Novo Testamento, aprendemos que, como cristãos, nossa identidade é definida por nosso relacionamentocom Cristo e não por experiências boas ou ruins de vida, histórias de fracasso ou de superação nem tampouco pelo que fazemos ou desempenhamos (nem mesmo pelo que não conseguimos fazer ou desempenhar) enquanto profissionais. Sendo assim, e contrariando o grandes Steve Jobs, nossa identidade não é construída pela marca que deixamos no universo (algum legado). Essa não é a nossa razão de existir.
O cristão toma consciência de si mesmo (ou constrói sua consciência de si mesmo) por meio de sua posição ou identidade em Cristo, de tal forma que suas respostas à pergunta “Quem sou eu?” ou “Quem de fato eu sou?” sejam baseadas no que significa estar “em Cristo”. Ouça, mais uma vez, o que Paulo escreveu aos Colossenses (1.1-2):
1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, 2aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos: […]
O apóstolo está saudando os crentes para os quais ele estava escrevendo. Como ele o faz? Primeiramente, ele se identifica (v. 1): “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus”. Depois, ele apresenta o coautor da carta (v. 1): “nosso irmão Timóteo”. Por fim, ele se dirige aos seus leitores de uma forma que merece toda nossa atenção; ele escreve (v. 2): “aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colosso”.
O que os define e os une (Paulo, Timóteo e os cristãos de Colossos) é uma pessoa: Cristo Jesus. Não é geografia ou nacionalidade, não é profissão ou produção, não são gostos pessoais nem tampouco a personalidade, não são experiências compartilhadas, mas Cristo. Cristo os une e os define como pessoa, conferindo identidade, sentido e missão a todos eles. Ouça mais uma vez:
1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, 2aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos: […]
Percebeu? Paulo é “apóstolo de Cristo Jesus”e isso, “pela vontade de Deus”e não pela vontade dele mesmo (como causa principal ou inicial). De fato, a vontade de Paulo se curvou com prazer à vontade de Deus para a vida dele: ser apóstolo de Cristo Jesus. Escrevendo à Timóteo, falando um pouco de si mesmo, o apóstolo Paulo se expressou da seguinte maneira (1Tm 1.12-14):
12Agradeço àquele que me deu forças, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou digno de confiança e me designou para servi-lo [como apostolo], 13embora eu fosse blasfemo, perseguidor e violento. Contudo, recebi misericórdia, porque agia por ignorância e incredulidade. 14O Senhor fez sua graça transbordar e me encheu da fé e do amor que vêm de Cristo Jesus.
Aos filipenses, de igual forma falando de seu apostolado, mas principalmente falando de sua motivação para fazer o que fazia, Paulo anotou assim (Fl 3.5-9):
5Fui circuncidado com oito dias de vida. Sou israelita de nascimento, da tribo de Benjamim, um verdadeiro hebreu. Era membro dos fariseus, extremamente obediente à lei judaica. 6Era tão zeloso que persegui a igreja. E, quanto à justiça, cumpria a lei com todo rigor. 7Pensava que essas coisas eram valiosas, mas agora as considero insignificantes por causa de Cristo. 8Sim, todas as outras coisas são insignificantes comparadas ao ganho inestimável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, deixei de lado todas as coisas e as considero menos que lixo, a fim de poder ganhar a Cristo 9e nele ser encontrado.
O apostolado de Paulo (sua vocação e carreira, por assim dizer) era consequência de sua posição em Cristo, de seu relacionamento com Cristo, de sua vida ser e estar unida a Cristo; tanto que ele escreveu: “por causa dele [Cristo], deixei de lado todas as coisas [do judaísmo] e as considero menos que lixo, a fim de poder ganhar a Cristo e nele ser encontrado”(Fl 1.8-9). Para Paulo, identidade, missão, vocação e motivação uniam-se num só: Cristo.
Para Timóteo também. Timóteo se unia a Paulo e à missão de Paulo e à motivação para viver de Paulo porque tanto Paulo como ele estavam unidos à mesma pessoa: Cristo. Foi por isso que Paulo o descreveu aos Colossenses como sendo “o irmão Timóteo”.
Mas, como assim “irmão”, Paulo? Irmão em Cristo. Paulo e Timóteo estavam em Cristo. Os cristãos em Colossos também. Cristo os unia. Tornava-os um. Mas mais do que isto: a identidade deles, quem eles de fato eram se baseava no fato de que todos eles estavam em Cristo, unidos a Cristo: “aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos”.
Feitas estas considerações, vamos agora buscar responder à pergunta inicial — “Afinal, quem de fato eu sou?”. Responderemos à esta pergunta utilizando-nos das palavras de Paulo: “aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos”(Cl 1.2). Pois bem, quem de fato eu sou?Sou alguém que está em Cristo; sou santo; sou membroda família cristã; e sou estrangeiro e peregrinoneste mundo.
1. Sou alguém que está em Cristo
Afinal, quem de fato eu sou? Sou alguém que está emCristo.
aos santos e fiéis irmãos em Cristoque estão em Colossos.
Estar emCristo significa estar unidoa Cristo. É uma das expressões favoritas de Paulo, pois ele a utiliza mais de 160 vezes em suas cartas (se também considerarmos expressões similares como “nele”ou “no Senhor”). Mas, o que significa estar unidoa Cristo?
Estar em Cristo(ou unido a Cristo) significa não estar mais em Adão. De acordo com o Novo Testamento, Deus lida com a humanidade em dois homens: Adão e Cristo. Todos os demais somos representados perante Deus por um desses dois homens. Logo, ou nós estamos em Adão ou nós estamos em Cristo. Aos coríntios, Paulo escreveu assim:
1Co 15.22 (ARA) |Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo.
1Co 15.45 (ARA) | Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão [Cristo], porém, é espírito vivificante.
Paulo diz que “em Adão, todos morrem”, mas em Cristo todos “serão vivificados”. Isto é, através dele, Adão, o pecado entrou no mundo e se estendeu a todos nós (Rm 5.12-19). Deus, porém, em Cristonos vivificou para uma nova vida: a vida em Cristo. Ouça o que Paulo escreveu aos Efésios (2.1-3):
1Vocês estavam mortos por causa de sua desobediência e de seus muitos pecados, 2nos quais costumavam viver, como o resto do mundo, obedecendo ao comandante dos poderes do mundo invisível. Ele é o espírito que opera no coração dos que se recusam a obedecer. 3Todos nós vivíamos desse modo, seguindo os desejos ardentes e as inclinações de nossa natureza humana. Éramos, por natureza, merecedores da ira, como os demais.
Assim, todos nós viemos ao mundo em Adão, i.e.: espiritualmente mortos(o estado em que vivem as pessoas), objetos da irade Deus (a culpa que nos consome por dentro; a forma como acusamos uns aos outros, transferido culpa) e em um ambiente que está sob a maldiçãode Deus (veja o estado do mundo social e natural). Isto é o que significa estar em Adão: morto, culpado, condenado, amaldiçoado. O que significa estar emCristo?
Primeiro, estar em Cristosignifica ter sido amado e escolhidopor Deus (em Cristo) para a salvação antes da fundação do mundo (Ef 1.3-5):
3Todo louvor seja a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou em Cristo com todas as bênçãos espirituais nos domínios celestiais. 4Mesmo antes de criar o mundo, Deus nos amou e nos escolheu em Cristo para sermos santos e sem culpa diante dele. 5Ele nos predestinou para si, para nos adotar como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito de sua vontade.
Segundo, estar em Cristosignifica ter sido por ele representadona sua vida sem pecado, morte substitutiva e ressurreição vitoriosa sobre a morte. Cristo se posicionou diante de Deus como representante dos eleitos, justificando-os diante de Pai (Rm 5.18-19):
18É verdade que um só pecado de Adão trouxe condenação a todos, mas um só ato de justiça de Cristo removeu a culpa e trouxe vida a todos [que creram]. 19Por causa da desobediência a Deus de uma só pessoa, muitos se tornaram pecadores. Mas, por causa da obediência de uma só pessoa a Deus, muitos serão declarados justos.
Terceiro, estar em Cristosignifica receber dele vida para crer e continuar crendo, de forma a produzir o fruto do Espírito (Ef 2.4-6):
4Mas Deus é tão rico em misericórdia e nos amou tanto 5que, embora estivéssemos mortos por causa de nossos pecados, ele nos deu vida juntamente com Cristo. É pela graça que vocês são salvos! 6Pois ele nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar com ele nos domínios celestiais, porque agora estamos em Cristo Jesus.
Essa união vivificante em Cristo é explicada de forma mais clara pelo uso que Jesus faz da metáfora da vinha e dos ramos (Jo 15.1-5). Assim como os ramos compartilham da vida e da nutrição da vinha, assim nós, cristãos em Cristo, compartilhamos, pela fé, da vida em Cristo (Ef 2.8-9; At 16.14).
Afinal, quem de fato eu sou?
Se não estou em Cristo, separado de Cristo, vivo sob a maldição do pecado (Rm 9.3) que me inclina ainda mais para o pecado, que faz pesar sobre mim a culpa do pecado e que me torna merecedor da justa condenação de Deus.
Se estou em Cristo, fruto da obra de Deus, já não estou em Adão: estou em Cristo, por uma união que é fruto do amor de Deus, vivificante e representativa. Implicações:
- Se sou amado por Deus em Cristoantes da fundação do mundo; se Deus escolheu me amar em Cristoantes mesmo de eu nascer, antes mesmo de eu ter feito qualquer coisa boa ou má (conforme Paulo escreve em Romanos 9.11)… ser amado por Deus não depende de quem eu sou; não tem como Deus me amar mais do que já ama e também não poderá me amar menos; isso tira de mim o peso de querer ser quem eu jamais conseguirei ser para ser amado;
- Se sou justificado diante de Deus por estar em Cristo; se Cristo é a minha justiça, pois viveu a vida perfeita e sem pecado que eu não consigo viver… resta-me não querer fazer algo para me justificar, mas permanecer crendo na obra de Cristo para a minha justificação; isso tira de mim o peso de querer fazer o que eu jamais conseguirei fazer para agradar a Deus;
- Se é em Cristoque eu recebo vida; se Cristo é a videira e eu sou o ramo… razão para viver, força para viver, vida para viver eu continuarei buscando no meu relacionamento vivificante com Deus em Cristo, na força do Espírito; isso me liberta de viver buscando encontrar força em mim mesmo, em alguém ou nalguma coisa; Cristo é a minha vida.
Afinal, quem de fato eu sou? Sou alguém que está emCristo: amado, justificado, vivificado por Deus em Cristo Jesus.
2. Sou santo
Afinal, quem de fato eu sou? Sou santo.
aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos.
Santo é uma das palavras mais mal compreendidas do nosso vocabulário cristão. Em determinado ponto da história cristã, as pessoas passaram a chamar o primeiros apóstolos de santos, contrariando o significado puro da palavra no Novo Testamento. É por isso que agora ouvimos falar de São Paulo, São Pedro, Santo André e outros. Na tradição católica romana, pessoas que alcançam realizações incomuns às vezes são canonizadas e chamadas de santos. Entre os cristãos protestantes, infelizmente, geralmente pensamos em santos como pessoas excepcionalmente devotadas e santificadas, gente acima da média dos demais.
A verdade, porém, é que todo crenteé santo. Por esse motivo, as saudações de Paulo em suas cartas normalmente incluem algo como lemos em Colossenses: “aos santose fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos” (Cl 1.2; Ef 1.1; Fp 1.1).Até mesmo ao se dirigir aos coríntios, uma igreja teológica e moralmente desestruturada, Paulo escreveu (1Co 1.2):
à igreja de Deus em Corinto, àqueles que ele santificou por meio de Cristo Jesus. Vocês foram chamados por Deus para ser seu povo santo junto com todos que, em toda parte, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.
O que aprendemos com Paulo é que santidade não é uma aquisição espiritual ou um reconhecimento dessa aquisição. Em vez disso, é um estado ou condição à qual Deus mesmo leva cada um de seus filhos. Todos os cristãos são santos. Deus os santificou.
O pano de fundo do Antigo Testamento para essa terminologia é encontrado em Êxodo 19.6 — “Serão meu reino de sacerdotes, minha nação santa”. Note que o foco é mais na separação do que na santidade (embora separação sempre deva levar à santidade), tem em vista mais uma posição de separação do que um estado de pureza.
Pedro, mais tarde, lá no Novo Testamento, pegou a terminologia do Antigo Testamento e aplicou à realidade dos cristãos, explicando assim o que significa ser santo (1Pe 2.9-10):
9Vocês, porém, são povo escolhido, reino de sacerdotes, nação santa, propriedade exclusiva de Deus. Assim, vocês podem mostrar [proclamar] às pessoas como é admirável aquele que os chamou das trevas para sua maravilhosa luz. 10“Antes vocês não tinham identidade como povo, agora são povo de Deus. Antes não haviam recebido misericórdia, agora receberam misericórdia de Deus.”
Sou santo: não pertenço a mim mesmo, sou propriedade exclusiva de Deus; fui comprado pelo preço de sangue (o sangue de Cristo), declarado santo por Deus e separado para Deus, para mostrar (proclamar) ao mundo como é admirável aquele que nos salva. Portanto, ser santo é ser por Deus separado para mostrar a glória de Deus às pessoas; revelar a elas o quanto Deus é admirável. Santo é alguém que vive em uma posição privilegiada: contemplar, receber e repartir graça e glória; a graça e a glória de Deus em Cristo Jesus. Pense nas implicações disso tudo!
Afinal, quem de fato eu sou? Sou santo.
3. Sou membro da família cristã
Afinal, quem de fato eu sou? Sou membro da família cristã.
aos santos e fiéis irmãosem Cristo que estão em Colossos.
Estar em Cristo é estar na família de Cristo. Este é um tema muito importante, pois muitos cristãos tendem hoje a ver seu cristianismo simplesmente como um relacionamento pessoal com Deus. No entanto, esse relacionamento primordial com o Senhor necessita sim de inúmeros relacionamentos pessoais secundários — i.e., os relacionamentos que Cristo estabeleceu entre nós e seu corpo, a igreja; ou seja, Deus quer estabelecer-nos em um relacionamento com um corpo composto de pessoas de carne e osso que poderão, sim, pisar nos nossos calos — nosso “fieis irmãos” ou irmãos de fé.
Que é um cristão?
Primeiro, cristão é alguém que, antes e acima de tudo, foi perdoado de seu pecado e reconciliado com Deus, o Pai, por meio de Jesus Cristo. Isso acontece quando a pessoa, levada pelo Espírito Santo, arrepende-se de seus pecados e coloca sua fé na vida perfeita, na morte substitutiva e na ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Segundo, cristão é alguém que, pela virtude de sua reconciliação com Deus, foi reconciliado com o povo de Deus, juntando-se aos seus “fieis irmãos em Cristo”(Cl 1.2). Portanto, ser reconciliado com Deus por meio de Cristo significa ser reconciliado com todos aqueles que estão reconciliados com Deus. É claro que esta reconciliação precisa afetar de alguma forma todos os nossos relacionamentos, inclusive com os não-cristãos, mas somente no ambiente do corpo de Cristo — a igreja — ela se torna plena e verdadeira, pois consiste na relação entre duas ou mais pessoas que são feitas família pela ação sobrenatural do Espírito por meio da fé em Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus.
Após descrever, na primeira metade de Efésios (caps. 1 a 3), a grande salvação que Deus nos deu em Cristo Jesus, Paulo passou a descrever, na segunda metade da carta (caps. 4 a 6), o que essa grande salvação significa nos relacionamentos entre judeus e gentios e, por extensão, entre todos os que estão em Cristo. Ouça (Ef 2.14-16):
14Porque Cristo é nossa paz. Ele uniu judeus e gentios em um só povo ao derrubar o muro de inimizade que nos separava. 15Ele acabou com o sistema da lei, com seus mandamentos e ordenanças, promovendo a paz ao criar para si, desses dois grupos, uma nova humanidade. 16Assim, ele os reconciliou com Deus em um só corpo por meio de sua morte na cruz, eliminando a inimizade que havia entre eles.
Quando alguém se torna um cristão, ele não se une a uma igreja local porque seja um hábito convencionado pelos homens, afinal contribui para a maturidade espiritual. Um cristão se une a uma igreja local porque isso é a expressão daquilo em que Cristo o tornou — um membro de seu corpo. Estar unido a Cristo implica estar unido a todos os cristãos — aos “fieis irmãos em Cristo”(Cl 1.2). Contudo, essa união universal precisa ter uma existência viva e atuante em uma igreja local. Daí a importância de membresia.
Afinal, quem de fato eu sou? Sou membro da família cristã, pois estar em Cristo é estar na família de Cristo, unido aos “fieis irmãos em Cristo”(Cl 1.2).
4. Sou estrangeiro e peregrino neste mundo
Afinal, quem de fato eu sou? Sou estrangeiro e peregrino neste mundo.
aos santos e fiéis irmãos em Cristo que estão em Colossos.
Algo que chama a atenção na descrição que Paulo faz desses crentes é que eles estão “em Cristo” e “em Colossos”. Eles são simultaneamente cidadãos de dois reinos: vivem ao mesmo tempo “em Cristo”e “na pequenina e antiga cidade romana chamada Colossos”. Note bem a ênfase na geografia terrestre e espiritual desses primeiros cristãos: eles vivem em Colossosmas também estão em Cristo!
Viviam em Colossos, mas estavam também em Cristo, ou seja, tudo o que faziam, aonde quer que fossem ou fizessem morada — em Colossos, em Éfeso ou em qualquer lugar, quem eles eram espiritualmente não mudava de acordo com a geografia do local nem de acordo com o que estavam fazendo: em Colossos, mas também em Cristo. Que coisa maravilhosa!
O cristão não está em Cristo apenas quando está na igreja, de joelhos orando ou em algum grupo pequeno de compartilhamento cristão, e depois volta ao normal quando deixa aquela atmosfera mais “sagrada”. De fato, estamos “em Cristo” mesmo quando estamos “em Colossos” ou em qualquer outro lugar. Muito embora a sensação da realidade de se estar “em Cristo”deva diminuir progressivamente à medida que mais nos envolvemos com as coisas “em Colossos”.
O cristão está sempre “em Cristo”. A geográfica terrena e física não afeta a sua identidade espiritual. Mas o inverso é diferente. Ou seja: a dimensão espiritual do cristão, o fato de ele estar “em Cristo”deverá sim afetar Colossos — o local onde ele vive, trabalha e se diverte. O cristão, por estar “em Cristo”, é chamado para impactar “em Colossos”ou em qualquer outro lugar. Ele deverá impactar e fazer diferença com o evangelho da glória e da graça de Deus onde quer que esteja ou viva. Pedro disse assim (1Pe 2.9-12):
9Vocês, porém, são povo escolhido, reino de sacerdotes, nação santa, propriedade exclusiva de Deus. Assim, vocês podem mostrar às pessoas como é admirável aquele que os chamou das trevas para sua maravilhosa luz. 10“Antes vocês não tinham identidade como povo, agora são povo de Deus. Antes não haviam recebido misericórdia, agora receberam misericórdia de Deus.” 11Amados, eu os advirto, como peregrinos e estrangeiros que são, a manter distância dos desejos carnais que lutam contra a alma. 12Procurem viver de maneira exemplar entre os que não creem. Assim, mesmo que eles os acusem de praticar o mal, verão seu comportamento correto e darão glória a Deus quando ele julgar o mundo.
Afinal, quem de fato eu sou? Sou estrangeiro e peregrino neste mundo, chamado para importar e transforma com o poder do evangelho de Cristo Jesus.
Afinal, quem de fato eu sou?
Afinal, quem de fato eu sou?
Eu não sou o que as minhas experiências, positivas ou negativas, gritam dentro de mim através de minhas emoções; não sou mais ou menos, melhor ou pior por causa do que eu conquisto ou perco na vida; minha identidade não é definida por cargos ou posições profissionais ou ausência destes. Eu sou o que a Bíblia diz que eu sou.
Sou alguém que, pela graça e por meio da fé, está em Cristo; sou santo (alguém separado e consagrado para declarar a glória de Deus através de palavras e posturas); sou membro da família cristã; e sou estrangeiro e peregrino neste mundo, com todas as implicações de se ser estrangeiro e peregrino em terra estranha (chamado para abençoar com o evangelho da glória e da graça de Deus). Nas palavras de Paulo, eu sou
santo e fiel irmão em Cristo que está em Goiânia.
S.D.G. L.B.Peixoto
fonte https://www.sibgoiania.org